15 de janeiro de 2019

Presença na posse de Maduro rejuvenesce o PT

Subordinados à política externa dos Estados Unidos, quem se distancia da esquerda são os setores da social-democracia

Breno Altman

Folha de S.Paulo

O ditador Nicolás Maduro fez nesta quinta (10) o juramento à Constituição venezuelana no Tribunal Supremo de Justiça, em Caracas. À esq., o presidente do TSJ, Maikel Moreno. Carlos García Rawlins/Reuters

A ida da senadora Glesi Hoffmann a Caracas, para a inauguração do novo mandato presidencial de Nicolás Maduro, provocou polêmicas. Essa viagem seria motivo para uma “insurreição dos progressistas” contra o Partido dos Trabalhadores, nas palavras de Mathias Alencastro, em artigo publicado dia 12 de janeiro pela Folha de S.Paulo.

Para o autor, a posição adotada representaria “ponto de ruptura” com “todos os princípios que nortearam a história do partido”. Decepcionado com o PT, Alencastro reclama que a dirigente petista agravou “o distanciamento com a social-democracia europeia, unânime em sua condenação do regime de Nicolás Maduro”.

Sua crítica, porém, parte de um grave equívoco. O PT, fundado em 1980, embora crítico do modelo soviético, tem suas raízes fincadas na esquerda latino-americana, na luta democrática e anti-imperialista, na solidariedade às revoluções cubana e nicaraguense, na defesa da autodeterminação dos povos.

Jamais aceitou se inscrever no campo geopolítico liderado pelos Estados Unidos, ao contrário da maioria dos partidos sociais-democratas europeus.

“Ponto de ruptura”, portanto, seria a omissão diante do cerco a que está submetido o Estado venezuelano, sob a batuta da Casa Branca e com a cumplicidade tanto da direita continental quanto da União Europeia.

Para além das sanções econômicas, que apenas agravam os problemas da população, o rechaço a um presidente eleito e o reconhecimento da Assembleia Nacional como “governo interino” são passos de uma estratégia cujo desfecho potencial é a intervenção militar estrangeira. Possivelmente disfarçada, como de hábito, em “missão de paz” sob a bandeira da OEA.

Ao se fazer presente em Caracas, Gleisi Hoffmann reforça os fundamentos originais do petismo e denuncia a ameaça principal que paira sobre os povos do continente: a sanha dos grandes grupos capitalistas pelas riquezas naturais da região, representados pelos governos de seus países, dispostos a destroçar qualquer ordem constitucional e atropelar o direito internacional na defesa de escancarados interesses econômicos.

Subordinados à política externa dos Estados Unidos, quem se distancia da esquerda são os setores da social-democracia que abandonaram bandeiras transcendentais como o respeito à soberania das nações e a denúncia à agressão externa como instrumento de poder.

Esses mesmos setores, aliás, abraçados às ideias neoliberais e transformados em correias de transmissão das maiores corporações financeiras, atualmente fazem parte da liquefação do Estado de bem-estar social e caminham para a completa desmoralização política, a exemplo do governo Macron, abrindo espaço para a extrema direita.

Alencastro, a partir de seu eurocentrismo, enxerga renovação em uma via na qual se entulham velharia, desonra e comodismo.

Trata-se exatamente do contrário: a postura valente do PT em relação a Venezuela é que ajuda o rejuvenescimento do partido, incorporando-o cada vez mais à resistência contra a onda conservadora e neocolonial que ameaça o planeta.

Sobre o autor
Breno Altman é jornalista e fundador do site Opera Mundi

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