Presidente eleito dirá que Brasil está dividido, exaltará a política e pregará combate à fome
Catia Seabra
Julia Chaib
Victoria Azevedo
Folha de S.Paulo
Em seu primeiro discurso como presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, 77, descreverá um cenário de dificuldades econômicas e sociais herdado das mãos de Jair Bolsonaro (PL), sem obrigatoriamente citar o nome de seu antecessor.
Ao tomar posse neste domingo (1º) para seu terceiro mandato presidencial, Lula também falará sobre os desafios à frente do governo, além de pregar a união e a pacificação do país.
A programação da posse prevê dois pronunciamentos: pouco depois das 15h no Congresso Nacional e às 16h45 no parlatório do Palácio do Planalto. Os discursos deverão ter duração de cerca de 15 a 20 minutos cada.
Às vésperas da cerimônia de posse, a redação final dos pronunciamentos estava restrita a poucos colaboradores de Lula, segundo os quais o texto ainda poderá sofrer mudanças. Aliados do presidente apostam na inclusão de seus habituais improvisos, especialmente no parlatório.
O presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante anúncio de ministros. - Pedro Ladeira -29.dez.2022/Folhapress |
Há a possibilidade ainda de Lula dar uma declaração à noite, durante um dos shows do Festival do Futuro na Esplanada dos Ministérios —mas a decisão só será tomada no dia, após avaliação sobre as condições de segurança.
O discurso no Congresso Nacional, que ocorrerá logo após a assinatura do ato que o efetivará no cargo, será voltado a autoridades e terá caráter mais institucional. Lula tem dito em conversas com deputados que não quer cansar a audiência.
Segundo aliados, o presidente pretende exaltar a política como ferramenta para fortalecimento da democracia.
Aos parlamentares e demais autoridades no Congresso deverá seguir mais fielmente o texto redigido e enaltecer o respeito às instituições.
O presidente prometerá previsibilidade na condução da política econômica e reconquista de credibilidade internacional, evocando seus dois mandatos anteriores como prova de sua responsabilidade fiscal.
Ele afirmará ainda que o Brasil vai recuperar suas relações internacionais, o que contribuirá para a economia do país.
Para aliados, a descrição dos problemas deixados por Bolsonaro servirá para fundamentar a promessa de um futuro melhor. Ele deverá condenar, por exemplo, a política armamentista do atual chefe do Executivo para propor a paz.
Lula também deverá citar os níveis de desmatamento para estabelecer como meta a defesa do meio ambiente.
Já no discurso no parlatório, em que simbolicamente ele se dirige aos populares na Praça dos Três Poderes, Lula definirá como prioritária a retirada do Brasil do mapa da fome.
Tanto no Congresso como no parlatório, Lula deverá afirmar que o Brasil voltou a ter fome e que combater a miséria é sua prioridade. Segundo aliados, Lula apontará que a sociedade saiu dividida das eleições e pregará a reconciliação do país.
O petista foi eleito em 30 de novembro, no segundo turno, com 50,9% dos votos válidos contra 49,1% de Bolsonaro, uma diferença de 2,1 milhões de votos.
Desde então, apoiadores de Bolsonaro têm realizado protestos pelo país e inclusive acamparam em frente a quartéis militares questionando o resultado das urnas, em atos antidemocráticos com pedidos de intervenção das Forças Armadas.
O discurso de posse ainda ocorrerá nove dias depois de um bolsonarista armar um explosivo em um caminhão em local próximo ao aeroporto de Brasília. O artefato foi encontrado e desativado pela polícia.
George Washington de Oliveira Sousa, o apoiador que planejou o atentado, disse em depoimento que a ideia era "dar início ao caos" que levaria à "decretação do estado de sítio no país", o que poderia "provocar a intervenção das Forças Armadas".
Diante dos acontecimentos, Lula criticará no Congresso ameaças à democracia e ressaltará a importância da política no processo de reconstrução do país.
O petista entregou 9 dos 37 ministérios a MDB, União Brasil e PSD, partidos de centro que não o apoiaram na eleição. O objetivo foi atraí-los para sua base de apoio no Parlamento.
Tanto em conversas reservadas como publicamente, Lula tem dito não ter "medo de escolher político" para sua equipe.
"Porque sou daqueles que acha que, fora da política, a gente não encontra solução para quase nada neste planeta", afirmou o petista recentemente, numa prévia do discurso que deve adotar na posse.
Segundo aliados, Lula deve dizer nos discursos que começará o mandato com o Brasil em situação econômica e socialmente difícil; também falará sobre os desafios que enfrentará.
Deverá afirmar que o Brasil, no governo Bolsonaro, ficou posicionado como pária no mundo e que isso prejudica o país do ponto de vista econômico.
Um dos principais aspectos do discurso no Parlamento será a avaliação de que o governo dará foco às relações internacionais com vários países e que isso se refletirá em um ambiente favorável à atração de investimentos.
Lula condenará o discurso de ódio e fake news que predominou durante a campanha presidencial.
De acordo com aliados, o discurso será semelhante ao que ele fez quando ganhou a eleição. Naquele dia, Lula afirmou que "não existem dois Brasis" e prometeu trabalhar pela conciliação do país.
O petista não mencionou na ocasião o nome de Bolsonaro e defendeu ainda o retorno à normalidade democrática e a volta de políticas de combate à desigualdade social. Ele também colocou o combate à fome como prioridade.
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