Anna Virginia Balloussier
O ex-presidente Lula (PT) discursa durante encontro com evangélicos em São Gonçalo (RJ) - Marlene Bergamo/Folhapress |
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que é guiado por Deus em seu primeiro encontro de campanha com líderes evangélicos.
"Se tem um brasileiro que não precisa provar que acredita em Deus, esse brasileiro sou eu. Eu não teria chegado aonde cheguei se não fosse a mão de Deus dirigindo meus passos", disse nesta sexta (9) em São Gonçalo (RJ), durante ato organizado pelo núcleo evangélico do PT. "Tenho certeza que lá de cima ele vai dizer: Lula, cuida deste povo aqui."
Antes da fala com notas messiânicas, o petista ressaltou iniciativas que tomou quando era presidente para garantir a liberdade religiosa, numa tentativa de dissipar fake news alimentadas pela máquina bolsonarista, como a de que vai fechar igrejas se for eleito.
"Aprendi que o Estado não deve ter religião, não deve ter igreja, deve garantir o funcionamento e a liberdade de muitas igrejas."
Lula renovou sua promessa frequente de trazer churrasco para os lares brasileiros, só omitindo a cerveja que costuma incluir no pacote. "As famílias adoram se reunir no final de semana e comer um churrasquinho", disse. A bebida alcoólica, desaconselhada nas igrejas, ficou de fora dessa vez.
O bolsonarismo esteve na mira em alguns momentos, nem sempre com citações nominais. Lula disse, por exemplo, que "ninguém pode mentir em nome de Deus, aliás ninguém deve usar o nome de Deus em vão, ninguém deve usar o nome de Deus para tentar ganhar voto". Referência às corriqueiras menções religiosas na campanha do adversário Jair Bolsonaro (PL).
Ele voltou a acusar o presidente de "roubar o 7 de Setembro do povo brasileiro". A data deveria ser cívica, mas Bolsonaro "fez uma festa para ele", disse.
O discurso para religiosos foi vários tons abaixo da belicosidade contra o rival na véspera. Em Nova Iguaçu (RJ), Lula comparou os atos bolsonaristas no Bicentenário da Independência a uma "reunião da Ku Klux Klan".
Para martelar a carta da família, tão importante para esse nicho cristão, Lula contou a história de sua mãe, destacando o papel de Dona Lindu na criação dos filhos. Depois falou da própria prole, com cinco filhos, oito netos e uma bisneta. "Se a família estiver em harmonia", se filhos obedecerem os pais, "a gente vai viver numa tranquilidade extraordinária", afirmou.
Lembrou ainda do presbiteriano Lysâneas Maciel, deputado constituinte do PDT que, nos anos 1980, era chamado por pares de uma seminal bancada evangélica no Congresso de "o líder dos evangélicos do B", a minoria à esquerda do bloco.
Vice na chapa lulista, o ex-governador e ex-adversário Geraldo Alckmin (PSB) apontou que precisou um pastor para mudar o mundo meio século atrás: o batista Martin Luther King, ícone americano da luta contra o racismo.
"Quem quer Lula presidente diz amém!", bradou o pastor batista Oliver Goiano diante da plateia de crentes, para abrir o ato. Pregações se seguiram, com orações e falas proselitistas.
A reunião foi programada para tentar reduzir a resistência na base evangélica a Lula e à esquerda que ele representa. Pesquisa Datafolha deste mês dá a Bolsonaro 48% desse eleitorado cristão, contra 32% do ex-presidente.
Antes, um bolsonarista foi ferido na cabeça em confusão com militantes petistas que esperavam a chegada de Lula ao ato religioso. Rodrigo Duarte conduzia um carro todo adereçado com elementos do bolsonarismo. Na quinta (8), ele avisou, em vídeo, que iria ao local para protestar.
É o primeiro evento de Lula com pastores nesta campanha. Antes tarde do que nunca era uma impressão compartilhada nos bastidores por alguns dos evangélicos presentes.
O petista não saiu da zona de conforto —lá estiveram velhos companheiros de guerra da minoritária ala progressista dos líderes evangélicos. Entre os nomes mais expressivos, a deputada Benedita da Silva e o pastor Ariovaldo Ramos.
"Acredito plenamente que precisamos corrigir e pensar na nossa linguagem", disse o pastor Goiano. Um puxão de orelha no diálogo infrutífero muitas vezes travado entre esquerda e igrejas, com jargões que melhor cairiam em círculos não-religiosos.
Em vez de citar o conceito marxista de materialismo histórico, por exemplo, valeria dizer que a igreja de diáconos e apóstolos zela pela igualdade de todos. Uma porta de entrada mais palatável ao segmento.
O tom mais militante também deu as caras. "Presidente Lula, a igreja evangélica tem que pedir perdão ao senhor. O senhor não foi só alvo da injustiça do Judiciário brasileiro, mas também do clero brasileiro", afirmou o pastor Sérgio Dusilek, presidente da Convenção Batista Carioca.
Ressoou pelo galpão um piseiro gospel produzido pela Frente Evangélica pelo Estado de Direito, ritmo popular nos templos. A letra sugeria crer que "dias melhores virão".
"Se tem um brasileiro que não precisa provar que acredita em Deus, esse brasileiro sou eu. Eu não teria chegado aonde cheguei se não fosse a mão de Deus dirigindo meus passos", disse nesta sexta (9) em São Gonçalo (RJ), durante ato organizado pelo núcleo evangélico do PT. "Tenho certeza que lá de cima ele vai dizer: Lula, cuida deste povo aqui."
Antes da fala com notas messiânicas, o petista ressaltou iniciativas que tomou quando era presidente para garantir a liberdade religiosa, numa tentativa de dissipar fake news alimentadas pela máquina bolsonarista, como a de que vai fechar igrejas se for eleito.
"Aprendi que o Estado não deve ter religião, não deve ter igreja, deve garantir o funcionamento e a liberdade de muitas igrejas."
Lula renovou sua promessa frequente de trazer churrasco para os lares brasileiros, só omitindo a cerveja que costuma incluir no pacote. "As famílias adoram se reunir no final de semana e comer um churrasquinho", disse. A bebida alcoólica, desaconselhada nas igrejas, ficou de fora dessa vez.
O bolsonarismo esteve na mira em alguns momentos, nem sempre com citações nominais. Lula disse, por exemplo, que "ninguém pode mentir em nome de Deus, aliás ninguém deve usar o nome de Deus em vão, ninguém deve usar o nome de Deus para tentar ganhar voto". Referência às corriqueiras menções religiosas na campanha do adversário Jair Bolsonaro (PL).
Ele voltou a acusar o presidente de "roubar o 7 de Setembro do povo brasileiro". A data deveria ser cívica, mas Bolsonaro "fez uma festa para ele", disse.
O discurso para religiosos foi vários tons abaixo da belicosidade contra o rival na véspera. Em Nova Iguaçu (RJ), Lula comparou os atos bolsonaristas no Bicentenário da Independência a uma "reunião da Ku Klux Klan".
Para martelar a carta da família, tão importante para esse nicho cristão, Lula contou a história de sua mãe, destacando o papel de Dona Lindu na criação dos filhos. Depois falou da própria prole, com cinco filhos, oito netos e uma bisneta. "Se a família estiver em harmonia", se filhos obedecerem os pais, "a gente vai viver numa tranquilidade extraordinária", afirmou.
Lembrou ainda do presbiteriano Lysâneas Maciel, deputado constituinte do PDT que, nos anos 1980, era chamado por pares de uma seminal bancada evangélica no Congresso de "o líder dos evangélicos do B", a minoria à esquerda do bloco.
Vice na chapa lulista, o ex-governador e ex-adversário Geraldo Alckmin (PSB) apontou que precisou um pastor para mudar o mundo meio século atrás: o batista Martin Luther King, ícone americano da luta contra o racismo.
"Quem quer Lula presidente diz amém!", bradou o pastor batista Oliver Goiano diante da plateia de crentes, para abrir o ato. Pregações se seguiram, com orações e falas proselitistas.
A reunião foi programada para tentar reduzir a resistência na base evangélica a Lula e à esquerda que ele representa. Pesquisa Datafolha deste mês dá a Bolsonaro 48% desse eleitorado cristão, contra 32% do ex-presidente.
Antes, um bolsonarista foi ferido na cabeça em confusão com militantes petistas que esperavam a chegada de Lula ao ato religioso. Rodrigo Duarte conduzia um carro todo adereçado com elementos do bolsonarismo. Na quinta (8), ele avisou, em vídeo, que iria ao local para protestar.
É o primeiro evento de Lula com pastores nesta campanha. Antes tarde do que nunca era uma impressão compartilhada nos bastidores por alguns dos evangélicos presentes.
O petista não saiu da zona de conforto —lá estiveram velhos companheiros de guerra da minoritária ala progressista dos líderes evangélicos. Entre os nomes mais expressivos, a deputada Benedita da Silva e o pastor Ariovaldo Ramos.
"Acredito plenamente que precisamos corrigir e pensar na nossa linguagem", disse o pastor Goiano. Um puxão de orelha no diálogo infrutífero muitas vezes travado entre esquerda e igrejas, com jargões que melhor cairiam em círculos não-religiosos.
Em vez de citar o conceito marxista de materialismo histórico, por exemplo, valeria dizer que a igreja de diáconos e apóstolos zela pela igualdade de todos. Uma porta de entrada mais palatável ao segmento.
O tom mais militante também deu as caras. "Presidente Lula, a igreja evangélica tem que pedir perdão ao senhor. O senhor não foi só alvo da injustiça do Judiciário brasileiro, mas também do clero brasileiro", afirmou o pastor Sérgio Dusilek, presidente da Convenção Batista Carioca.
Ressoou pelo galpão um piseiro gospel produzido pela Frente Evangélica pelo Estado de Direito, ritmo popular nos templos. A letra sugeria crer que "dias melhores virão".
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