André Roncaglia
Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP
Folha de S.Paulo
A acelerada e precoce desindustrialização da economia brasileira ao longo dos últimos 40 anos é o efeito colateral de um projeto político: a construção intencional de nossa potência exportadora de commodities.
Devido ao rol de subsídios e estímulos governamentais ao agronegócio e ao setor mineral, construímos vantagens comparativas que são também coercitivas, por privarem a indústria de valiosos recursos para inovação, expansão e diversificação de sua matriz produtiva.
Compreender esse processo e aventar caminhos para sua superação é o objetivo do livro "Industrialização e Desindustrialização no Brasil: teorias, evidências e implicações de política", a ser lançado nos próximos dias pela editora Appris. Organizado por Eliane Araújo (UEM) e Carmem Feijó (UFF), duas renomadas pesquisadoras no campo do desenvolvimento, o compêndio de 470 páginas tem um provocativo prefácio de Luiz Carlos Bresser-Pereira, contribuições de mais de 20 especialistas e atualiza o debate sobre o papel da indústria no desenvolvimento econômico brasileiro.
As perspectivas teórica, histórica e empírica adotadas evidenciam como os efeitos positivos da industrialização –e os negativos da desindustrialização– tendem a se reforçar no contexto dinâmico das cadeias globais de valor.
Devido ao rol de subsídios e estímulos governamentais ao agronegócio e ao setor mineral, construímos vantagens comparativas que são também coercitivas, por privarem a indústria de valiosos recursos para inovação, expansão e diversificação de sua matriz produtiva.
Compreender esse processo e aventar caminhos para sua superação é o objetivo do livro "Industrialização e Desindustrialização no Brasil: teorias, evidências e implicações de política", a ser lançado nos próximos dias pela editora Appris. Organizado por Eliane Araújo (UEM) e Carmem Feijó (UFF), duas renomadas pesquisadoras no campo do desenvolvimento, o compêndio de 470 páginas tem um provocativo prefácio de Luiz Carlos Bresser-Pereira, contribuições de mais de 20 especialistas e atualiza o debate sobre o papel da indústria no desenvolvimento econômico brasileiro.
As perspectivas teórica, histórica e empírica adotadas evidenciam como os efeitos positivos da industrialização –e os negativos da desindustrialização– tendem a se reforçar no contexto dinâmico das cadeias globais de valor.
Irrigação com pivô central que retira água do aquífero Urucuia, na Bahia - Dado Galdieri/Hilaea Media |
Nossa desindustrialização resultou da inserção regressiva (agroexportadora) num mundo globalizado, a partir das aberturas comercial e financeira nos anos 1990. A "macroeconomia da desindustrialização" agrava esta condição ao asfixiar investimentos produtivos (privado e público) com taxas de juros reais elevadas, taxa de câmbio tendencialmente apreciada, tributação desproporcional da indústria e o compromisso rígido com a austeridade fiscal. Nenhuma política industrial prospera sob tais condições.
Um sintoma disso aparece na análise dos desembolsos do BNDES em atividades de alta complexidade, os quais caíram de 32% (2004-2008) para 24% (2015-20). No recorte regional, os desembolsos em atividades sem vantagem comparativa e com complexidade acima da média de cada região foram extremamente baixos e caíram ao longo do tempo, passando de 20% para ínfimos 11%, entre os dois períodos. Esse padrão de desembolsos do BNDES provavelmente reflete a deterioração produtiva do país.
Ao dissecarem a desindustrialização em análises setoriais e regionais, os estudos ilustram como os setores produtivos e as cadeias de valor se especializaram em atividades de baixo valor adicionado, gerando empregos de baixa produtividade e com baixa remuneração.
Eis o maior desafio do governo Lula: recuperar nossa indústria com a adoção de processos produtivos ambientalmente sustentáveis, tecnologicamente competitivos e sofisticados.
Felizmente, não partiremos do zero. O Brasil possui imenso ativo ambiental e uma robusta estrutura institucional, com bancos públicos e de desenvolvimento e centros de pesquisa acadêmica com reconhecimento internacional, que devem ser mobilizados para o projeto de reindustrialização. O governo precisa acelerar a aprovação da letra de crédito do desenvolvimento (LCD) do BNDES e investir energia na execução das missões apresentadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial (CNDI).
Já fomos a economia que mais rapidamente se industrializou entre o pós-Guerra e o fim dos anos 1970. Reeditar esse processo requer compreender nossas capacidades e desafios.
O livro organizado por Eliane Araújo e Carmem Feijó é um bom ponto de partida.
Em meio a profundas mudanças geopolíticas, não fazer nada implica perder posições no concerto das nações. Não há tempo a perder!
Um sintoma disso aparece na análise dos desembolsos do BNDES em atividades de alta complexidade, os quais caíram de 32% (2004-2008) para 24% (2015-20). No recorte regional, os desembolsos em atividades sem vantagem comparativa e com complexidade acima da média de cada região foram extremamente baixos e caíram ao longo do tempo, passando de 20% para ínfimos 11%, entre os dois períodos. Esse padrão de desembolsos do BNDES provavelmente reflete a deterioração produtiva do país.
Ao dissecarem a desindustrialização em análises setoriais e regionais, os estudos ilustram como os setores produtivos e as cadeias de valor se especializaram em atividades de baixo valor adicionado, gerando empregos de baixa produtividade e com baixa remuneração.
Eis o maior desafio do governo Lula: recuperar nossa indústria com a adoção de processos produtivos ambientalmente sustentáveis, tecnologicamente competitivos e sofisticados.
Felizmente, não partiremos do zero. O Brasil possui imenso ativo ambiental e uma robusta estrutura institucional, com bancos públicos e de desenvolvimento e centros de pesquisa acadêmica com reconhecimento internacional, que devem ser mobilizados para o projeto de reindustrialização. O governo precisa acelerar a aprovação da letra de crédito do desenvolvimento (LCD) do BNDES e investir energia na execução das missões apresentadas pelo Conselho Nacional do Desenvolvimento Industrial (CNDI).
Já fomos a economia que mais rapidamente se industrializou entre o pós-Guerra e o fim dos anos 1970. Reeditar esse processo requer compreender nossas capacidades e desafios.
O livro organizado por Eliane Araújo e Carmem Feijó é um bom ponto de partida.
Em meio a profundas mudanças geopolíticas, não fazer nada implica perder posições no concerto das nações. Não há tempo a perder!
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