Com eleitores de Ciro e Simone mais convictos, apelos petistas atingem eleitorado menor
Bruno Boghossian
Os candidatos à Presidência Lula, Bolsonaro, Ciro e Simone Tebet - Marlene Bergam e Pedro Ladeira/Folhapress, Ney Xavier e Roberto Castello |
Se a campanha de Lula (PT) projetava uma migração em massa de eleitores para fechar a fatura no primeiro turno, os petistas terão que esperar. Os números do Datafolha indicam que a fatia de votos disponíveis ficou mais magra, e a decisão final pode vir só diante da urna.
Chave para uma vitória do ex-presidente no domingo (2), apoiadores de Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) vêm resistindo às investidas pelo voto útil e aumentaram gradualmente sua conexão com a dupla.
Desde o início de setembro, cresceu a decisão de voto dos apoiadores de Ciro e Simone. No caso do pedetista, o percentual de eleitores que se dizem totalmente decididos a votar nele passou de 42% para 54%. Entre os apoiadores da emedebista, o índice foi de 51% para 62%.
Esses dados mostram que o tamanho do alvo de Lula diminuiu. Se o petista continua atrás dos eleitores de Ciro e Simone que ainda podem mudar de voto, sua campanha conseguirá falar com menos de 5% do total do eleitorado.
O petista já alcançou um percentual de votos válidos que favorece a ideia de encerrar a eleição no domingo, mas seus aliados esperavam chegar ao fim de semana com alguma gordura nesses índices.
Além de não representarem uma garantia, devido às bandas da margem de erro, esses 50% também podem ser insuficientes se os padrões de abstenção se repetirem no dia da votação. Tradicionalmente, o comparecimento é menor entre eleitores com baixa escolaridade, hoje mais alinhados ao PT.
Os dias finais de campanha criam uma incerteza paradoxal, uma vez que a maior dúvida é provocada pela estabilidade dos números.
As variações registradas na última semana ainda não permitem enxergar sinais de um fluxo significativo de eleitores às vésperas do primeiro turno. As principais mudanças se deram em segmentos que já tinham se mostrado voláteis desde o início da corrida.
A alteração mais marcante foi registrada entre os jovens. Em pesquisas anteriores, Lula chegou a ganhar oito pontos entre os eleitores de 16 a 24 anos, enquanto Jair Bolsonaro (PL) perdeu os mesmos oito pontos. Agora, o petista perdeu cinco, e o presidente ganhou sete.
No Sul, os índices de intenção de voto também vinham flutuando desde agosto, apontando para um empate técnico entre os dois líderes. Na nova pesquisa, Bolsonaro subiu seis pontos na região, abrindo uma vantagem numérica no limite da margem de erro (45% a 40%).
Nenhuma dessas mexidas foi suficiente para afetar os números gerais da corrida, uma vez que variações em outros grupos anularam os movimentos. A campanha continua produzindo efeitos sob a superfície, ainda que tenha mostrado baixa capacidade de mudar o rumo da eleição.
O cenário pode frustrar apoiadores de Lula no primeiro turno, mas desenham uma virada praticamente impossível para Bolsonaro no segundo.
A pior notícia para o presidente a esta altura é a manutenção de seus índices de rejeição em 52%. Essa taxa já freou seu crescimento no primeiro turno, mas também será carregada para um eventual segundo turno –favorecendo seu rival.
A única saída para Bolsonaro seria aumentar a rejeição a Lula, reativando o antipetismo que o impulsionou em 2018. Os ataques do presidente, no entanto, não se mostraram suficientes até aqui para que esse índice passasse da marca de 40%.
A principal dificuldade de Bolsonaro é o fato de que sua campanha não conseguiu potência para sustentar uma recuperação de votos em grupos do eleitorado considerados mais permeáveis a sua candidatura.
O quadro apresentado pelo Datafolha ao longo dos últimos meses mostra que o presidente só conseguiu continuar no jogo porque investiu na recuperação de eleitores que votaram nele em 2018 –mas esse retorno não foi suficiente.
Desde o lançamento da candidatura à reeleição, em julho, o presidente ganhou dez pontos nesse grupo. Àquela altura, 56% dos eleitores que haviam votado nele na última disputa se diziam dispostos a repetir a dose. Agora, esse índice chegou a 66%.
Naquele evento inaugural da campanha, Bolsonaro fez um discurso direcionado a sua base fiel, com ênfase em notas ligadas à pauta moral e um reforço da retórica de enfrentamento às instituições.
Com a jogada, o presidente ignorou alertas de que aquela plataforma soaria bem a eleitores simpáticos, mas poderia dificultar um crescimento fora daqueles limites. De fato, o máximo que ele obteve foi um tanque extra de oxigênio.
De julho para cá, o presidente subiu de 29% para 34% em votos totais no primeiro turno, segundo o Datafolha. Boa parte desse crescimento se deve àqueles dez pontos extras que sua candidatura ganhou entre antigos bolsonaristas.
Entre esses eleitores decepcionados, havia homens e mulheres, pobres e ricos. Mas poucos segmentos deram tanto impulso a essa recuperação como a classe média (34% para 43% em votos totais), o Sudeste (de 28% para 35%) e os evangélicos (43% para 50%).
Foram ganhos significativos em faixas numerosas do eleitorado, mas a alta de Bolsonaro perdeu ritmo desde o início de setembro.
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