Nas décadas de 1970 e 1980, o jogador de futebol brasileiro Sócrates usou seu esporte como veículo para desafiar a ditadura militar e lutar pela democracia. A feia Copa do Mundo do Catar precisa de mais desse espírito heróico hoje.
Will Magee
Em 1986, Sócrates veio com uma mensagem simples: "México Sigue En Pie" - "México segue de pé". (David Cannon / Allsport via Getty Images) |
Tradução / Sócrates pode nunca ter passado das quartas de final da Copa do Mundo, mas continua sendo um dos jogadores mais icônicos da história do torneio. Instantaneamente reconhecível por seu cabelo preto encaracolado, barba no estilo Che Guevara, e a maneira como ele pairava sobre seus oponentes com 1,82 de altura, cada centímetro parecia revolucionário.
Na Copa do México em 1986, onde perdeu um pênalti fatídico quando o Brasil enfrentou a França em uma disputa nas quartas de final, ele usou a faixa na cabeça – improvisada com a meia de um companheiro – que passou a defini-lo na mente de milhões. Embora mais tarde ele tenha acrescentado diferentes slogans – “O povo precisa de justiça”, “Sim ao amor, não ao terror”, “Sem violência” – o primeiro foi talvez o mais poderoso. Após o terremoto na Cidade do México no ano anterior, um desastre que matou milhares e expôs a amarga injustiça dentro da sociedade mexicana, a nação anfitriã ficou profundamente ferida. Sócrates veio com uma mensagem simples: “México Sigue En Pie” — “México Segue Em Pé”.
Explicando o raciocínio por trás da mensagem mais tarde, Sócrates disse: “Quando chegamos ao México, o desastre causado por um terrível terremoto que atingiu o país antes do início da Copa do Mundo foi o estopim que me fez decidir aproveitar a oportunidade, num momento em que o mundo inteiro assistia ao evento, e destacar alguns pontos críticos da realidade social.” Ele teve a inspiração para sua bandana depois de ver uma jovem usando uma faixa na televisão, decidindo protestar contra “os absurdos que existem na humanidade”.
Ele ficou furioso quando, depois de colocar aquela primeira bandana antes de enfrentar a Espanha na fase de grupos, houve um erro no hino que saiu pelos alto-falantes do estádio. “Quaisquer reações contra a pobreza, guerras, imperialismo, injustiça social, analfabetismo endêmico e muitos outros tópicos foram superados quando balancei a cabeça ao ouvir o primeiro acorde e ouvi o erro”, admitiu mais tarde. “Mas valeu a tentativa. É muito melhor tentar, creio eu, do que se conformar.”
Sócrates não era um jogador de futebol comum, mesmo numa época em que o jogo estava muito mais próximo de suas raízes comunitárias. Um líder carismático e um gênio criativo dentro do campo, ele se tornou um herói romântico no imaginário popular por suas façanhas fora de campo. Ele fumava e bebia, vivendo com a mesma indiferença que caracterizava sua juventude. Ele se autodenominava “um antiatleta”. Ele também era um médico qualificado — daí o apelido de Doutor Sócrates —, uma contradição que só reforçava suas credenciais de inconformista.
No entanto, ele entendeu que seu talento com a bola nos pés lhe dava uma plataforma para falar para um número incontável de pessoas. Foi algum talento, também. Ele era um meio-campista inteligente, que fazia boas assistências, mas também um artilheiro extravagante que era tão bom com o calcanhar quanto Pelé, tricampeão mundial do Brasil. O time brasileiro do qual ele foi capitão, na Espanha em 1982, é frequentemente citado como o melhor time a não vencer a Copa, saindo após uma derrota por 3×2 para a eventual vencedora Itália, na segunda fase de grupos – uma peculiaridade da época – em que seu companheiro internacional de equipe, Falcão, descreveu como “um dos maiores jogos da história do futebol."
Na Copa do México em 1986, onde perdeu um pênalti fatídico quando o Brasil enfrentou a França em uma disputa nas quartas de final, ele usou a faixa na cabeça – improvisada com a meia de um companheiro – que passou a defini-lo na mente de milhões. Embora mais tarde ele tenha acrescentado diferentes slogans – “O povo precisa de justiça”, “Sim ao amor, não ao terror”, “Sem violência” – o primeiro foi talvez o mais poderoso. Após o terremoto na Cidade do México no ano anterior, um desastre que matou milhares e expôs a amarga injustiça dentro da sociedade mexicana, a nação anfitriã ficou profundamente ferida. Sócrates veio com uma mensagem simples: “México Sigue En Pie” — “México Segue Em Pé”.
Explicando o raciocínio por trás da mensagem mais tarde, Sócrates disse: “Quando chegamos ao México, o desastre causado por um terrível terremoto que atingiu o país antes do início da Copa do Mundo foi o estopim que me fez decidir aproveitar a oportunidade, num momento em que o mundo inteiro assistia ao evento, e destacar alguns pontos críticos da realidade social.” Ele teve a inspiração para sua bandana depois de ver uma jovem usando uma faixa na televisão, decidindo protestar contra “os absurdos que existem na humanidade”.
Ele ficou furioso quando, depois de colocar aquela primeira bandana antes de enfrentar a Espanha na fase de grupos, houve um erro no hino que saiu pelos alto-falantes do estádio. “Quaisquer reações contra a pobreza, guerras, imperialismo, injustiça social, analfabetismo endêmico e muitos outros tópicos foram superados quando balancei a cabeça ao ouvir o primeiro acorde e ouvi o erro”, admitiu mais tarde. “Mas valeu a tentativa. É muito melhor tentar, creio eu, do que se conformar.”
Sócrates não era um jogador de futebol comum, mesmo numa época em que o jogo estava muito mais próximo de suas raízes comunitárias. Um líder carismático e um gênio criativo dentro do campo, ele se tornou um herói romântico no imaginário popular por suas façanhas fora de campo. Ele fumava e bebia, vivendo com a mesma indiferença que caracterizava sua juventude. Ele se autodenominava “um antiatleta”. Ele também era um médico qualificado — daí o apelido de Doutor Sócrates —, uma contradição que só reforçava suas credenciais de inconformista.
No entanto, ele entendeu que seu talento com a bola nos pés lhe dava uma plataforma para falar para um número incontável de pessoas. Foi algum talento, também. Ele era um meio-campista inteligente, que fazia boas assistências, mas também um artilheiro extravagante que era tão bom com o calcanhar quanto Pelé, tricampeão mundial do Brasil. O time brasileiro do qual ele foi capitão, na Espanha em 1982, é frequentemente citado como o melhor time a não vencer a Copa, saindo após uma derrota por 3×2 para a eventual vencedora Itália, na segunda fase de grupos – uma peculiaridade da época – em que seu companheiro internacional de equipe, Falcão, descreveu como “um dos maiores jogos da história do futebol."
Em 1982, antes das primeiras eleições multipartidárias no Brasil sob o regime militar, Sócrates e seus companheiros entraram em campo vestindo camisetas com os dizeres: “Dia 15 Vote”. (Corinthians) |
Com o fim da carreira — a derrota para a França no México em 1986 foi seu último jogo pelo Brasil —, Sócrates disse: “Enquanto eu era jogador de futebol, minhas pernas amplificavam minha voz”. Ele usou essa voz para defender uma política radical e se manifestar contra a injustiça no Brasil e no exterior. Embora seu tempo com a seleção o tenha tornado mundialmente famoso, sua intervenção política mais importante ocorreu durante os seis anos que passou jogando futebol pelo Corinthians, em São Paulo. Lá ele se tornou uma figura central no movimento “Democracia Corinthiana”, posicionando-se em oposição direta à brutal ditadura militar que governava o Brasil desde 1964.
Inicialmente, Sócrates foi um dissidente relutante. Tendo crescido em uma família de classe média com um pai, Raimundo, que era obcecado por educação – daí o nome de um antigo filósofo grego -, Sócrates teve uma experiência de infância formativa quando testemunhou Raimundo destruindo livros sobre política de esquerda após os militares tomarem o poder. No entanto, em uma de suas primeiras grandes entrevistas em 1976, quando tinha vinte e poucos anos, assumiu uma postura apolítica, chegando a dizer que a censura era necessária porque senão “as coisas complicariam para o governo”. Ele era um leitor voraz, no entanto, e continuou a se educar com o incentivo do pai, tornando-se cada vez mais atento aos problemas sociais do Brasil e à intensa repressão do regime militar.
Depois que Sócrates chegou ao Corinthians, em 1978, ele começou a gravitar em torno da esquerda. Em pouco tempo, ele e seu companheiro de equipe Wladimir – mais tarde acompanhado com entusiasmo por Casagrande, outro futuro jogador de fama internacional do Brasil – eram os líderes de um movimento que, com o apoio do diretor de futebol Adilson Monteiro Alves e do presidente do clube, Waldemar Pires, introduziriam uma forma de democracia no clube. Todos no clube votavam e os jogadores decidiam tudo, desde os horários dos treinos, até quando parar o técnico do time para ir ao banheiro com uma mão levantada. Eles também afrouxaram as restrições da concentração, uma tradição no futebol brasileiro em que os jogadores ficavam efetivamente confinados em um hotel ou campo de treinamento antes de um jogo.
Inicialmente, Sócrates foi um dissidente relutante. Tendo crescido em uma família de classe média com um pai, Raimundo, que era obcecado por educação – daí o nome de um antigo filósofo grego -, Sócrates teve uma experiência de infância formativa quando testemunhou Raimundo destruindo livros sobre política de esquerda após os militares tomarem o poder. No entanto, em uma de suas primeiras grandes entrevistas em 1976, quando tinha vinte e poucos anos, assumiu uma postura apolítica, chegando a dizer que a censura era necessária porque senão “as coisas complicariam para o governo”. Ele era um leitor voraz, no entanto, e continuou a se educar com o incentivo do pai, tornando-se cada vez mais atento aos problemas sociais do Brasil e à intensa repressão do regime militar.
Depois que Sócrates chegou ao Corinthians, em 1978, ele começou a gravitar em torno da esquerda. Em pouco tempo, ele e seu companheiro de equipe Wladimir – mais tarde acompanhado com entusiasmo por Casagrande, outro futuro jogador de fama internacional do Brasil – eram os líderes de um movimento que, com o apoio do diretor de futebol Adilson Monteiro Alves e do presidente do clube, Waldemar Pires, introduziriam uma forma de democracia no clube. Todos no clube votavam e os jogadores decidiam tudo, desde os horários dos treinos, até quando parar o técnico do time para ir ao banheiro com uma mão levantada. Eles também afrouxaram as restrições da concentração, uma tradição no futebol brasileiro em que os jogadores ficavam efetivamente confinados em um hotel ou campo de treinamento antes de um jogo.
A resistência à concentração autoritária foi especialmente simbólica, transformando o Corinthians em uma metáfora para a sociedade brasileira. Além de desafiar abertamente a ditadura adotando métodos democráticos em uma instituição esportiva de grande porte, Sócrates e seus companheiros mostraram que rejeitar a apatia e o individualismo em favor da política coletiva pode ser extremamente eficaz. O clube teve grande sucesso sob a gestão democrática, conquistando o Campeonato Paulista duas vezes, em 1982 e 1983, durante a era da Democracia Corinthiana. “Nosso movimento foi bem sucedido por causa de muitos pontos, mas o mais fundamental foi Sócrates”, disse Casagrande ao The Guardian no ano passado. “Precisávamos de um gênio como ele, alguém politizado, inteligente e admirado. Ele foi um escudo para nós. Sem ele, não poderíamos ter a Democracia Corinthiana."
Antes de conquistar o Campeonato Paulista em 1983, o time corintiano, comandado por Sócrates, entrou em campo segurando uma faixa gigante onde se lia: “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. (Corinthians via Twitter) |
O movimento logo transcendeu o clube, com Sócrates e seus companheiros fazendo um desafio direto ao regime. Em 1982, antes das primeiras eleições multipartidárias sob o regime militar e em meio ao gradual processo de “abertura”, Sócrates e seus companheiros entraram em campo vestindo camisetas com os dizeres: “Dia 15 Vote”. Antes de conquistar o Campeonato Paulista em 1983, o time comandado por Sócrates entrou em campo segurando uma faixa gigante onde se lia: “Ganhar ou perder, mas sempre com democracia”. Ele marcou duas vezes contra o São Paulo e comemorou erguendo o punho cerrado – fazendo uma saudação ao povo brasileiro – nas duas ocasiões.
Sócrates passou a participar do movimento Diretas Já, que — apoiado por sindicalistas, trabalhadores, artistas, estudantes e uma ampla parcela da sociedade brasileira — levou milhões às ruas e impulsionou a transição para a democracia em 1985. Em um momento que se tornou parte folclore, em meio ao interesse de clubes italianos para contratá-lo, ele subiu ao palco diante de uma multidão de manifestantes em São Paulo e prometeu não deixar o Brasil se uma emenda constitucional que pavimentasse o caminho para eleições livres passasse. A emenda foi derrotada em um revés temporário, mas Sócrates, em ato de contestação, partiu para a Fiorentina. Reza a lenda que, quando chegou na Itália, perguntaram-lhe qual era o craque da Serie A que mais admirava, Sandro Mazzola ou Gianni Rivera. “Eu não os conheço”, disse ele. “Estou aqui para ler Gramsci na língua original e estudar a história do movimento trabalhista.”
Sócrates ainda é um ídolo para muitos brasileiros, incluindo Rosie Siqueira, do Fiel Londres, um fã clube londrino do Corinthians. “Ele era um cara além do seu tempo, suas visões e ideais em termos de causas sociais e políticas iluminaram tantos torcedores, não só corintianos, mas todos os torcedores brasileiros”, diz ela. “Ele também era um líder de causa social, influenciando jogadores e funcionários do clube. Sócrates era um militante de esquerda, se posicionando contra a ditadura militar que tivemos no Brasil e defendendo a liberdade e o direito de expressão… não vemos isso acontecendo com muita frequência no futebol, seja sul-americano ou global”.
Embora as formas pelas quais Sócrates transformou o clube estejam bem documentadas, o significado da identidade do clube – e de seus torcedores – para ele é frequentemente esquecido. “Temos muito orgulho de ser um dos únicos clubes com um capítulo tão bonito em nossa história”, afirma Siqueira. “A mensagem dele viverá sempre com o Corinthians, e continua nos lembrando da nossa história, da nossa origem, do nosso propósito. O Corinthians vem de origem pobre, imigrante e trabalhadora. Nunca devemos esquecer isso. Ter a Democracia Corinthiana nas páginas do nosso livro de história vai nos ajudar a manter esse ideal vivo."
Sócrates passou a participar do movimento Diretas Já, que — apoiado por sindicalistas, trabalhadores, artistas, estudantes e uma ampla parcela da sociedade brasileira — levou milhões às ruas e impulsionou a transição para a democracia em 1985. Em um momento que se tornou parte folclore, em meio ao interesse de clubes italianos para contratá-lo, ele subiu ao palco diante de uma multidão de manifestantes em São Paulo e prometeu não deixar o Brasil se uma emenda constitucional que pavimentasse o caminho para eleições livres passasse. A emenda foi derrotada em um revés temporário, mas Sócrates, em ato de contestação, partiu para a Fiorentina. Reza a lenda que, quando chegou na Itália, perguntaram-lhe qual era o craque da Serie A que mais admirava, Sandro Mazzola ou Gianni Rivera. “Eu não os conheço”, disse ele. “Estou aqui para ler Gramsci na língua original e estudar a história do movimento trabalhista.”
Sócrates ainda é um ídolo para muitos brasileiros, incluindo Rosie Siqueira, do Fiel Londres, um fã clube londrino do Corinthians. “Ele era um cara além do seu tempo, suas visões e ideais em termos de causas sociais e políticas iluminaram tantos torcedores, não só corintianos, mas todos os torcedores brasileiros”, diz ela. “Ele também era um líder de causa social, influenciando jogadores e funcionários do clube. Sócrates era um militante de esquerda, se posicionando contra a ditadura militar que tivemos no Brasil e defendendo a liberdade e o direito de expressão… não vemos isso acontecendo com muita frequência no futebol, seja sul-americano ou global”.
Embora as formas pelas quais Sócrates transformou o clube estejam bem documentadas, o significado da identidade do clube – e de seus torcedores – para ele é frequentemente esquecido. “Temos muito orgulho de ser um dos únicos clubes com um capítulo tão bonito em nossa história”, afirma Siqueira. “A mensagem dele viverá sempre com o Corinthians, e continua nos lembrando da nossa história, da nossa origem, do nosso propósito. O Corinthians vem de origem pobre, imigrante e trabalhadora. Nunca devemos esquecer isso. Ter a Democracia Corinthiana nas páginas do nosso livro de história vai nos ajudar a manter esse ideal vivo."
Sócrates em campo em Guadalajara, México, 16 de junho de 1986. (Bongarts / Getty Images) |
Sócrates morreu em 2011, aos 57 anos, após lutar contra o alcoolismo, no mesmo dia em que o Corinthians conquistou o título do Campeonato Brasileiro. Ele continuou a defender a política radical à medida que envelhecia, praticando medicina após sua aposentadoria do futebol, além de se tornar um comentarista, escritor e palestrante. Ele foi um apoiador do Lula – também uma figura vital no Diretas Já e, coincidentemente, um torcedor do Corinthians – durante sua primeira passagem como presidente do Brasil, dizendo: “Seu governo foi o melhor da história do Brasil.” Entretanto Sócrates nunca foi acrítico. Questionado sobre a nota da presidência de Lula, ele disse: “10 não, teria que mudar tudo de uma vez para isso. Eu diria um 7 ou um 8. E isso já é muito bom”.
Hoje, enquanto competem em uma Copa do Mundo com graves problemas sociais, a seleção brasileira se tornou um símbolo de divisão política, dilacerada por fraturas ideológicas. Antes das eleições de outubro, a extrema direita incentivou seus eleitores a usar a famosa camisa amarela canário da seleção, com seus apoiadores há muito tempo cooptando-a para comícios e protestos alinhados a Bolsonaro. Consequentemente, muitos brasileiros que se opõem a Bolsonaro – cujos fanáticos defenderam a repetição do golpe militar de 1964 após a vitória de Lula – pararam de usar a camisa. Não ajudou que vários jogadores de fama internacional proeminentes, principalmente Neymar, endossassem abertamente apoia ao Bolsonaro, com Lula alegando que o atacante do Paris Saint-Germain apoiou seu rival por razões fiscais.
“Com o que está acontecendo no momento, Sócrates ainda é uma figura extremamente importante”, diz Andrew Downie, jornalista e autor do livro Doutor Sócrates. “Você ouve muitas pessoas no Brasil – especialmente durante a campanha eleitoral, quando você tinha caras como Neymar dizendo que apoiavam Bolsonaro – dizer coisas como: ‘Que saudades de um cara como Sócrates, que lutou por causas sociais, que lutou por direitos humanos, que defendiam a democracia e posições progressistas’… ele era um cara que defendia o que achava certo.”
Vários ex-jogadores de futebol deram seu endosso a Lula, principalmente o velho amigo de Sócrates, Casagrande, e seu irmão mais novo, Raí. Um jogador fantástico por mérito próprio – e, ao contrário de seu irmão, um vencedor da Copa do Mundo – Raí ergueu a mão direita para fazer um “L” ao apresentar o Prêmio Sócrates na cerimônia da Bola de Ouro antes do segundo turno presidencial. “Todos nós sabemos de que lado Sócrates estaria”, disse ele com um sorriso.
Dada a intervenção agressiva da FIFA contra até mesmo os gestos pró-igualdade mais inofensivos no Qatar, esta Copa do Mundo está clamando por um jogador que evoque o espírito da Copa do México em 1986. Para os brasileiros que procuram recuperar a camisa da seleção nacional – e seus emblemas nacionais de forma mais ampla – dos apoiadores de Bolsonaro, a figura imponente de Sócrates é um lembrete de que a extrema direita nunca terá o monopólio da herança da seleção nacional. “Vencemos o Bolsonaro nesta eleição, mas isso não significa que o bolsonarismo acabou e as ideias sobre preconceito, sexismo e totalitarismo ainda circulam no país”, diz Siqueira. “Na minha opinião, o futebol, como sempre, tem um papel importante na sociedade e vamos precisar do espírito de Sócrates vivo conosco".
Colaborador
Will Magee é jornalista de futebol e já escreveu para a Vice e para o jornal i.
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