André Roncaglia
Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP
Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP
Folha de S.Paulo
A Petrobras subiu os preços do diesel e da gasolina, mas não foi por causa de qualquer risco de desabastecimento de diesel. A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) afirmou, em seu comunicado, que "restrição nas entregas de combustíveis em algumas bases de distribuição para os postos" não significa "falta de produtos para a ponta final da cadeia". A própria Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP) sublinhou a normalidade dos estoques.
A restrição de abastecimento que se observou de forma localizada (e não estrutural) pode ter resultado da opção das distribuidoras em atender prioritariamente os postos de suas bandeiras, em detrimento dos postos de bandeira branca. O número inexpressivo de pontos de restrição não afetou a média regional de preços.
Descartada essa alegação infundada —que serve apenas aos interesses dos pequenos importadores privados reunidos na Abicom—, o que pode explicar então essa decisão da Petrobras de elevar os preços da gasolina em 16% e do diesel em 27%?
A Petrobras subiu os preços do diesel e da gasolina, mas não foi por causa de qualquer risco de desabastecimento de diesel. A Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis) afirmou, em seu comunicado, que "restrição nas entregas de combustíveis em algumas bases de distribuição para os postos" não significa "falta de produtos para a ponta final da cadeia". A própria Agência Nacional do Petróleo e Gás (ANP) sublinhou a normalidade dos estoques.
A restrição de abastecimento que se observou de forma localizada (e não estrutural) pode ter resultado da opção das distribuidoras em atender prioritariamente os postos de suas bandeiras, em detrimento dos postos de bandeira branca. O número inexpressivo de pontos de restrição não afetou a média regional de preços.
Descartada essa alegação infundada —que serve apenas aos interesses dos pequenos importadores privados reunidos na Abicom—, o que pode explicar então essa decisão da Petrobras de elevar os preços da gasolina em 16% e do diesel em 27%?
Posto de combustíveis em São Paulo na terça-feira (15) - Agencia Enquadrar |
O ajuste nos preços dos derivados de petróleo manteve uma defasagem ainda expressiva em relação ao preço de importação (que inclui frete e tributos de importação). Deduz-se, portanto, que a nova política de preços visa conciliar os interesses da população, dos acionistas e do plano estratégico da companhia.
A necessidade de balancear esses interesses decorre da dependência do abastecimento interno de importações (15% para a gasolina e 25% para o diesel) e da privatização dos segmentos distribuição e no refino a partir de 2016.
Em um cenário em que a Petrobras precisa elevar suas importações de derivados para atender o mercado interno, uma defasagem muito grande em relação ao preço internacional reduz de forma significativa a geração de caixa operacional, prejudicando os investimentos em refino, em fertilizantes e em fontes de energia renováveis. Além disso, pode desarticular a cadeia interna de suprimentos: caso o preço na refinaria esteja abaixo do preço de paridade de exportação, as distribuidoras podem exportar derivados, diminuindo a oferta doméstica.
Por isso, a solução encontrada foi um meio-termo que buscou suavizar o repasse da volatilidade do preço internacional do petróleo para a economia brasileira, por meio de um espaçamento maior entre reajustes, e conter a redução de ganhos acumulados com a elevação da produtividade e do volume de produção —a Petrobras atingiu recentemente a marca de 3 milhões de barris extraídos diariamente.
Os efeitos do reajuste sobre a inflação preocupam, pois Campos Neto anseia por motivos para desacelerar a queda da Selic. Por outro lado, como o preço de combustíveis afeta mais diretamente quem tem carro particular, o efeito da medida não é regressivo, mas pode causar insatisfação nos motoristas de aplicativo e nos caminhoneiros. A queda continuada dos preços dos alimentos e a moderação nos preços de energia podem compensar o impacto dos preços de combustível sobre os mais pobres.
A atual política de preços é condizente com a natureza público-estatal da companhia. Ao observar o efeito de suas ações sobre o emprego e a renda real das famílias, sem ignorar a robustez de suas finanças, a Petrobras balanceia os anseios dos acionistas privados com os da sociedade (presente) e com as necessidades de novos investimentos diante do desafio da descarbonização (futuro).
Reduzir a dependência da nossa matriz energética em relação ao petróleo é a chave para aliviar todos os impactos das variações do preço do petróleo sobre a economia e para abrir novos horizontes para a inovação e o emprego no país.
Esses devem ser o foco da política energética.
A necessidade de balancear esses interesses decorre da dependência do abastecimento interno de importações (15% para a gasolina e 25% para o diesel) e da privatização dos segmentos distribuição e no refino a partir de 2016.
Em um cenário em que a Petrobras precisa elevar suas importações de derivados para atender o mercado interno, uma defasagem muito grande em relação ao preço internacional reduz de forma significativa a geração de caixa operacional, prejudicando os investimentos em refino, em fertilizantes e em fontes de energia renováveis. Além disso, pode desarticular a cadeia interna de suprimentos: caso o preço na refinaria esteja abaixo do preço de paridade de exportação, as distribuidoras podem exportar derivados, diminuindo a oferta doméstica.
Por isso, a solução encontrada foi um meio-termo que buscou suavizar o repasse da volatilidade do preço internacional do petróleo para a economia brasileira, por meio de um espaçamento maior entre reajustes, e conter a redução de ganhos acumulados com a elevação da produtividade e do volume de produção —a Petrobras atingiu recentemente a marca de 3 milhões de barris extraídos diariamente.
Os efeitos do reajuste sobre a inflação preocupam, pois Campos Neto anseia por motivos para desacelerar a queda da Selic. Por outro lado, como o preço de combustíveis afeta mais diretamente quem tem carro particular, o efeito da medida não é regressivo, mas pode causar insatisfação nos motoristas de aplicativo e nos caminhoneiros. A queda continuada dos preços dos alimentos e a moderação nos preços de energia podem compensar o impacto dos preços de combustível sobre os mais pobres.
A atual política de preços é condizente com a natureza público-estatal da companhia. Ao observar o efeito de suas ações sobre o emprego e a renda real das famílias, sem ignorar a robustez de suas finanças, a Petrobras balanceia os anseios dos acionistas privados com os da sociedade (presente) e com as necessidades de novos investimentos diante do desafio da descarbonização (futuro).
Reduzir a dependência da nossa matriz energética em relação ao petróleo é a chave para aliviar todos os impactos das variações do preço do petróleo sobre a economia e para abrir novos horizontes para a inovação e o emprego no país.
Esses devem ser o foco da política energética.
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