4 de outubro de 2024

Um conto de dois Brasis

Lula vs Bolsonaro na sombra da ditadura militar

Patrick Wilcken

Times Literary Supplement

Luiz Inácio “Lula” da Silva no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, São Bernardo do Campo, novembro de 2019 (esquerda); Jair Bolsonaro durante comício de campanha em Guarulhos, outubro de 2022 (à direita) © Pedro Vilela/Getty Images; © Caio Guatelli/AFP via Getty Images

Nesta resenha

LULA
A biography
Translated by Brian Mier
320pp. Verso. £25.
Fernando Morais

BOLSONARISMO
The global origins and future of Brazil’s far right
252pp. Rutgers University Press. £60 (US $72.95).
Fernando Brancoli

Embora a temperatura política tenha diminuído desde a última eleição presidencial do Brasil em 2022, as energias que ameaçavam destruir o país ainda fervem abaixo da superfície. As figuras dominantes da história política recente — o atual presidente Luiz Inácio "Lula" da Silva e seu antecessor Jair Bolsonaro — agora representam dois Brasis, com perspectivas e concepções diametralmente opostas da história e identidade do país.

Em contraste com a história relativamente indefinida de Bolsonaro, Lula viveu muitas vidas durante seus setenta e oito anos, abrangendo pobreza infantil, desemprego, vários períodos na prisão, a perda de duas esposas (uma com seu filho ainda não nascido), câncer de garganta, décadas de derrota e decepção política e — extraordinariamente — dois mandatos e meio (e contando) como presidente do Brasil. Na primeira parte de uma biografia de dois volumes, traduzida por Brian Mier, o jornalista brasileiro Fernando Morais une a história da prisão de Lula e do tempo na prisão em 2018-19 com as reminiscências de seu tema de sua infância de pobreza e anos de formação como líder sindical. (A luta de Lula pela presidência nas décadas de 1980 e 1990 e seus mandatos presidenciais no século XXI serão abordados no segundo volume.) Com base em extensas entrevistas com Lula, este é um retrato comovente que, embora simpático — Morais critica repetidamente o desdém da elite, o preconceito da mídia e a guerra jurídica politicamente motivada que Lula sofreu — parece emocionalmente verdadeiro.

Lula nasceu em 1945 no sertão seco e árido do estado de Pernambuco, no nordeste do Brasil, uma região tão devastada pela seca e pela pobreza que, em meados do século XX, a expectativa de vida era de trinta e cinco anos e três quartos da população eram analfabetos. Isso incluía o pai errático e muitas vezes violento de Lula, Aristides (“ele não conseguia nem ler a letra ‘O’”), que andava por aí com um jornal debaixo do braço para esconder o fato.

Em 1952, a mãe de Lula, Dona Lindu, juntou-se a Aristides no estado de São Paulo, onde ele havia encontrado trabalho transportando sacos de café no cais de Santos. Ela viajou por treze dias e noites ao longo de uma trilha de 2.500 quilômetros de estradas de terra na caçamba de um caminhão com seus sete filhos, incluindo Lula, então com sete anos. A família inicialmente vivia na penúria na cidade costeira de Guarujá. Mas a violência de Aristides fez com que Dona Lindu fugisse com seus filhos pequenos, primeiro para um barraco e depois para São Paulo. Lá, eles alugaram um quarto e uma cozinha atrás de um bar. “Sete ou oito pessoas dormiam em camas dobráveis ​​na cozinha”, ...

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