10 de maio de 2025

Índia e Paquistão à beira da catástrofe

Muitos nacionalistas hindus chamaram o recente ataque terrorista de Pahalgam de "nosso 7 de outubro" e agora pedem que o Paquistão seja "reduzido a escombros". Mesmo sob um tênue cessar-fogo, a ameaça nacionalista está colidindo com o colapso do direito internacional.

Ammar Ali Jan


Soldados paramilitares indianos montam guarda em Jammu e Caxemira em 7 de maio de 2025. (Firdous Nazir / NurPhoto via Getty Images)

Paquistão e Índia, dois rivais com armas nucleares no sul da Ásia, estão mais uma vez à beira de uma catástrofe. Na quarta-feira, a Índia lançou ataques com mísseis em nove distritos diferentes do Paquistão, matando pelo menos 31 civis, incluindo uma criança de oito anos, em uma das escaladas mais perigosas em décadas. O incidente também testemunhou a maior batalha aérea da história entre os dois vizinhos, envolvendo 125 caças. Na quinta-feira, a Índia intensificou ainda mais a agressão usando drones Harop de fabricação israelense em várias cidades do Paquistão, gerando pânico e revolta em todo o país. Após uma série de ataques indianos a instalações militares e civis, o Paquistão retaliou no sábado, atacando instalações militares em várias cidades da Índia, resultando em tensões sem precedentes entre os países vizinhos.

Hoje, há um cessar-fogo frágil, com violações já relatadas. Este é um conflito perigoso — produto de contradições históricas no Sul da Ásia, mas também das contradições crescentes que sustentam a ordem global.

Frenesi

O gatilho imediato para as tensões mais recentes foi um ataque em Pahalgam, na Caxemira ocupada pela Índia, que matou 26 turistas, o incidente terrorista mais mortal na Índia desde o ataque de Mumbai em 2008. O governo indiano, dependente de sua base nacionalista hindu e de um frenesi histérico da mídia, imediatamente culpou o Paquistão e suspendeu o Tratado das Águas do Indo, um acordo bilateral de compartilhamento de água entre os dois países, assinado em 1960. A Índia também rejeitou a oferta do Paquistão de uma investigação internacional sobre o incidente, declarando que o tempo para investigação e negociações havia acabado.

O que fica de fora dessa narrativa beligerante é o apagamento do povo da Caxemira, que já dura décadas, na verdade, ainda em curso. Por mais de oito décadas sob a ocupação, os países vizinhos se recusaram a implementar a Resolução 47 das Nações Unidas, que prevê um plebiscito para determinar o futuro da região. Em 1989, o descontentamento generalizado do povo da Caxemira com a fraude eleitoral e o autoritarismo estatal transformou-se em uma insurgência aberta contra a ocupação indiana. Os militares indianos responderam a essa rebelião com prisões em massa, censura, tortura e execuções extrajudiciais de milhares de caxemires, transformando a Caxemira em uma das regiões mais militarizadas do mundo. Em 2019, o governo de Narendra Modi aboliu o Artigo 370, que conferia status especial à Caxemira, uma medida amplamente vista como a integração forçada da Caxemira ao continente. A Caxemira foi colocada em confinamento enquanto a extrema direita hindu indiana celebrava a "paz" e a "normalidade" enquanto exercia uma repressão brutal no estado.

Uma das razões pelas quais Pahalgam desencadeou uma resposta tão histérica na Índia é porque destruiu o mito da normalidade tão cuidadosamente construído pelo governo central e sua mídia complacente. A histeria da guerra decorre das transformações ideológicas e geopolíticas que ocorrem na região. A Índia há muito tempo abandonou qualquer pretensão à estrutura da era Jawaharlal Nehru, que incluía o secularismo na política, um Estado dirigista na economia e uma política não alinhada em relações exteriores. Desde a década de 1980, a ascensão do Hindutva, uma ideologia da era colonial que invoca o nacionalismo hindu, desmantelou o frágil secularismo que sustentava a política indiana. No que o marxista Aijaz Ahmad chamou de "contrarrevolução das elites", as forças extremistas hindus conseguiram construir uma base eleitoral antimuçulmana por meio de formas espetaculares de violência. A destruição da mesquita de Babri em 1992 foi um momento crucial na combinação da histeria antimuçulmana com o poder político, estabelecendo um modelo para futuras estratégias eleitorais de extrema direita.

Aliado trumpiano

A liberalização da economia indiana na década de 1990 aprofundou os laços entre o capital ocidental e a crescente burguesia indiana, laços que ficaram mais visivelmente evidentes nas longas e opulentas celebrações de casamento da família Ambani. Essas transformações econômicas também impactaram a política externa do país. A Índia foi uma das arquitetas da Conferência de Bandung em 1955, uma aliada próxima da União Soviética e uma grande apoiadora da causa palestina. Desde a década de 1990, no entanto, a Índia cultiva relações estreitas com os Estados Unidos, inclusive imitando o discurso americano de "guerra ao terror" ao reprimir a resistência na Caxemira. A ascensão da China também impulsionou os Estados Unidos a buscar um contrapeso na região, com a Índia emergindo como a principal candidata a atender às demandas do Ocidente.

Essa aliança está tomando forma, como demonstrado no encontro de Narendra Modi com Donald Trump no início deste ano, onde os dois líderes concordaram com um novo marco de dez anos para uma "Grande Parceria de Defesa EUA-Índia no Século XXI". Segundo a Casa Branca, essa crescente cooperação militar é resultado do "aprofundamento da convergência dos interesses estratégicos EUA-Índia", um eufemismo para a estratégia de contenção americana para a China, que inclui transformar a Índia em um contrapeso regional. Um dos efeitos mais consequentes dessa mudança é o crescente relacionamento entre Israel e a Índia, incluindo a cooperação militar e os planos para a construção do "Corredor Econômico Índia-Oriente Médio-Europa" para combater a Iniciativa Cinturão e Rota da China. Sem surpresa, muitos apoiadores do Hindutva chamaram o ataque a Pahalgam de "nosso 7 de outubro" e pedem que o Paquistão seja "reduzido a escombros". Da defesa da resistência palestina contra a agressão israelense ao uso de armas israelenses contra seu vizinho ocidental, a inserção da Índia no campo imperialista parece completa.

O Paquistão, por outro lado, permaneceu firmemente no campo liderado pelos EUA desde que assinou os pactos militares da Organização do Tratado do Sudeste Asiático e da Organização do Tratado Central com os Estados Unidos em 1954 e 1955. As elites paquistanesas se beneficiaram da generosidade da ajuda americana em resposta ao arrendamento da localização geoestratégica do país como um estado de linha de frente na estratégia de contenção anticomunista dos EUA. O foco singular das classes dominantes na Índia como uma ameaça existencial intensificou a militarização e a securitização da política do país, com todas as principais forças de oposição, socialistas e democráticas, castigadas como agentes indianos. O único desafio sério à hegemonia dos EUA durante a Guerra Fria foi apresentado pelo governo de esquerda de Zulfikar Ali Bhutto, que durou de 1971 a 1977. Como resultado, seu governo foi derrubado em um golpe apoiado pelos EUA que o enforcou e suprimiu sindicatos e outras organizações de esquerda. Desde então, a economia paquistanesa tem se apoiado cada vez mais firmemente nos rendimentos obtidos com as guerras imperialistas na região, intensificando o domínio militar sobre a política e levando ao uso recorrente da violência contra dissidentes, particularmente nas províncias rebeldes do Baluchistão e Khyber Pakhtunkhwa.

O momento atual é ainda mais complicado pelas relações estreitas do Paquistão com a China. Após a cisão sino-soviética e a Guerra Sino-Indiana em 1962, o Paquistão começou a cultivar laços estreitos com a China, pois via sua segurança sob o prisma de combater seu vizinho oriental. O status de linha de frente do Paquistão no campo liderado pelos EUA não prejudicou essas relações, especialmente após a visita de Richard Nixon a Pequim para se encontrar com Mao Zedong e a reforma e abertura empreendidas por Deng Xiaoping. Em 2015, o Paquistão aderiu ao multibilionário Corredor Econômico China-Paquistão (CPEC), mantendo-se como o estado de linha de frente para os suprimentos da OTAN na região. Essa estratégia não é mais viável, à medida que as tensões entre as duas potências aumentam globalmente, com os Estados Unidos, em particular, pressionando o Paquistão a abandonar o CPEC e se realinhar com o Ocidente. Tais pressões estão dividindo o pensamento institucional e a opinião pública entre os campos pró-Ocidente e pró-China no Paquistão, uma divisão que ameaça minar qualquer planejamento estratégico de longo prazo para o Estado.

O atual conflito entre o Paquistão e a Índia também se tornou o palco para a batalha tecnológica, colocando empresas ocidentais contra os chineses. Um exemplo é o uso de jatos Rafale de fabricação francesa pela Força Aérea Indiana em seu ataque ao Paquistão na quarta-feira. O Paquistão retaliou usando caças J-10 de fabricação chinesa com mísseis PL-15. Na maior batalha aérea já travada entre os dois países, a Força Aérea Paquistanesa conseguiu abater quatro caças indianos, incluindo pelo menos dois Rafales. Essa notícia causou comoção na indústria de defesa global, com a China emergindo como um ator formidável no cenário internacional.

Resistindo ao nacionalismo

Podemos esperar, pelo menos, que as classes dominantes de ambos os lados percebam os riscos de uma nova escalada entre países com armas nucleares. A longo prazo, porém, as perspectivas de paz parecem sombrias diante da atual constelação de forças. A decisão da Índia de aumentar sua capacidade militar não apenas representa um desafio à segurança da China, que já se sente sitiada por bases militares americanas, mas também impõe ao Estado paquistanês a responsabilidade de alcançar a Índia militarmente. Além disso, os dividendos eleitorais garantidos pelas fantasias hindutva-sionistas alimentadas pelo atual regime em Delhi limitam o eleitorado para a paz na Índia. Por outro lado, a incapacidade do Paquistão de desenvolver um caminho de desenvolvimento viável e sua dependência excessiva de alugar sua localização geoestratégica para facilitar o trabalho de potências estrangeiras continuarão a restringir suas escolhas políticas.

Em tal situação, é imperativo que a esquerda de ambos os lados da fronteira resista ao chauvinismo e responsabilize seus próprios governos. Em uma região onde quase 40% da população vive na pobreza, é essencial que direcionemos nossos recursos para o combate ao analfabetismo, às doenças e ao subdesenvolvimento. Isso requer solidariedade regional e internacional contra as tentativas dos Estados Unidos de reacender e instrumentalizar queixas históricas para prolongar seu império em decadência.

Mais importante ainda, é pertinente lembrar que a causa raiz desta crise é a negação da autodeterminação ao povo da Caxemira. Mesmo durante o conflito atual, os caxemires de ambos os lados da fronteira estão na linha de frente da guerra, sofrendo o impacto dessa violência. A ocupação colonial da Caxemira deve ceder lugar à vontade dos caxemires, há muito negada por todos os atores. Uma resolução justa para a questão da Caxemira não apenas proporcionará uma paz duradoura, mas também minará quaisquer desígnios imperialistas de reacender conflitos perpétuos na região.

Colaborador

Ammar Ali Jan é historiador e membro do Movimento Haqooq-e-Khalq no Paquistão. Ele é membro do gabinete da Internacional Progressista.

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