4 de setembro de 2024

Netanyahu está bloqueando um acordo de reféns

Quem é o culpado pelo fracasso em trazer os reféns israelenses para casa em segurança? Autoridades israelenses vêm nos dizendo há meses que é Benjamin Netanyahu.

Branko Marcetic


Benjamin Netanyahu falando durante uma entrevista coletiva em Jerusalém em 2 de setembro de 2024. (Ohad Zwigenberg / AFP via Getty Images)

Tradução / Com seis reféns israelenses mortos, um deles cidadão americano, e protestos massivos contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu acontecendo no país, um jogo de apontar culpados publicamente se estabeleceu. Questionado na segunda-feira se Netanyahu estava fazendo o suficiente para garantir a libertação dos reféns ainda mantidos pelo Hamas, o presidente Joe Biden respondeu secamente: “Não”.

Um Netanyahu ferido revidou com sua própria declaração pública, lendo afirmações recentes de autoridades americanas que elogiaram Israel por trabalhar construtivamente no sentido de um acordo e colocar unicamente sobre o Hamas a responsabilidade de aceitar seus termos, insistindo que a organização palestina era o verdadeiro obstáculo para um cessar-fogo e um acordo de libertação dos reféns. Em quem devemos acreditar?

Uma resposta é ouvir fontes do alto escalão do governo ou envolvidas nas negociações dos países mediadores como Egito, Estados Unidos e até mesmo Israel. Por meses, essas vozes têm dito constantemente à mídia — frequentemente veículos de notícias israelenses e jornais americanos bem estabelecidos e extremamente amigáveis ​​a Israel — que o principal obstáculo para um acordo de cessar-fogo é o próprio Netanyahu, e que ele tem continuamente inserido bloqueios e envenenado o processo para sabotar as negociações como uma forma de permanecer no poder.

"Faça tudo para impedir um acordo"

Isso inclui os últimos dias, depois que a descoberta dos corpos dos seis reféns israelenses no último sábado alimentou a raiva israelense pelo fracasso de Netanyahu em trazê-los de volta para casa.

Enquanto autoridades dos países mediadores mais uma vez ligavam para tentar finalmente garantir um acordo, a CNN relatou que “uma fonte familiarizada com as discussões” disse ao canal que Netanyahu “minou tudo em um discurso”, no qual reiterou sua exigência de que Israel ocupe permanentemente o Corredor Filadélfia, uma estreita faixa de terra ao longo da fronteira entre Gaza e Egito, uma exigência que se tornou o principal ponto de discórdia nas negociações ao longo do último mês e meio.

Estranhamente, a citação foi manchete em grandes veículos de comunicação israelenses como o Times of Israel, Haaretz e Yedioth Ahronoth (mais conhecido pelo apelido Ynet em sua edição online), mas foi abafada no vigésimo quarto parágrafo da reportagem original da CNN de onde veio.

No mesmo dia, o Ynet publicou sua própria reportagem sobre as mudanças que Netanyahu fez pessoalmente em uma proposta anterior de cessar-fogo que, como ele mesmo destacou, havia “recebido com concordância pelo Hamas na maioria das condições”. A nova proposta de Netanyahu, que havia sido apresentada aos mediadores em 27 de julho, fez “mudanças e adições drásticas” que “mudaram completamente o quadro das negociações”, afirmou o jornal.

Isso foi baseado em uma reportagem à parte do jornal de dois dias antes, que apresentou este veredito condenatório sobre a proposta alterada dado por alguém que o Ynet descreveu como “um alto funcionário da defesa que foi citado aqui muitas vezes e que estava tão triste e tragicamente certo em todas as suas previsões”:

Um dia, a história julgará este documento com muita severidade... No topo do documento, está escrito que é um “documento de esclarecimento”, mas, na minha opinião, o apelido mais apropriado para ele é “documento sangrento” — porque suas páginas estão manchadas com o sangue dos seis reféns que foram assassinados em um túnel em Rafah. Se não fosse pela sabotagem deliberada contida no documento para impedir um acordo, há uma boa chance de que eles já tivessem sido libertados há um mês e estivessem aqui conosco, vivos.

A fonte continuou chamando o documento de “uma tentativa de [Netanyahu] de minar o momento positivo nas negociações”, e que ele foi “criado especificamente para impedir” um acordo de libertação de reféns — uma acusação, afirmou o jornal, que foi “significativamente reforçada em conversas com outras autoridades relacionadas às negociações” e por outros documentos de negociação.

Com base nessas fontes, o Ynet caracterizou a demanda de Netanyahu no Corredor Filadélfia como a origem do atual impasse de negociação, e relatou que os negociadores israelenses estão extremamente descontentes com o documento, “que na opinião deles destrói qualquer chance de chegar a um acordo”.

Dias antes, quando os corpos dos reféns foram descobertos, o que parece ser o mesmo oficial do alto escalão da defesa israelense (com base na descrição idêntica usada pelo jornal) disse à Ynet que Netanyahu e outros estavam deliberadamente negociando de uma forma a garantir que a guerra não acabasse de fato. Embora o Hamas fosse obviamente o maior culpado direto pelas mortes dos reféns, o oficial disse ao jornal, na verdade 

o que leva à morte de muitos reféns... [é] a recusa israelense na prática, não há outra maneira de dizer isso, de assinar um acordo de libertação dos sequestrados que fará com que todos os sobreviventes retornem para casa e acabe a guerra em Gaza.

Todo o establishment militar e da defesa israelense não teve problemas em se retirar do Corredor Filadélfia, disse a fonte ao jornal. Em vez disso, ela afirmou, o acordo estava completamente nas mãos de Netanyahu, mas ele “fará de tudo para impedir sua efetivação”.

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu (E) e o chefe do Estado-Maior das FDI, Herzi Halevi (D) em Jerusalém em 20 de julho de 2024. (Gabinete do Primeiro-Ministro Israelense / Divulgação / Anadolu via Getty Images)

Antes disso, houve duas reportagens diferentes sobre uma reunião do gabinete de defesa israelense em 29 de agosto. Um do Times of Israel, e outro no Axios, de autoria do bem informado jornalista israelense Barak Ravid. Ambas ofereceram um relato surpreendentemente detalhado da reunião que contou a mesma história: de uma discussão acalorada entre Netanyahu e seu ministro da defesa, Yoav Gallant, que acusou o mandatário israelense de forçar a demanda pelo Corredor Filadélfia a um exército que não achava necessário, e que Israel teve que escolher entre se manter ali ou obter os reféns de volta — apenas para ser isolado e derrotado na votação graças a Netanyahu.

A reportagem do Times of Israel foi particularmente condenatória. Por exemplo, quando Gallant perguntou diretamente a Netanyahu o que ele diria se o Hamas lhe desse um ultimato de que ele poderia ficar no Corredor Filadélfia ou trazer os reféns de volta, o texto declarou: “Netanyahu respondeu que o imperativo de manter as [Forças de Defesa de Israel] no corredor era de importância crucial para o Estado.” Em outras palavras, como dizia a manchete do jornal, Netanyahu deixou explícito que ele “prioriza o Corredor Filadélfia ao invés dos reféns.”

Pessoas atentas que lerem ambos as reportagens não encontrarão o gabinete israelense sequer mencionando o Hamas, nem listando qualquer obstáculo que eles tenham posto no sentido de um acordo — apenas uma discussão sobre se Israel deve aceitar o acordo e trazer seu povo de volta, ou pressionar por mais concessões do grupo terrorista, com a última visão vencendo.

Simplesmente não há outra conclusão que alguém possa tirar da leitura das palavras de oficiais de alto escalão contidas nessas recentes reportagens, a não ser a de que Netanyahu poderia fechar um acordo trazendo os reféns de volta a qualquer momento que quisesse, mas está fazendo tudo o que pode para evita-lo. Mas muito disso não foi relatado na mídia dos EUA, e poucos estadunidenses acompanham a imprensa israelense.

"Faça tudo para impedir um acordo porque Netanyahu não quer paz"

Seria errado pensar que esses desdobramentos são recentes. Podemos voltar e ver alegações quase idênticas de fontes de alto escalão em passagens quase idênticas de reportagens que remontam a muitos meses.

Tomemos como exemplo os trabalhos desta “fonte ex-integrante do alto escalão da inteligência” que integra a equipe de um dos negociadores israelenses, conforme citado em uma reportagem do Haaretz de 28 de março:

Há sinais crescentes de que [Netanyahu] está fazendo quase todo o possível para adiar, atrasar e arruinar a chance de um acordo para libertar os reféns em troca de terroristas.

O relatório continuou revelando várias ações que Netanyahu havia tomado para minar as negociações — incluindo evitar ou atrasar a convocação do gabinete de guerra, várias declarações públicas destinadas a contaminar discussões produtivas e impedir negociadores de participar das tratativas — e que a posição de Netanyahu estava em desacordo com os chefes militares de Israel.

Aqui está o que o New York Times relatou em 5 de maio sobre o que seu repórter havia ouvido de uma autoridade israelense que pediu anonimato em relação à insistência absurda de Netanyahu de que, como parte de qualquer acordo de cessar-fogo, Israel teria o direito de retomar os disparos após um breve intervalo, algo que o jornal então chamou de “o principal obstáculo nas negociações”:

que Israel e o Hamas estavam mais próximos de um acordo há alguns dias, mas que as declarações do Sr. Netanyahu sobre Rafah obrigaram o Hamas a endurecer suas exigências em uma tentativa de garantir que as forças israelenses não entrem na cidade.

Aqui está o ex-negociador israelense Gershon Baskin um dia depois, quando Netanyahu ordenou a invasão de Rafah, que o mundo inteiro alertou corretamente que seria um desastre:

Parece que Netanyahu pode estar tentando sabotar o acordo antes mesmo que o gabinete tenha os detalhes e faça uma votação sobre ele. A operação militar israelense acontecendo agora (quase 23:00, horário de Israel) visa claramente pressionar o Hamas a retirar seu acordo de cessar-fogo. Netanyahu, ao que parece, está mais uma vez colocando seus próprios interesses políticos à frente do país e dos reféns israelenses.

Veja o que o próprio Biden disse em 4 de junho — não em uma conversa privada que foi vazada posteriormente, mas em uma entrevista sobre alta política externa para a revista Time — quando perguntado se Netanyahu estava prolongando a guerra por seus próprios motivos políticos: “Há muitos motivos para as pessoas chegarem a essa conclusão”.

Ou veja o que várias autoridades disseram sobre a emissão de quatro exigências “inegociáveis” por Netanyahu em 7 de julho, que incluíam a recusa de devolver aqueles que Israel mesmo mantinha prisioneiros (uma disposição que fazia parte de versões anteriores do acordo) e uma cláusula que permitiria que Israel “retornasse à luta até que seus objetivos de guerra fossem alcançados”.

Essas exigências surgiram no momento em que as negociações estavam prestes a recomeçar, e logo após o Hamas fazer uma grande concessão: que concordaria com um acordo sem um compromisso israelense inicial de um “cessar-fogo completo e permanente” na primeira fase de libertação de reféns — algo que até mesmo o governo Biden chamou de “ajuste significativo” por parte do grupo.

Aqui está, por exemplo, o que o Times of Israel relatou:

Um alto funcionário de um dos países que faz a mediação entre Israel e o Hamas também acusou Netanyahu de tentar sabotar o acordo... [e disse] que a exigência inegociável de retomar os combates após o primeiro estágio do acordo de cessar-fogo e libertação de reféns divulgado pelo gabinete de Netanyahu atingiu o aspecto mais sensível das negociações em andamento.

Aqui está o que o Haaretz relatou:

Outra fonte alertou que as novas exigências de Israel devem atrasar a conclusão das negociações e que não estava claro se o Hamas aceitaria essas novas condições. 
"O Hamas já concordou com a última posição apresentada por Israel. Mas na reunião de sexta-feira, Israel apresentou alguns novos pontos que exige que o Hamas aceite", disse uma fonte familiarizada com os detalhes.

Aqui está como uma “fonte da defesa” descreveu a mudança de Netanyahu para o Ynet:

Conduta inapropriada que prejudicará a chance de retorno dos sequestrados para casa. Há também uma questão de timing aqui... Se essa for a conduta, os reféns não retornarão.

Um oficial da defesa israelense não identificado disse ao Canal 12 de Israel: “Netanyahu finge que quer um acordo, mas está trabalhando para miná-lo”.

Ou veja as várias respostas à declaração de Netanyahu em 11 de julho, naquele ponto introduzido pela primeira vez no curso das negociações, de que Israel deve ocupar permanentemente o Corredor Filadélfia em qualquer acordo final, caracterizado por vários relatórios israelenses como Netanyahu “acirrando” ou “endurecendo” a posição de Israel nas negociações. Isto, por exemplo, é o que uma fonte próxima às negociações disse ao Canal 12:

Esta é uma demanda que impedirá um acordo. No melhor dos casos, é um obstáculo que tornará a continuação [das negociações] mais difícil, e no pior, visa frear as negociações e eliminar a capacidade de se chegar a um acordo... O primeiro-ministro Netanyahu acrescentou demandas que divergem dos acordos com os mediadores.

Foi o que um “ex-oficial egípcio com informações das negociações” disse ao Washington Post sobre isso: “Netanyahu não quer paz. Isso é tudo. Ele encontrará desculpas… para prolongar esta guerra até 5 de novembro [a data da eleição dos EUA].”

É o que a Reuters relatou com base no que “duas fontes da defesa egípcia” disseram à agência:

Segundo as fontes, a delegação israelense aprovaria diversas condições em discussão, mas depois voltaria com emendas ou introduziria novas condições que arriscariam afundar as negociações.

Elas disseram que os mediadores viram as “contradições, atrasos nas respostas e a introdução de novos termos contrários ao que foi previamente acordado” como sinais de que o lado israelense via as negociações como uma formalidade destinada a influenciar a opinião pública.

Até mesmo o jornal de direita Jerusalem Post concordou, relatando que fontes não identificadas disseram ao jornal que “Netanyahu está sabotando ativamente a possibilidade de qualquer acordo de libertação dos reféns, a fim de evitar o colapso de seu governo”, ao introduzir a demanda do Corredor Filadélfia na última hora.

Essas fontes também “ridicularizaram” as novas exigências “como irrelevantes de uma perspectiva da defesa”, especularam que o primeiro-ministro estava “muito confiante de que [Donald] Trump será eleito novamente e sente menos pressão” para cumprir as exigências de Biden e acreditavam que “a enorme concessão do Hamas poderia ter levado à ratificação do acordo esta semana ou na semana que vem, e uma parte dos reféns já teria retornado para suas casas”.

Isto foi apoiado por uma reportagem posterior, de 28 de julho, no New York Times, onde foi relatado por seis autoridades israelenses que Netanyahu

foi a principal razão para a posição endurecida de Israel nas negociações de Roma, e que altos funcionários da defesa estão pressionando o primeiro-ministro a mostrar maior flexibilidade para garantir um acordo. A margem de manobra do Sr. Netanyahu é limitada pelos membros de seu governo de coalizão de direita; alguns deles se opõem a uma trégua que permitiria ao Hamas sobreviver à guerra intacto e ameaçaram derrubar o governo se seus desejos não fossem atendidos.

"Os obstáculos vêm de Netanyahu"

Dias depois, houve provavelmente a demonstração mais clara da falta de seriedade de Netanyahu em relação às negociações, quando ele assassinou o negociador do outro lado da mesa: o oficial mais moderado do Hamas, Ismail Haniyeh. O movimento imprudente e totalmente ilegal foi amplamente denunciado, inclusive por autoridades de países envolvidos nas negociações. Isso incluiu o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim al-Thani, que perguntou: “Como a mediação pode ter sucesso quando uma parte assassina o negociador do outro lado?”

Assim como o Ministério das Relações Exteriores egípcio, que em um comunicado acusou que:

A coincidência dessa escalada regional com a falta de progresso nas negociações de cessar-fogo em Gaza aumenta a complexidade da situação e indica a ausência de vontade política israelense para acalmá-la.

E até o próprio Biden. De acordo com um funcionário dos EUA que falou com a Axios, o presidente dos EUA reclamou com Netanyahu que ele levou a cabo o assassinato depois que eles tinham falado apenas uma semana antes sobre garantir um acordo, e disse:

Estamos em um ponto de inflexão... precisamos fazer de tudo para acabar com a guerra e alcançar a estabilidade regional, mesmo que o acordo não seja perfeito. O Hamas quer o acordo agora mesmo. Ele pode mudar.

Não é de se espantar que “três oficiais de países mediadores” tenham dito ao Times of Israel no início de agosto que a equipe de negociação israelense havia perdido credibilidade. Como um dos oficiais, um diplomata, disse ao jornal:

Está claro que tudo isso são táticas de adiamento; toda vez que chegamos perto de um acordo, mais ataques acontecem. Haniyeh era alguém que queria um acordo. Agora mesmo, os obstáculos vêm de Netanyahu.

O mesmo diplomata disse que “os negociadores israelenses diziam uma coisa aos mediadores na sala e então Netanyahu dizia o oposto em público”, atrasando as negociações, enquanto outro dos oficiais alegou que os negociadores israelenses repetidamente asseguravam aos mediadores quais condições o governo israelense estava preparado para aceitar, apenas para fazê-los voltar atrás depois de falar com Netanyahu. Outro ainda revelou que Netanyahu havia rejeitado uma oferta do Hamas para libertar todos os reféns civis em troca de uma pausa de uma semana nos combates feita dias depois de 7 de outubro.

Palestinos evacuando após um ataque aéreo israelense à mesquita Sousi na Cidade de Gaza em 9 de outubro de 2023. (Foto de Mahmud Hams /AFP via Getty Images)

Como resultado desse comportamento, o Canal 12 relatou que Netanyahu entrou aos berros em uma discussão com seus próprios chefes de segurança, que questionaram se ele realmente queria fazer um acordo e o instaram a aceitar o que estava na mesa, apenas para o primeiro-ministro israelense chamá-los de “fracos” e dizer para pressionarem o Hamas em vez dele. Isso levou os chefes de segurança a concluir que Netanyahu não queria um acordo, segundo o Canal 12, com uma fonte não identificada dizendo ao canal: “Ele desistiu dos reféns”.

Relatos como esses continuaram ao longo do final de agosto sobre a demanda de Netanyahu sobre o Corredor Filadélfia, levando à descoberta dos reféns executados no último sábado.

Um relatório do Haaretz de 20 de agosto, por exemplo, citou duas fontes que disseram que Netanyahu estava “mais uma vez sabotando as negociações” e “consistentemente minando as negociações e atrasando um acordo”, até mesmo rejeitando propostas do establishment da defesa israelense sobre como se retirar do Corredor Filadélfia. Um alto funcionário dos EUA viajando com o Secretário de Estado Antony Blinken então reclamou “que declarações maximalistas como essa não são construtivas para se alcançar a conclusão de um acordo de cessar-fogo e certamente arriscam a capacidade” de avançar com as negociações. Na semana passada, em 28 de agosto, “uma fonte envolvida no acordo” disse ao Haaretz que “a menos que haja alguma flexibilidade nessas questões” — incluindo a insistência de Netanyahu em uma presença israelense contínua no Corredor Filadélfia — “é duvidoso que seremos capazes de garantir a libertação dos reféns”.

Isso tudo até ontem, quando o Washington Post relatou que nove autoridades atuais e antigas de países mediadores concordaram que a demanda de Netanyahu pelo Corredor era o principal obstáculo para um acordo de libertação dos reféns, com uma autoridade israelense “desabafando” com o jornal:

Poderíamos tê-los salvado. O Hamas cometeu o crime e deve ser responsabilizado, mas meu governo tinha a responsabilidade de fazer o que fosse preciso para salvá-los, e falhou com eles e suas famílias. Devemos a eles um pedido de desculpas.

Assassinato absurdo

Não são apenas uma, ou duas, ou mesmo três reportagens. São mais de duas dúzias delas nos últimos seis meses, em uma variedade de veículos de comunicação israelenses e estadunidenses, todos dizendo a mesma coisa: que Netanyahu é o principal obstáculo para um acordo de cessar-fogo, tendo sabotado sistematicamente qualquer perspectiva de paz e se importando muito mais em manter sua coalizão governamental unida — e, portanto, se apegar ao poder político — do que em levar os reféns de volta para casa, confiante de que pode simplesmente aguentar até os democratas perderem para Trump em novembro.

É difícil dizer o que é mais absurdo: que ainda haja alguma dúvida sobre o motivo pelo qual um acordo de cessar-fogo em Gaza, com o qual o governo Biden está supostamente desesperado, não pode ser efetivado, ou que o governo Biden continue a apoiar e armar voluntariamente o homem que todos os envolvidos sabem ser seu principal sabotador.

Colaborador

Branko Marcetic é escritor da redação da Jacobin e mora em Toronto, Canada.

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