Ninguém gosta de juro alto, mas as pessoas gostam menos ainda de inflação alta
Bolsonaro ao lado Guedes durante evento para anúncios de medidas do Ministério do Turismo, no Palácio do Planalto. (Pedro Ladeira/Folhapress) |
Nosso debate econômico ficou engraçado. O aumento da inflação aliviou a restrição fiscal a curto prazo e, portanto, diminuiu o terrorismo de quem dizia “o Brasil está quebrado”.
Diante do novo cenário de finanças públicas, o que o pessoal do “acabou o dinheiro” resolveu fazer?Como não dá mais para falar em dominância fiscal em 2021, o novo slogan é: “O governo é sócio da inflação”. Como todo sofisma, a afirmação parte de um fato correto para uma conclusão capciosa.
Qual é o fato correto? O aumento da inflação alivia a restrição fiscal a curto prazo. Com PIB nominal maior, a dívida e o déficit primário caem em proporção do PIB. A inflação maior também derruba a taxa de juro real paga pelo governo, aliviando a rolagem da dívida.
Todos os efeitos acima são temporários. Como temos (ainda bem) meta de inflação, o BC corretamente reage à aceleração de preços com aumento de juro, o que diminuirá o crescimento do PIB e elevará o custo de carregamento da dívida mais à frente. Foi isso que aconteceu em 2015-16, é isso que está acontecendo agora.
Dizer que o governo é sócio da inflação é um erro porque a maior parte da recente elevação de preços não teve origem nas políticas do governo. O aumento da inflação está sendo puxado por preços internacionais (boom de commodities) e condições climáticas (bandeira vermelha na energia), não por razões internas (demanda aquecida).
Não dá para colocar o aumento da inflação na conta da política fiscal porque os dados do primeiro trimestre demonstraram claramente queda do consumo, público e privado, redução na construção civil e contração fiscal.
Estaria o BC sendo leniente com a inflação? Também acho que não, haja vista o aumento mais forte de juro em curso, com claro objetivo de antecipar (“frontload”, em faria-limês) o ajuste monetário para controlar as expectativas de inflação.
A evolução dos acontecimentos demonstrou que, apesar de a maior parte do aumento de inflação não ter origem na demanda, o BC agiu corretamente ao elevar a Selic. Com a variação do IPCA chegando a 8% nos últimos 12 meses, acho que agora nem meus colegas mais heterodoxos dirão que foi errado subir Selic.
Sim, ninguém gosta de juro alto, mas as pessoas gostam menos ainda de inflação alta.
Há alguns meses disse que o debate monetário não era sobre a necessidade de o BC subir a Selic, mas sim qual deveria ser o aumento da Selic. Hoje, diante da aceleração de preços puxada pelo custo de geração de energia, o quadro está pior do que o esperado.
O maior risco para a recuperação da economia está na oferta de energia, não na política fiscal. Se houver apagão ou racionamento, a inflação tenderá a subir ainda mais, com queda do nível de atividade, tornando o cenário econômico bem incerto no fim do ano.
Por enquanto os economistas estão otimistas, dizendo que haverá “apenas” aumento de preço de energia. Os engenheiros estão pessimistas, dizendo que vem racionamento por aí. Torço pela opinião dos economistas, mas admito que não temos bom histórico no assunto.
Voltando à política fiscal, o aumento mais rápido do PIB nominal aliviou a trajetória de dívida e déficit público para este ano. Se são Pedro ajudar e a inflação (tomara que sim) cair, o repique de preços de 2021 também aliviará a restrição fiscal no primeiro semestre de 2022.Voltaremos a debater dominância fiscal no meio da campanha eleitoral do ano que vem, pois o problema orçamentário do governo não foi embora. A realidade só demonstrou que ele é menor do que vários colegas diziam há alguns meses.
A evolução dos acontecimentos demonstrou que, apesar de a maior parte do aumento de inflação não ter origem na demanda, o BC agiu corretamente ao elevar a Selic. Com a variação do IPCA chegando a 8% nos últimos 12 meses, acho que agora nem meus colegas mais heterodoxos dirão que foi errado subir Selic.
Sim, ninguém gosta de juro alto, mas as pessoas gostam menos ainda de inflação alta.
Há alguns meses disse que o debate monetário não era sobre a necessidade de o BC subir a Selic, mas sim qual deveria ser o aumento da Selic. Hoje, diante da aceleração de preços puxada pelo custo de geração de energia, o quadro está pior do que o esperado.
O maior risco para a recuperação da economia está na oferta de energia, não na política fiscal. Se houver apagão ou racionamento, a inflação tenderá a subir ainda mais, com queda do nível de atividade, tornando o cenário econômico bem incerto no fim do ano.
Por enquanto os economistas estão otimistas, dizendo que haverá “apenas” aumento de preço de energia. Os engenheiros estão pessimistas, dizendo que vem racionamento por aí. Torço pela opinião dos economistas, mas admito que não temos bom histórico no assunto.
Voltando à política fiscal, o aumento mais rápido do PIB nominal aliviou a trajetória de dívida e déficit público para este ano. Se são Pedro ajudar e a inflação (tomara que sim) cair, o repique de preços de 2021 também aliviará a restrição fiscal no primeiro semestre de 2022.Voltaremos a debater dominância fiscal no meio da campanha eleitoral do ano que vem, pois o problema orçamentário do governo não foi embora. A realidade só demonstrou que ele é menor do que vários colegas diziam há alguns meses.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research.
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