Constant Méheut
The New York Times
The New York Times
Tradução / Espalhando-se por uma rodovia para impossibilitar a passagem de carros, cerca de cem manifestantes bateram panelas em uma barulheira ensurdecedora que ecoou por um vale remoto do leste da França no mês passado. De olho em uma viagem presidencial, os franceses estavam marchando em direção a um castelo na pequena comunidade de La Cluse-et-Mijoux, onde o presidente Emmanuel Macron deveria chegar, determinados a criar uma cacofonia em torno da visita.
Os manifestantes acompanharam a chegada de Macron acontecer no alto de um helicóptero, cujo ruído das hélices silenciou o panelaço por um instante. No entanto, a cena exemplificou a fúria que tem sido direcionada ao governo do francês desde a adoção de uma reforma da Previdência altamente repudiada pela população. A nova lei eleva a idade mínima legal da aposentadoria de 62 para 64 anos.
Manifestantes que se opõem à reforma vêm criticando Macron e membros de seu gabinete há semanas, batendo panelas e frigideiras em suas viagens oficiais. Em um país onde não faltam utensílios de cozinha, os panelaços —conhecidos em francês como "casserolades"— já atrapalharam ou até interromperam dezenas de visitas de ministros a escolas e fábricas.
Os manifestantes acompanharam a chegada de Macron acontecer no alto de um helicóptero, cujo ruído das hélices silenciou o panelaço por um instante. No entanto, a cena exemplificou a fúria que tem sido direcionada ao governo do francês desde a adoção de uma reforma da Previdência altamente repudiada pela população. A nova lei eleva a idade mínima legal da aposentadoria de 62 para 64 anos.
Manifestantes que se opõem à reforma vêm criticando Macron e membros de seu gabinete há semanas, batendo panelas e frigideiras em suas viagens oficiais. Em um país onde não faltam utensílios de cozinha, os panelaços —conhecidos em francês como "casserolades"— já atrapalharam ou até interromperam dezenas de visitas de ministros a escolas e fábricas.
A bateção vem se convertendo em símbolo de uma insatisfação mais ampla, após meses de grandes atos de rua não terem conseguido fazer o governo recuar em relação à reforma das aposentadorias.
"O desejo de ensurdecer e de reagir com barulho reflete um descrédito do discurso político", disse em entrevista o ensaísta francês Christian Salmon, colunista da publicação online Slate. "Depois de semanas de protestos, não estamos sendo ouvidos. Então agora só nos resta uma opção: não ouvir vocês."
A decisão de Macron de elevar a idade mínima para aposentadoria se baseia em sua convicção de que o sistema de aposentadoria atual, baseado em impostos sobre a folha de pagamento, é financeiramente insustentável. A argumentação do presidente é a de que as pessoas também precisam trabalhar por mais tempo, já que aposentados sustentados por trabalhadores ativos estão tendo vida mais longa.
A lei das aposentadorias foi aprovada usando um dispositivo constitucional que evitou a necessidade de uma votação parlamentar plena. Em entrevista transmitida pela TV, Macron defendeu a iniciativa como uma atitude de responsabilidade, destacando que decisões governamentais consideradas chave no passado, como a construção da força nuclear francesa, utilizaram o mesmo mecanismo.
Os panelaços começaram há um mês durante um discurso televisionado em que Macron queria deixar a revolta sobre as aposentadorias para trás para iniciar um novo momento. Determinados a levar sua luta adiante, manifestantes se reuniram diante de sedes de prefeituras em todo o país para bater panelas. Em Paris, muitos fizeram barulho nas janelas de seus apartamentos, enchendo bairros de sons metálicos.
O grito de batalha se alastrou rapidamente. Não demorou para membros do governo em viagens oficiais no país serem saudados por uma cacofonia de utensílios de cozinha. Várias pessoas envolvidas nas semanas de protestos disseram que a mensagem principal foi de revolta com a decisão do governo de impor a reforma das aposentadorias sem o apoio da maioria dos eleitores ou dos sindicatos.
"É uma negação total da democracia", disse Stéphanie Allume, 55, enquanto batia numa panela de aço inoxidável durante uma manifestação em 1º de maio em Paris. "Quando já não é possível dialogar com nosso governo, afogamos a voz dele com o barulho de nossas caçarolas."
Os panelaços representam a etapa mais recente de um movimento de protesto que começou com passeatas pacíficas que atraíram milhões de franceses para as ruas e depois deu lugar a "protestos selvagens" marcados por vandalismo grave. Eles refletem uma tradição secular de protestos na França.
De acordo com Emmanuel Fureix, historiador da Universidade de Paris-Est Créteil, a bateção de panelas data da Idade Média, quando era um costume chamado "charivari", praticado para humilhar casais vistos como não convencionais. Nos anos 1830, a tradição ganhou viés político quando pessoas começaram a bater panelas à noite sob as janelas das casas de juízes e políticos para exigir liberdades maiores.
Segundo Fureix, as panelas eram "um instrumento que encarnava a voz do povo" em uma época de representação política insuficiente. "A retomada de gestos que pertenciam a uma era não democrática, o século 19, é precisamente o sintoma de uma crise democrática", comentou.
Macron tem ficado visivelmente irritado com os panelaços, dizendo que "não são panelas que farão a França avançar". Fabricante francesa de panelas, a marca Cristel ironizou a declaração e respondeu no Twitter: "Senhor presidente, nós na Cristel France produzimos panelas que levam a França para a frente!".
O líder francês também rejeita fortemente a ideia de que o país tenha chegado a uma crise democrática, destacando que a lei das aposentadorias foi adotada em conformidade com a Constituição. Macron tenta deixar a discussão da reforma controversa para trás, anunciando cortes de € 2 bilhões nos impostos sobre a classe média até o final de seu mandato. "O país está avançando", disse.
A resposta do governo aos panelaços revela o mal-estar criado com as manifestações, enquanto os sindicatos convocaram para o início de junho outro dia de protestos em todo país.
Como medida para evitarem ser surpreendidos por batedores de panelas, muitos ministros passaram a deixar para revelar a agenda de viagens na última hora. Já a polícia vem recorrendo às leis contra o terrorismo para proibir vários protestos. Em uma ocasião, depois de autoridades locais proibirem "o uso de aparelhos sonoros portáteis", manifestantes tiveram as panelas confiscadas.
Para Fureix, o governo está encurralado pelos panelaços, exatamente como aconteceu com o rei Luís Filipe 1º em seu tempo. "Se ele reprimir os panelaços, fica com cara de idiota. É o caso hoje, assim como foi no século 19, quando os julgamentos foram convertidos em plataformas políticas para seus adversários. Se ele não fizer nada, o fenômeno vai crescer."
"O desejo de ensurdecer e de reagir com barulho reflete um descrédito do discurso político", disse em entrevista o ensaísta francês Christian Salmon, colunista da publicação online Slate. "Depois de semanas de protestos, não estamos sendo ouvidos. Então agora só nos resta uma opção: não ouvir vocês."
A decisão de Macron de elevar a idade mínima para aposentadoria se baseia em sua convicção de que o sistema de aposentadoria atual, baseado em impostos sobre a folha de pagamento, é financeiramente insustentável. A argumentação do presidente é a de que as pessoas também precisam trabalhar por mais tempo, já que aposentados sustentados por trabalhadores ativos estão tendo vida mais longa.
A lei das aposentadorias foi aprovada usando um dispositivo constitucional que evitou a necessidade de uma votação parlamentar plena. Em entrevista transmitida pela TV, Macron defendeu a iniciativa como uma atitude de responsabilidade, destacando que decisões governamentais consideradas chave no passado, como a construção da força nuclear francesa, utilizaram o mesmo mecanismo.
Os panelaços começaram há um mês durante um discurso televisionado em que Macron queria deixar a revolta sobre as aposentadorias para trás para iniciar um novo momento. Determinados a levar sua luta adiante, manifestantes se reuniram diante de sedes de prefeituras em todo o país para bater panelas. Em Paris, muitos fizeram barulho nas janelas de seus apartamentos, enchendo bairros de sons metálicos.
O grito de batalha se alastrou rapidamente. Não demorou para membros do governo em viagens oficiais no país serem saudados por uma cacofonia de utensílios de cozinha. Várias pessoas envolvidas nas semanas de protestos disseram que a mensagem principal foi de revolta com a decisão do governo de impor a reforma das aposentadorias sem o apoio da maioria dos eleitores ou dos sindicatos.
"É uma negação total da democracia", disse Stéphanie Allume, 55, enquanto batia numa panela de aço inoxidável durante uma manifestação em 1º de maio em Paris. "Quando já não é possível dialogar com nosso governo, afogamos a voz dele com o barulho de nossas caçarolas."
Os panelaços representam a etapa mais recente de um movimento de protesto que começou com passeatas pacíficas que atraíram milhões de franceses para as ruas e depois deu lugar a "protestos selvagens" marcados por vandalismo grave. Eles refletem uma tradição secular de protestos na França.
De acordo com Emmanuel Fureix, historiador da Universidade de Paris-Est Créteil, a bateção de panelas data da Idade Média, quando era um costume chamado "charivari", praticado para humilhar casais vistos como não convencionais. Nos anos 1830, a tradição ganhou viés político quando pessoas começaram a bater panelas à noite sob as janelas das casas de juízes e políticos para exigir liberdades maiores.
Segundo Fureix, as panelas eram "um instrumento que encarnava a voz do povo" em uma época de representação política insuficiente. "A retomada de gestos que pertenciam a uma era não democrática, o século 19, é precisamente o sintoma de uma crise democrática", comentou.
Macron tem ficado visivelmente irritado com os panelaços, dizendo que "não são panelas que farão a França avançar". Fabricante francesa de panelas, a marca Cristel ironizou a declaração e respondeu no Twitter: "Senhor presidente, nós na Cristel France produzimos panelas que levam a França para a frente!".
O líder francês também rejeita fortemente a ideia de que o país tenha chegado a uma crise democrática, destacando que a lei das aposentadorias foi adotada em conformidade com a Constituição. Macron tenta deixar a discussão da reforma controversa para trás, anunciando cortes de € 2 bilhões nos impostos sobre a classe média até o final de seu mandato. "O país está avançando", disse.
A resposta do governo aos panelaços revela o mal-estar criado com as manifestações, enquanto os sindicatos convocaram para o início de junho outro dia de protestos em todo país.
Como medida para evitarem ser surpreendidos por batedores de panelas, muitos ministros passaram a deixar para revelar a agenda de viagens na última hora. Já a polícia vem recorrendo às leis contra o terrorismo para proibir vários protestos. Em uma ocasião, depois de autoridades locais proibirem "o uso de aparelhos sonoros portáteis", manifestantes tiveram as panelas confiscadas.
Para Fureix, o governo está encurralado pelos panelaços, exatamente como aconteceu com o rei Luís Filipe 1º em seu tempo. "Se ele reprimir os panelaços, fica com cara de idiota. É o caso hoje, assim como foi no século 19, quando os julgamentos foram convertidos em plataformas políticas para seus adversários. Se ele não fizer nada, o fenômeno vai crescer."
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