Rise of the Bolsonaros, um novo documentário que narra a ascensão de Jair Bolsonaro, é uma visão atraente. Mas ignora o fato de que as crises do Brasil estão enraizadas em seu modelo de desenvolvimento falho, não apenas na ascensão de uma família de fanáticos reacionários.
Alex Hochuli
Presidente Jair Bolsonaro aparece na televisão durante debate presidencial em São Paulo, 24 de setembro de 2022. (Rodrigo Paiva / Getty Images) |
Tradução /A história de uma família poderosa que ganhou tudo e os três filhos que não tiveram escolha a não ser foder o Brasil juntos. É como a série Arrested Development.
Assim segue a sequência do título – com alguma licença poética para os propósitos desta resenha – do novo documentário da PBS após a ascensão da família Bolsonaro (também exibido na BBC como uma série de três episódios). Lançado um mês antes do Brasil ir às urnas numa corrida de dois polos: Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o documentário tenta alertar o mundo sobre as consequências de um segundo mandato para o representante da extrema direita.
No entanto, suas críticas são bastante fracas. Eles refletem como e por que a oposição não conseguiu reunir as massas. Ao contrapor a destruição da Amazônia às alegações de Bolsonaro sobre explorar suas riquezas incalculáveis, ele falha em dizer a verdade sobre o desenvolvimento brasileiro e seus fracassos. Pior, permite que o bolsonarismo seja um avatar do desenvolvimento (parte fundamental de sua mitologia), quando é justamente o contrário.
Com acesso impressionante a ex-ministros do governo e ao filho mais velho de Bolsonaro, Flávio, Rise of the Bolsonaros [Ascensão dos Bolsonaros], tenta – e principalmente consegue – evitar o tom histérico de muitos comentários liberais sobre o presidente. Assim, ao deixar os seus entrevistados falar, apresenta a luz e as sombras.
Em todos esses documentários, há uma grande escolha editorial a ser feita em como encontrar esse contraste e em quais sombras focar. O preconceito vulgar de Bolsonaro e a postura anti-ambiental são os principais aqui, com ameaças contra a democracia e incentivo à violência logo atrás.
O primeiro dos episódios de uma hora de duração reconstrói com paciência e sensibilidade quem é Jair Bolsonaro, desde suas raízes humildes no interior de São Paulo, passando pelo quartel do Exército do Rio de Janeiro (do qual foi expulso), até seus sete mandatos como membro do chamado baixo clero (políticos fisiológicos não influentes) no Congresso. Onde apenas conseguiu aprovar duas leis, em 27 anos como deputado.
Demasiado irrelevante para estar no nexo da corrupção do “big money”, Bolsonaro surge no episódio dois como o político-chave para explorar o sentimento anticorrupção e surfar na onda moralista de direita que tomou conta do Brasil de 2015 a 2018 – pavimentando seu caminho até o Planalto. O ex-assessor de Donald Trump, Steve Bannon, tem amplo tempo no documentário para exibir seu entusiasmo por Bolsonaro, que, ele insiste, inspirou Trump tanto quanto o contrário.
Aqui podemos notar uma oportunidade perdida. Apesar do acesso a uma série de especialistas nacionais e internacionais, o documentário nunca vai além da narrativa cansativa e errônea do “Trump Tropical”. Nesse sentido, não nos diz algo sobre o Brasil e sobre como os Bolsonaros são particularmente brasileiros, por mais que também possam fazer parte de uma onda de direita global. Há acenos para isso no retrato do “novo Brasil” no interior do país, das cidades a centenas de quilômetros da costa, do gado, da soja e das armas. Mas essa não é toda a história e deixa escapar como uma das economias de crescimento mais rápido do mundo (chegando a sexta posição no governo do PT) durante boa parte do século XX estagnou – apesar do boom impulsionado pelas commodities no início do século XXI.
Continuando onde a ditadura militar parou
Focado em seu mandato no poder, o episódio três também nos diz pouco sobre a continuidade autoritária representada pelo papel elevado dos militares na política (inclusive como ministros) sob Bolsonaro. Jair, repetidamente nos dizem, é um nostálgico da ditadura de 1964-1985, mas isso aparece como um defeito pessoal, uma inclinação puramente ideológica e não uma força dentro da sociedade brasileira que ganhou confiança na medida em que o Brasil se vê incapaz de encontrar uma saída para uma crise permanente.
Essa deficiência é mais clara em dois eixos. Primeiro, há o fanatismo dos bolsonaristas. A maioria já conhece a miríade dos ultrajes, mas repeti-los não é pecado em si; suas palavras apresentam uma janela para a visão de mundo bolsonarista. Mas há pouco dado materialmente para apoiá-lo. Um clipe do deputado Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho do presidente, com o dedo do meio em riste para parlamentares da oposição é tão fortemente apresentada nos três episódios que quase deixa alguém se perguntando se essa é a extensão do provas incriminatórias que cercam a família Bolsonaro. (Como dizem, sempre há dinheiro por trás do gesto.)
A realidade – que explosões moralistas surgem em momentos de crise social – é perdida.
A questão do aumento da violência política é abordada principalmente através do sangrento assassinato da vereadora negra, lésbica e socialista Marielle Franco em 2018. Isso é extremamente importante. Mas o uso desse episódio como exemplo das consequências do machismo e da homofobia de Bolsonaro não é devidamente encaixado.
Demasiado irrelevante para estar no nexo da corrupção do “big money”, Bolsonaro surge no episódio dois como o político-chave para explorar o sentimento anticorrupção e surfar na onda moralista de direita que tomou conta do Brasil de 2015 a 2018 – pavimentando seu caminho até o Planalto. O ex-assessor de Donald Trump, Steve Bannon, tem amplo tempo no documentário para exibir seu entusiasmo por Bolsonaro, que, ele insiste, inspirou Trump tanto quanto o contrário.
Aqui podemos notar uma oportunidade perdida. Apesar do acesso a uma série de especialistas nacionais e internacionais, o documentário nunca vai além da narrativa cansativa e errônea do “Trump Tropical”. Nesse sentido, não nos diz algo sobre o Brasil e sobre como os Bolsonaros são particularmente brasileiros, por mais que também possam fazer parte de uma onda de direita global. Há acenos para isso no retrato do “novo Brasil” no interior do país, das cidades a centenas de quilômetros da costa, do gado, da soja e das armas. Mas essa não é toda a história e deixa escapar como uma das economias de crescimento mais rápido do mundo (chegando a sexta posição no governo do PT) durante boa parte do século XX estagnou – apesar do boom impulsionado pelas commodities no início do século XXI.
Continuando onde a ditadura militar parou
Focado em seu mandato no poder, o episódio três também nos diz pouco sobre a continuidade autoritária representada pelo papel elevado dos militares na política (inclusive como ministros) sob Bolsonaro. Jair, repetidamente nos dizem, é um nostálgico da ditadura de 1964-1985, mas isso aparece como um defeito pessoal, uma inclinação puramente ideológica e não uma força dentro da sociedade brasileira que ganhou confiança na medida em que o Brasil se vê incapaz de encontrar uma saída para uma crise permanente.
Essa deficiência é mais clara em dois eixos. Primeiro, há o fanatismo dos bolsonaristas. A maioria já conhece a miríade dos ultrajes, mas repeti-los não é pecado em si; suas palavras apresentam uma janela para a visão de mundo bolsonarista. Mas há pouco dado materialmente para apoiá-lo. Um clipe do deputado Eduardo Bolsonaro, o terceiro filho do presidente, com o dedo do meio em riste para parlamentares da oposição é tão fortemente apresentada nos três episódios que quase deixa alguém se perguntando se essa é a extensão do provas incriminatórias que cercam a família Bolsonaro. (Como dizem, sempre há dinheiro por trás do gesto.)
A realidade – que explosões moralistas surgem em momentos de crise social – é perdida.
A questão do aumento da violência política é abordada principalmente através do sangrento assassinato da vereadora negra, lésbica e socialista Marielle Franco em 2018. Isso é extremamente importante. Mas o uso desse episódio como exemplo das consequências do machismo e da homofobia de Bolsonaro não é devidamente encaixado.
Marielle foi assassinada porque era uma feroz oponente do policiamento brutal, da política mafiosa e da intervenção militar no Rio, esses são conflitos e lutas que são obscurecidos na narrativa da PBS. O fato de ela ser uma mulher não branca provavelmente a tornava mais uma vítima fácil – alguém que pode ser assassinado impunemente – mas não era a raiz da questão. Ela foi assassinada porque representava uma ameaça às milícias: máfias autoritárias nascidas da polícia e militares do Brasil que controlam o Rio de Janeiro.
Mais amplamente, ao longo do documentário, a violência cotidiana da sociedade brasileira é bastante encoberta. Seria grosseiro criticar um documentário de três horas de duração por não incluir mais – ele faz muito, e o faz de forma atraente e envolvente para um público não brasileiro. Mas dada a centralidade da violência no apelo de Bolsonaro, mais alguns minutos sobre isso seriam ótimos. A insegurança cotidiana nas periferias do Brasil, criada e sustentada por grupos que variam entre – grandes gangues, criminosos de baixo escalão, grupos de vigilantes e milícias – cria um desejo de represália. Como observou Matthew Richmond, muitos “não gostam de Bolsonaro, mas pensam que pelo menos ele vai dar uma surra nos bandidos”. Sendo que ele tem conexão com milicianos e abafa qualquer investigação de corrupção sobre eles, sua família e seus ministros.
Em vez disso, aprendemos sobre o afrouxamento das leis de armas de Bolsonaro; um fato importante, mas que provavelmente apenas acelerará uma dinâmica já existente. Não explica realmente o bolsonarismo ou por que pode ser uma receita política de sucesso.
Mais amplamente, ao longo do documentário, a violência cotidiana da sociedade brasileira é bastante encoberta. Seria grosseiro criticar um documentário de três horas de duração por não incluir mais – ele faz muito, e o faz de forma atraente e envolvente para um público não brasileiro. Mas dada a centralidade da violência no apelo de Bolsonaro, mais alguns minutos sobre isso seriam ótimos. A insegurança cotidiana nas periferias do Brasil, criada e sustentada por grupos que variam entre – grandes gangues, criminosos de baixo escalão, grupos de vigilantes e milícias – cria um desejo de represália. Como observou Matthew Richmond, muitos “não gostam de Bolsonaro, mas pensam que pelo menos ele vai dar uma surra nos bandidos”. Sendo que ele tem conexão com milicianos e abafa qualquer investigação de corrupção sobre eles, sua família e seus ministros.
Em vez disso, aprendemos sobre o afrouxamento das leis de armas de Bolsonaro; um fato importante, mas que provavelmente apenas acelerará uma dinâmica já existente. Não explica realmente o bolsonarismo ou por que pode ser uma receita política de sucesso.
Na busca de raízes, principalmente no que diz respeito à homofobia e ao sexismo, somos informados em várias ocasiões que o Brasil é uma sociedade muito tradicional. Mas não é! E na medida em que o fanatismo do presidente é um importante ponto de conexão dele com sua sólida base, não é a tradição em si que está em ação. A virada para a direita no Brasil foi produto de mobilizações políticas (Vem pra Rua e MBL sendo um deles ) e não de uma maldição imutável enraizada na sociedade brasileira.
Tradicionalmente, a cultura brasileira tem uma certa frouxidão moral em seu cerne, que se manifestou como hipocrisia, uma vez que foi posta em contraste com as reivindicações moralizantes. Isso gerou uma “tolerância corrosiva”, um espírito de acomodação com o mundo imperfeito. Há sempre um acordo a ser feito e uma resolução cordial. Pregar algo como a erradicação dos homossexuais ou ver o diabo atrás de cada porta, como alguns pastores evangélicos fazem, é um tipo de ethos puritano que é relativamente novo no país – pelo menos em sua forma atual. Episódios anteriores de explosões puritanas foram, na verdade, interrupções políticas momentâneas em momentos de crise social, e não a regra.
Tradicionalmente, a cultura brasileira tem uma certa frouxidão moral em seu cerne, que se manifestou como hipocrisia, uma vez que foi posta em contraste com as reivindicações moralizantes. Isso gerou uma “tolerância corrosiva”, um espírito de acomodação com o mundo imperfeito. Há sempre um acordo a ser feito e uma resolução cordial. Pregar algo como a erradicação dos homossexuais ou ver o diabo atrás de cada porta, como alguns pastores evangélicos fazem, é um tipo de ethos puritano que é relativamente novo no país – pelo menos em sua forma atual. Episódios anteriores de explosões puritanas foram, na verdade, interrupções políticas momentâneas em momentos de crise social, e não a regra.
Para muitos brasileiros da classe trabalhadora e pobres, a “salvação” é muitas vezes a única esperança que se mantém, mediada por um pentecostalismo em rápido crescimento, que promete saúde e riqueza imediatas. Se uma eleição fosse realizada apenas entre os autodenominados evangélicos (cerca de 30% da população), Bolsonaro venceria o primeiro turno com folga.
A sociedade capitalista é uma guerra de todos contra todos, mas no Brasil a guerra é quase literal (60 mil homicídios por ano). Além disso, as massas são privadas de chances como o emprego formal (a taxa de informalidade chega a 40%), depois de também terem sido arrancadas da antiga sociedade agrária. Nesse contexto, tentar preservar o pouco que se tem assume uma conotação existencial. Daí a ênfase na família, e por que Bolsonaro teve sucesso em se apresentar como o único verdadeiro defensor dela.
Devastação ambiental para gerar riquezas
Osegundo eixo em que as deficiências de Bolsonaro são retratadas é o meio ambiente – efetivamente o pecado capital do presidente. No limite, o documentário chega perto de sugerir que essa é a única razão pela qual você deve se importar. A Amazônia é “a questão que definiria o reinado [de Bolsonaro]”, nos dizem, enquanto a sequência do título chama os Bolsonaros de “uma família com o destino do mundo em suas mãos”.
O mandato de Bolsonaro criou um grau absurdo de omissão e impunidade na Amazônia, à medida que as agências de proteção foram prejudicadas e sucateadas, com desmatamento, aumento de conflitos e invasão de terras indígenas, além de assassinatos de líderes indígenas e ambientalistas. Isso, aprendemos, é justificado no bolsonarismo por sua visão da terra como um El Dorado (com os mineiros autônomos, portanto, livres, e a tentativa de desapropriação de terras indígenas, inclusive os assassinando-os). Esse seria, portanto, o caminho do Brasil para o enriquecimento. Nele, Bolsonaro é retratado como retomando de onde a ditadura militar parou.
A sociedade capitalista é uma guerra de todos contra todos, mas no Brasil a guerra é quase literal (60 mil homicídios por ano). Além disso, as massas são privadas de chances como o emprego formal (a taxa de informalidade chega a 40%), depois de também terem sido arrancadas da antiga sociedade agrária. Nesse contexto, tentar preservar o pouco que se tem assume uma conotação existencial. Daí a ênfase na família, e por que Bolsonaro teve sucesso em se apresentar como o único verdadeiro defensor dela.
Devastação ambiental para gerar riquezas
Osegundo eixo em que as deficiências de Bolsonaro são retratadas é o meio ambiente – efetivamente o pecado capital do presidente. No limite, o documentário chega perto de sugerir que essa é a única razão pela qual você deve se importar. A Amazônia é “a questão que definiria o reinado [de Bolsonaro]”, nos dizem, enquanto a sequência do título chama os Bolsonaros de “uma família com o destino do mundo em suas mãos”.
O mandato de Bolsonaro criou um grau absurdo de omissão e impunidade na Amazônia, à medida que as agências de proteção foram prejudicadas e sucateadas, com desmatamento, aumento de conflitos e invasão de terras indígenas, além de assassinatos de líderes indígenas e ambientalistas. Isso, aprendemos, é justificado no bolsonarismo por sua visão da terra como um El Dorado (com os mineiros autônomos, portanto, livres, e a tentativa de desapropriação de terras indígenas, inclusive os assassinando-os). Esse seria, portanto, o caminho do Brasil para o enriquecimento. Nele, Bolsonaro é retratado como retomando de onde a ditadura militar parou.
Mas os espectadores estão recebendo a mais falsa das dicotomias: empregos, riqueza e desenvolvimento, contra salvar o planeta. Qualquer um seria desculpado por escolher os primeiros, especialmente os trabalhadores em dificuldades, se essa fosse realmente a escolha. Mas não é, e é justamente a dicotomia que os fervorosos apoiadores de Bolsonaro procuram apresentar ao público.
A incursão nos confins do interior do país em busca da expansão da produção primária – agricultura e indústrias extrativas – é, na verdade, uma aceleração da crescente falta de desenvolvimento brasileiro. O Brasil é um garoto-propaganda da desindustrialização prematura por sua diminuição da produção como parcela da produção, e do desemprego, um nível de renda ainda muito baixo (bem abaixo de onde estavam as economias avançadas na mesma época na década de 1980, por exemplo).
Nenhuma força política busca seriamente reverter essa tendência, que se intensificou ao longo do período do PT no poder, e que um novo governo terá que enfrentar se Lula for vitorioso. Essa foi uma das razões pelas quais a base política do partido encolheu, e não pode ser explicada citando os constrangimentos após a tomada do poder ou culpando a contra-ofensiva da direita, dadas as implicações para a classe trabalhadora brasileira e o futuro do país como um todo.
A realidade é que a destruição da Amazônia não é uma triste consequência do desenvolvimento, mas um reflexo de seu fracasso. O PT pode ter feito um trabalho decente em desacelerar o desmatamento, enquanto Bolsonaro o encorajou, mas ambos estão trabalhando dentro do mesmo conjunto de escolhas limitadas. O desastre de Bolsonaro é que ele representa uma aceleração das piores tendências “desenvolvimentistas” do Brasil.
Essas são, infelizmente, questões dificilmente exclusivas do Brasil. A rampa de entrada para o desenvolvimento parece fechada para a maioria, enquanto as consequências, como o aprofundamento da desigualdade socioeconômica, a política esclerosada, e o populismo espetacular, são quase universais hoje.
A fraqueza da oposição a Bolsonaro é evidente na medida em que não conseguiu apresentar uma visão verdadeiramente alternativa. “Não seja fanático, não destrua o Estado, não torne a sociedade mais violenta, não queime a Amazônia” é preferível ao contrário, mas serve apenas para conter a crise brasileira, não sua resolução. Não é à toa, então, que a oposição parecia ineficaz e perdida até que Lula voltou à cena política em março de 2021.
Em última análise, embora Rise of the Bolsonaros não seja um documentário ruim, ele reflete essa postura. Os produtores talvez não sejam inteiramente responsáveis; se você busca apenas documentar, você não pode inventar um pólo ideológico de oposição onde não há um, você pode apenas refletir o que está lá.
No final, ficamos com um documentário que se apresenta como “acontecimentos malucos no velho Brasil”, mas que também conclui que o mundo vai acabar se Bolsonaro for reeleito. A crítica histórica profunda permanece em falta; é mais desenvolvimento atrasado do que a crucial história de desenvolvimento tardio.
Sobre o autor
A incursão nos confins do interior do país em busca da expansão da produção primária – agricultura e indústrias extrativas – é, na verdade, uma aceleração da crescente falta de desenvolvimento brasileiro. O Brasil é um garoto-propaganda da desindustrialização prematura por sua diminuição da produção como parcela da produção, e do desemprego, um nível de renda ainda muito baixo (bem abaixo de onde estavam as economias avançadas na mesma época na década de 1980, por exemplo).
Nenhuma força política busca seriamente reverter essa tendência, que se intensificou ao longo do período do PT no poder, e que um novo governo terá que enfrentar se Lula for vitorioso. Essa foi uma das razões pelas quais a base política do partido encolheu, e não pode ser explicada citando os constrangimentos após a tomada do poder ou culpando a contra-ofensiva da direita, dadas as implicações para a classe trabalhadora brasileira e o futuro do país como um todo.
A realidade é que a destruição da Amazônia não é uma triste consequência do desenvolvimento, mas um reflexo de seu fracasso. O PT pode ter feito um trabalho decente em desacelerar o desmatamento, enquanto Bolsonaro o encorajou, mas ambos estão trabalhando dentro do mesmo conjunto de escolhas limitadas. O desastre de Bolsonaro é que ele representa uma aceleração das piores tendências “desenvolvimentistas” do Brasil.
Essas são, infelizmente, questões dificilmente exclusivas do Brasil. A rampa de entrada para o desenvolvimento parece fechada para a maioria, enquanto as consequências, como o aprofundamento da desigualdade socioeconômica, a política esclerosada, e o populismo espetacular, são quase universais hoje.
A fraqueza da oposição a Bolsonaro é evidente na medida em que não conseguiu apresentar uma visão verdadeiramente alternativa. “Não seja fanático, não destrua o Estado, não torne a sociedade mais violenta, não queime a Amazônia” é preferível ao contrário, mas serve apenas para conter a crise brasileira, não sua resolução. Não é à toa, então, que a oposição parecia ineficaz e perdida até que Lula voltou à cena política em março de 2021.
Em última análise, embora Rise of the Bolsonaros não seja um documentário ruim, ele reflete essa postura. Os produtores talvez não sejam inteiramente responsáveis; se você busca apenas documentar, você não pode inventar um pólo ideológico de oposição onde não há um, você pode apenas refletir o que está lá.
No final, ficamos com um documentário que se apresenta como “acontecimentos malucos no velho Brasil”, mas que também conclui que o mundo vai acabar se Bolsonaro for reeleito. A crítica histórica profunda permanece em falta; é mais desenvolvimento atrasado do que a crucial história de desenvolvimento tardio.
Sobre o autor
Alex Hochuli é escritor e consultor de pesquisa. Ele é co-apresentador do Aufhebunga Bunga, o podcast de política global, e coautor de "Politics at the End of the End of History".
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