8 de outubro de 2023

Netanyahu é responsável por esta guerra Israel-Gaza

O desastre que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é da clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu.

Editorial


Benjamin Netanyahu. Foto Abir Sultan/EPA

Tradução / A catástrofe que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é da inteira responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro, que se orgulha da sua vasta experiência política e da sua insubstituível sabedoria em matéria de segurança, fracassou completamente em identificar os perigos para os quais estava conscientemente conduzindo Israel quando constituiu um governo de anexação e desapropriação, quando nomeou Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir para posições-chave, enquanto abraçava uma política externa que ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinos.

Netanyahu tentará certamente fugir à sua responsabilidade e atirar as culpas para os chefes do exército, dos serviços secretos militares e do serviço de segurança Shin Bet que, tal como os seus antecessores nas vésperas da Guerra do Yom Kippur, viram uma baixa probabilidade de guerra, com os seus preparativos para um ataque do Hamas se revelando um fracasso.

Desprezaram o inimigo e as suas capacidades militares ofensivas. Nos próximos dias e semanas, quando a dimensão das falhas das Forças de Defesa de Israel e dos serviços secretos vier à tona, surgirá certamente uma exigência justificada para substituí-los e fazer um balanço.

No entanto, o fracasso militar e dos serviços secretos não isenta Netanyahu da sua responsabilidade geral pela crise, uma vez que ele é o derradeiro árbitro dos assuntos externos e de segurança de Israel. Netanyahu não é um novato neste papel, como o foi Ehud Olmert na Segunda Guerra do Líbano. Também não é ignorante em assuntos militares, como Golda Meir em 1973 e Menachem Begin em 1982 afirmavam ser.

Netanyahu também moldou a política seguida pelo "governo de mudança" de curta duração liderado por Naftali Bennett e Yair Lapid: uma tentativa multidimensional de esmagar o movimento nacional palestino em ambas as suas alas, em Gaza e na Cisjordânia, a um preço que parecesse aceitável para o público israelense.

No passado, Netanyahu apresentava-se como um líder cauteloso que evitava guerras e múltiplas baixas do lado de Israel. Após a sua vitória nas últimas eleições, substituiu essa cautela pela política de um "governo de direita pra valer", com medidas ostensivas para anexar a Cisjordânia e efetuar uma limpeza étnica em partes da Área C definida em Oslo, incluindo as colinas de Hebron e o vale do Jordão.

Isto também incluiu uma expansão maciça dos colonatos e o reforço da presença judaica no Monte do Templo, perto da Mesquita de Al-Aqsa, bem como o alardear de um iminente acordo de paz com os sauditas, no qual os palestinos não receberiam nada, falando-se abertamente de uma "segunda Nakba" na sua coligação governamental. Como era de esperar, os sinais de um surto de hostilidades começaram na Cisjordânia, onde os palestinnos começaram a sentir a mão mais pesada do ocupante israelense. O Hamas aproveitou a oportunidade para lançar o seu ataque surpresa no sábado.

Acima de tudo, o perigo que pairava sobre Israel nos últimos anos concretizou-se plenamente. Um primeiro-ministro acusado em três casos de corrupção não pode ocupar-se dos assuntos de Estado, pois os interesses nacionais estarão necessariamente subordinados à necessidade de o livrar de uma eventual condenação e de uma pena de prisão.

Foi esta a razão que levou ao estabelecimento desta terrível coligação e ao golpe judicial promovido por Netanyahu, bem como ao enfraquecimento de oficiais de topo do exército e dos serviços secretos, vistos como adversários políticos. O preço foi pago pelas vítimas da invasão no Negev Ocidental.

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