Thiago Resende
Julia Chaib
Líder do governo na Câmara dos Deputados, o deputado federal José Guimarães (PT-CE) afirma que a entrada do PP e do Republicanos no primeiro escalão do governo Lula (PT) deve trazer paz à relação entre o Planalto e a Casa.
Ele ressalta o papel tomado pelo Executivo de dar maior solidez à base no Legislativo, assegurando tranquilidade não somente para uma votação ou à pauta prioritária, mas recompensando as siglas que sempre colaboram com o governo.
Guimarães cutucou ainda a ala da esquerda que critica a aliança com o centrão.
"Tem algumas vozes do além que preferem a derrota e o isolamento, porque isso tem muito na esquerda, preferem a derrota para poder fazer o proselitismo ideológico. Quem governa tem que ter base institucional", disse o petista, responsável pela articulação política na Câmara.
Ele ressalta o papel tomado pelo Executivo de dar maior solidez à base no Legislativo, assegurando tranquilidade não somente para uma votação ou à pauta prioritária, mas recompensando as siglas que sempre colaboram com o governo.
Guimarães cutucou ainda a ala da esquerda que critica a aliança com o centrão.
"Tem algumas vozes do além que preferem a derrota e o isolamento, porque isso tem muito na esquerda, preferem a derrota para poder fazer o proselitismo ideológico. Quem governa tem que ter base institucional", disse o petista, responsável pela articulação política na Câmara.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE) - Pedro Ladeira - 31.mai.2023/Folhapress |
Questionado se PT e PSB perderão espaço no primeiro escalão na reforma, Guimarães respondeu que isso será decidido por Lula. Mas ponderou que "se o governo está disposto a ampliar a participação desses partidos [PP e Republicanos] na Esplanada, evidentemente alguém vai ter que perder".
O governo conseguiu praticamente liquidar toda a pauta prioritária na Câmara no semestre, mesmo não tendo uma base estável. O que explica isso?
Aprovamos matérias importantíssimas, estratégicas para o governo, que diziam no início que não conseguiríamos votar porque não tínhamos base para votar, como a PEC da Transição e a da Reforma Tributária. No meio disso, a votação da reorganização da Esplanada dos Ministérios [o centrão ameaçou derrubar a proposta] deu condições para reiniciarmos um novo ciclo de diálogo e de construção da frente ampla. Nossa base tem partidos que já estão no governo - a esquerda, o PSD e MDB - e nós agregamos o PP, a União Brasil, Republicanos e 30 votos do PL nas principais votações.
Qual a participação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do centrão nesse balanço das aprovações no semestre?
A participação do presidente Lira foi fundamental. Tem algumas vozes do além que preferem a derrota e o isolamento, porque isso tem muito na esquerda, preferem a derrota para poder fazer o proselitismo ideológico. Quem governa tem que ter base institucional, e uma boa liderança é aquela que consegue dialogar, em primeiro lugar, com o presidente da Casa e, em segundo lugar, com o conjunto da Casa. É isso que tenho procurado fazer, e o Arthur Lira tem sido muito solidário com o governo, ele representa outra força política, não é do PT, mas sabemos que ninguém governa bem e ninguém exerce uma liderança se não houver o diálogo permanente.
Para vocês terem uma ideia de como foi importante esse processo na Câmara, no início do governo foram apresentadas 229 convocações de ministros. Imaginem! Na negociação, transformamos todas essas convocações em convites [quando os ministros não são obrigados a comparecer ao Congresso].
As tratativas sobre ministérios são tidas como uma costura para aliança do presidente Lula com o centrão, que é um grupo criticado por demais agentes políticos e é associado a negociação de cargos e emendas em troca de votos. Como o sr. vê essa aproximação?
Para vocês terem uma ideia de como foi importante esse processo na Câmara, no início do governo foram apresentadas 229 convocações de ministros. Imaginem! Na negociação, transformamos todas essas convocações em convites [quando os ministros não são obrigados a comparecer ao Congresso].
As tratativas sobre ministérios são tidas como uma costura para aliança do presidente Lula com o centrão, que é um grupo criticado por demais agentes políticos e é associado a negociação de cargos e emendas em troca de votos. Como o sr. vê essa aproximação?
Primeiro, não é ilegítima a posição de negociar emendas. As emendas estão na lei orçamentária e na Constituição. Não vejo nenhuma ilegalidade ou nenhuma coisa feia nisso. A mesma coisa é sobre a participação no governo. Qual é o partido que não negocia? Se o partido apoia o governo, dá voto para o governo, qual é o problema de negociar cargo?
Isso não tem que ser visto como uma coisa ruim e tem que ser feito de forma transparente, como estamos fazendo agora. Não estamos fazendo nada de barganha, porque representamos um governo de frente ampla e esses partidos, para além do campo da esquerda, podem ajudar e ajudaram muito a construção dessa nova governabilidade.
Nos bastidores se diz que a votação do projeto do Carf (Conselho de Administração de Recursos Fiscais) só ocorreu na Câmara porque o governo deu sinal verde para negociação de ministérios. Foi isso que ocorreu?
Nós sinalizamos para esses partidos que eles iriam participar do governo. Isso não é nada que deponha contra a República, muito menos contra o governo. Porque o sucesso que estamos tendo deve-se a essas duas características: a personalidade do Lula e o resultado que a Câmara deu. É uma construção legítima, importante e estamos afinados. Eu, [Alexandre] Padilha [ministro das Relações Institucionais], o Rui Costa [da Casa Civil] e o Fernando Haddad [da Fazenda] já apresentamos ao Lula a ideia de que esses partidos, especialmente o PP e o Republicanos, entrem no governo.
Ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) recebe o líder do PP na Câmara, André Fufuca (MA) no Palácio do Planalto - Gil Ferreira/Secretaria de Relações Institucionais |
E quais ministérios eles devem assumir?
O nosso papel é apresentar o diagnóstico para o presidente. Estive em Brasília, conversei com o Padilha, com o Rui Costa. Nós recebemos o [deputado] Silvio Costa Filho [do Republicanos], o Padilha recebeu o [deputado André] Fufuca [líder do PP]. São dois nomes que os partidos consideram que, o presidente definindo, eles podem contribuir enormemente na relação desses ministérios com a Câmara e aumentar a nossa paz institucional com a Câmara.
Eu defendo a tese de que todos precisam ser incorporados pelo governo, até pelo que eles já fizeram pelo governo. Não é justo que esses partidos tenham feito tanto conosco e não tenham participação no governo.
Como foi a conversa?
Informamos a esses companheiros que a tese da ampliação da participação está consolidada. O governo está convencido disso. E caberá ao presidente iniciar o diálogo e as negociações para quais espaços esses partidos irão.
Se esses partidos entrarem no governo, quanto isso representa em votos no núcleo duro da base do governo Lula na Câmara?
Se esses partidos entrarem no governo, quanto isso representa em votos no núcleo duro da base do governo Lula na Câmara?
Para mim, o que conta é o painel [de votação]. Se sem esses partidos no governo já obtivemos vitórias tão fantásticas, imagine como será com eles participando do governo. São partidos com características diferentes do campo da esquerda, e eles têm demonstrado muito compromisso com o país. [Em alguns projetos no plenário] Republicanos deu 100% dos votos, o PP deu quase 100% dos votos. União Brasil deu 49 votos dos 59. Portanto, esses partidos ajudaram muito o governo e é legítimo que eles participem.
Temos que ampliar a base, mesmo mantendo as características de cada partido, porque tem partidos que estão no governo e que não dão 100% os votos, como a União Brasil, o MDB. Agora o PP e o Republicanos têm alguns parlamentares que não votam com o governo. Mas a maioria vota. O que me importa é o painel [de votação].
Temos que ampliar a participação desses partidos, dessas forças políticas no governo. Até porque o sucesso do governo está muito relacionado com as medidas, com as votações e as vitórias que alcançamos na Casa.
E o PL? O sr. defende que a legenda entre no governo, já que tem dado 30 votos?
Temos que ampliar a base, mesmo mantendo as características de cada partido, porque tem partidos que estão no governo e que não dão 100% os votos, como a União Brasil, o MDB. Agora o PP e o Republicanos têm alguns parlamentares que não votam com o governo. Mas a maioria vota. O que me importa é o painel [de votação].
Temos que ampliar a participação desses partidos, dessas forças políticas no governo. Até porque o sucesso do governo está muito relacionado com as medidas, com as votações e as vitórias que alcançamos na Casa.
E o PL? O sr. defende que a legenda entre no governo, já que tem dado 30 votos?
O PL não, o PL é oposição. Reconhecemos que tem parlamentares do PL que votam com o governo e nós saberemos fazer na prática esse reconhecimento. Mas eles não vêm porque são oposição. E o líder do PL, Altineu Cortes, nos ajuda, tem um bom diálogo, não vai para o tudo ou nada. E esse é o papel do Parlamento. Os extremos não podem dar o tom do funcionamento da Câmara, quem tem que dar o tom é o compromisso do Congresso Nacional com o país.
Com a entrada do PP e Republicanos no governo, o PT e o PSB correm risco de perderem espaço no primeiro escalão?
Com a entrada do PP e Republicanos no governo, o PT e o PSB correm risco de perderem espaço no primeiro escalão?
Se o governo está disposto a ampliar a participação desses partidos na Esplanada, evidentemente alguém vai ter que perder. A quem caberá dizer isso é o presidente da República. Não há a perspectiva de criação de novos ministérios. É um xadrez que só o Lula saberá movimentar as peças.
O sr. considera que essa será uma reforma ministerial?
O sr. considera que essa será uma reforma ministerial?
Não. Eu considero que é uma ampliação da participação dos partidos no governo. São necessidades políticas que surgiram a partir dos resultados alcançados na Câmara.
O sr. disse que a entrada do PP e do Republicanos trará paz institucional ao governo na Câmara. O que o governo pretende fazer nesse novo cenário?
O sr. disse que a entrada do PP e do Republicanos trará paz institucional ao governo na Câmara. O que o governo pretende fazer nesse novo cenário?
Temos projetos que completam esse processo que passamos no primeiro semestre, como o fim da votação do novo regime fiscal. Também teremos votação do Desenrola [programa voltado a pessoas que devem dinheiro no varejo], que é fundamental para tirar milhões de pessoas do cadastro negativo, além da LDO [Lei de Diretrizes Orçamentária] e o Orçamento de 2024.
A entrada de Fufuca e Sílvio Costa Filho não causa um desequilíbrio entre a participação da Câmara e do Senado no governo?
A entrada de Fufuca e Sílvio Costa Filho não causa um desequilíbrio entre a participação da Câmara e do Senado no governo?
Não. É tudo bem articulado. O Senado tem uma boa participação no governo e a Câmara também tem. Eu acho que são construções que se complementam. Tudo está sendo bastante dialogado e nosso papel é construir a paz, uma paz mais duradoura, não ser uma paz só para uma votação, respeitando aqueles partidos que se dizem independentes, mas que, na hora do vamos ver, são esses partidos que sempre nos ajudaram.
RAIO-X | JOSÉ GUIMARÃES, 66
RAIO-X | JOSÉ GUIMARÃES, 66
Formado em direito, é deputado federal do PT pelo Ceará em seu quarto mandato. Também é um dos vice-presidentes nacionais e membro da executiva nacional do partido. Escolhido para ser o líder do governo na Câmara, foi um dos coordenadores da campanha de Lula à Presidência no ano passado.
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