Igor Gielow
Folha de S.Paulo
Após uma primeira semana no poder acidentada, com declarações desastrosas de ministros importantes, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou por um freio de arrumação após os selvagens ataques bolsonaristas às sedes dos três Poderes no domingo (8).
Se até aqui a ideia de uma frente ampla para governar o Brasil era mais uma quimera retórica na campanha, que ganhou um corpo amorfo com o inchaço do ministério para 37 pastas, o vandalismo dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) tratou de materializá-la.
Ao descer a rampa do Planalto na segunda (9) com governadores, ministros e outras autoridades para visitar os escombros do plenário do Supremo Tribunal Federal, Lula mostrou mais uma vez ser imbatível em criar símbolos —antes, operara o mesmo na subida ao prédio para a passagem "popular" da faixa, cortesia da ausência de Bolsonaro.
A janela de oportunidade está dada. Até o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), um herdeiro presumido do voto bolsonarista, percebeu a tempo que ficaria feio não comparecer à reunião em Brasília. Fez mais: elogiou a sapiência do vice Geraldo Alckmin (PSB), cujo comando por quatro vezes do estado era vidraça para o atual mandatário na campanha.
Tudo isso tem um efeito benfazejo após a barbárie anunciada do domingo, mas Lula sabe que sua janela de oportunidade pode ser tão curta quanto única. O conservadorismo brasileiro saiu muito fortalecido da eleição de 2022, vide a composição do Congresso, e não deverá estender a trégua com o petismo por muito tempo.
Por certo, as franjas radicais demonstraram tanto capacidade de disrupção quanto estupidez em seus atos. Mas elas tendem a ser ostracizadas pelos direitistas "mainstream", que sabem o peso das imagens do domingo no imaginário popular.
E esse pessoal não quer dar carta branca a Lula. Neste exato momento, o fará, em nome da democracia sob ataque. É possível que o humor comece a mudar quando Arthur Lira (PP-AL) confirmar sua reeleição para o comando da Câmara, em fevereiro.
A duração da janela, claro, depende muito das prioridades de Lula. Se montar uma agenda legislativa consistente, que possa ser vendida como "para o bem do Brasil", aspas compulsórias, poderá manter apoio enquanto trabalha para desmontar a herança bolsonarista —enquanto não afetar muito o centrão clássico.
A primeira semana do governo, à parte das declarações desairosas, foi dedicada a revogaços. Houve queixas, como a acusação de revanchismo por parte do ex-vice e agora futuro senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), mas até aqui o jogo era apenas previsível.
Um nó a observar está na relação de Lula com as Forças Armadas, instituição tisnada pelos eventos de domingo. As queixas abertas do petista contra os generais que permitiram as concentrações golpistas à frente de seus QGs é mais do justificável.
A janela de oportunidade está dada. Até o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), um herdeiro presumido do voto bolsonarista, percebeu a tempo que ficaria feio não comparecer à reunião em Brasília. Fez mais: elogiou a sapiência do vice Geraldo Alckmin (PSB), cujo comando por quatro vezes do estado era vidraça para o atual mandatário na campanha.
Tudo isso tem um efeito benfazejo após a barbárie anunciada do domingo, mas Lula sabe que sua janela de oportunidade pode ser tão curta quanto única. O conservadorismo brasileiro saiu muito fortalecido da eleição de 2022, vide a composição do Congresso, e não deverá estender a trégua com o petismo por muito tempo.
Por certo, as franjas radicais demonstraram tanto capacidade de disrupção quanto estupidez em seus atos. Mas elas tendem a ser ostracizadas pelos direitistas "mainstream", que sabem o peso das imagens do domingo no imaginário popular.
E esse pessoal não quer dar carta branca a Lula. Neste exato momento, o fará, em nome da democracia sob ataque. É possível que o humor comece a mudar quando Arthur Lira (PP-AL) confirmar sua reeleição para o comando da Câmara, em fevereiro.
A duração da janela, claro, depende muito das prioridades de Lula. Se montar uma agenda legislativa consistente, que possa ser vendida como "para o bem do Brasil", aspas compulsórias, poderá manter apoio enquanto trabalha para desmontar a herança bolsonarista —enquanto não afetar muito o centrão clássico.
A primeira semana do governo, à parte das declarações desairosas, foi dedicada a revogaços. Houve queixas, como a acusação de revanchismo por parte do ex-vice e agora futuro senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), mas até aqui o jogo era apenas previsível.
Um nó a observar está na relação de Lula com as Forças Armadas, instituição tisnada pelos eventos de domingo. As queixas abertas do petista contra os generais que permitiram as concentrações golpistas à frente de seus QGs é mais do justificável.
Ela antecipará um acerto de contas do petismo com os fardados, após quatro anos de simbiose (nem sempre voluntária, é fato) dos militares com o bolsonarismo? A conta do tuíte de 2018 do comandante Eduardo Villas-Bôas, que pressionou o Supremo a não evitar a prisão de Lula, chegará?
A indicação inicial o petista era a de acomodação, como a indicação do moderado José Múcio à Defesa mostrou. O domingo virou tudo do avesso, e o ministro agora está na linha de tiro da ala esquerda da administração.
Como seria de se esperar, a crítica não está sendo pública ao responsável pelas forças que permitiram a depredação do Planalto, o general Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional). Há evidências de que as tropas lotadas no palácio agiram de forma displicente, com episódios de apoio ostensivo aos bárbaros.
Mas G. Dias, como é conhecido, é amigo de Lula, responsável por sua segurança nas suas primeiras passagens pelo governo. Até aqui, o presidente o blindou. Para complicar, ele é um general da reserva de três estrelas, nunca tendo chegado ao topo da hierarquia, o que faz com que os Altos-Comandos das Forças o olhem de cima para baixo.
Este é um exemplo mais agudo. Voltando ao Congresso, mudanças na legislação trabalhista dificilmente serão engolidas da forma com que o petismo mais ativista gostaria.
Nominalmente, Lula tem uma base de 282 deputados e 46 senadores. Robusta, mas insuficiente porque as dissidências são conhecidas e o apoio todo do União Brasil se equilibra por um fio.
No mais, parece cedo para decretar o enterro do bolsonarismo. É certo que a aliança entre Lula e Alexandre de Moraes se consolida de vez, com o maior empoderamento do ministro em sua cruzada contra os antidemocráticos, e a vida dos golpistas será dura.
A colocação de suas diligências acerca do Capitólio brasileiro sob sigilo sugere prisões polpudas à frente, bem além do simbolismo dos 1.500 detidos em Brasília. O clamor da ala dos "sem anistia", que só querem saber de ver Bolsonaro preso, seguirá intenso.
Mas o espírito dos radicais segue vivo, ainda que diminuído e desmoralizado. Mesmo uma eventual prisão de Bolsonaro, caso volte de sua fuga para a Flórida, teria um efeito galvanizador, como o movimento Lula Livre teve sobre o petismo. Para sorte ou azar do ex-presidente, e isso só o processo legal dirá, Moraes não é Sergio Moro.
A indicação inicial o petista era a de acomodação, como a indicação do moderado José Múcio à Defesa mostrou. O domingo virou tudo do avesso, e o ministro agora está na linha de tiro da ala esquerda da administração.
Como seria de se esperar, a crítica não está sendo pública ao responsável pelas forças que permitiram a depredação do Planalto, o general Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional). Há evidências de que as tropas lotadas no palácio agiram de forma displicente, com episódios de apoio ostensivo aos bárbaros.
Mas G. Dias, como é conhecido, é amigo de Lula, responsável por sua segurança nas suas primeiras passagens pelo governo. Até aqui, o presidente o blindou. Para complicar, ele é um general da reserva de três estrelas, nunca tendo chegado ao topo da hierarquia, o que faz com que os Altos-Comandos das Forças o olhem de cima para baixo.
Este é um exemplo mais agudo. Voltando ao Congresso, mudanças na legislação trabalhista dificilmente serão engolidas da forma com que o petismo mais ativista gostaria.
Nominalmente, Lula tem uma base de 282 deputados e 46 senadores. Robusta, mas insuficiente porque as dissidências são conhecidas e o apoio todo do União Brasil se equilibra por um fio.
No mais, parece cedo para decretar o enterro do bolsonarismo. É certo que a aliança entre Lula e Alexandre de Moraes se consolida de vez, com o maior empoderamento do ministro em sua cruzada contra os antidemocráticos, e a vida dos golpistas será dura.
A colocação de suas diligências acerca do Capitólio brasileiro sob sigilo sugere prisões polpudas à frente, bem além do simbolismo dos 1.500 detidos em Brasília. O clamor da ala dos "sem anistia", que só querem saber de ver Bolsonaro preso, seguirá intenso.
Mas o espírito dos radicais segue vivo, ainda que diminuído e desmoralizado. Mesmo uma eventual prisão de Bolsonaro, caso volte de sua fuga para a Flórida, teria um efeito galvanizador, como o movimento Lula Livre teve sobre o petismo. Para sorte ou azar do ex-presidente, e isso só o processo legal dirá, Moraes não é Sergio Moro.
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