Thiago Resende
Repórter da Folha em Brasília, está no jornal desde 2019, cobrindo notícias de economia e política. Formado em jornalismo, já trabalhou em outros jornais, como Valor Econômico, e como correspondente freelancer na Europa.
Folha de S.Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) colocou como prioridade propostas legislativas que, na visão de líderes do centrão, dividirão a aliança da esquerda.
PT, PC do B, PSOL e outras siglas aliadas do presidente serão empurrados a discutir –fora do campo ideológico– mudanças no sistema de tributos e impostos no país e uma nova regra de controle de gastos.
Mas vão votar a favor dessas propostas?
Sessão de posse dos deputados eleitos, na Câmara, em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress |
Parlamentares influentes do centrão acham que o primeiro racha no núcleo da base política de Lula se dará então ainda neste semestre.
É o momento em que esses partidos, como Republicanos, PP e até o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, acham que ganharão ainda mais força. Oficialmente, vão voltar a espalhar o discurso de que o bloco garante a governabilidade ao país e representa a estabilidade política. Mas isso tem um preço.
Lula colocou em prática uma negociação para atender separadamente pedidos de alas dessas três legendas e também da União Brasil.
São cargos de segundo e terceiro escalões. Alguns com grande potencial político, como comando de Codevasf e Correios. Outros de influência apenas local.
O centrão aproveita a pulverização do poder nesses partidos para negociar no varejo.
A estratégia dos articuladores de Lula é atrair aliados no corpo a corpo com parlamentares dessas bancadas, o que, na visão de integrantes do Planalto, abre espaço para uma aliança mais robusta no futuro.
Líderes dessas siglas dizem que não é possível, por ora, embarcar oficialmente na base de Lula. A transição tem que ser mais lenta.
A União Brasil, que foi criada após a fusão do PSL com o DEM, tem diferentes grupos políticos e, apesar de ter três ministérios na Esplanada de Lula, ainda se declara um partido independente do governo.
PP e Republicanos já vislumbram uma reforma ministerial para consolidarem a adesão ao governo petista. O Ministério da Saúde é um dos alvos, especialmente do PP, que já ocupou esse espaço em governos anteriores.
A pasta tem orçamento elevado, tem cacife políticos e atualmente é comandada por um quadro técnico, a ministra Nísia Trindade, que foi uma escolha pessoal de Lula.
Também há interesse pelo MEC (Educação) e Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), esse último ocupado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB).
Articuladores do presidente não descartam uma reforma ministerial ainda neste ano, pois a verba que era de emendas deve ser usada nas negociações mais imediatas, como em votações importantes.
O jogo da política começou agora (que Congresso iniciou os trabalhos). E Lula, experiente, no terceiro mandato, guardou um pacotão de bondades aos parlamentares para as negociações.
Além de cargos, auxiliares do petista também afirmam que haverá distribuição de emendas –mas em um formato menos transparente do que as antigas emendas de relator.
O deputado federal Arthur Lira (PP-AL) é reeleito para a presidência da Câmara dos Deputados - Pedro Ladeira - 1º.fev.23/Folhapress |
Os candidatos de Lula, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), reelegeram-se para as presidências da Câmara e do Senado. Agora, dizem articuladores do petista, é hora de acelerar a formação da base do governo no Congresso.
Tudo será liberado no tempo da política.
O recado de Lula ao Legislativo é que ele quer conversar com todos, até mesmo com o PL, e que é natural, numa democracia, dividir o espaço do governo com aliados.
As notícias do balcão de negociações no Palácio do Planalto geram ciúmes dentro do centrão –o bloco geralmente é coeso, mas a corrida por cargos e favores segue o interesse de cada núcleo dos partidos.
Lula tem atendido a pedidos políticos, mas no ritmo da costura de acordos para que ele possa governar com o Congresso.
O roteiro de integrantes do Planalto e de membros do centrão é bastante convergente. Mas o momento de um movimento político mais ostentoso vai depender da dependência do governo em relação ao Congresso.
Como Lula quer se livrar do teto de gastos e tocar em assuntos econômicos caros para a esquerda, a base do governo precisará ser mais estável. E antigos aliados de Bolsonaro já se apresentaram para a missão.
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