20 de maio de 2024

Um alívio para Julian Assange

Jornalismo como "espionagem".

Tariq Ali


Tradução / A decisão do Supremo Tribunal de permitir que Julian Assange recorra de sua extradição pendente é uma vitória importante, ainda que parcial. Os juízes estão conscientes de que, na verdade, ele não tem um caso para responder. A acusação dos EUA de “espionagem” é um disparate flagrante. O fato de ainda não ter sido rejeitada e Julian Assange libertado é um sinal da subordinação generalizada do Reino Unido aos interesses americanos.

Todo o crédito deve ser dado à campanha internacional para libertá-lo – em particular, à firme determinação de sua mulher, Stella Assange – e à desconstrução forense incontestável de Nils Melzer de todo este caso sórdido. O The New York Times e o Guardian, ambos barômetros da opinião obsequiosa, reconheceram o absurdo das acusações. Até mesmo a classe política australiana, normalmente servil, votou para exigir sua libertação. (“A história”, escreveu Engels, “é feita de tal forma que o resultado final surge sempre de conflitos entre muitas vontades individuais, cada uma das quais, por sua vez, tornou-se o que é por uma série de condições particulares de vida”).

O único “crime” de Julian Assange foi expor um crime. Tornar disponíveis as provas das brutalidades dos EUA no Iraque. E ele só pôde fazer isso porque Chelsea Manning lhe forneceu o explosivo vídeo “Collateral Murder” além de outras informações vitais. Desde então, ela recuperou a liberdade, enquanto Julian Assange continua apodrecendo em Belmarsh. Em primeiro lugar, um Ministério Público imparcial não o teria perseguido. Em 2013, os suecos estavam dispostos a abandonar o caso. Mas o Ministério Público [Crown Prosecution Service], liderado por Starmer, pediu-lhes que o mantivessem aberto.

Ele e seus colaboradores voaram para os EUA, onde conspiraram com a administração de Barack Obama – embora os documentos relacionados com estas viagens tenham sido escondidos ou destruídos. Tal como criminosos convictos, Starmer e seus colegas não queriam que qualquer detalhe vazasse ao público. Que este sujeito seja agora o chamado “Líder da Oposição” – aplaudido pelo establishment por ter se livrado do grupo de Corbyn, restaurado a velha guarda blairista e apoiado o genocídio israelense – não é de surpreender. Seu treinamento para se tornar o próximo primeiro-ministro aceitável começou com a incriminação de Julian Assange.

Outra decisão terrível e vingativa foi a de manter Julian Assange fechado numa instalação de segurança máxima, com períodos prolongados de confinamento solitário que equivalem a uma autêntica tortura. A explicação oficial foi que ele não pagou a fiança, o que poderia explicar a recusa em libertá-lo; mas uma prisão aberta, como as que são utilizadas para manter criminosos financeiros, teria sido certamente suficiente. A verdadeira razão era que os serviços secretos queriam que ele fosse castigado e humilhado. Como resultado, o jornalista do WikiLeaks está tão doente que não pôde comparecer às duas últimas audiências em tribunal. Será que esperam que ele morra antes do último recurso?

Há cinco anos, de sua cela na prisão, Assange escreveu a um amigo: “Estou intacto, embora literalmente rodeado de assassinos, mas os dias em que eu podia ler, falar e me organizar para defender a mim mesmo, meus ideais e minha gente acabaram! Todas as pessoas devem tomar meu lugar. Estou indefeso e conto com você e com outros de bom caráter para salvarem a minha vida… A verdade, em última análise, é tudo o que temos”.

A verdade por si só nunca é suficiente, especialmente neste mundo vil de padrões duplos do Ocidente. O sistema judicial britânico tem um histórico horripilante quando se trata de lidar com “inimigos do Estado”. Isto é porque ele foi criado para ser um inimigo do povo.

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