Mateus Vargas
Julia Chaib
Folha de S.Paulo
O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decidiu antecipar para esta sexta-feira (9) o anúncio dos nomes que vão ocupar os ministérios de seu governo para esfriar pressões de militares e afiar a negociação sobre a PEC da Transição.
A escolha de José Múcio Monteiro para a Defesa foi uma tentativa de desarmar a resistência e eventual insubordinação de militares, segundo auxiliares do petista.
O presidente eleito ainda definiu que os oficiais-generais mais antigos de Marinha, Exército e Aeronáutica vão assumir o comando das Forças Armadas.
A escolha de José Múcio Monteiro para a Defesa foi uma tentativa de desarmar a resistência e eventual insubordinação de militares, segundo auxiliares do petista.
O presidente eleito ainda definiu que os oficiais-generais mais antigos de Marinha, Exército e Aeronáutica vão assumir o comando das Forças Armadas.
Lula anunciou Flávio Dino (PSB-MA) para o Ministério de Justiça e Segurança Pública; o governador da Bahia, Rui Costa (PT), para a Casa Civil; o diplomata Mauro Vieira para o Itamaraty; e o ex-ministro Fernando Haddad (PT) para comandar a Fazenda.
Lideranças do Congresso e aliados do petista consideravam importante definir um nome para as principais pastas para melhorar as negociações sobre a PEC da Transição. A aprovação é considerada essencial para encontrar recursos no Orçamento de 2023 para ampliar o Bolsa Família e cumprir promessas de campanha de Lula.
O presidente eleito disse que antecipou os anúncios para definir nomes para responderem sobre assuntos do novo governo. Também pelo fato de que eles já estavam acertados, enquanto ainda há discussões sobre o formato e o comando de outras pastas.
"Mas esses estão definidos, não tem secretaria nova. Outros ainda vou escolher", disse Lula. "Depois da diplomação [marcada para o dia 12], vou tratar de terminar a montagem do nosso governo."
Além disso, o próprio José Múcio disse a aliados que acelerar a escolha do comando das Forças Armadas ajudaria a abrir o diálogo e iniciar o processo de pacificação na área.
A necessidade de definir logo quem chefiará o Exército, a Marinha e a Aeronáutica ficou mais urgente diante da ameaça dos comandantes destes dois últimos de anteciparem a entrega dos cargos.
O movimento foi visto como uma insubordinação das tropas ao presidente eleito. Múcio tem agora a missão de estancar essa articulação de entrega antecipada dos cargos e melhorar a interlocução com os militares para abrir um processo de despolitização das Forças.
Aliados de Lula também avaliaram que ter 20 dias para montar equipes e começar a governar é pouco tempo. A partir dessa leitura, o petista considerou que seria bom começar a anunciar seu time, sobretudo em áreas estratégicas.
Havia grande cobrança do Congresso e do mercado pelo anúncio do ministro da Fazenda. Como já havia outros nomes certos, como o de Dino na Justiça e Mauro Vieira no Itamaraty, Lula decidiu revelar esses nomes em conjunto.
A presidente do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), disse nesta sexta que os nomes que já estavam certos foram antecipados para evitar maiores especulações.
O petista havia dito no último dia 2 que só anunciaria seus ministros após a diplomação, marcada para segunda-feira (12).
"Tenho 80% do ministério na cabeça, mas não quero construir um ministério para mim, quero construir para forças políticas que me ajudaram", afirmou ele, dias antes de mudar o plano.
No domingo (11), Lula deve reunir aliados para definir o organograma do novo governo. O petista deve anunciar outros ministros na próxima semana.
Múcio é visto com bons olhos tanto por bolsonaristas como por integrantes das Forças Armadas e aliados de Lula.
O general de Exército Julio César de Arruda, 63, foi definido por Lula e Múcio para o comando do Exército. O comando da Marinha ficará com o almirante de esquadra Marcos Sampaio Olsen, 63, atual comandante de Operações Navais —um dos principais cargos da Força.
Já o tenente-brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno vai comandar a FAB (Força Aérea Brasileira). Ele tem 63 anos e é o oficial-general mais antigo da Força.
Depois do anúncio, Lula disse que as Forças Armadas não foram feitas para fazer política; e Múcio falou em apaziguamento, harmonia, troca de comando "mais tradicional possível" e "invenção de ninguém".
Já Flávio Dino terá, entre as atribuições, a missão de tentar reestruturar a PRF.
Há uma preocupação entre petistas que o comando da polícia rodoviária faça operações de final de ano e tente tumultuar a posse de Lula. Para isso, a nomeação do futuro diretor da PRF também contribuiria para evitar tumultos na área, na leitura do novo governo.
O delegado Andrei Passos Rodrigues já foi escolhido como futuro diretor-geral da Polícia Federal. Lula afirmou que será necessário consertar a PF e que não quer "policiais dando shows nas investigações".
Dino também dito que um desafio do novo governo será estancar atos antidemocráticos. Ele também afirma que serão tratadas como crimes as manifestações golpistas de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que pedem um golpe militar contra a posse de Lula.
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