Catia Seabra
Victoria Azevedo
Folha de S.Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu vice na chapa presidencial, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) - Nelson Almeida/AFP |
Superados entraves para celebração da aliança com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) e remontagem da estrutura de comunicação, o comando da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem novos desafios pela frente.
Além da rivalidade entre PT e PSB em estados-chave, como Rio de Janeiro e São Paulo, aliados de Lula reconhecem a resistência de militares e de setores do empresariado —ambos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL)— como obstáculo a ser transposto.
As disputas dentro do arco da aliança impuseram embaraços nas primeiras viagens protagonizadas por Lula depois da oficialização de sua candidatura, no dia 7 de maio. Os palanques estaduais não estavam montados nos três estados selecionados para a largada da pré-campanha.
A falta de acordo pesou, por exemplo, para cancelamento da visita, programada para quinta-feira (2), a Santa Catarina.
Também para evitar contratempos, nenhum dos seus três pré-candidatos ao Governo do Rio Grande do Sul pôde discursar ao lado de Lula durante ato na quarta-feira (1º) em Porto Alegre.
Como a coligação com o PSD estadual ainda não estava consolidada, Lula passou três dias em Minas Gerais sem a presença do ex-prefeito Alexandre Kalil, a quem apoiará para governador. Com a costura do acordo, Lula voltará a Minas no dia 10 de junho para ato com o candidato.
Apesar de petistas afirmarem que o excesso de candidatos é um bom problema, na última terça-feira (31), Lula se reuniu com os presidentes do PT e do PSB, Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, para análise das disputas locais. Fixaram o prazo de 15 de junho para definição do quadro, inclusive em São Paulo.
Conhecedores do ex-presidente apostam na desistência do ex-governador Márcio França (PSB) em favor do lançamento do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) ao Palácio dos Bandeirantes. Na avaliação desses aliados, Lula e Alckmin não teriam autorizado a definição de uma data sem sinais de um desfecho positivo.
No Rio, parte do PT resiste ao apoio a Marcelo Freixo (PSB), ameaçando construir uma coligação com o PSD, do prefeito Eduardo Paes, ou, até mesmo, articulando um acordo informal com o governador Cláudio Castro (PL) —correligionário de Bolsonaro.
Mas desacordo maior é sobre quem concorrerá ao Senado. O PSB quer lançar o deputado Alessandro Molon. Já o PT pleiteia a candidatura do presidente da Assembleia, André Ceciliano.
Há percalços também no Espírito Santo, na Paraíba e em Pernambuco. De acordo com um interlocutor do petista, é preciso resolver os estados o quanto antes, para não "ficar arrastando problemas".
Embora publicamente minimizem a necessidade de diálogo com representantes das Forças Armadas ainda na pré-campanha, sob o argumento de que a tarefa foi assumida por membros do Judiciário, colaboradores do ex-presidente admitem preocupação com a falta de canais com militares, especialmente os da ativa.
Os ex-ministros Celso Amorim, Aloizio Mercadante e Jaques Wagner são apontados como possíveis emissários. Mas, nas palavras de um colaborador de Lula, os militares estão ariscos, refratários ao diálogo.
E, mesmo duvidando de uma predisposição para um golpe no caso de vitória de Lula, petistas temem que os militares cruzem os braços diante de um eventual arroubo autoritário de Bolsonaro.
Com a tibieza da terceira via e a liderança de Lula nas pesquisas de opinião, cresceu a frequência com que representantes do mercado financeiro e setores da economia têm convidado Lula e aliados para reuniões sobre cenário econômico.
Esses interlocutores admitem, porém, ainda enfrentar resistências. Lula tem sofrido críticas por parte do empresariado por não apresentar propostas claras do que irá fazer em um eventual governo e não indicar quem são seus interlocutores nessa área.
Em entrevista à rádio Bandeirantes FM de Porto Alegre, no dia 31, Lula disse que não irá indicar economistas para essas conversas e que vai conversar com mercado "na hora que tiver interesse".
O ex-presidente tem defendido em falas recentes que não precisa apresentar essas propostas porque tem um legado dos anos de seus governos que falam por si só.
Além das reuniões com empresários, o economista Persio Arida, um dos pais do Plano Real, se reuniu com Mercadante, que é coordenador do plano de governo da chapa. Segundo Lula, ele foi indicado por Alckmin.
"É razoável que se converse, nós não somos os donos da verdade, queremos conversar com todo o mundo. O plano de governo não pode ser do PT. Tem que ser desses sete partidos que estão conosco mais a sociedade", disse Lula na mesma entrevista.
O próprio petista afirmou em evento nesta semana em São Paulo que irá conversar com banqueiros e empresários. Segundo relatos, há possibilidade de um encontro nos próximos dias.
Um outro desafio para a coordenação de campanha de Lula seria a ampliação do leque de alianças, com a cobiçada união com o PSD de São Paulo. O partido do ex-prefeito Gilberto Kassab tem na bancada grande número de bolsonaristas, o que dificultaria um acordo.
Apesar de Lula liderar as pesquisas de intenção de voto, aliados do ex-presidentes ouvidos pela reportagem afirmam que a disputa será dura e que ainda há um longo caminho até o dia 2 de outubro —e rebatem críticas de que petistas estariam de salto alto.
Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 26 apontou que o ex-presidente tem 21 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro e lidera a disputa presidencial com 48% das intenções de voto no primeiro turno, ante 27% do principal adversário.
De acordo com o ex-governador Wellington Dias (PI-PT), a orientação do próprio Lula é a de que a pré-campanha não deve usar o resultado das pesquisas para criar um clima de "já ganhou, de salto alto". "Nada de arrogância", disse.
"Temos consciência que será uma batalha que teremos que vencer na disputa de ideias. Eles vão usar um aparato muito forte de fake news, vão elevar o tom e são capazes de qualquer coisa", diz Luciana Santos, presidente do PC do B, partido que integra a coligação.
PRÉ-CAMPANHA LULA-ALCKMIN
ENTRAVES RESOLVIDOS
Composição de chapa com Alckmin
Formalização da candidatura em ato no dia 7 de maio
Coligação com sete partidos (PT, PSB, PC do B, PV, PSOL, Rede e Solidariedade)
Definição de coordenadores da comunicação da pré-campanha
Montagem da coordenação da pré-campanha
ENTRAVES ATUAIS
Aprovação oficial da chapa pelo PT
Resolução de disputas locais com o PSB
Elaboração de programa de governo
Construção de alianças regionais com partidos de centro
Redução de resistência no meio militar e empresarial
Além da rivalidade entre PT e PSB em estados-chave, como Rio de Janeiro e São Paulo, aliados de Lula reconhecem a resistência de militares e de setores do empresariado —ambos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL)— como obstáculo a ser transposto.
As disputas dentro do arco da aliança impuseram embaraços nas primeiras viagens protagonizadas por Lula depois da oficialização de sua candidatura, no dia 7 de maio. Os palanques estaduais não estavam montados nos três estados selecionados para a largada da pré-campanha.
A falta de acordo pesou, por exemplo, para cancelamento da visita, programada para quinta-feira (2), a Santa Catarina.
Também para evitar contratempos, nenhum dos seus três pré-candidatos ao Governo do Rio Grande do Sul pôde discursar ao lado de Lula durante ato na quarta-feira (1º) em Porto Alegre.
Como a coligação com o PSD estadual ainda não estava consolidada, Lula passou três dias em Minas Gerais sem a presença do ex-prefeito Alexandre Kalil, a quem apoiará para governador. Com a costura do acordo, Lula voltará a Minas no dia 10 de junho para ato com o candidato.
Apesar de petistas afirmarem que o excesso de candidatos é um bom problema, na última terça-feira (31), Lula se reuniu com os presidentes do PT e do PSB, Gleisi Hoffmann e Carlos Siqueira, para análise das disputas locais. Fixaram o prazo de 15 de junho para definição do quadro, inclusive em São Paulo.
Conhecedores do ex-presidente apostam na desistência do ex-governador Márcio França (PSB) em favor do lançamento do ex-prefeito Fernando Haddad (PT) ao Palácio dos Bandeirantes. Na avaliação desses aliados, Lula e Alckmin não teriam autorizado a definição de uma data sem sinais de um desfecho positivo.
No Rio, parte do PT resiste ao apoio a Marcelo Freixo (PSB), ameaçando construir uma coligação com o PSD, do prefeito Eduardo Paes, ou, até mesmo, articulando um acordo informal com o governador Cláudio Castro (PL) —correligionário de Bolsonaro.
Mas desacordo maior é sobre quem concorrerá ao Senado. O PSB quer lançar o deputado Alessandro Molon. Já o PT pleiteia a candidatura do presidente da Assembleia, André Ceciliano.
Há percalços também no Espírito Santo, na Paraíba e em Pernambuco. De acordo com um interlocutor do petista, é preciso resolver os estados o quanto antes, para não "ficar arrastando problemas".
Embora publicamente minimizem a necessidade de diálogo com representantes das Forças Armadas ainda na pré-campanha, sob o argumento de que a tarefa foi assumida por membros do Judiciário, colaboradores do ex-presidente admitem preocupação com a falta de canais com militares, especialmente os da ativa.
Os ex-ministros Celso Amorim, Aloizio Mercadante e Jaques Wagner são apontados como possíveis emissários. Mas, nas palavras de um colaborador de Lula, os militares estão ariscos, refratários ao diálogo.
E, mesmo duvidando de uma predisposição para um golpe no caso de vitória de Lula, petistas temem que os militares cruzem os braços diante de um eventual arroubo autoritário de Bolsonaro.
Com a tibieza da terceira via e a liderança de Lula nas pesquisas de opinião, cresceu a frequência com que representantes do mercado financeiro e setores da economia têm convidado Lula e aliados para reuniões sobre cenário econômico.
Esses interlocutores admitem, porém, ainda enfrentar resistências. Lula tem sofrido críticas por parte do empresariado por não apresentar propostas claras do que irá fazer em um eventual governo e não indicar quem são seus interlocutores nessa área.
Em entrevista à rádio Bandeirantes FM de Porto Alegre, no dia 31, Lula disse que não irá indicar economistas para essas conversas e que vai conversar com mercado "na hora que tiver interesse".
O ex-presidente tem defendido em falas recentes que não precisa apresentar essas propostas porque tem um legado dos anos de seus governos que falam por si só.
Além das reuniões com empresários, o economista Persio Arida, um dos pais do Plano Real, se reuniu com Mercadante, que é coordenador do plano de governo da chapa. Segundo Lula, ele foi indicado por Alckmin.
"É razoável que se converse, nós não somos os donos da verdade, queremos conversar com todo o mundo. O plano de governo não pode ser do PT. Tem que ser desses sete partidos que estão conosco mais a sociedade", disse Lula na mesma entrevista.
O próprio petista afirmou em evento nesta semana em São Paulo que irá conversar com banqueiros e empresários. Segundo relatos, há possibilidade de um encontro nos próximos dias.
Um outro desafio para a coordenação de campanha de Lula seria a ampliação do leque de alianças, com a cobiçada união com o PSD de São Paulo. O partido do ex-prefeito Gilberto Kassab tem na bancada grande número de bolsonaristas, o que dificultaria um acordo.
Apesar de Lula liderar as pesquisas de intenção de voto, aliados do ex-presidentes ouvidos pela reportagem afirmam que a disputa será dura e que ainda há um longo caminho até o dia 2 de outubro —e rebatem críticas de que petistas estariam de salto alto.
Pesquisa Datafolha divulgada no último dia 26 apontou que o ex-presidente tem 21 pontos percentuais de vantagem sobre Bolsonaro e lidera a disputa presidencial com 48% das intenções de voto no primeiro turno, ante 27% do principal adversário.
De acordo com o ex-governador Wellington Dias (PI-PT), a orientação do próprio Lula é a de que a pré-campanha não deve usar o resultado das pesquisas para criar um clima de "já ganhou, de salto alto". "Nada de arrogância", disse.
"Temos consciência que será uma batalha que teremos que vencer na disputa de ideias. Eles vão usar um aparato muito forte de fake news, vão elevar o tom e são capazes de qualquer coisa", diz Luciana Santos, presidente do PC do B, partido que integra a coligação.
PRÉ-CAMPANHA LULA-ALCKMIN
ENTRAVES RESOLVIDOS
Composição de chapa com Alckmin
Formalização da candidatura em ato no dia 7 de maio
Coligação com sete partidos (PT, PSB, PC do B, PV, PSOL, Rede e Solidariedade)
Definição de coordenadores da comunicação da pré-campanha
Montagem da coordenação da pré-campanha
ENTRAVES ATUAIS
Aprovação oficial da chapa pelo PT
Resolução de disputas locais com o PSB
Elaboração de programa de governo
Construção de alianças regionais com partidos de centro
Redução de resistência no meio militar e empresarial
Nenhum comentário:
Postar um comentário