17 de junho de 2024

O embargo de carvão da Colômbia contra Israel é um exemplo a ser seguido

A Colômbia era a maior exportadora de carvão para Israel — mas o presidente Gustavo Petro anunciou que cortaria o fornecimento. A mobilização colombiana contra o genocídio em Gaza mostra ao mundo como exercer pressão material sobre Israel.

Um trabalhador coleta pedaços de carvão na cidade portuária de Cartagena, Colômbia, em 13 de junho de 2024. (Schneyder Mendoza / AFP via Getty Images)

Rula Jamal

Jacobin

Tradução / Em 8 de junho, o presidente colombiano Gustavo Petro anunciou que seu país suspenderá as exportações de carvão para Israel até que o genocídio cesse. O carvão colombiano representou mais de 60% de todo o carvão fornecido a Israel em 2023, e a rede elétrica israelense depende do carvão para 22% de sua produção. A mesma rede fornece eletricidade para os assentamentos ilegais de Israel, fábricas de armas e infraestrutura usada pelo exército israelense para perpetrar o genocídio contra os palestinos em Gaza.

Com a Colômbia sendo a maior exportadora de carvão para Israel, essa decisão não é apenas uma vitória em termos simbólicos, mas demonstra o enorme impacto que um embargo energético mais amplo poderia ter para acabar com o genocídio de Israel em Gaza, bem como o poder da organização transnacional que trouxe a decisão.

Poucas semanas após o início do genocídio, o maior sindicato de trabalhadores das minas da Colômbia, Sintracarbón, respondeu a um chamado de solidariedade do movimento sindical palestino, emitindo uma declaração exigindo a suspensão das exportações de carvão colombiano para Israel. Ao levantar esse pedido, os mineiros também destacaram o papel nefasto de Israel no treinamento de paramilitares e mercenários responsáveis por atrocidades generalizadas na Colômbia, e convocaram trabalhadores de todo o mundo a parar a produção de metais, minerais e combustíveis que são usados nessas guerras… o planeta está à beira de uma nova guerra mundial e são os trabalhadores que podem e têm a obrigação de parar essa ameaça contra a existência da raça humana.

Com base nesse apelo, uma aliança de grupos palestinos, sob a bandeira do Embargo Energético Global pela Palestina, iniciou uma demanda mais ampla por um embargo multinível contra as transferências de energia que alimentam o genocídio e o apartheid israelense sobre os palestinos. Isso inclui exigências para acabar com a transferência de energia para Israel, a compra de gás israelense e a colaboração de empresas de energia em projetos energéticos israelenses.

Um embargo energético tem o potencial de exercer pressão imediata e a longo prazo sobre Israel, particularmente através da cadeia de suprimentos de carvão. A maior parte do carvão de Israel vem da Colômbia e da África do Sul, dois países comprometidos em apoiar o povo palestino. No entanto, apesar de a África do Sul ter iniciado um caso no Tribunal Internacional de Justiça contra Israel e a Colômbia ter expulsado o embaixador israelense, as exportações de carvão de ambos os países continuaram inabaláveis.

A campanha de Embargo Energético Global pela Palestina nasceu da conexão entre lutas, construindo uma aliança com sindicatos colombianos e grupos indígenas, ambos com — de maneiras muito diferentes — uma longa história de luta contra a indústria do carvão na Colômbia. Essa união demonstra que a causa palestina não está isolada em uma escala mundial, mas faz parte de um movimento global mais amplo por ação coletiva e libertação.

As duas principais empresas responsáveis pela extração de carvão destinado a Israel são a suíça Glencore e a americana Drummond, que fornecem mais de 90% do carvão colombiano enviado a Israel. A extração de carvão por essas empresas tem efeitos devastadores, especialmente sobre as populações afrodescendentes e indígenas do norte caribenho do país. Elas foram deslocadas de suas terras, morreram devido ao pó tóxico do carvão, e tiveram recursos hídricos vitais, como o Rio Rancheria, poluídos e roubados. Ativistas ambientais, organizações tribais e sindicalistas que resistem à destruição ambiental têm sido constantemente alvo e são assassinados por corporações mineradoras e milícias de direita.

Em suas mobilizações, líderes indígenas traçaram paralelos entre as lutas de seus povos e a causa palestina, combinando apelos a Petro para cortar os laços comerciais com Israel com exigências de responsabilização das empresas mineradoras por suas violações dos direitos humanos na Colômbia, bem como por permitir o genocídio de Israel.

O anúncio de Petro veio após um dia global de ação transnacional contra a Glencore por seus abusos de direitos humanos no dia 28 de maio, onde organizações palestinas escreveram diretamente ao presidente com a exigência de que ele encerrasse as exportações de carvão.

Essa mobilização resultou na decisão monumental de suspender as exportações de carvão colombiano para Israel. Ela demonstra como mobilizações além-fronteiras, com demandas claras e através de princípios e valores compartilhados, podem tecer uma campanha eficaz que desafia poderes globais, imperialismo e colonialismo.

Relata-se que Israel possui reservas de carvão suficientes para cobrir suas necessidades imediatas. No entanto, precisará recorrer a outros fornecedores, como Austrália, Cazaquistão, Rússia e África do Sul, para suprir a carência, e provavelmente será forçado a pagar mais em prêmios.

Isso ressalta ainda mais a necessidade do embargo energético global. Se outros países seguirem o exemplo da Colômbia e se comprometerem a cortar o fornecimento de carvão, o custo econômico para Israel aumentará ainda mais, atuando como uma fonte significativa de pressão para concordar com um cessar-fogo.

“O anúncio da Colômbia representa apenas o início de uma campanha global para acabar com o genocídio e trazer justiça ao povo palestino após mais de sete décadas de regime colonial e de apartheid por parte de Israel.”

A solidariedade entre Colômbia e Palestina tornou mais provável que o governo colombiano atendesse a essas demandas. Em outras circunstâncias, mobilizações mais sustentadas serão necessárias para ter impacto. No entanto, outros estados-chave, como a África do Sul, que entrega cerca de 9% do carvão de Israel, ou o Brasil, que fornece petróleo bruto a Israel, também devem ser alvos de mobilizações globais.

Estados e líderes internacionais que não atenderem ao chamado continuarão cúmplices do genocídio de Israel em Gaza. Um embargo energético é uma maneira crucial de acabar com essa cumplicidade — e para a comunidade global adotar uma posição de princípio ao lado do povo palestino.

Colaborador

Rula Jamal é jurista e defensora dos direitos humanos.

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