Todos os movimentos que alegaram falar pelos palestinos falharam com eles. O próximo capítulo deve pertencer àqueles que suportaram a devastação.
Mohammed R. Mhawish
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Palestinos deslocados em Khan Younis, Gaza. Fotografia de Saher Alghorra / NYT / Redux |
Qualquer que fosse o frágil sistema político existente em Gaza, entrou em colapso, juntamente com as instituições que outrora estruturavam a vida pública. O Hamas, enfraquecido militarmente e decapitado pelos assassinatos de seus líderes, enfrenta o isolamento no exterior e um mandato reduzido em casa. A Autoridade Palestina, há muito desacreditada na Cisjordânia, está ausente em Gaza. Facções de esquerda sobrevivem como símbolos e não como organizações reais. Figuras políticas independentes estão dispersas ou silenciadas. Após dois anos de guerra, Gaza não tem um órgão político funcional com autoridade ou legitimidade para moldar o que vem a seguir.
O plano para Gaza do presidente Donald Trump está sendo vendido como a resposta. Anunciado por Trump na Casa Branca no final de setembro, com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao seu lado, o plano de vinte pontos promete encerrar a guerra, retomar a ajuda humanitária e estabelecer uma autoridade transitória para governar Gaza. Ele cria uma "Força Internacional de Estabilização temporária", um comitê palestino tecnocrático e apolítico sob um novo "Conselho da Paz" internacional, presidido pelo próprio Trump. O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair ajudaria a supervisionar a transição. O órgão terá como objetivo administrar a reconstrução de Gaza por meio de uma governança moderna e "eficiente", para atrair investimentos estrangeiros. As cláusulas do plano incluem a troca de reféns por prisioneiros e detidos, anistia para membros do Hamas que se desarmarem, passagem segura para os membros que optarem por sair, um aumento nas entregas humanitárias e uma retirada em várias etapas das Forças de Defesa de Israel, vinculada a "padrões de segurança" — incluindo os acordos de desmilitarização e controle de fronteiras do Hamas, todos verificados por observadores independentes. O documento também observa que os civis terão permissão para sair, mas "ninguém será forçado a sair" de Gaza, uma mudança em relação à fala anterior de Netanyahu sobre emigração "voluntária" e à proposta "Riviera" de Trump "para reconstruir e energizar Gaza".
Afaste-se a estrutura, e o projeto fica claro. Gaza será administrada de fora, sem um governo eleito localmente. A Autoridade Palestina. é instruída a implementar reformas — medidas anticorrupção e de transparência fiscal, maior independência judicial, um caminho para eleições — antes mesmo de poder ser considerada para um papel na governança de Gaza. O Hamas é removido da vida política por decreto. Questões centrais — fronteiras, soberania, refugiados — são adiadas. Nessa arquitetura, Gaza se torna um regime que prioriza a segurança, onde a ajuda, a reconstrução e a "transição" são subordinadas às métricas de segurança israelenses, sob a supervisão dos EUA e seus parceiros. Aos palestinos é oferecida administração sem autoridade. A ocupação é revestida de linguagem gerencial. O perigo é que esse sistema "temporário" se torne permanente, sustentado por doadores, monitores e memorandos.
No momento em que este texto foi escrito, a primeira fase do acordo já havia avançado. O Hamas libertou os reféns vivos restantes e Israel libertou cerca de dois mil prisioneiros e detidos palestinos. Os comboios de ajuda humanitária estão aumentando, e Israel afirmou ter retirado parcialmente as tropas de partes de Gaza. O que permanece obscuro são os mecanismos de execução e os cronogramas. Quem comanda a proposta "força de estabilização" e sob quais regras de engajamento ela operará? Onde as unidades das Forças de Defesa de Israel (FDI) serão posicionadas durante a transição? Quais garantias vinculativas — se houver — protegem os palestinos contra um retorno militar sem prazo determinado? Os negociadores afirmam que essas questões ainda estão sendo debatidas, parágrafo por parágrafo. Uma via diplomática paralela também está se abrindo. Na segunda-feira, Trump copresidiu a cúpula de Sharm El-Sheikh, uma reunião no Egito focada na governança pós-guerra, com o presidente egípcio Abdel Fattah El-Sisi. Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Palestina, estava presente. Benjamin Netanyahu, não. A reunião teve como objetivo angariar apoio mais amplo para o plano e definir seus detalhes operacionais.
O Hamas teve pouca margem de manobra na última rodada de negociações. Muitos governos árabes endossaram o plano de Trump para Gaza antes mesmo de a organização receber uma cópia formal dele, colocando o grupo em uma postura defensiva. Netanyahu, por sua vez, aproveitou o momento para reafirmar sua rejeição a um Estado palestino.
Ainda assim, encerrar a guerra sempre exigiu que o Hamas concordasse com um acordo — talvez feio, certamente imperfeito, mas que pusesse fim à matança. Houve janelas anteriores durante a guerra em que um acordo poderia ter aberto espaço para negociações difíceis que poderiam ter proporcionado ganhos reais para os moradores de Gaza. Em vez disso, a liderança de Gaza caiu em recusas e atrasos sem qualquer estratégia coerente. Cada rejeição estreitava o horizonte até que o que os moradores de Gaza enfrentam agora é um pacote abrangente imposto de fora. Este é o preço do fracasso político. Os líderes trataram as negociações como um palco para ganhos faccionais, em vez de uma questão de sobrevivência nacional. Agora, as escolhas são brutalmente apertadas: ocupação parcial sob termos que a população ainda pode contestar, ou uma ocupação mais ampla que implica em deslocamentos mais generalizados. Os negociadores palestinos deviam ao povo algum tipo de plano. Era necessário fazer a ajuda fluir e poupar vidas. Qualquer um que jogasse com aquele sangue em nome de um triunfo simbólico teria sido responsabilizado pelo custo.
O plano agora abre uma oportunidade limitada — se os palestinos conseguirem transformar seu texto vago em vantagem. No papel, o acordo promete uma retirada das Forças de Defesa de Israel (FDI) e esboça um "caminho confiável" para a autodeterminação e, eventualmente, a criação de um Estado. Grande parte do mecanismo ainda não foi especificada, mas essa incerteza pode ser convertida em demandas: um compromisso público dos EUA com a criação de um Estado, um cronograma datado e executável para a retirada total, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que reforce as garantias com penalidades para as violações e monitoramento por terceiros. Seja qual for a forma que o acordo final assumir, ele servirá como um ponto de partida para uma nova ordem política em Gaza. Agora que o bombardeio cessou, deixou um vácuo político no território. A questão é: quem se apressará em preenchê-lo?
Nunca houve um verdadeiro acerto de contas interno com os fracassos políticos palestinos. Os Acordos de Oslo — mediados pelos EUA e assinados em meados da década de 1990, após negociações secretas — foram enquadrados como o último grande compromisso. Na prática, criaram a Autoridade Palestina como administradora interina da Palestina e adiaram as principais questões do conflito para uma data posterior, que ainda não chegou. Os palestinos foram transferidos da liderança de um projeto de libertação para a gestão de enclaves, enquanto Israel manteve o controle sobre suas terras, seu movimento e o próprio mapa. Antes de Oslo, a primeira intifada havia gerado um impulso para o reconhecimento internacional do Estado palestino. Oslo desmantelou esse impulso. Era para ser uma ponte para a paz, mas se tornou o golpe final. Não forneceu nenhuma maneira de implementar a Resolução 194 da ONU sobre o direito de retorno para palestinos exilados ou deslocados, e não produziu nenhum método para garantir a igualdade para cerca de dois milhões de palestinos em Israel, cuja luta foi descartada como uma questão interna. Cada centímetro de terra palestina permanece sob controle militar israelense de uma forma ou de outra. Os rótulos mudaram, mas a estrutura não.
O Hamas venceu as eleições em Gaza em 2006. O que se seguiu foram boicotes e sanções da comunidade internacional; uma disputa de poder com o Fatah, o partido que controla a Autoridade Palestina, que explodiu em uma guerra de rua em 2007; e, por fim, um divórcio geográfico. O Hamas ficou governando Gaza, e a Autoridade Palestina ficou confinada à Cisjordânia. Israel então reforçou o bloqueio terrestre, marítimo e aéreo do território, o que tornou impossível a governança normal e transformou cada rubrica orçamentária em um pedido de permissão. O Hamas nunca mais permitiu eleições. Ao longo de sucessivas guerras e anos de cerco, a autoridade do Hamas se fortaleceu até que ele administrasse uma espécie de Estado-bunker: um gabinete político exilado no exterior, um comando em Gaza cada vez mais dominado pela ala militar da organização e um público vivendo sob movimento limitado, bens racionados e estado de emergência permanente.
Em 7 de outubro, a tomada de decisões havia migrado para os quadros armados. Relatos indicam que a luz verde para o ataque veio de apenas um punhado de líderes e comandantes do Hamas, incluindo Yahya Sinwar, Marwan Issa e Mohammed Deif (todos posteriormente assassinados por Israel). Após a catástrofe, até figuras importantes demonstraram receio. Mousa Abu Marzouk, chefe do gabinete de relações exteriores do Hamas, afirmou que não teria apoiado a operação se tivesse previsto a escala da devastação em Gaza. (O Hamas posteriormente alegou que suas palavras foram tiradas do contexto.)
A própria organização se desintegrou desde então. Hoje, o Hamas opera sem uma liderança coerente, uma realidade que seus membros remanescentes parecem relutantes em confrontar. A maioria daqueles que moldaram ou mesmo influenciaram marginalmente os eventos de 7 de outubro se foi, deixando a autoridade de Gaza murcha a tal ponto que até mesmo lidar com os reféns se tornou terrivelmente difícil. No exterior, a liderança era frágil muito antes de uma recente tentativa de assassinato contra seus líderes em Doha, em setembro. Ela só se enfraqueceu desde então.
Em Gaza, criticar o Hamas tem sido tratado pela organização como uma forma de traição há muito tempo. Em tempos de cerco e bombardeio constantes, as pessoas temiam que a dissidência pública fosse instrumentalizada por Israel. Redes de clientelismo permeavam o Hamas, e falar abertamente poderia acarretar custos reais para os civis. As famílias aprenderam a se calar porque o preço de uma palavra errada poderia ser a perda de uma licença, um salário retido ou pior. Em tempos de guerra, o instinto de manter a linha é compreensível. Mas esse instinto está se desintegrando. Quase setenta mil palestinos foram mortos e mais de cento e setenta mil ficaram feridos. Pelo menos dois milhões foram deslocados internamente. Cerca de cem mil foram forçados a deixar a Faixa de Gaza. A infraestrutura civil — estradas, esgoto, eletricidade e serviços municipais — foi destruída. Mais de noventa por cento dos prédios residenciais foram reduzidos a escombros. Cerca de noventa e cinco por cento das pessoas enfrentam grave escassez de alimentos, água potável e medicamentos. Doenças e desnutrição se espalharam com o colapso da infraestrutura médica. O sistema educacional está em ruínas.
Muitos moradores de Gaza agora apontam que o Hamas vem negociando principalmente por coisas que o território já possuía antes de 7 de outubro — caminhões de ajuda humanitária, liberdade de mobilidade limitada dentro da Faixa e recuos das Forças de Defesa de Israel (IDF) em relação às linhas anteriores. A barganha parece, para muitos, uma luta pela sobrevivência organizacional, e não pela proteção da população. O apetite pelo retorno do Hamas ao poder agora parece tênue entre os moradores de Gaza. Ahed Ferwana, secretário do Sindicato dos Jornalistas Palestinos em Gaza, descreveu um clima de crescente ressentimento contra uma liderança que arrastou Gaza para uma guerra à qual ninguém conseguiria sobreviver. "Há distância, até raiva", ele me disse. "As pessoas ficaram decepcionadas."
A Autoridade Palestina oferece poucas alternativas. A competência da Autoridade Palestina na Cisjordânia é limitada: administrar serviços municipais, folhas de pagamento e coordenação de segurança com Israel, tudo dentro de um mapa que Israel ainda controla. A Autoridade Palestina depende de doadores estrangeiros e de impostos que Israel pode reter à vontade. As eleições foram adiadas em 2021 e a dissidência é fortemente policiada. Em pesquisas recentes do Centro Palestino de Políticas e Pesquisas, a satisfação com Abbas gira em torno de 15%, e a demanda por sua renúncia é esmagadora. Para a maioria dos palestinos, um retorno da Autoridade Palestina a Gaza sob a égide israelense-americana seria interpretado como um retorno à ocupação por procuração.
O restante do campo político também entrou em colapso. Facções de esquerda outrora influentes — a Frente Popular para a Libertação da Palestina e a Frente Democrática para a Libertação da Palestina — foram esmagadas por décadas de prisões, exílio, colapso de financiamento e irrelevância. Esta guerra destruiu a infraestrutura restante. Pouca ordem política resta. Pela primeira vez em décadas, Gaza não tem um ator com um mandato significativo para definir seus interesses ou negociar seu futuro. "Gaza precisa de uma liderança convocada pelo próprio povo, não nomeada de fora", disse-me Sundos Fayyad, jornalista em Gaza. "Reconstruir o que foi destruído pode ser impossível, mas qualquer futuro que valha a pena viver começa com esse direito à representação."
A expressão "no dia seguinte" é muito usada em Gaza, mas continua sendo uma abstração. "Todos têm um plano", disse-me Fayyad. "Mas nenhum deles atende às nossas necessidades." Os planos mais visíveis são aqueles elaborados pelos mesmos guardiões internacionais que arquitetaram a ordem pós-guerra em outras partes do Oriente Médio. No mês passado, um plano pós-guerra vazado, "Riviera de Gaza", circulou dentro do governo Trump. Ele propõe colocar Gaza sob controle dos EUA, reformulando o deslocamento como desenvolvimento e sugerindo a realocação temporária de grande parte de sua população. O litoral e o interior da Faixa seriam transformados em "cidades planejadas, inteligentes, modernas e alimentadas por IA".
O plano de paz, a estrutura de tutela mais recente proposta por Trump e Blair, segue a mesma lógica — a condição de Estado palestino adiada, os direitos de segurança de Israel preservados em uma Gaza transformada em um projeto internacional. Os palestinos que estão sendo propostos para se juntar aos esforços de administração de Gaza parecem selecionados principalmente por sua aceitação por governos estrangeiros. "Nenhum deles tem mandato", disse Diana Buttu, advogada palestina e ex-assessora jurídica da Organização para a Libertação da Palestina. "Sua qualificação é o acesso ao capital estrangeiro." A governança, acrescentou ela, "está sendo reconstruída em torno de interesses externos, não de legitimidade pública". Talal Abo Rokba, professor de sociologia política em Gaza, me disse: "Esses líderes são administradores da agenda de outra pessoa".
Algumas versões do acordo imaginam o Hamas continuando como um partido político desarmado — suas armas colocadas sob custódia internacional enquanto um movimento "reformado" compete em futuras eleições. Outros presumem que o Fatah recuperará terreno sob uma Autoridade Palestina "revitalizada", ou que um governo de unidade poderia ser formado entre os dois grupos. Em Gaza, poucos acreditam que essas fórmulas possam recuperar a legitimidade. "A unidade perdeu o sentido", disse-me Heba al-Maqadma, farmacêutica e escritora de Gaza que agora estuda na Irlanda. "É um slogan sem base." Rokba descreveu dois campos desfeitos no território: uma "classe política trêmula" à espera de acordos internacionais para resgatá-la, e uma "corrente imprudente", personificada no Hamas, que apostou na sobrevivência de uma nação em prol da sua própria sobrevivência. "Entre a timidez e a imprudência, nenhuma delas oferece uma visão", disse ele. A esperança, se é que existe alguma, é que novas formações políticas possam tomar seu lugar.
Não foi fácil encontrar pessoas em Gaza dispostas — e capazes — a falar comigo para este artigo. Quase todos que eu conhecia que podiam refletir sobre a política da região foram silenciados. Professores, escritores, jornalistas, engenheiros, servidores públicos — cerca de uma centena deles — foram mortos. Alguns outros foram deslocados, detidos ou forçados a fugir para o exterior. Círculos inteiros de pensamento foram aniquilados. Levará tempo para que uma cultura política local se recupere, mas há sinais iniciais de esperança: comitês de assistência social de bairro que aprenderam a coordenar alimentação e abrigo durante a guerra; sindicatos profissionais que mantiveram escalas para clínicas e farmácias quando a governança entrou em colapso; engenheiros e funcionários municipais que mapearam linhas de água rompidas e linhas de energia elétrica; associações de mulheres que organizaram escolas como abrigos; grupos jurídicos que rastrearam detidos e desaparecidos. Economistas experientes como Raja Khalidi observaram que o setor privado tem sido excepcionalmente resiliente durante a guerra e agora está pronto para exercer uma influência descomunal na reconstrução. "Gaza, após o genocídio de Israel, exige um acerto de contas", disse-me Tareq Baconi, do think tank palestino Al-Shabaka. "O primeiro imperativo é a atuação local: jovens, sociedade civil, sindicatos e intelectuais devem liderar o planejamento e a implementação. A legitimidade não pode ser importada ou imposta. Ela deve emergir de dentro."
Saja al-Hana, estudante de direito e pesquisadora política em Gaza, vê três caminhos plausíveis para a transição pós-guerra em Gaza. O primeiro, "um sucesso limitado", permitiria estabilidade suficiente para o início da reconstrução e a preparação das eleições. O segundo, o fracasso: uma autoridade interina incapaz de atender às necessidades básicas, "desencadeando resistência popular e faccional" e arrastando Gaza de volta para uma espiral descendente de violência. O terceiro, e talvez o mais perigoso, a seu ver, seria "uma fase 'transitória' que se consolida em uma ocupação de longo prazo — uma gestão internacional que adia nosso direito de decidir nosso próprio destino". Quando uma transição começar, argumentou Hana, será um teste duplo: se os palestinos conseguirão proteger a soberania e a autodeterminação durante a reconstrução e se um sistema internacional que fala de justiça conseguirá resistir à imposição de controle total. "O direito de falar por Gaza pertence aos moradores de Gaza", disse ela. "Qualquer projeto que os ignore apenas reproduz a tutela que já vivenciamos."
Uma reconstrução que restaura estradas, mas não representatividade, apenas recriará a dependência. A próxima fase da vida de Gaza deve ser moldada por aqueles que vivenciaram seu colapso. Se o mundo tentar governar Gaza de fora, os palestinos devem insistir em se governar de dentro. Os escombros já estão sendo removidos para uma nova administração. A questão é se os palestinos conseguirão transformar as ruínas de uma ordem política na fundação de outra que lhes pertença.
Em dezembro de 2023, um ataque aéreo israelense destruiu minha casa em Gaza, que desabou sobre mim e minha família. Fugi para o Egito em 2024 e vivo no exílio desde então. Perdi familiares em Gaza. Perdi amigos e colegas. Mesmo assim, me considero um dos que menos perderam. Não estou pedindo piedade, caridade ou qualquer coisa em troca. Nenhum de nós está. O mundo não nos compensará, e não estamos esperando que ele tente. O que importa agora é a restauração da vida política de Gaza. Durante minha vida, a participação política palestina foi quase inexistente. As gerações mais velhas em Gaza votaram uma ou duas vezes, mas eu nunca tive a oportunidade de participar de qualquer exercício político. A maioria dos jovens não teve voz ativa sobre quem os lidera ou como as políticas são formuladas em Gaza ou na Cisjordânia. A única coisa que pedimos agora é o direito de traçar nosso próprio futuro político em nossos próprios termos.
Não há veneno mais rápido do que o desespero declarado permanente. Para os palestinos, os campos de refugiados se consolidaram como cidades, e os postos de controle, como marcos históricos. As caixas de ração destinadas a alimentar os famintos se tornaram a economia de uma geração. Crescemos conhecendo muros melhor do que escolas. Fomos instruídos a acreditar que ruínas eram lares, filas de pão eram governança e a miséria silenciosa era "calma". O medo foi institucionalizado — orçado, distribuído, vendido como paz. A submissão foi reembalada como maturidade. A ocupação mais cruel não é a da terra, mas da imaginação.
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