Recuperação da economia, por um lado, foi vigorosa; por outro, vulnerável
A economia brasileira cresceu 1,2% no primeiro trimestre, dissipando o risco de recessão técnica em 2021. Falo do número com ajuste sazonal divulgado pelo IBGE.
Na comparação com o mesmo período de 2021 o crescimento foi parecido, de 1%. Prefiro analisar este último número porque estimativas com ajuste sazonal podem variar muito à medida em que novas observações são acrescentadas ao PIB, mas isso é coisa de estatístico. Passemos às interpretações econômicas.
De um lado, a recuperação do PIB foi vigorosa! Na comparação com o primeiro trimestre de 2020 a agropecuária cresceu 5,2% e a indústria 3%, um desempenho muito bom considerando que a pandemia atingiu o Brasil somente no final de março do ano passado.
Houve forte crescimento do investimento, de 17%, puxado por compra de máquinas e equipamentos e gastos com tecnologia de informação, para empresas e famílias se adequarem à realidade pós-pandemia. O comércio cresceu 3,5%, provavelmente puxado pela expansão de compras pela internet e serviços de entrega para os mais ricos.
De um lado, a recuperação do PIB foi vigorosa! Na comparação com o primeiro trimestre de 2020 a agropecuária cresceu 5,2% e a indústria 3%, um desempenho muito bom considerando que a pandemia atingiu o Brasil somente no final de março do ano passado.
Houve forte crescimento do investimento, de 17%, puxado por compra de máquinas e equipamentos e gastos com tecnologia de informação, para empresas e famílias se adequarem à realidade pós-pandemia. O comércio cresceu 3,5%, provavelmente puxado pela expansão de compras pela internet e serviços de entrega para os mais ricos.
Do outro lado, a recuperação do PIB foi vulnerável! Na comparação com o mesmo período de 2020, houve queda de 0,8% nos serviços, provavelmente devido ao arrocho fiscal e aos efeitos da segunda onda da Covid sobre a prestação de serviços pessoais nas cidades.
Apesar da queda do juro e do boom nos preços de imóveis, a construção civil registrou a quinta contração seguida, com queda de 0,9% em relação ao início de 2020. A situação tende a se estabilizar no restante do ano, mas não haverá recuperação sustentável sem aumento substancial da construção civil.
Apesar da queda do juro e do boom nos preços de imóveis, a construção civil registrou a quinta contração seguida, com queda de 0,9% em relação ao início de 2020. A situação tende a se estabilizar no restante do ano, mas não haverá recuperação sustentável sem aumento substancial da construção civil.
O fim abrupto do auxílio emergencial e o aumento da inflação contribuíram para derrubar o consumo das famílias em 1,7%, a quinta queda consecutiva neste tipo de comparação. E no setor público, o hiper arrocho fiscal derrubou o consumo do governo (gasto com educação, saúde e atividades afins) em 4,9%, a décima queda consecutiva para “quebrar o piso” da vida de milhões de pessoas.
Qual é o diagnóstico final? Como tudo em economia, você lerá várias interpretações na imprensa, do ufanismo governista ao catastrofismo oposicionista. Dado que o cenário de 2021 ainda é muito incerto para o Brasil, prefiro ficar no muro.
O resultado do PIB foi muito melhor do que se esperava há alguns meses e isso é ótimo. Crescimento ajuda a diminuir tensão social e facilita o equacionamento da situação fiscal, mesmo que a política fiscal não tenha contribuído para o crescimento.
Porém, não há como ignorar que a recuperação econômica está bem desigual, entre setores, entre regiões e, sobretudo, entre ricos e pobres. A queda do consumo das famílias é preocupante, mas isso pode ser atenuado com o auxílio emergencial, que voltou a ser pago a partir de abril.
O quadro atual me lembrou aquela frase atribuída a Medici durante a ditadura militar e milagre econômico dos anos 1970: “a economia vai bem, mas o povo vai mal”. Traduzindo para hoje, não sei se nossa recuperação é em “V” de vigor ou vulnerabilidade, mas com certeza ela tem um “D” de desigual.
Para que o crescimento do PIB se sustente e beneficie mais pessoas será preciso reforçar a transferência de renda às famílias mais vulneráveis, bem como garantir que a elevação de PIB gere empregos na quantidade necessária para reduzir o desemprego.
Qual é o diagnóstico final? Como tudo em economia, você lerá várias interpretações na imprensa, do ufanismo governista ao catastrofismo oposicionista. Dado que o cenário de 2021 ainda é muito incerto para o Brasil, prefiro ficar no muro.
O resultado do PIB foi muito melhor do que se esperava há alguns meses e isso é ótimo. Crescimento ajuda a diminuir tensão social e facilita o equacionamento da situação fiscal, mesmo que a política fiscal não tenha contribuído para o crescimento.
Porém, não há como ignorar que a recuperação econômica está bem desigual, entre setores, entre regiões e, sobretudo, entre ricos e pobres. A queda do consumo das famílias é preocupante, mas isso pode ser atenuado com o auxílio emergencial, que voltou a ser pago a partir de abril.
O quadro atual me lembrou aquela frase atribuída a Medici durante a ditadura militar e milagre econômico dos anos 1970: “a economia vai bem, mas o povo vai mal”. Traduzindo para hoje, não sei se nossa recuperação é em “V” de vigor ou vulnerabilidade, mas com certeza ela tem um “D” de desigual.
Para que o crescimento do PIB se sustente e beneficie mais pessoas será preciso reforçar a transferência de renda às famílias mais vulneráveis, bem como garantir que a elevação de PIB gere empregos na quantidade necessária para reduzir o desemprego.
O governo tem instrumentos para fazer isso, mas por enquanto nossa equipe de ideologia econômica se recusa a ler corretamente a mensagem do PIB. Para a recuperação ser efetiva, ela deve ser para todos.
Sobre o autor
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research
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