Igor Gielow
Folha de S.Paulo
O fracasso de público do evento do 1º de Maio com Lula (PT) em São Paulo explicitou mais uma vez a crescente desconexão do presidente e as ruas, no sentido de expressão popular espontânea de apoio.
O petista preferiu culpar os organizadores, sindicatos de sua base social originária, pelo que teria sido uma falha de comunicação em divulgar o evento. O buraco é bem mais embaixo, refletindo a mudança da organização social brasileira no século que avança em sua terceira década.
O fracasso de público do evento do 1º de Maio com Lula (PT) em São Paulo explicitou mais uma vez a crescente desconexão do presidente e as ruas, no sentido de expressão popular espontânea de apoio.
O petista preferiu culpar os organizadores, sindicatos de sua base social originária, pelo que teria sido uma falha de comunicação em divulgar o evento. O buraco é bem mais embaixo, refletindo a mudança da organização social brasileira no século que avança em sua terceira década.
Público no ato 1º de Maio com Lula em Itaquera, na zona leste de São Paulo - Edi Sousa - 1º.mai.2024/Ato Press/Folhapress |
A esquerda, desde a ascensão do PT do movimento operário do ABC no fim dos anos 1970 até a primeira Presidência de Lula, em 2003, sempre se valeu da mística associada a esses grandes eventos. Braços saíram deles, como o proverbial "exército do [João Pedro] Stedile [líder dos sem-terra]" sempre avocado pelo petista.
O mundo, contudo, mudou. Primeiro, há uma questão estrutural: os sindicatos no mundo todo, com exceções notáveis na Europa, perderam a musculatura política e poder de mobilização que tinham.
Novas formas de mediação do trabalho alteraram a correlação de forças —um avanço para os que veem nas agremiações sindicais cartórios de interesses diversos daqueles dos trabalhadores, um retrocesso para quem acredita que só houve mais precarização.
No Brasil, o fim do imposto sindical, em 2017, colocou uma pá de cal na realidade vigente até então. Mas outro movimento já se fazia sentir, algo que a esquerda local ainda não conseguiu digerir adequadamente, quando as ruas foram tomadas em 2013.
Naquele ano, pautas difusas liberaram grande energia social represada. Como atos de protesto só costumam ter como alvo a oposição em regimes mais autoritários, na forma das grandes marchas do fascismo e do comunismo, a insatisfação caiu no colo de quem estava no poder.
No caso, o PT, que há dez anos governava o país. O resto é a história conhecida, com forças de direita mais ou menos extremadas tomando para si a pauta de fastio com a política organizada, e o sequestro via redes sociais de tudo isso pelo bolsonarismo.
Não é casual que os aderentes do ex-presidente sejam mais eficazes, como o ato de fevereiro na avenida Paulista, em se colocar visíveis. Não é receita infalível, claro, como a manifestação recente em Copacabana demonstrou.
Uma coisa resta certa: a esquerda ainda não encontrou uma forma de transfigurar o apoio popular que Lula tem em boas fotografias, por assim dizer. Cada vez mais o presidente parece preso a eventos palacianos com claques, sem a pressão crescente de sua própria base.
É importante ressaltar que nada disso tem relação direta com desempenho eleitoral. Ainda que declinante, a popularidade de Lula é relativamente alta e ele segue sendo o único nome da esquerda do país viável para manter o Planalto sob controle do campo.
Além disso, como o próprio Lula disse, seu governo não é de esquerda e se ele quiser continuar no cargo em 2027 precisará dos votos centristas que o fizeram derrotar Jair Bolsonaro (PL), pouco afeitos a manifestações do Dia do Trabalhador. O nó é como se comunicar com esse estrato com algo além da negação ao extremismo.
Se apenas povo na rua derruba governo, como já disse o ex-presidente Michel Temer (MDB), a falta dele não significa necessariamente fracasso presumido nas urnas. Isso dito, o fiasco do 1º de Maio deve servir de alerta à esquerda que busca uma boa foto para 2026.
O mundo, contudo, mudou. Primeiro, há uma questão estrutural: os sindicatos no mundo todo, com exceções notáveis na Europa, perderam a musculatura política e poder de mobilização que tinham.
Novas formas de mediação do trabalho alteraram a correlação de forças —um avanço para os que veem nas agremiações sindicais cartórios de interesses diversos daqueles dos trabalhadores, um retrocesso para quem acredita que só houve mais precarização.
No Brasil, o fim do imposto sindical, em 2017, colocou uma pá de cal na realidade vigente até então. Mas outro movimento já se fazia sentir, algo que a esquerda local ainda não conseguiu digerir adequadamente, quando as ruas foram tomadas em 2013.
Naquele ano, pautas difusas liberaram grande energia social represada. Como atos de protesto só costumam ter como alvo a oposição em regimes mais autoritários, na forma das grandes marchas do fascismo e do comunismo, a insatisfação caiu no colo de quem estava no poder.
No caso, o PT, que há dez anos governava o país. O resto é a história conhecida, com forças de direita mais ou menos extremadas tomando para si a pauta de fastio com a política organizada, e o sequestro via redes sociais de tudo isso pelo bolsonarismo.
Não é casual que os aderentes do ex-presidente sejam mais eficazes, como o ato de fevereiro na avenida Paulista, em se colocar visíveis. Não é receita infalível, claro, como a manifestação recente em Copacabana demonstrou.
Uma coisa resta certa: a esquerda ainda não encontrou uma forma de transfigurar o apoio popular que Lula tem em boas fotografias, por assim dizer. Cada vez mais o presidente parece preso a eventos palacianos com claques, sem a pressão crescente de sua própria base.
É importante ressaltar que nada disso tem relação direta com desempenho eleitoral. Ainda que declinante, a popularidade de Lula é relativamente alta e ele segue sendo o único nome da esquerda do país viável para manter o Planalto sob controle do campo.
Além disso, como o próprio Lula disse, seu governo não é de esquerda e se ele quiser continuar no cargo em 2027 precisará dos votos centristas que o fizeram derrotar Jair Bolsonaro (PL), pouco afeitos a manifestações do Dia do Trabalhador. O nó é como se comunicar com esse estrato com algo além da negação ao extremismo.
Se apenas povo na rua derruba governo, como já disse o ex-presidente Michel Temer (MDB), a falta dele não significa necessariamente fracasso presumido nas urnas. Isso dito, o fiasco do 1º de Maio deve servir de alerta à esquerda que busca uma boa foto para 2026.
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