Paulo Feldmann
Professor de economia da USP e diretor do Centro do Comércio da FecomercioSP
Folha de S.Paulo
Em 1992, na campanha eleitoral norte americana, Bill Clinton enfrentava George Bush e a economia do país estava indo muito mal. O democrata venceu a eleição para presidente com o slogan "É a economia, estupido!", criado pelo seu estrategista de campanha, James Carville.
Em 2024, não podemos dizer que o Brasil possua um grave problema econômico, pois os principais índices, como desemprego e inflação, apresentam valores bem adequados —o primeiro, inclusive, recuou a 6,2%, o menor da série histórica. No entanto, o país não demonstra taxas significativas de crescimento econômico há pelo menos 15 anos.
Em 1992, na campanha eleitoral norte americana, Bill Clinton enfrentava George Bush e a economia do país estava indo muito mal. O democrata venceu a eleição para presidente com o slogan "É a economia, estupido!", criado pelo seu estrategista de campanha, James Carville.
Em 2024, não podemos dizer que o Brasil possua um grave problema econômico, pois os principais índices, como desemprego e inflação, apresentam valores bem adequados —o primeiro, inclusive, recuou a 6,2%, o menor da série histórica. No entanto, o país não demonstra taxas significativas de crescimento econômico há pelo menos 15 anos.
Produção no estaleiro Atlântico Sul, em Ipojuca (PE), investimento considerado de baixo retorno para a produtividade do país. - Eduardo Anizelli - 10.nov.2023/Folhapress |
A razão principal para esse desempenho pífio está na baixa taxa de produtividade medida pelo PIB em relação à mão de obra que efetivamente trabalha. Não conseguimos sair do "voo da galinha"; ou seja, não crescemos mais que 3% ao ano. Mas todos os países que deram o salto, como China, Coreia do Sul ou Índia, souberam aumentar suas respectivas taxas de produtividade e, por isso, cresceram tanto.
Baixa produtividade deveria ser considerada o principal problema da economia brasileira.
Aliás, há décadas que nossa produtividade apresenta resultados medíocres. Basta dizer que enquanto um trabalhador americano leva 1 hora para executar uma tarefa, o operário brasileiro levará 4 horas para a mesmíssima atividade. Acontece que, enquanto nos Estados Unidos o trabalhador está rodeado pelo que há de mais moderno em equipamentos e tecnologia, seu equivalente brasileiro raramente dispõe de algo avançado para lhe suportar.
Recente relatório do IMD (Institute for Management Development), referente ao ano de 2023, apresenta a classificação dos 64 países mais importantes do mundo no quesito competitividade. O Brasil ficou em 60º lugar. Por muito pouco não amargamos a última posição, que pertence à Venezuela. O pior é que quem acompanha o mesmo relatório nos últimos anos percebe que nosso país cai uma posição a cada ano. Se continuarmos assim, rapidamente seremos o último da lista.
A baixa produtividade é que causa a falta de competitividade do país. Talvez porque os nossos governantes, em geral, ficam muito mais entusiasmados com os temas macroeconômicos, como inflação, moeda, taxa de juros e desemprego. Acontece que resolver os assuntos macroeconômicos pode ser uma condição necessária, mas não é suficiente para aumentar a competitividade das empresas. É fundamental que se dê atenção também aos problemas da empresa brasileira.
Para isso, é vital, por exemplo, que se resolva o problema de transporte de mercadorias, que ainda utiliza caminhões, enquanto até nossos vizinhos sul-americanos já possuem muito mais ferrovias do que nós. É vital que se melhore de vez o nível educacional do país para que possamos contar com trabalhadores mais qualificados. Energia elétrica não pode ser tão cara, nem falhar com tanta frequência. Tudo isso sem falar da carga tributária que, além de muito alta, é indecente para as empresas.
Por inúmeras razões não há investimento governamental, mas também não há investimento privado. Este deixou de acontecer porque, nestes últimos anos, as empresas justamente ficaram inseguras quanto ao futuro, temendo que o mesmo fosse quase sempre de piora nas condições. Além disso, as empresas se ressentem da falta de planos governamentais de longo prazo e que digam exatamente quais serão as prioridades do país.
Enfim, há diversos fatores minando nossa produtividade e tornando nossas empresas menos competitivas. A maioria dos problemas depende de soluções que precisam partir dos governos e do setor público. Isso deixa a solução ainda mais distante, e o que é pior: solucionar esses gargalos em geral não traz votos.
O país precisa de uma cruzada pela produtividade —o que entidades e associações de classe poderiam levar a frente. Poderia começar pelos mais de 5.400 prefeitos que assumirão seus cargos logo mais: seria vital que ao menos tomassem consciência da importância da produtividade e tratassem do tema com a prioridade que ele merece.
Baixa produtividade deveria ser considerada o principal problema da economia brasileira.
Aliás, há décadas que nossa produtividade apresenta resultados medíocres. Basta dizer que enquanto um trabalhador americano leva 1 hora para executar uma tarefa, o operário brasileiro levará 4 horas para a mesmíssima atividade. Acontece que, enquanto nos Estados Unidos o trabalhador está rodeado pelo que há de mais moderno em equipamentos e tecnologia, seu equivalente brasileiro raramente dispõe de algo avançado para lhe suportar.
Recente relatório do IMD (Institute for Management Development), referente ao ano de 2023, apresenta a classificação dos 64 países mais importantes do mundo no quesito competitividade. O Brasil ficou em 60º lugar. Por muito pouco não amargamos a última posição, que pertence à Venezuela. O pior é que quem acompanha o mesmo relatório nos últimos anos percebe que nosso país cai uma posição a cada ano. Se continuarmos assim, rapidamente seremos o último da lista.
A baixa produtividade é que causa a falta de competitividade do país. Talvez porque os nossos governantes, em geral, ficam muito mais entusiasmados com os temas macroeconômicos, como inflação, moeda, taxa de juros e desemprego. Acontece que resolver os assuntos macroeconômicos pode ser uma condição necessária, mas não é suficiente para aumentar a competitividade das empresas. É fundamental que se dê atenção também aos problemas da empresa brasileira.
Para isso, é vital, por exemplo, que se resolva o problema de transporte de mercadorias, que ainda utiliza caminhões, enquanto até nossos vizinhos sul-americanos já possuem muito mais ferrovias do que nós. É vital que se melhore de vez o nível educacional do país para que possamos contar com trabalhadores mais qualificados. Energia elétrica não pode ser tão cara, nem falhar com tanta frequência. Tudo isso sem falar da carga tributária que, além de muito alta, é indecente para as empresas.
Por inúmeras razões não há investimento governamental, mas também não há investimento privado. Este deixou de acontecer porque, nestes últimos anos, as empresas justamente ficaram inseguras quanto ao futuro, temendo que o mesmo fosse quase sempre de piora nas condições. Além disso, as empresas se ressentem da falta de planos governamentais de longo prazo e que digam exatamente quais serão as prioridades do país.
Enfim, há diversos fatores minando nossa produtividade e tornando nossas empresas menos competitivas. A maioria dos problemas depende de soluções que precisam partir dos governos e do setor público. Isso deixa a solução ainda mais distante, e o que é pior: solucionar esses gargalos em geral não traz votos.
O país precisa de uma cruzada pela produtividade —o que entidades e associações de classe poderiam levar a frente. Poderia começar pelos mais de 5.400 prefeitos que assumirão seus cargos logo mais: seria vital que ao menos tomassem consciência da importância da produtividade e tratassem do tema com a prioridade que ele merece.
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