Igor Gielow
Folha de S.Paulo
Escolhido com ministro da Fazenda do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad terá seu grande teste para fazer valer a condição de sucessor ungido no PT pelo presidente eleito. A insistência em seu nome para comandar a economia, contudo, o joga em campo minado.
Lula e Haddad acenam a apoiadores em SP após a vitória do ex-presidente no segundo turno - Mariana Greif - 30.nov.2022/Reuters |
Quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) se preparava para a reeleição em 1998, o hoje senador em fim de mandato José Serra se via em tal posição.
O então presidente, contudo, aconselhou o tucano a deixar a seara econômica, onde viveu às turras com a Fazenda de Pedro Malan quando ocupou o Planejamento de 1995 a 1996, para uma pasta que lhe garantisse prestígio.
Acabou na Saúde, onde fez uma gestão considerada brilhante até por adversários. Não foi suficiente para derrotar Lula em 2002 ou Dilma Rousseff (PT) em 2010, mas aí outros fatores pesaram mais: o desgaste da gestão FHC na primeira ocasião e a extrema popularidade do líder petista na segunda, quando elegeu a sucessora.
Haddad pega o timão da economia em momento de mar revolto, com um cenário externo de recessão mundial por cortesia das incertezas chinesas e do sangue que corre na Ucrânia, entre outros itens concorrentes.
O respiro da PEC da Transição, se aprovada como tudo indica que será, ajuda, mas os fios da bomba-relógio fiscal estão todos lá para serem cortados.
A boa vontade aparente de capitães da finança com seu nome decorre mais do medo de que Lula pudesse fazer alguma escolha ainda mais à esquerda. A presença eventual de um liberal no Planejamento, como Pérsio Arida, causa uma sensação de equilíbrio que a citada refrega Serra-Malan dos anos 1990 prova falsa.
Um lado sempre prevalecerá, e todas as indicações são que o desmonte do monstro de Frankenstein criado por Jair Bolsonaro com a pasta da Economia privilegiará a Fazenda.
O ex-prefeito paulistano terá de mostrar serviço numa área espinhosa, como se vê. Tendo êxito, evidentemente se fortalece, mas é um caminho menos seguro do que uma volta à Educação que já ocupou por quase oito anos ou a alguma pasta de expressão social, como a própria Saúde.
Haddad irá enfrentar mais do que suspeitas no mercado e sua falta de traquejo no trato político quando for negociar com o centrão, essas crises já precificadas. Como diz uma raposa petista, parece que Lula está disposto a testar a habilidade do ex-prefeito em sobreviver ao fogo amigo antes de tudo.
Lula trata o futuro ministro como seu sucessor desde que o fez porta-estandarte de sua candidatura vetada pela Justiça, quando estava preso em 2018. Haddad cumpriu bem a missão e chegou ao fim do segundo turno com 45% dos votos. Perdeu para Bolsonaro, mas manteve o PT respirando.
É possível argumentar que qualquer petista em sua posição teria desempenho similar, já que era Lula o sujeito nada oculto do pleito, mas Haddad manteve-se leal ao chefe, e isso conta.
Isso não muda o fato de que ele é mal visto em setores do PT que o tacham de expoente arrogante da elite universitária do partido, pouco afeita à realidade.
Com efeito, sua derrota em primeiro turno na tentativa de reeleição à Prefeitura de São Paulo em 2016 é sempre lembrada por rivais, assim como as outras duas que sofreu na sequência, em 2018 e na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes deste ano.
Mas Lula é soberano no PT, e sua palavra, final. Até aqui, dado que ele já indicou que não buscará a reeleição, deixando espaço aberto para a briga de facas nos andares inferiores ao seu na hierarquia.
Com um diferencial de concorrência: há vários aliados ao projeto anti-Bolsonaro fora do PT que tentarão se credenciar para 2026.
O embate da sucessão já começou, e Haddad foi colocado no centro de um palco minado logo de saída. Terá de lidar com o peso dos líderes petistas do Nordeste, empoderados pelo papel central na vitória nacional de Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB) e de quem mais aderir ao bonde de início de mandato.
O então presidente, contudo, aconselhou o tucano a deixar a seara econômica, onde viveu às turras com a Fazenda de Pedro Malan quando ocupou o Planejamento de 1995 a 1996, para uma pasta que lhe garantisse prestígio.
Acabou na Saúde, onde fez uma gestão considerada brilhante até por adversários. Não foi suficiente para derrotar Lula em 2002 ou Dilma Rousseff (PT) em 2010, mas aí outros fatores pesaram mais: o desgaste da gestão FHC na primeira ocasião e a extrema popularidade do líder petista na segunda, quando elegeu a sucessora.
Haddad pega o timão da economia em momento de mar revolto, com um cenário externo de recessão mundial por cortesia das incertezas chinesas e do sangue que corre na Ucrânia, entre outros itens concorrentes.
O respiro da PEC da Transição, se aprovada como tudo indica que será, ajuda, mas os fios da bomba-relógio fiscal estão todos lá para serem cortados.
A boa vontade aparente de capitães da finança com seu nome decorre mais do medo de que Lula pudesse fazer alguma escolha ainda mais à esquerda. A presença eventual de um liberal no Planejamento, como Pérsio Arida, causa uma sensação de equilíbrio que a citada refrega Serra-Malan dos anos 1990 prova falsa.
Um lado sempre prevalecerá, e todas as indicações são que o desmonte do monstro de Frankenstein criado por Jair Bolsonaro com a pasta da Economia privilegiará a Fazenda.
O ex-prefeito paulistano terá de mostrar serviço numa área espinhosa, como se vê. Tendo êxito, evidentemente se fortalece, mas é um caminho menos seguro do que uma volta à Educação que já ocupou por quase oito anos ou a alguma pasta de expressão social, como a própria Saúde.
Haddad irá enfrentar mais do que suspeitas no mercado e sua falta de traquejo no trato político quando for negociar com o centrão, essas crises já precificadas. Como diz uma raposa petista, parece que Lula está disposto a testar a habilidade do ex-prefeito em sobreviver ao fogo amigo antes de tudo.
Lula trata o futuro ministro como seu sucessor desde que o fez porta-estandarte de sua candidatura vetada pela Justiça, quando estava preso em 2018. Haddad cumpriu bem a missão e chegou ao fim do segundo turno com 45% dos votos. Perdeu para Bolsonaro, mas manteve o PT respirando.
É possível argumentar que qualquer petista em sua posição teria desempenho similar, já que era Lula o sujeito nada oculto do pleito, mas Haddad manteve-se leal ao chefe, e isso conta.
Isso não muda o fato de que ele é mal visto em setores do PT que o tacham de expoente arrogante da elite universitária do partido, pouco afeita à realidade.
Com efeito, sua derrota em primeiro turno na tentativa de reeleição à Prefeitura de São Paulo em 2016 é sempre lembrada por rivais, assim como as outras duas que sofreu na sequência, em 2018 e na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes deste ano.
Mas Lula é soberano no PT, e sua palavra, final. Até aqui, dado que ele já indicou que não buscará a reeleição, deixando espaço aberto para a briga de facas nos andares inferiores ao seu na hierarquia.
Com um diferencial de concorrência: há vários aliados ao projeto anti-Bolsonaro fora do PT que tentarão se credenciar para 2026.
O embate da sucessão já começou, e Haddad foi colocado no centro de um palco minado logo de saída. Terá de lidar com o peso dos líderes petistas do Nordeste, empoderados pelo papel central na vitória nacional de Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB) e de quem mais aderir ao bonde de início de mandato.
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