Folha de S.Paulo
Que a União Europeia tenha levantado o embargo às armas para a Síria é apenas um dos tantos lances que agitaram nos últimos dias um cenário já difícil de entender.
A justificativa, o reconhecimento de uma necessidade de armar os rebeldes, está montada na premissa de que ainda o que acontece na Síria seria a revolta de um povo contra seu governo.
É verdade que grande parcela da população ainda quer a mudança do regime em quem enxerga o grande responsável por seus males, históricos e presentes. Mas também é verdade que há muito o embate na Síria é outro.
Com milhares de estrangeiros financiados, armados e treinados por tantas partes interessadas, travando uma guerra feroz contra o Exército sírio, muitos em nome de um sectarismo perigoso, o fim do embargo talvez não passe de oficialização daquilo que até aqui era oficioso.
Mais importante é outro fato recente: o reconhecimento oficial pelo Hizbullah libanês de sua participação, ao lado do Exército sírio, nas intensas batalhas pelo controle da região de Quseir.
A intensidade da luta, com os dois lados empenhando o que têm de melhor em suas forças, é indicativo da importância da região, entre outras coisas, por servir de principal caminho de passagem de armamento para o Hizbullah que justifica sua participação como necessidade vital, uma luta em que está em jogo sua existência como movimento de resistência a Israel.
E essa percepção, verdadeira, é parte de um cenário em que muitos estão enxergando a oportunidade de, derrubando o regime sírio, ou neutralizandoo, enfraquecer mortalmente o inimigo militar mais imediato de Israel e de colocar em xeque a influência iraniana na região.
As vitórias militares da aliança Síria/Hizbullah, obtidas nos últimos dias, parecem ter afastado deles esses riscos, por enquanto. Elas se deram num momento em que, enquanto se prepara o encontro de Genebra orquestrado por EUA e Rússia, muitos relatos apontam para a existência de um acordo entre as duas potências, do qual apenas a implementação resta a acertar. E esse acordo abarcaria a permanência do presidente Bashar alAssad, também por enquanto.
Como quer que seja, ainda que equivocados os relatos, parece evidente que os esforços militares e as decisões políticas, tais como a do embargo, são gestos de fortalecimento das posições respectivas às vésperas de uma negociação determinante. Resta saber se se pode apagar o fogo sectário que o fim do embargo ameaça alimentar.
SALEM H. NASSER é professor de direito internacional da Direito GV
Que a União Europeia tenha levantado o embargo às armas para a Síria é apenas um dos tantos lances que agitaram nos últimos dias um cenário já difícil de entender.
A justificativa, o reconhecimento de uma necessidade de armar os rebeldes, está montada na premissa de que ainda o que acontece na Síria seria a revolta de um povo contra seu governo.
É verdade que grande parcela da população ainda quer a mudança do regime em quem enxerga o grande responsável por seus males, históricos e presentes. Mas também é verdade que há muito o embate na Síria é outro.
Com milhares de estrangeiros financiados, armados e treinados por tantas partes interessadas, travando uma guerra feroz contra o Exército sírio, muitos em nome de um sectarismo perigoso, o fim do embargo talvez não passe de oficialização daquilo que até aqui era oficioso.
Mais importante é outro fato recente: o reconhecimento oficial pelo Hizbullah libanês de sua participação, ao lado do Exército sírio, nas intensas batalhas pelo controle da região de Quseir.
A intensidade da luta, com os dois lados empenhando o que têm de melhor em suas forças, é indicativo da importância da região, entre outras coisas, por servir de principal caminho de passagem de armamento para o Hizbullah que justifica sua participação como necessidade vital, uma luta em que está em jogo sua existência como movimento de resistência a Israel.
E essa percepção, verdadeira, é parte de um cenário em que muitos estão enxergando a oportunidade de, derrubando o regime sírio, ou neutralizandoo, enfraquecer mortalmente o inimigo militar mais imediato de Israel e de colocar em xeque a influência iraniana na região.
As vitórias militares da aliança Síria/Hizbullah, obtidas nos últimos dias, parecem ter afastado deles esses riscos, por enquanto. Elas se deram num momento em que, enquanto se prepara o encontro de Genebra orquestrado por EUA e Rússia, muitos relatos apontam para a existência de um acordo entre as duas potências, do qual apenas a implementação resta a acertar. E esse acordo abarcaria a permanência do presidente Bashar alAssad, também por enquanto.
Como quer que seja, ainda que equivocados os relatos, parece evidente que os esforços militares e as decisões políticas, tais como a do embargo, são gestos de fortalecimento das posições respectivas às vésperas de uma negociação determinante. Resta saber se se pode apagar o fogo sectário que o fim do embargo ameaça alimentar.
SALEM H. NASSER é professor de direito internacional da Direito GV
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