Uma entrevista com
Aaron Donaghy
Jacobin
O presidente Jimmy Carter sentado no Salão Oval da Casa Branca, 1980. (Bettmann / Getty Images)
Entrevista por
Seth Ackerman
Tradução / Quando se fala da trajetória de Jimmy Carter na esfera internacional, a primeira coisa que vem à lembrança de muitas pessoas é a sua defesa de uma “agenda de direitos humanos” para a política externa dos Estados Unidos.
Mas Carter foi também, em grande medida, um presidente da Guerra Fria. O grande tema da primeira metade do seu mandato foi o seu esforço para reduzir as tensões com os soviéticos através de uma política de desanuviamento e de negociação, enquanto o grande tema da segunda metade foi o desmantelamento dessa posição e a rápida reviravolta de Carter para uma posição muito mais agressiva.
No seu muito elogiado livro The Second Cold War: Carter, Reagan, and the Politics of Foreign Policy, o historiador Aaron Donaghy conta a história desse período, argumentando que, tanto no caso da viragem de Carter para uma linha dura anti-soviética como no caso do recuo parcial de Ronald Reagan em relação a essa política, após um período inicial de intensa beligerância, a força motriz foi sempre a preocupação com a política interna.
Donaghy falou com Seth Ackerman, da Jacobin, sobre as disputas ideológicas internas da administração Carter, o papel do movimento neoconservador emergente na formação do clima político do final da década de 1970 e a tendência persistente entre políticos e responsáveis ao longo da era da Guerra Fria para sobrestimar a vulnerabilidade dos Estados Unidos e o poder dos seus adversários.
Seth Ackerman
Bem, isto tem a ver com o contexto da época, particularmente à luz do fracasso dos EUA no Vietname. Muitos analistas estratégicos consideravam que os soviéticos estavam essencialmente a tirar partido do desanuviamento. Tinham estado a negociar com [Richard] Nixon, mas também estavam a desenvolver-se militarmente. Assim, na década de 1970, quando a Guerra do Vietname está a chegar ao fim, o establishment da segurança nacional está muito dividido entre aqueles que, por exemplo, pensam que a América deveria diminuir a obsessão com novos sistemas nucleares estratégicos e aqueles que acham que os EUA precisam de levar a cabo uma nova acumulação militar para enfrentar os soviéticos e negociar a partir de uma posição de força.
Brzezinski defendia muito esta última abordagem, ao passo que Vance estava mais interessado em encontrar pontos de acordo com os soviéticos, áreas de terreno comum. Assim, o establishment da segurança nacional estava dividido e, em muitos aspetos, Carter sentiu-se encurralado entre estas duas escolas de pensamento, entre os liberais e os conservadores.
E este não é apenas um debate entre partidos. É também um debate intrapartidário, porque há democratas 'falcões' como [Henry M.] “Scoop” Jackson, que estão a incitar Carter a aumentar a despesa militar e a opor-se à ideia do desanuviamento. E, claro, Carter precisa desses conservadores para ratificar qualquer acordo que possa vir a celebrar com os soviéticos. Trata-se, portanto, de um ato de equilíbrio delicado com que Carter terá de lidar quando tomar posse.
Daniel Bessner e Fredrik Logevall escreveram sobre isto num artigo fantástico: na era pós-1945, a América foi sempre a principal potência mundial em praticamente todos os aspetos: político, militar, económico, cultural, científico e tecnológico. Em todos os aspetos, a América era o líder. E quando se trata da inflação da ameaça soviética que estava em curso na altura, podemos agora ver através dos registos que os números foram empolados, que houve muitos exageros. Repito, o que quero dizer com isto é que tudo se resume à política interna - os políticos vão sempre capitalizar [o medo] para obter ganhos políticos.
Colaboradores
Entrevista por
Seth Ackerman
Tradução / Quando se fala da trajetória de Jimmy Carter na esfera internacional, a primeira coisa que vem à lembrança de muitas pessoas é a sua defesa de uma “agenda de direitos humanos” para a política externa dos Estados Unidos.
Mas Carter foi também, em grande medida, um presidente da Guerra Fria. O grande tema da primeira metade do seu mandato foi o seu esforço para reduzir as tensões com os soviéticos através de uma política de desanuviamento e de negociação, enquanto o grande tema da segunda metade foi o desmantelamento dessa posição e a rápida reviravolta de Carter para uma posição muito mais agressiva.
No seu muito elogiado livro The Second Cold War: Carter, Reagan, and the Politics of Foreign Policy, o historiador Aaron Donaghy conta a história desse período, argumentando que, tanto no caso da viragem de Carter para uma linha dura anti-soviética como no caso do recuo parcial de Ronald Reagan em relação a essa política, após um período inicial de intensa beligerância, a força motriz foi sempre a preocupação com a política interna.
Donaghy falou com Seth Ackerman, da Jacobin, sobre as disputas ideológicas internas da administração Carter, o papel do movimento neoconservador emergente na formação do clima político do final da década de 1970 e a tendência persistente entre políticos e responsáveis ao longo da era da Guerra Fria para sobrestimar a vulnerabilidade dos Estados Unidos e o poder dos seus adversários.
Seth Ackerman
É menosprezado o facto de a política externa anti-soviética de Ronald Reagan ter sido, na realidade, uma continuação da viragem para a “segunda Guerra Fria” que começou nos últimos dois anos da presidência de Jimmy Carter. Mas é provavelmente ainda mais subestimado o facto de o próprio Carter ter chegado ao cargo como um forte defensor do desanuviamento e da cooperação com Moscovo.
Aaron Donaghy
Aaron Donaghy
Sim. Carter era um político muito anti-establishment; era visto como um outsider e isso refletia-se no tipo de pessoas que trazia para a sua administração. Mas tem razão, ele apoiava em grande medida a abordagem da détente. E se olharmos para a sua retórica inicial, antes e depois das eleições, ele fala de uma postura militar mais contida no estrangeiro. Falava em estabelecer contactos com os soviéticos, em reduzir as despesas com a defesa e em reduzir as armas nucleares estratégicas.
E faz um discurso em maio de 1977 que ilustra bem estes pontos. Ele disse que está na hora de adotar uma nova abordagem. A ideia antiquada de contenção está desatualizada. Nem tudo pode ser definido pela rivalidade entre os EUA e a União Soviética. Por isso, está na altura de diminuir a obsessão com o anticomunismo e de procurar o desanuviamento com os soviéticos.
O único senão, o único problema, é que Carter, ao mesmo tempo, está a promover a sua agenda de direitos humanos. Isso vai contra o processo de desanuviamento com os soviéticos, como ele descobre logo no início da sua presidência.
Seth Ackerman
Durante a primeira metade da década de 1970, assistiu-se a uma polarização ideológica pós-Vietname sem precedentes no seio do establishment da política externa. Olhando para a presidência de Carter, quase parece que essa polarização se reproduziu no seio da própria administração, com as constantes disputas entre Cyrus Vance, o seu secretário de Estado mais "pomba", e Zbigniew Brzezinski, o seu conselheiro de segurança nacional mais "falcão".
Aaron Donaghy
E faz um discurso em maio de 1977 que ilustra bem estes pontos. Ele disse que está na hora de adotar uma nova abordagem. A ideia antiquada de contenção está desatualizada. Nem tudo pode ser definido pela rivalidade entre os EUA e a União Soviética. Por isso, está na altura de diminuir a obsessão com o anticomunismo e de procurar o desanuviamento com os soviéticos.
O único senão, o único problema, é que Carter, ao mesmo tempo, está a promover a sua agenda de direitos humanos. Isso vai contra o processo de desanuviamento com os soviéticos, como ele descobre logo no início da sua presidência.
Seth Ackerman
Aaron Donaghy
Bem, isto tem a ver com o contexto da época, particularmente à luz do fracasso dos EUA no Vietname. Muitos analistas estratégicos consideravam que os soviéticos estavam essencialmente a tirar partido do desanuviamento. Tinham estado a negociar com [Richard] Nixon, mas também estavam a desenvolver-se militarmente. Assim, na década de 1970, quando a Guerra do Vietname está a chegar ao fim, o establishment da segurança nacional está muito dividido entre aqueles que, por exemplo, pensam que a América deveria diminuir a obsessão com novos sistemas nucleares estratégicos e aqueles que acham que os EUA precisam de levar a cabo uma nova acumulação militar para enfrentar os soviéticos e negociar a partir de uma posição de força.
Brzezinski defendia muito esta última abordagem, ao passo que Vance estava mais interessado em encontrar pontos de acordo com os soviéticos, áreas de terreno comum. Assim, o establishment da segurança nacional estava dividido e, em muitos aspetos, Carter sentiu-se encurralado entre estas duas escolas de pensamento, entre os liberais e os conservadores.
E este não é apenas um debate entre partidos. É também um debate intrapartidário, porque há democratas 'falcões' como [Henry M.] “Scoop” Jackson, que estão a incitar Carter a aumentar a despesa militar e a opor-se à ideia do desanuviamento. E, claro, Carter precisa desses conservadores para ratificar qualquer acordo que possa vir a celebrar com os soviéticos. Trata-se, portanto, de um ato de equilíbrio delicado com que Carter terá de lidar quando tomar posse.
Seth Ackerman
Esta é obviamente a época em que o neoconservadorismo está a nascer como doutrina de política externa. Brzezinski não é habitualmente incluído na lista de nomes que surgem quando se fala dos neoconservadores de meados da década de 1970. Mas, em muitos aspetos, parece ter pontos de sobreposição com eles.
Aaron Donaghy
Esta é obviamente a época em que o neoconservadorismo está a nascer como doutrina de política externa. Brzezinski não é habitualmente incluído na lista de nomes que surgem quando se fala dos neoconservadores de meados da década de 1970. Mas, em muitos aspetos, parece ter pontos de sobreposição com eles.
Aaron Donaghy
Sim. A postura de Brzezinski é motivada sobretudo pelas suas convicções ideológicas. Ele é muito antissoviético. Naturalmente, é de origem polaca; a Polónia foi invadida pela União Soviética quando ele era criança e ele manteve essa postura muito antissoviética e anticomunista, que se manifestaria até à presidência de Carter. Portanto, para ele, não se trata tanto de um movimento conservador, mas sim de uma aversão pura e simples à União Soviética e ao comunismo.
Mas havia áreas comuns entre ele e os neoconservadores, no sentido em que ele queria que Carter abandonasse a abordagem mais conciliatória. Parte da razão para isso era o pragmatismo político. Brzezinski sabe que se Carter quer realmente ver o tratado de controlo de armamento SALT II ratificado e um segundo mandato, vai ter de endurecer a sua postura negocial porque vai precisar de dois terços do Senado a seu favor. Portanto, no caso de Brzezinski, é uma mistura de ideologia e pragmatismo político que está a conduzir a agenda.
Seth Ackerman
Mas havia áreas comuns entre ele e os neoconservadores, no sentido em que ele queria que Carter abandonasse a abordagem mais conciliatória. Parte da razão para isso era o pragmatismo político. Brzezinski sabe que se Carter quer realmente ver o tratado de controlo de armamento SALT II ratificado e um segundo mandato, vai ter de endurecer a sua postura negocial porque vai precisar de dois terços do Senado a seu favor. Portanto, no caso de Brzezinski, é uma mistura de ideologia e pragmatismo político que está a conduzir a agenda.
Seth Ackerman
Há uma dinâmica interessante que transparece no seu livro, em que Carter continua a tentar lidar com as consequências internas das medidas de flexibilização de Moscovo, falando duramente sobre a ameaça soviética. Mas isso só parece piorar o problema político.
Aaron Donaghy
Aaron Donaghy
Quanto mais Brzezinski incitava Carter a adotar um tom mais duro - quer devido às operações soviéticas em África, quer devido à badalada brigada soviética em Cuba, ou o que quer que seja - mais levava Carter a aumentar a parada retórica com os soviéticos. Por um lado, suponho que, na perspetiva deles, isso teve o efeito de tranquilizar os conservadores no Capitólio de que ele estava a levar o assunto a sério. Mas, ao mesmo tempo, minou o apoio público às suas políticas. “Se os soviéticos estão a ser tão maus, porque é que está a negociar um tratado com eles?” Portanto, sim, isso era uma contradição nas políticas que ele estava a seguir.
Seth Ackerman
Seth Ackerman
No momento em que Carter entrou em funções, parecia haver um sentimento omnipresente de que - parafraseando o título de um livro sobre o KGB dessa época - o mundo estava a ir na direção dos soviéticos. Que significado teve isso para a política externa de Carter?
Aaron Donaghy
Aaron Donaghy
Sem dúvida que o equilíbrio estratégico-militar foi empolado. E, de facto, muito disso foi mais tarde desmascarado, esta ideia de que os soviéticos estavam em vantagem. De facto, Reagan chega ao poder e o chefe cessante da CIA de Carter diz-lhe que não há absolutamente nenhuma superioridade soviética em termos de armas nucleares. Portanto, muito disto foi cuidadosamente cultivado por grupos conservadores como o Committee on the Present Danger, um grupo de lóbi de enorme sucesso que incluía democratas e republicanos.
Ora, havia um elemento de verdade nisto, no sentido em que os soviéticos estavam, em muitos pontos, a tirar partido do desanuviamento. Estavam a construir o seu exército, estavam a violar os Acordos de Helsínquia, etc. Não é que os soviéticos fossem atores benignos. Mas a ameaça real em termos de equilíbrio militar - sabemos agora que foi muito sobrestimada.
Mas penso que isso é um reflexo da Guerra Fria americana em geral. As pessoas no poder tendiam de facto a exagerar a ameaça. Podemos recuar até ao NSC-68 em 1950 [um documento secreto da Casa Branca que apelava a um vasto reforço militar] ou à primeira encarnação do Committee on the Present Danger. Vemos um padrão comum ao longo da Guerra Fria em que os presidentes tendem a inclinar-se para o lado do cenário do apocalipse.
Seth Ackerman
Ora, havia um elemento de verdade nisto, no sentido em que os soviéticos estavam, em muitos pontos, a tirar partido do desanuviamento. Estavam a construir o seu exército, estavam a violar os Acordos de Helsínquia, etc. Não é que os soviéticos fossem atores benignos. Mas a ameaça real em termos de equilíbrio militar - sabemos agora que foi muito sobrestimada.
Mas penso que isso é um reflexo da Guerra Fria americana em geral. As pessoas no poder tendiam de facto a exagerar a ameaça. Podemos recuar até ao NSC-68 em 1950 [um documento secreto da Casa Branca que apelava a um vasto reforço militar] ou à primeira encarnação do Committee on the Present Danger. Vemos um padrão comum ao longo da Guerra Fria em que os presidentes tendem a inclinar-se para o lado do cenário do apocalipse.
Seth Ackerman
No que toca à análise da política externa americana no século XX por parte da esquerda, esta tem tendido a ver as políticas americanas da Guerra Fria como sendo conduzidas por imperativos estruturais profundos que a tornaram especialmente determinada a intervir no Terceiro Mundo contra movimentos nacionalistas de esquerda. Mas Carter chegou ao cargo parecendo indicar, pelo menos retoricamente, que achava que os EUA deviam ser menos paranóicos em relação a esses movimentos. E havia mesmo uma espécie de argumento estratégico para isto que era por vezes articulado por Vance, segundo o qual se pudéssemos deixar de fazer inimigos preventivos com estes movimentos, eles teriam menos razões para se voltarem para Moscovo e tornar-se-iam assim menos uma ameaça para nós. Bom, é óbvio que sabemos como as coisas acabaram por se passar nesta matéria. Mas quando se olha para o registo histórico da presidência Carter, o que acha que as provas mostram relativamente à forma como os EUA eram, pelo menos potencialmente, capazes de mudar fundamentalmente a sua atitude em relação aos movimentos de esquerda ou nacionalistas no Terceiro Mundo?
Aaron Donaghy
Aaron Donaghy
É uma questão que não abordei no livro, mas é um excelente argumento. Penso que as realidades da situação política nos Estados Unidos e o escrutínio a que essas políticas supostamente novas ou radicais teriam sido sujeitas teriam colocado Carter sob muita pressão. A reação às políticas de Carter nessa frente vem de pessoas como Jeane Kirkpatrick, que argumentam que os autocratas de direita, por oposição aos autocratas de esquerda, são mais compatíveis com os interesses americanos. Isso torna-se uma espécie de grito de guerra para os conservadores de ambos os partidos e, de facto, Reagan cooptou Kirkpatrick pouco depois, tornando-a sua conselheira para a política externa na campanha de 1980. Penso que teria sido difícil para Carter fazê-lo, dadas as suas fraquezas políticas.
Seth Ackerman
Seth Ackerman
A um nível mais básico, como pensa que a história verá Carter como um presidente de política externa?
Aaron Donaghy
Aaron Donaghy
Carter tem sido sempre visto como um dos presidentes menos bem sucedidos, se é que se pode dizer isto nestes termos. Mas muitas pessoas argumentariam que Carter teve mais êxitos em matéria de política externa num só mandato do que muitos presidentes conseguiram em dois mandatos.
Se olharmos para as suas conquistas, temos o Tratado do Canal do Panamá, a normalização das relações com a China, os Acordos de Camp David, o Tratado SALT II (que, honestamente, considero ter sido uma conquista modesta) e também a integração dos direitos humanos como um princípio da política externa americana, apesar de, na prática, ter sido obviamente aplicado de forma desigual. Penso que os historiadores se debruçarão sobre todos estes aspetos nos próximos anos e que reavaliarão - acho que já estão a fazê-lo - o desempenho de Carter na cena internacional. E penso que o julgarão um Presidente mais bem sucedido do que tem sido talvez o caso até à data.
Se olharmos para as suas conquistas, temos o Tratado do Canal do Panamá, a normalização das relações com a China, os Acordos de Camp David, o Tratado SALT II (que, honestamente, considero ter sido uma conquista modesta) e também a integração dos direitos humanos como um princípio da política externa americana, apesar de, na prática, ter sido obviamente aplicado de forma desigual. Penso que os historiadores se debruçarão sobre todos estes aspetos nos próximos anos e que reavaliarão - acho que já estão a fazê-lo - o desempenho de Carter na cena internacional. E penso que o julgarão um Presidente mais bem sucedido do que tem sido talvez o caso até à data.
Seth Ackerman
É interessante pensar nessas iniciativas, porque durante a presidência de Carter havia um sentimento omnipresente de que os EUA estavam a perder poder em toda a linha. Mas quando olhamos para o assunto da perspetiva de um marciano e pensamos, como é que esta grande potência se está a sair quanto a conseguir que outros países poderosos alinhem com ela em vez de com os seus inimigos - esta foi a época em que os EUA levaram o Egito para o campo americano e para longe do campo soviético; trata-se da grande potência do Médio Oriente. Tiraram a China do campo soviético e levaram-na para uma espécie de campo pró-americano; essa é a (futura) grande potência da Ásia Oriental. Durante este período, os Estados Unidos conseguiram, de facto, levar vários países do Pacto de Varsóvia a uma maior independência em relação a Moscovo. No papel, parece que o mundo estava a seguir o caminho dos Estados Unidos, mas na altura as pessoas sentiam exatamente o contrário.
É interessante pensar nessas iniciativas, porque durante a presidência de Carter havia um sentimento omnipresente de que os EUA estavam a perder poder em toda a linha. Mas quando olhamos para o assunto da perspetiva de um marciano e pensamos, como é que esta grande potência se está a sair quanto a conseguir que outros países poderosos alinhem com ela em vez de com os seus inimigos - esta foi a época em que os EUA levaram o Egito para o campo americano e para longe do campo soviético; trata-se da grande potência do Médio Oriente. Tiraram a China do campo soviético e levaram-na para uma espécie de campo pró-americano; essa é a (futura) grande potência da Ásia Oriental. Durante este período, os Estados Unidos conseguiram, de facto, levar vários países do Pacto de Varsóvia a uma maior independência em relação a Moscovo. No papel, parece que o mundo estava a seguir o caminho dos Estados Unidos, mas na altura as pessoas sentiam exatamente o contrário.
Aaron Donaghy
Absolutamente. Novamente, muito disto remonta à Guerra do Vietname. Já falámos sobre a forma como dividiu a comunidade de segurança nacional. Havia um sentimento geral de desânimo e tristeza. E, recorde-se, ainda nem sequer falámos da crise dos reféns no Irão, que se tornou uma espécie de símbolo do declínio americano que, obviamente, nunca se verificou em nenhuma fase da era pós-1945.
Daniel Bessner e Fredrik Logevall escreveram sobre isto num artigo fantástico: na era pós-1945, a América foi sempre a principal potência mundial em praticamente todos os aspetos: político, militar, económico, cultural, científico e tecnológico. Em todos os aspetos, a América era o líder. E quando se trata da inflação da ameaça soviética que estava em curso na altura, podemos agora ver através dos registos que os números foram empolados, que houve muitos exageros. Repito, o que quero dizer com isto é que tudo se resume à política interna - os políticos vão sempre capitalizar [o medo] para obter ganhos políticos.
Colaboradores
Aaron Donaghy é professor de história moderna na University of Limerick.
Seth Ackerman é editor da Jacobin.
Nenhum comentário:
Postar um comentário