Leonardo Vieceli
Eduardo Cucolo
Com impulso da demanda interna, a economia brasileira cresceu acima das projeções de analistas no segundo trimestre de 2024, indicam dados divulgados nesta terça (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A alta do PIB (Produto Interno Bruto) chegou a 1,4% ante os três meses iniciais deste ano. Na mediana, o mercado financeiro esperava taxa de 0,9%, conforme pesquisa da agência Bloomberg.
O desempenho mostra uma aceleração do PIB após avanço revisado de 0,8% para 1% no primeiro trimestre. A alta de 1,4% é a maior desde o quarto trimestre de 2020 (3,7%), quando a pandemia deixou a base de comparação fragilizada.
"O crescimento do segundo trimestre está totalmente concentrado na demanda interna, especialmente em consumo das famílias e investimentos", disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
O PIB está no maior nível da série histórica do instituto, iniciada em 1996. O resultado de abril a junho ocorreu em meio a um contexto de mercado de trabalho aquecido e transferências governamentais.
Após a divulgação dos dados, analistas passaram a enxergar crescimento maior para o acumulado deste ano.
As projeções para o PIB de 2024 agora estão mais próximas de 3%, em patamar similar aos números registrados em 2023 (2,9%) e 2022 (3%).
Conforme Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, o desempenho da atividade econômica neste ano é anabolizado pela expansão de gastos do governo federal.
Isso leva a uma incerteza sobre a sustentabilidade do ritmo de crescimento nos próximos anos, diz o analista. A MB subiu sua projeção de PIB em 2024, de 2,4% para 2,8%, e espera uma desaceleração a 1,8% em 2025.
"Tivemos um resultado [no segundo trimestre] via demanda mais forte, cuja causa é a política fiscal", afirma Vale. Ele defende a realização de ajuste nas contas para assegurar equilíbrio macroeconômico nos próximos anos.
O economista Claudio Considera, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), diz não ter uma visão pessimista sobre o cenário.
Ele destaca o desempenho positivo de componentes como consumo, investimentos e indústria no segundo trimestre. "A economia está indo muito bem. Está crescendo nos lugares certos."
Consumo e investimentos em alta
"Tivemos um resultado [no segundo trimestre] via demanda mais forte, cuja causa é a política fiscal", afirma Vale. Ele defende a realização de ajuste nas contas para assegurar equilíbrio macroeconômico nos próximos anos.
O economista Claudio Considera, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), diz não ter uma visão pessimista sobre o cenário.
Ele destaca o desempenho positivo de componentes como consumo, investimentos e indústria no segundo trimestre. "A economia está indo muito bem. Está crescendo nos lugares certos."
Consumo e investimentos em alta
O IBGE disse que tanto o consumo das famílias quanto o do governo cresceram 1,3% ante o primeiro trimestre.
Palis lembrou que a proximidade das eleições municipais costuma impulsionar gastos públicos em anos de campanha, como é o caso de 2024.
Ela também disse que o consumo do governo pode refletir ações de socorro ao Rio Grande do Sul após as enchentes de proporções históricas em maio.
Palis lembrou que a proximidade das eleições municipais costuma impulsionar gastos públicos em anos de campanha, como é o caso de 2024.
Ela também disse que o consumo do governo pode refletir ações de socorro ao Rio Grande do Sul após as enchentes de proporções históricas em maio.
O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período de análise e apresentar as óticas da oferta e da demanda Fabio Braga/Folhapress |
Os investimentos produtivos na economia brasileira, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), avançaram 2,1%. Palis associou o resultado a uma combinação de fatores.
Conforme a pesquisadora, o aumento da renda e o acesso a crédito de pessoas físicas podem ter estimulado investimentos na área de construção, que responde por parte da FBCF.
A técnica também citou possíveis aportes do setor relacionados com a demanda de programas como o novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e obras municipais antes das eleições.
Ao contrário de períodos recentes, o setor externo agora teve influência negativa para o desempenho da economia. Isso ocorreu porque as importações (7,6%) avançaram mais do que as exportações (1,4%).
Pelo lado da oferta, os serviços e a indústria contribuíram para o crescimento do PIB no segundo trimestre. As altas foram de 1% e 1,8%, respectivamente.
A agropecuária (-2,3%), por outro lado, teve queda após problemas climáticos desde o final do ano passado. A ocorrência de ondas de calor e as enchentes no Rio Grande do Sul fazem parte da lista.
"Já era previsto um desempenho ruim neste ano para a agropecuária por causa dos problemas climáticos do ano passado. Teve ondas de calor, muita chuva em alguns lugares, seca em outros. Então, isso prejudicou a safra deste ano", afirmou Palis.
"Com a tragédia no Rio Grande do Sul, a gente viu que as estimativas, especialmente de soja, lavoura mais importante do Brasil, tiveram um aumento da queda", acrescentou.
Pessoas circulam em mercado no centro histórico de São Paulo - Pedro Affonso - 28.ago.24/Folhapress |
RS tem desempenho em "V", diz técnica
De acordo com Palis, o efeito negativo da tragédia gaúcha ficou mais concentrado na agropecuária. Em outros setores, indicadores econômicos já sinalizaram uma espécie de desempenho em formato de "V", disse a técnica.
"Vocês viram, até pelas pesquisas conjunturais que a gente [IBGE] divulgou, que o efeito no Rio Grande do Sul foi muito em 'V'. Teve queda bastante forte em maio e recuperação em junho", apontou.
PIB mais alto e possível aperto de juros
"Vocês viram, até pelas pesquisas conjunturais que a gente [IBGE] divulgou, que o efeito no Rio Grande do Sul foi muito em 'V'. Teve queda bastante forte em maio e recuperação em junho", apontou.
PIB mais alto e possível aperto de juros
Julia Gottlieb, economista do Itaú BBA, afirma que o resultado acima do previsto coloca um viés de alta na projeção da instituição de crescimento de 2,5% para este ano. Ela destaca o crescimento acima do esperado do setor público, uma demanda mais resiliente e a recuperação do investimento após resultado negativo em 2023.
A economista afirma que os dados reforçam a expectativa de alta de juros, diante de um crescimento acima do potencial. "A gente ainda tem um cenário de juros parado em 10,5% [ao ano], mas certamente a dinâmica do PIB e as expectativas de inflação não vão na linha de fortalecer essa tese de juros estável", afirma.
A Fiesp (federação das indústrias de São Paulo) revisou a projeção de crescimento da economia de 2,2% para 2,7% em 2024. Para o PIB da indústria de transformação, a estimativa subiu de 1,5% para 2,5%.
"Um dos fatores que justificam esta revisão altista foi a retomada mais rápida que o esperado da atividade industrial gaúcha após o desastre climático ocorrido entre o fim de abril e o início de maio", diz a entidade em nota.
Daniel Xavier Francisco, economista do Banco ABC Brasil, afirma que o "carregamento estatístico" garante um crescimento contratado de pelo menos 2,5%, mas que sua expectativa agora é uma alta de 3,3% neste ano.
Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, afirma que o resultado do PIB possui um componente conjuntural, que é o impacto menor das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a economia no período, e a questão estrutural dos números positivos do mercado de trabalho. Ela revisou a projeção para o acumulado do ano de 2,5% para 2,9% após a divulgação dos dados.
A economista aponta também que o crescimento do investimento continua superior à expansão do consumo. "Isso é positivo do ponto de vista das implicações para a inflação. Significa que, lá na frente, você vai ter uma capacidade de oferta maior e melhor. De certa forma, contribui para uma elevação do PIB potencial", afirma Damico.
A economista afirma que os dados reforçam a expectativa de alta de juros, diante de um crescimento acima do potencial. "A gente ainda tem um cenário de juros parado em 10,5% [ao ano], mas certamente a dinâmica do PIB e as expectativas de inflação não vão na linha de fortalecer essa tese de juros estável", afirma.
A Fiesp (federação das indústrias de São Paulo) revisou a projeção de crescimento da economia de 2,2% para 2,7% em 2024. Para o PIB da indústria de transformação, a estimativa subiu de 1,5% para 2,5%.
"Um dos fatores que justificam esta revisão altista foi a retomada mais rápida que o esperado da atividade industrial gaúcha após o desastre climático ocorrido entre o fim de abril e o início de maio", diz a entidade em nota.
Daniel Xavier Francisco, economista do Banco ABC Brasil, afirma que o "carregamento estatístico" garante um crescimento contratado de pelo menos 2,5%, mas que sua expectativa agora é uma alta de 3,3% neste ano.
Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, afirma que o resultado do PIB possui um componente conjuntural, que é o impacto menor das enchentes no Rio Grande do Sul sobre a economia no período, e a questão estrutural dos números positivos do mercado de trabalho. Ela revisou a projeção para o acumulado do ano de 2,5% para 2,9% após a divulgação dos dados.
A economista aponta também que o crescimento do investimento continua superior à expansão do consumo. "Isso é positivo do ponto de vista das implicações para a inflação. Significa que, lá na frente, você vai ter uma capacidade de oferta maior e melhor. De certa forma, contribui para uma elevação do PIB potencial", afirma Damico.
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