O ministro da Defesa, Paulo Sérgio, durante conferência em Brasília - Evaristo Sá/AFP |
O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, tentou desfazer o mal-estar generalizado entre governos ocidentais com o escancaramento do projeto golpista do presidente Jair Bolsonaro (PL). Tarde demais, ao que tudo indica.
Na frente de uma plateia de homólogos das Américas, o norte-americano Lloyd Austin à frente, Paulo Sérgio beijou a cruz da democracia ao reafirmar compromissos históricos do Brasil ante o concerto de instituições multilaterais da região.
Seria mais do mesmo, não fosse o contexto. Que Bolsonaro flerta com autoritarismo e golpismo, isso é uma realidade que precede sua eleição. A ideia de que os generais da reserva que cacifaram a reta final de sua campanha e integraram o governo dariam o freio e o contrapeso necessários aos carbonários então chamados de ideológicos foi desfeita com o estouro da pandemia de 2020.
Na frente de uma plateia de homólogos das Américas, o norte-americano Lloyd Austin à frente, Paulo Sérgio beijou a cruz da democracia ao reafirmar compromissos históricos do Brasil ante o concerto de instituições multilaterais da região.
Seria mais do mesmo, não fosse o contexto. Que Bolsonaro flerta com autoritarismo e golpismo, isso é uma realidade que precede sua eleição. A ideia de que os generais da reserva que cacifaram a reta final de sua campanha e integraram o governo dariam o freio e o contrapeso necessários aos carbonários então chamados de ideológicos foi desfeita com o estouro da pandemia de 2020.
O resto é história conhecida. A apoplexia do 7 de Setembro do ano passado, a cessão do governo ao centrão em troca da garantia de chegar ao fim do mandato e de perenizar a mamata orçamentária, a acomodação suposta com setores do Judiciário até a próxima crise.
Ela está em curso há poucos meses, com a retomada crescente da virulência anti-institucional do presidente. A diferença, desta vez, é que o Ministério da Defesa está na linha de frente da principal trincheira bolsonarista, a contestação das urnas eletrônicas.
Não é algo trivial, e tem gerado bastante atrito de bastidor nos altos escalões das Forças Armadas. Em um primeiro momento, PS, como o ministro é conhecido, buscou amainar ânimos. Trouxe para si a interlocução com o Tribunal Superior Eleitoral, erro tático da própria corte, numa tentativa de isolar o serviço ativo da balbúrdia.
Por disposição ou equívoco, não foi que aconteceu. Na prática, PS está na mesma faixa de frequência de seu antecessor, o agora candidato a vice-presidente Walter Braga Netto, visto na Defesa como o ministro de fato.
Ela está em curso há poucos meses, com a retomada crescente da virulência anti-institucional do presidente. A diferença, desta vez, é que o Ministério da Defesa está na linha de frente da principal trincheira bolsonarista, a contestação das urnas eletrônicas.
Não é algo trivial, e tem gerado bastante atrito de bastidor nos altos escalões das Forças Armadas. Em um primeiro momento, PS, como o ministro é conhecido, buscou amainar ânimos. Trouxe para si a interlocução com o Tribunal Superior Eleitoral, erro tático da própria corte, numa tentativa de isolar o serviço ativo da balbúrdia.
Por disposição ou equívoco, não foi que aconteceu. Na prática, PS está na mesma faixa de frequência de seu antecessor, o agora candidato a vice-presidente Walter Braga Netto, visto na Defesa como o ministro de fato.
Como militares são em geral percebidos na política como um ente único, a Defesa que chefia as Forças servir ao golpismo bolsonarista gerou alarme generalizado. Fardados de alto escalão, contudo, insistem em que não há possibilidade de embarque num movimento armado. Mas de tanto olharem para o abismo, para ficar com Nietzsche, sempre há quem tema que possam ser devorados por ele.
Coube ao presidente dar uma mãozinha na semana passada, ao chamar embaixadores para contar que não confia na eleição que vai disputar e insinuar apoio armado.
Houve oficial-general questionando a lealdade do chefe à bandeira, mas obviamente isso ficou intramuros. A situação foi tão inusitada que os EUA, quem de fato importa em termos de estabilidade continental, começaram um movimento para apoiar a democracia no Brasil.
Bolsonaro não é passível de conversão, mas o recado na forma de uma rara nota da embaixada americana foi bem ouvido na cúpula militar. Segundo um integrante dela, o comunicado foi um lido como um eco reverso do apoio dado pelos EUA ao golpe de 1964.
Naquele ano, o golpismo fardado tinha como sócios não só americanos, mas parcela majoritária da sociedade civil e do PIB, algo que os diversos manifestos pró-democracia ora cozidos buscam estabelecer como uma impossibilidade.
A cereja do bolo veio na forma do discurso incisivo do secretário da Defesa de Joe Biden nesta terça (26) em Brasília, com sua defesa da democracia e da submissão militar ao poder civil —descontando o fato de ele, como PS, ser um general da reserva, mas é verdade que os instrumentos de controle nos EUA são bem mais eficazes do que aqui.
Segundo a Folha ouviu de dois diplomatas ocidentais no Brasil, a fala de Paulo Sérgio foi positiva, porém insuficiente para tirar o bode do golpe da sala. Mas foi lida pelo valor de face: uma resposta conjunta dos setores fardados à debacle da semana passada.
A ojeriza tradicional dos militares ao PT e ao Supremo, principalmente nos altos escalões e que transparece em qualquer conversa, dificulta muito o apaziguamento. A convocação de Bolsonaro a atos antidemocráticos no próximo 7 de Setembro também envenena a avaliação externa.
Soa improvável um apoio a algo mais do que discurso de um Bolsonaro acossado pela sombra da derrota em outubro pela Defesa, por ora ao menos. Mas o esforço feito no começo do ano de distanciamento público dessa agenda foi jogado fora.
Serão necessárias atitudes serenas em momentos agudos, mais que discursos, para reverter o estrago feito pelo comandante supremo à reputação do país pelo temor do escrutínio judicial de suas ações.
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