Kurt Hackbarth
Jacobin
Tradução / No final, nada foi o suficiente.
Tradução / No final, nada foi o suficiente.
Uma ampla aliança de partidos de direita, o apoio veemente de associações empresariais, a parcialidade aberta do Instituto Nacional Eleitoral, o financiamento canalizado por ONGs da USAID e do National Endowment for Democracy, cenas desesperadas de compra de votos e uma campanha quase uniforme da grande mídia, incluindo debates anti-AMLO de última hora em todos os veículos, da The Economist a The Nation: nada disso foi capaz de impedir a coalizão MORENA de irromper à vitória nas eleições mexicanas de meio de mandato, em junho 6, mantendo sua maioria no Congresso e conquistando dois terços das disputas para governadores.
Os resultados da contagem eleitoral preliminar indicam que o MORENA conquistará entre 190 e 203 cadeiras na Câmara dos Deputados, igualando ou melhorando seu resultado na eleição presidencial de 2018, quando conquistou 191. Some isso a cerca de 35 a 41 cadeiras conquistadas pelo Partido dos Trabalhadores e 40 a 48 conquistadas pelos Verdes, e a coalizão deve conquistar algo entre 265 e 292 cadeiras no total: uma clara maioria entre as 500 cadeiras. A vitória vai permitir a agenda legislativa de MORENA prossiga em conjunto com a sua maioria no Senado, que não teve eleição.
Nas disputas para governadores, MORENA se saiu ainda melhor, ganhando 11 das 15 casas estaduais, 10 das quais vieram de um ou outro membro da aliança da direita. Do outrora temido Partido Revolucionário Institucional (PRI) sozinho, ele arrebatou 7. Isso aumentará o número total de estados governados por MORENA de meros 6, antes da metade do mandato, para 17 em 32.Digno de nota foi a capacidade da coalizão de vencer em estados fronteiriços ao norte, como Baja California, Sonora e Coahuila, onde praticamente não tinha presença antes de 2018 e onde seus partidos predecessores de centro-esquerda não conseguiram fazer incursões por décadas. Com sua capacidade de vencer em qualquer parte do país, do norte industrial e voltado para os EUA ao sul mais rural e indígena – e sem Andrés Manuel López Obrador na cabeça da chapa nesta ocasião -, o MORENA deu mais um passo em se articular como um partido verdadeiramente nacional.
Um tiro no arco
Nem todas as notícias, no entanto, foram uniformemente positivas. Com todo o peso da ironia, MORENA acumulou vitórias em toda a topografia variada do país apenas para tropeçar em seu território natal, a Cidade do México. Lá, perdeu 8 das 16 alcaldías, ou distritos em que se dividiu o antigo distrito federal, e quase perdeu a maioria no parlamento. A divisão era nítida entre as áreas da classe trabalhadora a leste e as zonas mais ricas a oeste, levando a uma pequena indústria de memes sobre uma cidade dividida como se tivesse restaurado o Muro de Berlin.
Acima da divisão socioeconômica e das vicissitudes da governança de longo prazo (a centro-esquerda governa a Cidade do México sem interrupção desde 1997), a votação pareceu um protesto claro e muito direcionado contra o desastre do metrô de 3 de maio, no qual a queda de um trecho do elevada causou a morte de 26. Embora o governo da cidade tenha prometido repetidamente que não haverá impunidade em sua investigação, ninguém foi demitido ou advertido. E como os principais candidatos à presidência do MORENA são os atuais e ex-prefeitos, Claudia Sheinbaum e Marcelo Ebrard, as perdas na cidade também lançam um certo grau de dúvida sobre o que acontecerá com os escalões superiores do partido uma vez que o AMLO – que não pode buscar reeleição – deixe o cargo em 2024.
Complicações na capital à parte, os resultados gerais dão ao MORENA e seus apoiadores muito o que comemorar. Mostrou resiliência em sua primeira apresentação como partido do governo, demonstrando que poderia vencer nacionalmente sem AMLO na cabeça da chapa, em uma eleição fora de temporada que normalmente pune o partido no poder, em face de uma oposição unida, e no contexto, além disso, de uma pandemia cujas repercussões derrubaram presidentes e primeiros-ministros em outras partes do mundo. Os cidadãos nas ruas também desempenharam um papel direto, intervindo para frustrar as repetidas tentativas de crimes eleitorais que contou até com o apoio da Guarda Nacional, que fez prisões em situações que historicamente ficaram impunes.
Acima da divisão socioeconômica e das vicissitudes da governança de longo prazo (a centro-esquerda governa a Cidade do México sem interrupção desde 1997), a votação pareceu um protesto claro e muito direcionado contra o desastre do metrô de 3 de maio, no qual a queda de um trecho do elevada causou a morte de 26. Embora o governo da cidade tenha prometido repetidamente que não haverá impunidade em sua investigação, ninguém foi demitido ou advertido. E como os principais candidatos à presidência do MORENA são os atuais e ex-prefeitos, Claudia Sheinbaum e Marcelo Ebrard, as perdas na cidade também lançam um certo grau de dúvida sobre o que acontecerá com os escalões superiores do partido uma vez que o AMLO – que não pode buscar reeleição – deixe o cargo em 2024.
Complicações na capital à parte, os resultados gerais dão ao MORENA e seus apoiadores muito o que comemorar. Mostrou resiliência em sua primeira apresentação como partido do governo, demonstrando que poderia vencer nacionalmente sem AMLO na cabeça da chapa, em uma eleição fora de temporada que normalmente pune o partido no poder, em face de uma oposição unida, e no contexto, além disso, de uma pandemia cujas repercussões derrubaram presidentes e primeiros-ministros em outras partes do mundo. Os cidadãos nas ruas também desempenharam um papel direto, intervindo para frustrar as repetidas tentativas de crimes eleitorais que contou até com o apoio da Guarda Nacional, que fez prisões em situações que historicamente ficaram impunes.
Munido desse endosso do público mexicano, o desafio do MORENA nos próximos anos será manter seu ímpeto, de resistir à tentação e evitar, acima de tudo, se enredar prematuramente na corrida presidencial que está por vir. Ele conquistou apoio para o Congresso para entregar e – como mostrou o tiro na proa na Cidade do México – o que foi dado pode ser retirado com a mesma rapidez. Manos a la obra.
Sobre o autor
Kurt Hackbarth é escritor, dramaturgo, jornalista freelance e cofundador do projeto de mídia independente "MexElects". Atualmente, ele é co-autor de um livro sobre as eleições mexicanas de 2018.
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