7 de fevereiro de 2024

A esquerda desempenhou um papel chave na luta palestina

A rivalidade entre Fatah e Hamas dominou a política palestina desde os anos 1990. No entanto, por muitos anos, o principal desafio ao Fatah veio dos grupos da esquerda palestina, que contribuíram muito para o movimento nacional.

Francesco Saverio Leopardi


Georges Habash, líder militar da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) em Amã, Jordânia, em 1970. (Genevieve Chauvel / Sygma via Getty Images)

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A esquerda palestina recebe pouca atenção nas discussões atuais sobre a política palestina, já que suas principais facções parecem marginalizadas, embora historicamente tenham contribuído enormemente para o desenvolvimento do movimento nacional palestino. A ausência de uma opção progressista entre dois partidos nacionalistas conservadores, Fatah e Hamas, contribui para o impasse que os palestinos enfrentam em termos de iniciativa política.

Para entender a marginalização da Esquerda, é preciso considerar não apenas alguns dos fatores históricos objetivos que minaram seu peso político, como o colapso da União Soviética ou a ascensão do Islamismo político. A incapacidade de resolver problemas antigos, como a fragmentação interna da esquerda ou a primazia do nacionalismo sobre a classe, também representaram fatores chave no declínio da esquerda palestina.

A OLP e a Esquerda

No final dos anos 1960, as organizações armadas palestinas assumiram a Palestine Liberation Organization (Organização para a Libertação da Palestina – OLP) e a transformaram na principal plataforma institucional do moderno movimento nacional palestino. O Fatah de Yasser Arafat emergiu como a facção palestina dominante, ganhando imensa popularidade entre os refugiados palestinos no exílio graças à introdução de algumas inovações políticas chave.

O Fatah liderou a ideia de que o nacionalismo palestino e a agência política deveriam ser autônomos do patrocínio árabe e que a luta armada era o instrumento chave para alcançar a libertação. Várias outras facções se juntaram ao Fatah na OLP, com aquelas que reivindicavam uma identidade marxista representando a principal oposição à sua liderança. Quando as organizações armadas assumiram o controle total da OLP em 1969, a esquerda palestina já apresentava alguns dos problemas de longa data que marcariam sua trajetória.

A organização de esquerda mais importante da OLP foi, e ainda é, a Popular Front for the Liberation of Palestine (Frente Popular para a Libertação da Palestina – FPLP), um grupo liderado por George Habash, um médico da cidade de Lydda, onde hoje é o centro de Israel. Habash também era conhecido como hakim al-thawra, “o homem sábio da revolução” — um apelido que sugeria tanto seu histórico profissional (hakim significa doutor em árabe levantino) quanto sua liderança carismática.

A FPLP foi fundada em 1967 como a seção nacional palestina de uma das mais importantes organizações transnacionais árabes, o Movement of Arab Nationalists (Movimento dos Nacionalistas Árabes – MAN). Durante os anos 1960, o MAN se aproximou de Gamal Abdel Nasser, o presidente egípcio que defendia o nacionalismo e a unificação árabe. Isso também implicava uma mudança à esquerda na perspectiva tradicionalmente nacionalista do MAN, à medida que Nasser se inclinava mais decididamente para o conceito de “socialismo árabe”.

Após a esmagadora derrota árabe na guerra de junho de 1967 contra Israel, o pan-arabismo de Nasser perdeu sua credibilidade como o principal agente de unificação árabe e libertação palestina. Isso deixou mais espaço para facções como o Fatah, que insistiam que os próprios palestinos deveriam liderar a luta pela libertação. Habash e seus seguidores entenderam que era o momento certo para uma mudança paradigmática no MAN, e em dezembro daquele ano, fundaram a FPLP.

Divisões na FPLP

No entanto, em seus primeiros dois anos de vida, a FPLP sofreu grandes divisões. Primeiro, em 1968, Ahmed Jibril, um ex-oficial do exército sírio, deixou a organização pouco depois de se juntar a ela e fundou o Comando Geral da FPLP. Jibril argumentou que tinha pouco interesse nos debates ideológicos da FPLP e estava mais interessado em organizar a resistência armada.

Possivelmente mais dolorosa do que a saída de Jibril foi a decisão da, até então, ala esquerda da FPLP de deixar a organização em 1969 e seguir a liderança de Nayef Hawatmeh. Hawatmeh, um cidadão jordaniano, e seus seguidores, que se reuniam principalmente em torno da revista al-Hourriah, contestavam a liderança autoritária de Habash, que eles viam como excessivamente inclinada à direita.

No entanto, as rivalidades pessoais possivelmente importavam mais do que as diferenças ideológicas na divisão, já que Hawatmeh ressentia-se da popularidade e aura carismática de Habash. Após garantir proteção do Fatah de Arafat, particularmente para os escritórios de seus camaradas no Líbano, Hawatmeh deixou a FPLP e fundou a Frente Democrática Popular para a Libertação da Palestina (mais tarde renomeada simplesmente para Democratic Front for the Liberation of Palestine (Frente Democrática para a Libertação da Palestina, ou FDLP). O nome pretendia destacar a alegada liderança antidemocrática da organização-mãe.

Habash , então, ficou com uma organização menor que, no entanto, ainda gozava de popularidade significativa e era leal ao seu secretário-geral. Em 1969, a FPLP publicou seu manifesto político e adotou o marxismo-leninismo como ideologia oficial. As plataformas ideológicas e organizacionais da FPLP refletiam a influência do marxismo global. O maoísmo e a experiência vietnamita claramente incorporavam alguns dos principais modelos para Habash e seus camaradas.

Ao contrário do Fatah, a FPLP (assim como a FDLP) não buscava apenas a libertação palestina e a criação de um estado democrático em toda a Palestina. Eles acreditavam em uma revolução mais ampla que traria o socialismo para toda a região e derrubaria os “regimes reacionários árabes”. Nessa perspectiva, a reação árabe e o sionismo eram vistos como peões locais do imperialismo global, liderado pelos Estados Unidos.

No final dos anos 1960, tanto a FPLP quanto a FDLP dirigiram sua retórica virulenta ao Reino Hachemita da Jordânia. Este era o estado onde a OLP tinha sua sede e onde os palestinos tinham a melhor chance de criar um “Hanoi Árabe” para apoiar a guerrilha contra Israel.

Apesar das diferenças ideológicas com o Fatah, a FPLP ainda tinha os mesmos valores e práticas compartilhadas que formavam o núcleo do estatuto da OLP. Ao fazer isso, a FPLP reconhecia a primazia dessas ideias que o Fatah havia introduzido primeiro ao movimento nacional, especialmente o nacionalismo palestino.

A FPLP permaneceria leal ao longo das décadas na estrutura da OLP, apesar de seu forte papel de oposição. A organização consistentemente reafirmava a preeminência da dimensão nacional de sua luta sobre a linha socialista e revolucionária.

Do Jordão ao Líbano

Os apelos por uma revolução árabe refletiam claramente o legado nacionalista árabe do MAN, mas colocavam a FPLP e a FDLP em desacordo com o Fatah, cujos líderes se esforçavam para manter um equilíbrio para a OLP na Jordânia. Durante seus anos revolucionários, até aproximadamente 1972, a FPLP se tornou mundialmente conhecida por suas “operações externas” — especificamente, os sequestros de aviões que fizeram de Leila Khaled um ícone revolucionário global.

Embora essa estratégia tenha alcançado seu objetivo de chamar a atenção do mundo para a luta palestina, também desencadeou um confronto entre a OLP e os governantes hachemitas da Jordânia. Em setembro de 1970, o pouso pela FPLP de três aviões sequestrados em Dawson’s Fields, uma antiga base aérea britânica, foi o estopim para a crise, com o rei Hussein ordenando que o exército agisse contra as organizações armadas palestinas. Após o que ficou conhecido como “Setembro Negro”, os confrontos continuaram em 1971, e a OLP foi finalmente forçada a realocar sua sede para Beirute.

Uma vez no Líbano, toda a OLP entrou em uma nova fase política, onde a revolução e a luta armada coexistiam com a diplomacia e o desenvolvimento institucional. Em 1974, a OLP havia adotado essa abordagem como sua linha oficial, com a organização declarando sua prontidão para estabelecer uma “autoridade nacional palestina combatente sobre qualquer parte da terra libertada”, prenunciando a aceitação explícita de uma solução de dois estados. Na verdade, a FDLP foi a primeira facção palestina a propor tal mudança política, que o Fatah rapidamente endossou.

A FPLP ficou no meio e rejeitou a nova linha, considerando-a uma “desvio” do estatuto da OLP. A organização de Habash enfrentou um dilema significativo, dividida entre sua lealdade a estrutura da OLP e sua adesão ao papel de oposição radical.

Grande parte do apoio popular à FPLP baseava-se em sua posição intransigente sobre a libertação palestina e sua capacidade de desempenhar seu papel revolucionário. Na Jordânia, havia uma chance real de a FPLP lançar uma transformação revolucionária, enquanto no Líbano, o equilíbrio entre seus dois principais objetivos políticos era mais difícil de alcançar.

No entanto, o contexto libanês ainda oferecia algumas oportunidades revolucionárias para a esquerda palestina. O Movimento Nacional Libanês local, liderado por Kamal Jumblatt, visava superar o sistema confessional tradicional sobre o qual o poder estatal se baseava e via na presença armada palestina um parceiro potencial. Enquanto o Fatah tentava evitar ser arrastado para os confrontos internos libaneses, a FPLP e a FDLP viam na iniciativa de Jumblatt outra chance de levar a revolução a um estado árabe.

Quando a guerra civil estourou em 1975, ficou claro que a OLP não poderia permanecer alheia ao conflito. Afinal, um incidente de tiroteio contra combatentes palestinos acabou sendo considerado o primeiro episódio da guerra. As milícias libanesas controladas por facções conservadoras, particularmente maronitas cristãs, temiam a ameaça política e demográfica que a OLP representava para o estado atual.

As organizações palestinas tornaram-se fortemente envolvidas na guerra, pois seu principal objetivo era proteger o santuário que haviam construído no país. Na segunda metade da década de 1970, a solidariedade com os palestinos ajudou a FPLP a superar suas lacunas com o restante do movimento nacional. A transformação revolucionária deu lugar como objetivo à sobrevivência nacional.

A segunda invasão de Israel ao Líbano em 1982, após a primeira ter ocupado uma parte do sul do Líbano em 1978, marcou um ponto de virada na história de toda a OLP e especificamente da esquerda palestina. Após um cerco que durou um verão, a OLP foi forçada a deixar sua base em Beirute e se mudar para a distante Tunis. Enquanto isso, a FPLP e a FDLP transferiram suas sedes para Damasco, onde os olhos vigilantes do regime de Hafez al-Assad impuseram um ambiente muito mais restritivo para a esquerda palestina.

A Primeira Intifada

Após 1982, os grupos de esquerda pareciam ter sido privados de qualquer espaço para iniciativa revolucionária. A luta armada, como praticada até então, alcançou reconhecimento internacional para o movimento nacional mais amplo, mas não entregou nem a libertação nem a revolução no mundo árabe. Fatah e a liderança da OLP agora apostavam tudo na diplomacia e buscavam obter o reconhecimento dos EUA como um passo fundamental e preliminar para entrar em negociações diretas com Israel.

Por sua vez, a FPLP não pôde aceitar essa nova virada para a diplomacia, mas também não conseguiu propor uma visão alternativa. Além disso, George Habash não pôde exercer sua forte liderança da maneira como havia feito antes, depois de sofrer um derrame em 1980 que enfraqueceu significativamente sua capacidade de trabalho.

O surgimento da Primeira Intifada em 1987 representou uma oportunidade de ouro para encontrar uma saída do impasse político que vinha restringindo a capacidade de iniciativa palestina. A ampla revolta civil nos territórios ocupados deslocou o equilíbrio da OLP da diáspora para a pátria. Para a liderança da OLP, foi uma ocasião para obter mais vantagens para seus esforços diplomáticos. Para a FPLP e a esquerda, por outro lado, foi uma chance de fechar a lacuna com Fatah e renovar suas credenciais revolucionárias.

No entanto, a Primeira Intifada também viu o surgimento da primeira organização palestina fora do quadro da OLP a ganhar amplo apoio popular. O Hamas, Movimento de Resistência Islâmica, foi estabelecido logo após o início das revoltas e rapidamente se apresentou como a nova opção radical palestina. Isso não apenas ameaçou o status da OLP, mas também colocou em risco o papel da esquerda palestina, particularmente a FPLP, que ainda se posicionava como a oposição mais forte aos desvios do Fatah.

Vários outros fatores proeminentes surgiram no início dos anos 1990 que colocaram toda a esquerda e especialmente a FPLP em uma situação crítica. O colapso da União Soviética em 1991 minou a credibilidade dos partidos marxistas em nível global. No nível palestino, este evento não provocou grandes transformações na perspectiva ideológica e organizacional das organizações de esquerda. Apenas o Partido Comunista Palestino se renovou como Partido Popular da Palestina e adotou um perfil social democrata.

A FPLP parecia particularmente inativa diante deste grande desafio global e da situação alterada que a Intifada havia criado para as facções palestinas. Em seu quinto congresso nacional em 1993, a FPLP falhou em atualizar sua visão para a transformação socialista e reafirmou sua adesão à declaração ideológica de 1969. Ao mesmo tempo, a liderança tradicional não permitiu que os novos líderes da Palestina que surgiram durante a Intifada ganhassem uma representação adequada na organização.

Após Oslo

No final do verão daquele ano, a liderança da OLP e o governo israelense declararam a conquista de um planejamento para um processo de paz, parte dos chamados Acordos de Oslo. Esta reviravolta pegou a esquerda palestina de surpresa. A FPLP e a FDLP, junto com o Hamas, rejeitaram o acordo secreto que havia sido alcançado na capital norueguesa, embora um pequeno grupo na FDLP tenha deixado a organização e fundado a Palestinian Democratic Union (União Democrática Palestina- UDP) para apoiar a iniciativa de Arafat.

Conforme o processo de paz ostensivo entre Israel e Palestina avançava e a Palestinian National Authority (Autoridade Nacional Palestina – ANP) era estabelecida, a FPLP e a FDLP buscaram construir uma coligação em oposição a isso com o Hamas e outras facções de rejeição. Esta iniciativa se mostrou de curta duração, já que os esquerdistas e os islamistas encontraram pouco terreno comum e não conseguiram superar a desconfiança mútua. Na década de 1990, tanto a FPLP quanto a FDLP gradualmente aceitaram a nova realidade. Enquanto mantinham oficialmente sua rejeição ao quadro de Oslo, eles pragmaticamente buscavam maneiras de influenciar essa nova realidade.

Membros do partido foram autorizados a se juntar às fileiras inferiores da burocracia da ANP, enquanto os líderes principais consideravam voltar à Palestina no contexto do processo de paz. Em 1999, por exemplo, Abu Ali Mustafa, vice-secretário-geral da FPLP, foi autorizado a retornar à Cisjordânia para organizar a resistência nos territórios ocupados, conforme declarações oficiais mantidas.

Ao mesmo tempo, no entanto, muitos ativistas de esquerda abandonaram suas facções para se juntar ao setor em expansão de organizações não governamentais (ONGs). A esquerda passou a ver a sociedade civil como o novo bastião de resistência tanto contra a ocupação quanto contra o crescente autoritarismo da ANP. No entanto, a dependência de financiamento ocidental e as condições associadas a isso privaram as ONGs de grande parte de seu potencial progressista. Dentro do quadro do trabalho das ONGs, o ativismo social foi profissionalizado, e uma abordagem de questão única tornou-se proeminente.

Em contraste marcante, o Hamas ampliou sua base social durante este período através de uma grande rede de organizações populares que não dependiam de financiamento externo e, portanto, eram capazes de mobilizar apoio popular para a linha e a cultura do partido. As facções de esquerda estavam perdendo membros e sua oposição parecia ineficaz, já que tanto a FPLP quanto a FDLP haviam praticamente se reconciliado com o Fatah e aceitado o Acordo de Oslo.

A Segunda Intifada, que eclodiu em setembro de 2000, selou a marginalização da esquerda palestina. No contexto de uma revolta militarizada, os braços armados da FPLP e da FDLP não puderam igualar a força das Brigadas Al-Qassam do Hamas ou dos Mártires de Al-Aqsa do Fatah.”

Em 2000, Habash renunciou ao seu cargo, e Abu Ali Mustafa tornou-se secretário-geral da FPLP, destacando a importância que a FPLP atribuía à reorganização da resistência nos territórios ocupados. No entanto, um ataque aéreo israelense em seu escritório em Al-Bireh assassinou o novo líder da FPLP em agosto de 2001.

Enquanto a Intifada continuava, a FPLP elegeu Ahmad Sa’adat, um líder do ramo da FPLP na Cisjordânia, como novo secretário-geral. No entanto, Sa’adat logo depois foi incapacitado em seu papel de liderança. Primeiro, a ANP o prendeu em 2002 por seu papel no assassinato do ministro israelense Rehavam Ze’evi, em represália pela morte de Mustafa. Posteriormente, o exército israelense transferiu Sa’adat da prisão da ANP para uma de suas próprias prisões, onde ele permanece até hoje.

A Esquerda Palestina Hoje

A Segunda Intifada chegaria ao fim em 2005, deixando a liderança da FPLP em uma situação difícil. Quanto à FDLP, Hawatmeh, já idoso, continuava ocupando o cargo de secretário-geral, mas estava morando em Damasco, longe dos territórios. Nos anos agitados que se seguiram à Segunda Intifada e à morte de Arafat em 2004, a esquerda palestina parecia estar pressionada entre a crescente oposição do Hamas e um Fatah fragmentado que, mesmo assim, ainda encarnava o partido dominante da ANP.

A participação dispersa das facções de esquerda nas eleições de 2006 para o Conselho Legislativo Palestino, o parlamento da ANP, testemunhou sua incapacidade de desempenhar um papel significativo na crescente polarização da política palestina. A FPLP conquistou três cadeiras de um total de 132, com pouco mais de 4% dos votos. A FDLP concorreu em uma lista conjunta com o Partido Popular e a FIDA, chamada de Alternativa, e conquistou duas cadeiras com menos de 3% dos votos. A Iniciativa Nacional Palestina de Mustafa Barghouti, ex-líder do Partido Popular que concorreu contra Mahmoud Abbas na eleição presidencial de 2005, também conquistou duas cadeiras.

Hamas foi o vencedor geral, e sua rivalidade com o Fatah eventualmente resultou em conflito total entre os dois grupos. Enquanto isso acontecia, a esquerda palestina tentava desempenhar um papel mediador, mas não conseguia influenciar o curso dos eventos. Toda a esquerda condenou a tomada de Gaza pelo Hamas em 2007, ao mesmo tempo que reconhecia as responsabilidades do Fatah na escalada da crise.

Nos anos que se seguiram, as facções de esquerda palestinas continuaram focadas em esforços de reconciliação. Seu número de membros continuou a declinar, assim como seu impacto na sociedade palestina. Por exemplo, os grupos estudantis de esquerda afiliados aos principais partidos não têm se saído bem nas eleições universitárias.

Alguns nomes proeminentes na política palestina continuaram a surgir das fileiras da esquerda, como Khalida Jarrar da FPLP. No entanto, diante das condições econômicas cada vez piores nos territórios ocupados e do crescente autoritarismo das administrações palestinas tanto em Gaza quanto na Cisjordânia, sob o peso de uma ocupação opressiva, as facções de esquerda têm sido incapazes de propor uma visão alternativa para a libertação e mobilizar apoio popular de acordo.

A renovação ideológica e organizacional continua a escapar dos principais grupos. Por exemplo, a FPLP continuou reelegendo Sa’adat como secretário-geral em sua cela na prisão, destacando sua incapacidade de encontrar um novo líder que possa supervisionar os assuntos do partido de fora da prisão.

Mais amplamente, a incapacidade da Esquerda de renovar sua visão para a libertação palestina continua sendo um problema central. Os partidos de esquerda, assim como outras organizações palestinas, permanecem vinculados a visões tradicionais que surgiram durante a década de 1960. Eles falharam em elaborar uma alternativa que possa se afastar dos paradigmas históricos do nacionalismo palestino e focar mais precisamente nas contradições centrais da questão palestina e do movimento nacional palestino.

Como reconstruir uma plataforma institucional que possa fornecer representação política legítima e abrangente ao povo palestino? Como elaborar uma visão para autodeterminação que se desprenda de uma solução de dois estados impossível? Como fornecer uma análise e uma resposta política às relações coloniais de poder existentes não apenas nos territórios ocupados, mas em todo Israel/Palestina? Como devolver a representação política e o envolvimento aos refugiados palestinos no exílio?

Enquanto a brutal guerra israelense em Gaza continua sem fim à vista, ponderar sobre essas questões pode parecer irrelevante. No entanto, do ponto de vista a longo prazo, a ausência de uma plataforma política palestina viável é uma peça vital ausente na luta para alcançar igualdade e autodeterminação para os palestinos.

A esquerda palestina em toda sua diversidade poderia aproveitar seu legado histórico e intelectual dentro do movimento nacional para fornecer novas perspectivas sobre os principais problemas da questão palestina. No entanto, as organizações tradicionais parecem ter esgotado grande parte de sua credibilidade política e mostram pouco interesse em uma renovação significativa. A questão pendente então permanece sobre se as ideias e práticas de esquerda podem encontrar um veículo eficaz nas estruturas existentes ou terão que buscar novos canais institucionais.

Colaborador

Francesco Saverio Leopardi é o autor de The Palestinian Left and Its Decline: Loyal Opposition. Leciona na Universidade de Pádua.

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