André Roncaglia
Folha de S.Paulo
No artigo "As possibilidades econômicas dos nossos netos" (1930), J. M. Keynes buscou se "desembaraçar das visões míopes" e tentou "alçar voo para o futuro" de cem anos à frente, no qual o uso adequado da tecnologia libertaria as gerações futuras das privações materiais.
Keynes errou na previsão, mas nos deixou a lição de que a transformação social é um empreendimento coletivo de longo prazo. Por isso, é fundamental neutralizar os ataques do pessimismo que nos prendem ao curto prazo.
As possibilidades econômicas do governo Lula dependem de sua capacidade de formular um projeto de desenvolvimento (seu ativo) que alivie as restrições de recursos (seu passivo). Comecemos pelas restrições.
No artigo "As possibilidades econômicas dos nossos netos" (1930), J. M. Keynes buscou se "desembaraçar das visões míopes" e tentou "alçar voo para o futuro" de cem anos à frente, no qual o uso adequado da tecnologia libertaria as gerações futuras das privações materiais.
Keynes errou na previsão, mas nos deixou a lição de que a transformação social é um empreendimento coletivo de longo prazo. Por isso, é fundamental neutralizar os ataques do pessimismo que nos prendem ao curto prazo.
As possibilidades econômicas do governo Lula dependem de sua capacidade de formular um projeto de desenvolvimento (seu ativo) que alivie as restrições de recursos (seu passivo). Comecemos pelas restrições.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Pedro Ladeira - 16.mar.2023/Folhapress |
Lula inaugurou um governo sitiado. As ameaças de golpe insufladas pelo bolsonarismo renitente nas Forças Armadas concorrem com o esforço de reversão dos danos sociais e institucionais deixados por Paulo Guedes, ambos sob a pressão diária do rentismo por manter a economia brasileira presa ao curto prazo.
O governo luta para pautar uma promessa de Brasil que acalme o medo do comunismo que ainda paga aluguel na cabeça de muitos brasileiros. Mesmo quando Lula pauta a discussão, como no caso da taxa de juros, a abordagem é negativa e interpretada como desequilíbrio e falta de rumo.
Falhas de coordenação entre ministérios podem ocorrer em governos de coalizão ampla. Nesse caso, o descompasso parece resultar do foco do governo nas restrições, as quais determinam o tamanho de suas aspirações. Como inverter essa ordem?
Para se libertar da agenda farialimer que se apossou do discurso do BC (vide a minuta do Copom na quarta-feira, dia 22), é preciso aglutinar suas forças de forma coordenada em torno da sua agenda. A reindustrialização em bases verdes e socialmente inclusivas oferece uma ancoragem positiva das expectativas de um grupo diversificado de atores sociais, domésticos e internacionais.
Foi esse o propósito do seminário "Estratégias de Desenvolvimento Econômico para o século 21", organizado pelo BNDES nesta semana. O evento contou com economistas de renome internacional que reforçaram o que esta coluna defende há tempos: nenhum país sobrevive a taxas de juros como a praticada pelo BC brasileiro.
O nobelista Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs rejeitaram toda forma de austeridade (fiscal e monetária) em face dos desafios planetários. Alertaram para a emergência climática, que exige investimentos nas áreas que produzem resiliência a crises. Mariana Mazzucato e Jayati Ghosh defenderam investimentos em capacidade estatais, tecnologias verdes e inclusão social.
O governo luta para pautar uma promessa de Brasil que acalme o medo do comunismo que ainda paga aluguel na cabeça de muitos brasileiros. Mesmo quando Lula pauta a discussão, como no caso da taxa de juros, a abordagem é negativa e interpretada como desequilíbrio e falta de rumo.
Falhas de coordenação entre ministérios podem ocorrer em governos de coalizão ampla. Nesse caso, o descompasso parece resultar do foco do governo nas restrições, as quais determinam o tamanho de suas aspirações. Como inverter essa ordem?
Para se libertar da agenda farialimer que se apossou do discurso do BC (vide a minuta do Copom na quarta-feira, dia 22), é preciso aglutinar suas forças de forma coordenada em torno da sua agenda. A reindustrialização em bases verdes e socialmente inclusivas oferece uma ancoragem positiva das expectativas de um grupo diversificado de atores sociais, domésticos e internacionais.
Foi esse o propósito do seminário "Estratégias de Desenvolvimento Econômico para o século 21", organizado pelo BNDES nesta semana. O evento contou com economistas de renome internacional que reforçaram o que esta coluna defende há tempos: nenhum país sobrevive a taxas de juros como a praticada pelo BC brasileiro.
O nobelista Joseph Stiglitz e Jeffrey Sachs rejeitaram toda forma de austeridade (fiscal e monetária) em face dos desafios planetários. Alertaram para a emergência climática, que exige investimentos nas áreas que produzem resiliência a crises. Mariana Mazzucato e Jayati Ghosh defenderam investimentos em capacidade estatais, tecnologias verdes e inclusão social.
O prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz durante seminário no auditório do BNDES, no centro do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli - 20.mar.2023/Folhapress |
A mensagem do evento foi clara: ao priorizar o déficit das infraestruturas física e social, o impasse em torno da sustentabilidade da dívida pública deixa de se assentar apenas no controle de gastos, como querem os órfãos do teto de gastos, e ganha um propósito civilizatório, como prevê a Constituição Federal de 1988.
A ousadia construtiva em torno de um projeto de longo prazo revelará os lados do conflito distributivo, expondo a postura defensiva dos grupos derrotados nas eleições de 2022. Biden adotou essa estratégia nos EUA. Lula pode fazer o mesmo.
Defender o ativo de 60 milhões de votos conquistados implica oferecer ao país uma aspiração de longo prazo. Caso contrário, a queda da confiança na sua agenda de governo fragilizará sua base de apoio, sacrificando a reconstrução da economia em bases sustentáveis e com empregos de qualidade.
Superar a armadilha de curto prazo imposta pelo pessimismo fiscalista é a única maneira de ampliar as possibilidades econômicas do nosso povo.
A ousadia construtiva em torno de um projeto de longo prazo revelará os lados do conflito distributivo, expondo a postura defensiva dos grupos derrotados nas eleições de 2022. Biden adotou essa estratégia nos EUA. Lula pode fazer o mesmo.
Defender o ativo de 60 milhões de votos conquistados implica oferecer ao país uma aspiração de longo prazo. Caso contrário, a queda da confiança na sua agenda de governo fragilizará sua base de apoio, sacrificando a reconstrução da economia em bases sustentáveis e com empregos de qualidade.
Superar a armadilha de curto prazo imposta pelo pessimismo fiscalista é a única maneira de ampliar as possibilidades econômicas do nosso povo.
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