Bruno Boghossian
O ministro da Fazenda estava de olho nas duas pontas do cobertor. De um lado, travava disputas com auxiliares de Lula interessados em ampliar despesas para gerar ganhos políticos e estimular a atividade econômica. De outro, tentava dobrar a resistência do Congresso a propostas amargas para aumentar a arrecadação.
A meta zerada para o ano que vem era o argumento principal de Haddad para manter o equilíbrio entre essas duas pontas. Ainda que o ministro não conseguisse garantir que ela seria alcançada, mantê-la no mesmo lugar contava a favor nas negociações.
As declarações de Lula no café da manhã com jornalistas desta sexta-feira (27) tiram o alvo das mãos de Haddad. O presidente disse que a meta fiscal "não precisa ser zero", citou a possibilidade de um déficit de 0,25% ou 0,5% do PIB e, na prática, evitou se comprometer com um número fixo: "Vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil".
De uma só vez, Lula abriu espaço para aliados que querem gastar mais e reduziu a pressão feita por Haddad sobre os parlamentares para ampliar as receitas.
O primeiro impacto deve ser medido no Congresso. Deputados e senadores já vinham fazendo jogo duro com a agenda econômica do governo, baseada em medidas de aumento de arrecadação com objetivo de alcançar o equilíbrio das contas. Se o presidente abriu mão dessa meta, nenhum parlamentar fará o trabalho por ele (não de graça).
Haddad faz uma corrida contra o tempo para aprovar propostas que aumentem as receitas de 2024. O Congresso apoia boa parte das medidas, mas quase sempre dá uma mordida nos textos enviados pela Fazenda. A taxação de offshores, por exemplo, saiu do ministério com uma alíquota de 22,5% sobre os lucros; a versão aprovada pela Câmara ficou em 15%.
A partir de agora, a negociação pode ser mais desfavorável para o ministro. Na próxima semana, ele tentará convencer líderes partidários a aprovarem a medida provisória que trata da subvenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e que renderia R$ 35 bilhões aos cofres públicos no ano que vem. A reunião ocorrerá sob a repercussão das declarações de Lula.
Diversos fatores explicam a resistência do Congresso ao esforço de Haddad para esticar essa ponta do cobertor. Eles incluem a grande influência de setores empresariais sobre os parlamentares, convicções ideológicas sobre o tamanho da arrecadação do Estado e, também, razões políticas imediatas.
Liderado pelo centrão, o grupo que dá as cartas no Congresso acredita que zerar o déficit com um aumento de receitas pode favorecer Lula, uma vez que mantém preservado o espaço que o presidente teria para executar investimentos e fortalecer seu governo.
Lula, inclusive, abandonou o plano de equilíbrio das contas no ano que vem com o argumento de que a meta obrigaria o governo a conter suas despesas. "Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse país", declarou.
O Congresso não deve ter muita dificuldade para embarcar na mudança de posicionamento do governo, mas deve cobrar um preço. Se a revisão da meta abrir espaço no Orçamento, o centrão deve cobrar um bônus para as emendas parlamentares e uma conta mais gorda para os ministérios controlados pelo grupo.
Além do centrão, ministros de Lula e aliados do presidente na esquerda também reclamavam da ideia de zerar o déficit no ano que vem. Eles citavam os prejuízos políticos que o PT poderia sofrer caso fosse preciso cortar despesas, especialmente em ano de eleições municipais.
Folha de S.Paulo
Lula (PT) desfez um segredo mal guardado. Pouca gente em Brasília acreditava na promessa de zerar o déficit das contas do governo em 2024. O silêncio do presidente sobre o assunto, no entanto, ajudava Fernando Haddad (Fazenda) a manter o compromisso de que haveria um esforço concreto para alcançar a meta, mesmo que ela não fosse atingida.
Se aquele era um teatro para controlar as expectativas sobre a economia, Lula fez questão de acabar com a encenação. Ao afirmar que "dificilmente chegaremos à meta zero", o presidente afrouxou os parâmetros de despesas e receitas, tornando o trabalho de Haddad duas vezes mais difícil.
Lula (PT) desfez um segredo mal guardado. Pouca gente em Brasília acreditava na promessa de zerar o déficit das contas do governo em 2024. O silêncio do presidente sobre o assunto, no entanto, ajudava Fernando Haddad (Fazenda) a manter o compromisso de que haveria um esforço concreto para alcançar a meta, mesmo que ela não fosse atingida.
Se aquele era um teatro para controlar as expectativas sobre a economia, Lula fez questão de acabar com a encenação. Ao afirmar que "dificilmente chegaremos à meta zero", o presidente afrouxou os parâmetros de despesas e receitas, tornando o trabalho de Haddad duas vezes mais difícil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao fundo. - Marcelo Camargo - 09.dez.2022 / Agência Brasil |
O ministro da Fazenda estava de olho nas duas pontas do cobertor. De um lado, travava disputas com auxiliares de Lula interessados em ampliar despesas para gerar ganhos políticos e estimular a atividade econômica. De outro, tentava dobrar a resistência do Congresso a propostas amargas para aumentar a arrecadação.
A meta zerada para o ano que vem era o argumento principal de Haddad para manter o equilíbrio entre essas duas pontas. Ainda que o ministro não conseguisse garantir que ela seria alcançada, mantê-la no mesmo lugar contava a favor nas negociações.
As declarações de Lula no café da manhã com jornalistas desta sexta-feira (27) tiram o alvo das mãos de Haddad. O presidente disse que a meta fiscal "não precisa ser zero", citou a possibilidade de um déficit de 0,25% ou 0,5% do PIB e, na prática, evitou se comprometer com um número fixo: "Vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil".
De uma só vez, Lula abriu espaço para aliados que querem gastar mais e reduziu a pressão feita por Haddad sobre os parlamentares para ampliar as receitas.
O primeiro impacto deve ser medido no Congresso. Deputados e senadores já vinham fazendo jogo duro com a agenda econômica do governo, baseada em medidas de aumento de arrecadação com objetivo de alcançar o equilíbrio das contas. Se o presidente abriu mão dessa meta, nenhum parlamentar fará o trabalho por ele (não de graça).
Haddad faz uma corrida contra o tempo para aprovar propostas que aumentem as receitas de 2024. O Congresso apoia boa parte das medidas, mas quase sempre dá uma mordida nos textos enviados pela Fazenda. A taxação de offshores, por exemplo, saiu do ministério com uma alíquota de 22,5% sobre os lucros; a versão aprovada pela Câmara ficou em 15%.
A partir de agora, a negociação pode ser mais desfavorável para o ministro. Na próxima semana, ele tentará convencer líderes partidários a aprovarem a medida provisória que trata da subvenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e que renderia R$ 35 bilhões aos cofres públicos no ano que vem. A reunião ocorrerá sob a repercussão das declarações de Lula.
Diversos fatores explicam a resistência do Congresso ao esforço de Haddad para esticar essa ponta do cobertor. Eles incluem a grande influência de setores empresariais sobre os parlamentares, convicções ideológicas sobre o tamanho da arrecadação do Estado e, também, razões políticas imediatas.
Liderado pelo centrão, o grupo que dá as cartas no Congresso acredita que zerar o déficit com um aumento de receitas pode favorecer Lula, uma vez que mantém preservado o espaço que o presidente teria para executar investimentos e fortalecer seu governo.
Lula, inclusive, abandonou o plano de equilíbrio das contas no ano que vem com o argumento de que a meta obrigaria o governo a conter suas despesas. "Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse país", declarou.
O Congresso não deve ter muita dificuldade para embarcar na mudança de posicionamento do governo, mas deve cobrar um preço. Se a revisão da meta abrir espaço no Orçamento, o centrão deve cobrar um bônus para as emendas parlamentares e uma conta mais gorda para os ministérios controlados pelo grupo.
Além do centrão, ministros de Lula e aliados do presidente na esquerda também reclamavam da ideia de zerar o déficit no ano que vem. Eles citavam os prejuízos políticos que o PT poderia sofrer caso fosse preciso cortar despesas, especialmente em ano de eleições municipais.
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