Ryan Zickgraf
A notícia da queda no fluxo de caixa do Musk atingiu alguns liberais e a esquerda como motivo de comemoração, levando à uma rodada de aplausos nas redes sociais. “A sofisticação francesa supera o tecnocrata estadunidense sem noção”, dizia um tuíte de um membro sênior do Atlantic Council.
A derrocada de Musk é compreensível em certo nível. Desde que assumiu o cargo de CEO do Twitter em outubro, o príncipe falastrão da Big Techs tem se comportado um pouco como um Donald Trump da Geração X, um bad boy bilionário que toma decisões, de negócios e pessoais, com base em caprichos arbitrários ou feridas em seu ego do tamanho de Marte. Em contraste, “Bernard Arnault vive sua vida como a maioria de nós viveria com esses bilhões: comprando arte, dando festas, ajudando a reconstruir Notre Dame, não sendo um troll”, tuitou um ex-funcionário do Obama que se tornou analista da CNN.
Mas não aplauda Arnault. Assim como o ódio ardente dos liberais por Trump levou à admiração equivocada por “conservadores normais” como George W. Bush, é um erro preferir um oligarca europeu do velho mundo.
O tipo errado
A biografia de Arnault parece ter sido montada digitando as frases “francês rico” e “vilão de Bond” no novo programa de chatbot da OpenAI.
Ele cresceu rico no norte da França, mas entrou em pânico depois que François Mitterrand foi eleito o primeiro presidente socialista em 1981 e fugiu para os EUA de Wall Street e Ronald Reagan aos 32 anos. Esse exílio auto-imposto durou apenas alguns anos, quando ele voltou ao seu país natal em 1983 para comprar o império Boussac, um conglomerado têxtil e de varejo que era dono da casa de moda Dior.
Em 2012, Arnault planejou deixar sua casa novamente em objeção ao aumento de impostos, mas aparentemente teve vergonha de ir por causa da imprensa francesa que já havia apelidado-o de “O Exterminador do Futuro” por suas implacáveis práticas comerciais, incluindo a demissão de 9 mil trabalhadores. Desta vez, eles o chamaram de traidor por buscar a cidadania belga para cometer evasão fiscal.
Hoje, o parisiense de 73 anos e seus cinco filhos privilegiados supervisionam a LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, ou apenas LVMH para abreviar. A corporação multinacional se destaca entre as marcas de moda e cosméticos de luxo superfaturadas, incluindo Christian Dior, Marc Jacobs e Sephora. Também, entre participações da LVMH, estão uma fabricante britânica de iates que comercializa barcos de US$ 3 milhões e uma empresa de champanhe que vende garrafas de espumante de mil dólares envoltas em ouro branco.
A fortuna de Arnault continua subindo enquanto ele fortalece seu monopólio sobre as merdas que os ricos compram. A LVMH perdeu US$ 3,2 bilhões em 2019 para o hoteleiro de luxo Belmond, que possui e administra 46 hotéis – incluindo o único hotel na cidade de Machu Picchu, no sul do Peru. Então, em janeiro passado, a LVMH tomou a joalheria norte-americana Tiffany & Co por US$ 15,8 bilhões, considerada a maior aquisição de marca de luxo de todos os tempos.
Durante a pandemia da COVID-19, os ricos ficaram mais ricos do que em qualquer outro momento da história, de acordo com o Banco Mundial. Arnault foi um dos dez homens mais ricos do mundo, que coletivamente dobraram suas fortunas de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão – a uma taxa de US$ 15.000 por segundo ou US$ 1,3 bilhão por dia. A fortuna de Arnault cresceu de US$ 76 bilhões em 2020 para US$ 188 bilhões apenas dois anos depois.
De forma mais ampla, o 1% global – aqueles com mais de US$ 1 milhão – agora possui quase metade (45,8%) da riqueza mundial. Então, o que esses milionários estão fazendo com todo o seu dinheiro ilícito? Além de voar para o espaço, comprar forças policiais privadas e se preparar para a distopia que ajudaram a criar, eles também estão comprando os luxuosos produtos vendidos pelas empresas de Arnault, como um colar de diamantes de US$ 20 milhões.
Considerando tudo, a ascensão de Arnault não é motivo para comemoração. Claro, ele tem um gosto mais refinado do que Elon Musk e não está provocando a esquerda com seu novo brinquedo que é o Twitter, mas sua ascensão ao trono de mais rico é mais um sinal de que a “era dourada” de hoje pode superar o original do século XIX.
O próprio Arnault gosta de citar a história do século XVIII. Em um perfil publicado na Forbes, ele é citado como tendo dito que se vê ligado à herança francesa de “Versalhes à Maria Antonieta”. Nesse caso, talvez seja hora de reunir a velha banda jacobina da era da Revolução. Ou, pelo menos, ecoar o jornal francês Libération, que certa vez disse a Arnault em uma manchete de primeira página: “Cai fora rico idiota”.
Colaborador
Bernard Arnault, bilionário e presidente da LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton, em Vendome, França, em 22 de fevereiro de 2022. (Nathan Laine/Bloomberg via Getty Images) |
Tradução / Graças ao curto-circuito no valor das ações da Tesla, Elon Musk não é mais o homem mais rico do mundo. O novo detentor do inglório título de homem mais rico do mundo é o CEO da LVMH, Bernard Arnault.
A notícia da queda no fluxo de caixa do Musk atingiu alguns liberais e a esquerda como motivo de comemoração, levando à uma rodada de aplausos nas redes sociais. “A sofisticação francesa supera o tecnocrata estadunidense sem noção”, dizia um tuíte de um membro sênior do Atlantic Council.
A derrocada de Musk é compreensível em certo nível. Desde que assumiu o cargo de CEO do Twitter em outubro, o príncipe falastrão da Big Techs tem se comportado um pouco como um Donald Trump da Geração X, um bad boy bilionário que toma decisões, de negócios e pessoais, com base em caprichos arbitrários ou feridas em seu ego do tamanho de Marte. Em contraste, “Bernard Arnault vive sua vida como a maioria de nós viveria com esses bilhões: comprando arte, dando festas, ajudando a reconstruir Notre Dame, não sendo um troll”, tuitou um ex-funcionário do Obama que se tornou analista da CNN.
Mas não aplauda Arnault. Assim como o ódio ardente dos liberais por Trump levou à admiração equivocada por “conservadores normais” como George W. Bush, é um erro preferir um oligarca europeu do velho mundo.
O tipo errado
A biografia de Arnault parece ter sido montada digitando as frases “francês rico” e “vilão de Bond” no novo programa de chatbot da OpenAI.
Ele cresceu rico no norte da França, mas entrou em pânico depois que François Mitterrand foi eleito o primeiro presidente socialista em 1981 e fugiu para os EUA de Wall Street e Ronald Reagan aos 32 anos. Esse exílio auto-imposto durou apenas alguns anos, quando ele voltou ao seu país natal em 1983 para comprar o império Boussac, um conglomerado têxtil e de varejo que era dono da casa de moda Dior.
Em 2012, Arnault planejou deixar sua casa novamente em objeção ao aumento de impostos, mas aparentemente teve vergonha de ir por causa da imprensa francesa que já havia apelidado-o de “O Exterminador do Futuro” por suas implacáveis práticas comerciais, incluindo a demissão de 9 mil trabalhadores. Desta vez, eles o chamaram de traidor por buscar a cidadania belga para cometer evasão fiscal.
Hoje, o parisiense de 73 anos e seus cinco filhos privilegiados supervisionam a LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, ou apenas LVMH para abreviar. A corporação multinacional se destaca entre as marcas de moda e cosméticos de luxo superfaturadas, incluindo Christian Dior, Marc Jacobs e Sephora. Também, entre participações da LVMH, estão uma fabricante britânica de iates que comercializa barcos de US$ 3 milhões e uma empresa de champanhe que vende garrafas de espumante de mil dólares envoltas em ouro branco.
A fortuna de Arnault continua subindo enquanto ele fortalece seu monopólio sobre as merdas que os ricos compram. A LVMH perdeu US$ 3,2 bilhões em 2019 para o hoteleiro de luxo Belmond, que possui e administra 46 hotéis – incluindo o único hotel na cidade de Machu Picchu, no sul do Peru. Então, em janeiro passado, a LVMH tomou a joalheria norte-americana Tiffany & Co por US$ 15,8 bilhões, considerada a maior aquisição de marca de luxo de todos os tempos.
Durante a pandemia da COVID-19, os ricos ficaram mais ricos do que em qualquer outro momento da história, de acordo com o Banco Mundial. Arnault foi um dos dez homens mais ricos do mundo, que coletivamente dobraram suas fortunas de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão – a uma taxa de US$ 15.000 por segundo ou US$ 1,3 bilhão por dia. A fortuna de Arnault cresceu de US$ 76 bilhões em 2020 para US$ 188 bilhões apenas dois anos depois.
De forma mais ampla, o 1% global – aqueles com mais de US$ 1 milhão – agora possui quase metade (45,8%) da riqueza mundial. Então, o que esses milionários estão fazendo com todo o seu dinheiro ilícito? Além de voar para o espaço, comprar forças policiais privadas e se preparar para a distopia que ajudaram a criar, eles também estão comprando os luxuosos produtos vendidos pelas empresas de Arnault, como um colar de diamantes de US$ 20 milhões.
Considerando tudo, a ascensão de Arnault não é motivo para comemoração. Claro, ele tem um gosto mais refinado do que Elon Musk e não está provocando a esquerda com seu novo brinquedo que é o Twitter, mas sua ascensão ao trono de mais rico é mais um sinal de que a “era dourada” de hoje pode superar o original do século XIX.
O próprio Arnault gosta de citar a história do século XVIII. Em um perfil publicado na Forbes, ele é citado como tendo dito que se vê ligado à herança francesa de “Versalhes à Maria Antonieta”. Nesse caso, talvez seja hora de reunir a velha banda jacobina da era da Revolução. Ou, pelo menos, ecoar o jornal francês Libération, que certa vez disse a Arnault em uma manchete de primeira página: “Cai fora rico idiota”.
Colaborador
Ryan Zickgraf é um jornalista residente no Alabama e editor da Third Rail Mag.
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