1 de setembro de 2022

Números da 3ª via mexem nas peças, mas mantêm Lula em vantagem

Com rejeição nas alturas, Bolsonaro sofre para capturar eleitores que se opõem ao rival

Bruno Boghossian



A aceleração da campanha e o aumento da exposição dos candidatos na TV pode não ter abalado a corrida de forma significativa, mas mexeu em peças importantes para as semanas até o primeiro turno.

A variação dos presidenciáveis que reivindicam o rótulo da "terceira via", ainda muito distantes de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), tem efeitos colaterais sobre a situação dos dois líderes nas pesquisas.

Pela primeira vez desde maio, o Datafolha não captou nenhum crescimento ou oscilação positiva de Bolsonaro e registrou Lula abaixo da linha de 50% dos votos, necessária para uma vitória imediata.

Os dados indicam que alguns eleitores voltaram a olhar vitrines da disputa, após meses de alinhamento relativamente consolidado entre o petista e o atual presidente. Nas últimas duas semanas, passou de 9% para 14% o percentual de entrevistados que declaram voto em Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB).

Combinada com uma oscilação negativa de Lula, esse dado reduziu a chance de vitória do petista na primeira rodada de votação, mas manteve o favoritismo do ex-presidente para o segundo turno.

Eleitores de Ciro rejeitam Bolsonaro (65%) mais do que Lula (48%) –o que deve reforçar os apelos do PT pelo voto útil nesse segmento. Já os apoiadores de Simone se equivalem na oposição ao presidente (66%) e ao petista (61%). Os números ajudam a manter Lula em vantagem na passagem para o segundo turno.

Ainda que 27% dos eleitores de Ciro e Simone migrem para Bolsonaro nessa etapa, a maior parte prefere o petista (43%), e outros 29% votam em branco ou nulo. O movimento de Ciro e Simone pode ter ajudado a frear a trajetória de alta de Bolsonaro, que vem registrando curva de melhora na avaliação do governo.

Bolsonaro trabalha, há alguns meses, para casar esses dados com um aumento nos índices de rejeição a Lula. A equipe do presidente esperava que o sentimento de oposição ao ex-presidente se revertesse automaticamente em votos para ele. Ainda que não tenham a velocidade esperada pela equipe do atual presidente, há sinais de que os ponteiros da rejeição a Lula estão se movendo nessa direção. Desde maio, subiu de 33% para 39% a proporção de eleitores que dizem não votar no petista "de jeito nenhum".

O dado põe o petista perto do patamar mais alto de rejeição registrado por ele em eleições. Em 1994, quando Lula foi derrotado no primeiro turno por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), esse índice era de 40% no final da disputa. Nas campanhas vitoriosas de 2002 e 2006, tinha rejeição de 29% e 26%.

Neste ciclo atual, o aumento na rejeição a Lula foi captado com maior intensidade no Sudeste –ponto-chave do esforço de Bolsonaro para recuperar eleitores que votaram nele em 2018.

Em duas semanas, a taxa passou de 38% para 44% entre eleitores da região. Ao mesmo tempo, a vantagem de Lula para Bolsonaro no Sudeste caiu de 12 para 6 pontos percentuais no primeiro turno.

Embora Bolsonaro tenha conseguido obter um crescimento paralelo às variações na rejeição a Lula nos últimos meses, ele não obteve os mesmos ganhos na nova pesquisa. Um dos motivos para isso é que a rejeição ao próprio presidente continua em níveis proibitivos para qualquer político interessado em ganhar uma eleição —desde a última pesquisa, a taxa oscilou de 51% para 52%.

Não por acaso, o Datafolha detectou nesse período um espaço para dois candidatos que mantêm distância em relação a Lula, mas não poupam Bolsonaro de críticas. Os números da pesquisa sugerem que Ciro e Tebet cresceram em segmentos que tinham uma conexão pouco firme com o petista –como algumas fatias do Sudeste– e também entre eleitores frustrados ou indecisos.

Os dois candidatos colhem os primeiros frutos das mensagens disparadas nesta etapa da campanha. Ciro, que apostou numa plataforma para a campanha digital, ganhou sete pontos entre os mais jovens. Já Tebet passou de 2% para 6% entre as mulheres, foco de seu discurso no debate do último domingo (28).

No caso da senadora, a exposição na TV turbinou sua taxa de conhecimento, que subiu de 27% para 44%.

O levantamento também indica que, nas últimas semanas, tanto o debate econômico como a busca pelo voto evangélico esfriaram, apesar dos esforços das campanhas de Lula e Bolsonaro nesse sentido.

Completado o primeiro calendário de pagamentos de R$ 600 do Auxílio Brasil, os beneficiários continuam distantes do presidente: 56% deles seguem declarando voto em Lula no primeiro turno, enquanto Bolsonaro marca apenas 28% no grupo.

A estagnação confirma a análise de que esse eleitor ainda não demonstra intenção de premiar o presidente pela ampliação das parcelas –e que pairam incertezas sobre a continuidade do novo valor.

O presidente dedicou parte de sua campanha nas últimas semanas à divulgação da promessa de manter o benefício em R$ 600, mas os dados indicam que, na melhor das hipóteses, ele conseguiu apenas frear uma perda de terreno nesse segmento.

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