Aloizio Mercadante
Presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
Rafael Lucchesi
Diretor-geral do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e diretor de Educação e Tecnologia da CNI (Confederação Nacional da Indústria)
A indústria brasileira luta há décadas com desafios de produtividade: perdeu terreno durante as mudanças tecnológicas iniciadas nos anos 1970 e 1980 e falhou em capitalizar os benefícios da terceira revolução industrial. Esses desafios são exacerbados por questões da baixa qualidade da educação e um parque industrial obsoleto, com máquinas e equipamentos com idade média de 14 anos.
A produtividade é a medida da eficiência de produção. Ela é frequentemente definida como a relação entre a quantidade de produtos gerados e os recursos utilizados. Em termos simples, refere-se a "produzir mais com menos".
Robô trabalha na montagem de câmbio em linha de produção de motores na fábrica da Ford em Taubaté (SP) - Diego Padgurschi/Folhapress - Folhapress |
A transformação digital, impulsionada pela quarta revolução industrial, é uma oportunidade para as indústrias brasileiras se tornarem mais competitivas. Adotar tecnologias como a internet das coisas e a inteligência artificial pode melhorar a eficiência, aperfeiçoar produtos e reduzir custos. Entretanto, falta de conhecimento e custos elevados são obstáculos para sua implementação.
A indústria desempenha um papel central na economia brasileira porque se destaca pela constante incorporação de avanços tecnológicos em seus processos. A cada R$ 1 produzido na indústria, são gerados R$ 2,44 na economia brasileira. O setor emprega 10,3 milhões de trabalhadores e é responsável por 66,4% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento, fator decisivo para a inovação e ganhos de competitividade.
No entanto, muitas empresas ainda não adotam tecnologia digital. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que 31% das empresas nacionais ainda não utilizam sequer alguma tecnologia digital em seu processo produtivo.
O governo anunciou recentemente a prioridade de uma política de neoindustrialização, incluindo o maior programa de produtividade e digitalização da história do país, cujo objetivo é aumentar a produtividade de pequenas e médias empresas por meio da aplicação da metodologia Lean ("produção enxuta") e adoção de ferramentas digitais.
O novo Brasil Mais Produtivo é liderado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em colaboração com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
Para executar a transformação digital nas empresas, o programa vai unir consultoria e formação profissional de colaboradores. As indústrias terão apoio em produtividade e transformação digital; vão receber diagnóstico e acompanhamento para melhoria de gestão; participarão de intervenções para melhoria da produtividade e da eficiência energética; e serão beneficiadas com projetos de empresas provedoras de tecnologias 4.0 e contempladas com plano de transformação digital.
Programas anteriores demonstraram a eficácia dessa abordagem. O programa Brasil Mais Produtivo, por exemplo, aumentou a produtividade em 66%. Com a missão de alavancar a produtividade nacional, o Novo Brasil Mais Produtivo vai beneficiar mais de 200 mil empresas ao longo de quatro anos. Será um programa de alto impacto na indústria e na economia brasileira.
As medidas para aumentar a produtividade e incentivar a digitalização chegam em boa hora e são urgentes para construir uma nova política industrial sustentável, inovadora e socialmente inclusiva. Assim, as empresas brasileiras vão ampliar a escala de mercado e participar de cadeias globais de fornecimento.
O Brasil precisa dar um salto na direção da indústria 4.0, na automação, na robótica avançada. Essas tecnologias não apenas otimizam os processos de produção, mas também redefinem o conceito de manufatura.
É chegada a hora da retomada da indústria no Brasil.
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