Bruno Góes e Jeniffer Gularte
Grupo político notabilizado por barganhar seu apoio a todo e qualquer governo, o Centrão está eleitoralmente engajado na campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), mas ao mesmo tempo já se prepara para qualquer resultado da disputa presidencial. Antes mesmo do primeiro turno, alguns parlamentares do bloco já ensaiam uma aproximação com o entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atual líder das pesquisas.
Integrantes de partidos como PP e Republicanos têm se apresentado como negociadores de uma possível mudança de rota após o período eleitoral. As conversas de bastidores se intensificaram nas últimas semanas, de forma discreta. Se o resultado das urnas é incerto, a negociação de uma base parlamentar com o Centrão é uma certeza para o próximo presidente. As duas siglas, mais o PL de Bolsonaro, se consolidaram durante o atual governo como um trio que atua de forma articulada no Congresso e forma o núcleo duro da base aliada do presidente.
Com a justificativa de que é preciso ampliar o arco de alianças em caso de vitória do ex-presidente, a articulação tem sido tocada por nomes de confiança de Lula, como a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e o ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT). O bloco, que dá as cartas no Congresso há muitas legislaturas, foi aliado dos governos do PT, seguindo a receita fisiológica de negociar cargos e acesso a recursos públicos em troca de votos no Parlamento.
Pelas beiradas
No Republicanos, o deputado Silvio Costa Filho (PE) é um dos que, segundo aliados, se colocaram à disposição para iniciar uma discussão interna sobre a possibilidade de virada de casaca da legenda. No seu estado, Pernambuco, a sigla já forma uma aliança local com PT e PSB. O foco da campanha de Lula tem sido se aproximar dos que, nas palavras de um interlocutor dos petistas, formam as “franjas do Centrão”.
No PP, a aproximação é vista como mais complexa pela ligação de caciques do partido com Bolsonaro, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). Mas, diante do favoritismo de Lula apontado nas pesquisas de intenção de voto, já há discussões internas sobre o futuro da legenda. No Nordeste, por exemplo, parlamentares estão em contato com integrantes da aliança petista, entre eles o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), ex-ministro das Cidades do governo Dilma Rousseff.
Na semana passada, Ribeiro almoçou com uma pessoa da campanha de Lula e se colocou à disposição para ajudar a construir uma base aliada robusta em 2023 em caso de vitória do ex-presidente. Também relatou que o assunto tem sido debatido internamente na legenda, mas que a ordem, por enquanto, é não enfrentar os aliados de Bolsonaro, para não causar um mal-estar, especialmente na reta final da campanha.
Um dos alvos na tentativa de aproximação com nomes do Centrão é a bancada ruralista, hoje majoritariamente pró-Bolsonaro. Vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), o deputado Evair de Melo (PP-ES) admite ter discutido o futuro do grupo com um aliado de Lula nos últimos dias, mas diz se manter fiel ao presidente.
— A FPA é e continuará sendo apartidária, defendendo as mesmas pautas — afirma Evair, que faz campanha colado à imagem de Bolsonaro
Na avaliação de parlamentares da bancada ouvidos pelo GLOBO, a tendência é que ruralistas sejam pragmáticos e busquem influência junto ao governo, seja quem for o presidente. Candidato ao Senado em Mato Grosso, o deputado Neri Geller (PP), que também integra a FPA, é apontado como um possível interlocutor do ex-presidente tanto no agronegócio quanto no próprio partido.
Já aproximação com o PL de Bolsonaro é considerada como improvável pelo estafe petista. Embora a legenda seja chefiada por Valdemar Costa Neto, um ex-aliado de Lula, a bancada de parlamentares do partido deve ser formada, em sua maioria, por representantes da ala mais radical do bolsonarismo. Com a filiação do presidente, em novembro do ano passado, a legenda passou a abrigar os principais nomes do grupo, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), Carlos Jordy (RJ), Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF).
Incomodados com dissidências entre seus aliados, dirigentes do PL e do PP têm cobrado engajamento de candidatos dos partidos do Centrão na campanha de Bolsonaro.
Outros partidos
Com dez partidos oficialmente na coligação de Lula, a ideia de petistas é tentar ampliar o leque de alianças ao atrair o máximo de siglas. Os possíveis acordos, contudo, só devem ser aprofundados após as eleições, já que a formação de uma base aliada costuma incluir a negociação de espaço no governo e de outras variáveis, como o posicionamento do Palácio do Planalto na escolha dos presidentes de Câmara e Senado.
— A gente tem nesta eleição um campo mais amplo para atuar. Já temos algumas alianças nos estados. E podemos nos aproximar mais de MDB, PSD, PSDB, PP, União Brasil, Republicanos e PDT — afirma Wellington Dias.
Silvio Costa Filho é do Republicanos, mas está aliado ao PT em Pernambuco e esteve em ato com Lula e Alckmin. Deputado defende que partido abra relação com o ex-presidente - Foto: Agência O Globo |
Grupo político notabilizado por barganhar seu apoio a todo e qualquer governo, o Centrão está eleitoralmente engajado na campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL), mas ao mesmo tempo já se prepara para qualquer resultado da disputa presidencial. Antes mesmo do primeiro turno, alguns parlamentares do bloco já ensaiam uma aproximação com o entorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), atual líder das pesquisas.
Integrantes de partidos como PP e Republicanos têm se apresentado como negociadores de uma possível mudança de rota após o período eleitoral. As conversas de bastidores se intensificaram nas últimas semanas, de forma discreta. Se o resultado das urnas é incerto, a negociação de uma base parlamentar com o Centrão é uma certeza para o próximo presidente. As duas siglas, mais o PL de Bolsonaro, se consolidaram durante o atual governo como um trio que atua de forma articulada no Congresso e forma o núcleo duro da base aliada do presidente.
Com a justificativa de que é preciso ampliar o arco de alianças em caso de vitória do ex-presidente, a articulação tem sido tocada por nomes de confiança de Lula, como a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, e o ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT). O bloco, que dá as cartas no Congresso há muitas legislaturas, foi aliado dos governos do PT, seguindo a receita fisiológica de negociar cargos e acesso a recursos públicos em troca de votos no Parlamento.
Pelas beiradas
No Republicanos, o deputado Silvio Costa Filho (PE) é um dos que, segundo aliados, se colocaram à disposição para iniciar uma discussão interna sobre a possibilidade de virada de casaca da legenda. No seu estado, Pernambuco, a sigla já forma uma aliança local com PT e PSB. O foco da campanha de Lula tem sido se aproximar dos que, nas palavras de um interlocutor dos petistas, formam as “franjas do Centrão”.
No PP, a aproximação é vista como mais complexa pela ligação de caciques do partido com Bolsonaro, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL). Mas, diante do favoritismo de Lula apontado nas pesquisas de intenção de voto, já há discussões internas sobre o futuro da legenda. No Nordeste, por exemplo, parlamentares estão em contato com integrantes da aliança petista, entre eles o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), ex-ministro das Cidades do governo Dilma Rousseff.
Na semana passada, Ribeiro almoçou com uma pessoa da campanha de Lula e se colocou à disposição para ajudar a construir uma base aliada robusta em 2023 em caso de vitória do ex-presidente. Também relatou que o assunto tem sido debatido internamente na legenda, mas que a ordem, por enquanto, é não enfrentar os aliados de Bolsonaro, para não causar um mal-estar, especialmente na reta final da campanha.
Um dos alvos na tentativa de aproximação com nomes do Centrão é a bancada ruralista, hoje majoritariamente pró-Bolsonaro. Vice-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), o deputado Evair de Melo (PP-ES) admite ter discutido o futuro do grupo com um aliado de Lula nos últimos dias, mas diz se manter fiel ao presidente.
— A FPA é e continuará sendo apartidária, defendendo as mesmas pautas — afirma Evair, que faz campanha colado à imagem de Bolsonaro
Na avaliação de parlamentares da bancada ouvidos pelo GLOBO, a tendência é que ruralistas sejam pragmáticos e busquem influência junto ao governo, seja quem for o presidente. Candidato ao Senado em Mato Grosso, o deputado Neri Geller (PP), que também integra a FPA, é apontado como um possível interlocutor do ex-presidente tanto no agronegócio quanto no próprio partido.
Já aproximação com o PL de Bolsonaro é considerada como improvável pelo estafe petista. Embora a legenda seja chefiada por Valdemar Costa Neto, um ex-aliado de Lula, a bancada de parlamentares do partido deve ser formada, em sua maioria, por representantes da ala mais radical do bolsonarismo. Com a filiação do presidente, em novembro do ano passado, a legenda passou a abrigar os principais nomes do grupo, como os deputados Eduardo Bolsonaro (SP), Carlos Jordy (RJ), Carla Zambelli (SP) e Bia Kicis (DF).
Incomodados com dissidências entre seus aliados, dirigentes do PL e do PP têm cobrado engajamento de candidatos dos partidos do Centrão na campanha de Bolsonaro.
Outros partidos
Com dez partidos oficialmente na coligação de Lula, a ideia de petistas é tentar ampliar o leque de alianças ao atrair o máximo de siglas. Os possíveis acordos, contudo, só devem ser aprofundados após as eleições, já que a formação de uma base aliada costuma incluir a negociação de espaço no governo e de outras variáveis, como o posicionamento do Palácio do Planalto na escolha dos presidentes de Câmara e Senado.
— A gente tem nesta eleição um campo mais amplo para atuar. Já temos algumas alianças nos estados. E podemos nos aproximar mais de MDB, PSD, PSDB, PP, União Brasil, Republicanos e PDT — afirma Wellington Dias.
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