O presidente brasileiro Lula da Silva conhece muito bem os perigos da extrema direita e, durante sua visita aos Estados Unidos na semana passada, expôs exatamente como derrotar esses reacionários: não lutando por uma falsa unidade, mas confrontando frontalmente os inimigos da democracia.
Craig Johnson
Tradução / Na sexta-feira passada, dois líderes americanos que enfrentaram tentativas de golpe, o presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniram em Washington, DC. Os dois presidentes trocaram as amabilidades habituais das visitas diplomáticas, mas era o visitante latino-americano que tentava ensinar o presidente dos Estados Unidos a lidar com uma insurreição.
Esta não foi a primeira visita de Lula à capital norte-americana, mas foi a primeira desde que derrotou Jair Bolsonaro nas eleições brasileiras do ano passado. Lula se reuniu com membros progressistas do Congresso, incluindo o senador Bernie Sanders e a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, além do presidente da AFL-CIO. A mudança climática e a retórica pró-trabalhadores da visita de Lula brilharam nessas reuniões, com repórteres perguntando sobre os planos do Brasil para proteger a Amazônia e Sanders e Ocasio-Cortez elogiando seu compromisso com os direitos trabalhistas. Com Lula, o Brasil voltará a ser líder nessas áreas.
Mas o principal motivo da visita de Lula foi a insurreição de 8 de janeiro no Brasil - Biden o convidou para visitar os Estados Unidos um dia depois que os apoiadores de Bolsonaro invadiram a capital brasileira. Não era uma reunião típica, e Lula sabia disso. Foi uma oportunidade de mostrar às pessoas nos Estados Unidos como lidar com a extrema direita.
Lula demonstrou isso de forma mais clara em sua conversa com Christiane Amanpour, da CNN, a entrevista de maior destaque que ele concedeu em solo americano. Amanpour perguntou sobre as intenções políticas de Lula, sua posição sobre a invasão russa da Ucrânia e da Amazônia, mas a primeira metade da conversa se concentrou no estado da democracia no Brasil. Ela apresentou suas perguntas como um desafio ao presidente Lula, argumentando que "o Brasil está dividido. ... metade do país te ama e metade do país te odeia", e sugeriu que "“unificar o Brasil é a chave para proteger a democracia".
Enquadrar os ataques de Bolsonaro a Lula e à democracia brasileira como um potencial fracasso de Lula em "unir" o país revelou o entendimento raso dela e da grande imprensa da política democrática quando confrontado com a extrema direita. A resposta de Lula a Amanpour, por outro lado, demonstrou sua profunda consciência da luta pela frente e sua dedicação para derrotar aqueles que minam os direitos democráticos. Lula rebateu seu argumento de que o Brasil está singularmente dividido, observando que as divisões partidárias fazem parte de qualquer processo democrático. O problema não é com o Brasil ou os brasileiros, que ele disse serem em sua maioria "pacíficos", mas sim com a ascensão de uma direita antidemocrática.
Ele também deixou claro que a “extrema direita”, em suas palavras, era uma ameaça internacional no nível da perda da Amazônia – e, portanto, exigia colaboração e solidariedade internacional. Há “uma extrema direita rodando o mundo... na França, Hungria, Alemanha, com atitude nazista”, disse Lula, interrompendo antes que Amanpour pudesse passar para outro assunto.
Ele lembrou que seu governo vem processando quem invadiu a capital brasileira e chegou a investigar e lidar com a colaboração de militares no golpe, algo que os Estados Unidos ignoraram totalmente por medo do que poderia revelar. Ele afirmou calmamente que Bolsonaro seria condenado em seu país, e possivelmente também em tribunais internacionais, por sua horrenda resposta à pandemia de COVID e tratamento aos indígenas. Este não era o rosto de um presidente incerto, com medo de balançar o barco, mas sim de um líder experiente que sabe que as ameaças à democracia de seu país só podem ser vencidas se forem enfrentadas de frente.
Mais uma vez, este é Lula e seu governo dando um exemplo vital para nós do Norte Global sobre como responder a ataques à democracia. A retórica de ambos os lados culpando a esquerda pela ascensão da direita, ou alegando que a unidade é a base da democracia – esses são becos sem saída. Não precisamos transcender o “partidarismo”. Precisamos derrotar a extrema direita e seus ataques aos direitos democráticos das pessoas comuns. E se seguirmos os conselhos dos bem-educados no enfrentamento da extrema-direita, como Lula e seus aliados brasileiros, podemos vencer.
Colaborador
Craig Johnson é PhD em história pela University of California Berkeley, onde seu trabalho se concentrou na direita e na Igreja Católica na Argentina, Brasil, Chile e Espanha. Ele apresenta um podcast chamado Fifteen Minutes of Fascism, um programa semanal de notícias e análises que cobre a ascensão global da direita radical.
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