27 de maio de 2007

Meus dias como crítico de jazz

Eric J. Hobsbawm
Vol. 32 No. 10 · 27 May 2010

Tradução / Devo meus anos como jornalista de jazz à peça Look Back in Anger, de John Osborne, que obrigou o establishment cultu­ral britânico de meados dos anos 1950 a registrar a existên­cia daquela forma musical tão evidentemente querida dos novos e talentosos Angry Young Men. Quando, ao precisar de dinheiro, eu vi que Kingsley Amis escrevia no The Observer sobre um assunto do qual ele obviamente entendia não mais, e talvez menos, do que eu, liguei para um amigo que trabalhava no New Statesman. Ele agendou um encontro com o editor, Kingsley Martin, então no apogeu de sua glória, que disse “Por que não?”, explicou que concebera seu leitor padrão como um funcionário público de 45 anos, e me encaminhou para a comandante da segunda metade (cultural) da revista, a formidável Janet Adam Smith. Seus interesses iam de mon­tanhismo a poesia, mas não incluíam jazz. Assinando como Francis Newton (tomando emprestado o nome de um trom­petista de jazz comunista que tocou na versão de Billie Holiday para “Strange Fruit”), eu escrevi para o New Statesman mais ou menos uma coluna por mês, por aproximadamente dez anos.

Eram bons tempos para escrever sobre jazz. Não ape­nas a coluna me dava algum alívio das convulsões pessoais e políticas do ano de 1956, aquele ano de crise comunista, como era a primeira vez desde 1935 que os músicos de jazz americanos podiam ser ouvidos ao vivo na Inglaterra. Até aquele momento, o típico fã de jazz britânico, bem infor­mado pela Melody Maker e por minúsculos jornais de debate, sobrevivera essencialmente numa dieta à base de discos de 78 rpm, apaixonadamente analisados por jovens do andar de cima dos “clubes de ritmo” dos anos 1930. Um surpreendente número desses discos fora produzido nos EUA para o mercado britânico, mas os aficionados barra-pesada, especialmente o pequeno porém pioneiro grupo de entusiastas de blues, também haviam criado suas próprias redes de importação de discos americanos. Eu ficara nas franjas dessa comunidade de experts desde o início dos anos 1930, graças a meu primo Denis Preston, que mais tarde se tornaria uma figura inovadora na área da produção musi­cal; mas, até o exemplo de Kingsley Amis ter me dado coragem, eu sofria de uma admiração paralisante que me impedia de entrar em seus debates. Jovens e absolutamente provincianos, suburbanos e musicalmente analfabetos, eles eram mais críticos apaixonados e propagandistas do que músi­cos propriamente ditos.

Na época em que Francis Newton havia nascido, esses aficionados tinham criado um ambiente jovem, pop e bastante original para o jazz tradicional, que reproduzia versões do jazz de New Orleans e do country blues, até então gêneros muito mais conhecidos na Inglaterra do que nos EUA. Em uma de minhas primeiras colunas, registrei a súbita lucratividade do jazz tradicional “e mesmo do último refúgio contra a bancarrota, o canto do blues”, como demonstravam as lucrativas, porém nada notáveis, imita­ções de “Reckless Blues”, de Bessie Smith, e a versão marginal e líder nas paradas de Huddie Ledbetter para “Rock Island Line”, cantada por um sur­preso e inocente guitarrista britânico, Lonnie Donegan. “O que significava isso?”, era a minha pergunta. Agora sabemos que significava o início do rock britânico, os Beatles e os Rolling Stones, prestes a transformar a indústria pop americana no início dos anos 1960. Esse fenômeno nunca arrebatou a minha geração, ou a da maioria dos músicos de jazz, e muito menos os músicos de estúdios altamente profissionalizados que precisaram transfor­mar produtos iletrados e amadorísticos em música.

Mas o que Francis Newton significava para mim? A atração que eu sentia não se explicava tanto pela oportunidade de resenhar as performances e os discos de jazz que agora chegavam em enxurrada, ou mesmo pela tenta­tiva de encaixar essa música extraordinária na sociedade do século 20. Era a chance de entender os músicos e seu mundo: em resumo, “a cena do jazz”. Eu morava no fim do West End, e dar aulas em Birkbeck me deixava livre a maior parte do dia, então era possível combinar minha profissão com os hábitos noturnos e nada madrugadores da “cena”. Meu quartel-general era o Downbeat Club, na Old Compton Street, a alguns minutos a pé da minha casa, uma espelunca que, como tantos outros músicos modernos e seus saté­lites de Londres, eu usava como base para os momentos fora do expediente. Embora alguns músicos eventualmente tocassem naquele lugar, que às vezes também contratava um pianista, o Downbeat era mais um clube que uma casa de shows, ao contrário do novo empreendimento de Ronnie Scott, então começando numa Lisle Street ainda não orientalizada, aonde se ia não para beber ou fofocar, mas para ouvir. Havia também algumas espeluncas no Soho onde se podia fazer tudo isso ao mesmo tempo. Lembro mais vivamente dos clubes que dos shows, nos quais músicos visitantes ganha­vam o seu pão de cada dia, embora apenas nos EUA eu iria conhecer a glória de uma “cena” jazz baseada primordialmente nos clubes. Devo ter sido um dos últimos a ouvir a grande banda de Ellington, visivelmente à vontade em seu habitat natural, fazendo um típico show de clube, “derretendo”, como eu descrevi, “uma dura plateia de advogados, médicos, jornalistas e lobistas quarentões de São Francisco a ponto de eles se parecerem com noivas de antigamente”. Suponho que isso e o encontro com o trágico pianista Bud Powell em seu quarto de hotel em Paris, catatônico exceto quando diante do teclado, são as mais vívidas lembranças dos meus anos jazzísticos.

Logo se tornou óbvio que havia uma lacuna substancial, tanto de gosto quanto de contexto, entre aqueles de nós – a maioria dos que escreviam sobre jazz, mas também músicos bem-sucedidos – que se entusiasmaram com a música nos anos 1930 e 1940 e o pequeno corpo de músicos ingleses sérios e profissionais que tocavam e formavam o único público existente para o jazz “moderno” antes de Miles Davis fazer sentir seu impacto. Escrever sobre jazz nos anos 1950 significava, basicamente, tentar entender o bebop ou ao menos aprender a lidar com ele (mesmo Philip Larkin, um conservador amante do jazz, acabou sentindo que precisava dar um passo nessa direção), mas eu não sei até que ponto tive sucesso, a não ser pela admiração por Thelonius Monk e a paixão instantânea pelo talento supremo e inteligente de Dizzy Gillespie, o mais impressionante trompetista do mundo, a quem não faltava nenhum dom, a não ser a disposição de revelar a própria alma, como Charlie Parker havia feito. Minha admiração por Miles Davis baseava-se em seus discos, e não em nenhuma performance a que eu tivesse assistido.

Eu desfrutava da companhia dos músicos, e eles me aceitaram como uma excentricidade na “cena” (nenhum milieu é mais tolerante que o dos músicos de jazz), às vezes como uma espécie de dicionário ambulante, capaz de dar respostas a suas perguntas (quando não musicais). Lembro de uma feita pela namorada de um saxofonista tenor, que queria saber se era certo acreditar em Deus. Mas alguém não músico seria capaz de entender a essência de músicos criativos, por mais que convivesse com eles? Afinal, como um deles me disse (creio que foi o saxofonista tenor Sonny Stitt), “as palavras não são meu instrumento”. Para um não músico branco se aproxi­mar dos artistas negros era ainda mais difícil. Até o grande êxodo dos músi­cos americanos nos anos 1960, quando a “cena” do jazz entrou em colapso nos Estados Unidos, poucos deles viviam na Europa. É verdade que não parecia se fazer muita diferença entre brancos e negros no Downbeat Club, e a jovem Cleo Laine ficava perfeitamente confortável descrevendo-se como uma “crioula cockney”, mas os músicos afro-americanos visitantes tinham consciência da questão racial mesmo na tolerante Europa, assim como, quase com certeza, tinham também os que vinham das colônias britânicas no Caribe, como o talentoso e aventureiro sax alto Joe Harriott, que era um componente importante da “cena” moderna. Ainda assim, nas excursões, que eram seu meio de vida permanente, os americanos costumavam ouvir perguntas de admiradores brancos sobre o tema, e músicos experientes, que dependiam inteiramente do circuito branco, notadamente os cantores de blues, tinham uma narrativa genuinamente informativa pronta.

Na condição de único acadêmico a escrever sobre jazz, e sob auspícios cultu­rais de classe alta, Francis Newton naturalmente acabou servindo de guia turís­tico para os intelectuais estrangeiros no fervilhante Soho. Ele também se viu atraído para a boemia cultural avant-garde britânica, que fazia interseção com a “cena” jazz não bop. George Melly e “Trog” (Wally Fawkes, o clarinetista da Escola Humphrey Lyttelton) já estavam produzindo a Flook, sua tira de quadrinhos satírica e socialmente perspicaz, publicada, quem diria, no Daily Mail. Ainda guardo o cartão de sócio do Muriel Colony Club, na Dean Street, que alguém – mais provavelmente Colin MacInnes – me impingiu, porém aquele agrupamento alcoólico não era a minha, nem o jazz era a deles, embora uma vez eles tenham tido uma música de fundo decente, tocada por um agradável pianista caribenho. Encomendaram-me quase imediatamente um livro. Falando clara­mente, encarnar Francis Newton reforçou meus contatos com aqueles de quem os músicos dependiam, os agentes, programadores e todo o resto do mundo empresarial pop, no qual o jazz era uma pequena parte. Suas opiniões privadas sobre “o talento” divergiam amplamente daquelas emitidas em público.

Vi-me então membro de uma rede global de amantes intelectuais do jazz. Uma vez que, fora da Inglaterra, esses ainda julgavam partilhar uma fé pró­xima ao underground, se é que não mais perseguida, eles – e especialmente os escritores – formavam uma rede internacional surpreendentemente efe­tiva de confiança e ajuda mútuas. Nos Estados Unidos, isso não foi tão longe quanto no Japão, onde, como eu iria descobrir naqueles bares minúsculos, os acadêmicos mais formais – e quem pode ser mais formal que um reitor japo­nês? – se abriam com uma inconcebível franqueza, simplesmente porque um convidado que eles nunca tinham visto antes era amante de jazz. Logo percebi que a solidariedade do jazz, que caminhava a par da promoção de Kafka no primeiro estágio da Primavera de Praga, era igualmente intensa na Tchecos­lováquia. Quando as trilhas sonoras de Miles Davis e do Modern Jazz Quartet para os filmes da nouvelle vague apareceram, nos anos 1950, esperava-se que os intelectuais franceses se engajassem no jazz moderno, mas, como de hábito, eles não deram muita atenção para os críticos de jazz não franceses.

No território americano, a solidariedade do jazz consistia mais em aju­das concretas. Os críticos locais de jazz faziam tudo o que podiam para ajudar um desconhecido chegado de Londres, desde reser­var um quarto de hotel no Greenwich Village até encami­nhá-lo a um crítico depois do outro para que o guiassem na “cena” de alguma cidade menos conhecida. Ajudou ainda o fato de muitos divulgadores de jazz e blues terem origem na esquerda dos anos 1930 e 1940, com destaque para o maior de todos os descobridores de talentos do jazz, John Hammond Jr., com seu corte de cabelo militar, cujas opiniões iriam ter grande influência sobre mim.

Foi apenas em minha primeira viagem aos Estados Uni­dos, onde todas as escolas e todos os artistas sobreviventes podiam ser ouvidos ao mesmo tempo, que eu percebi a sorte que Francis Newton havia tido: essa era uma época de ouro para o jazz, em grande parte porque os ultraboppers dos anos 1940 haviam se reunido e renovado o mainstream musical. E foi só em minha segunda viagem, em 1963, que percebi o quão rápido o tsunami do rock’n’roll havia levado tudo embora. O Birdland havia fechado as portas. Durante quase todos os 20 anos seguintes, o jazz mal existia para os jovens, a não ser no meio universitário, como parte de uma cultura elevada e de adultos – algo como a música clássica, só que com menor número de adeptos. O público que restava interessado nas performances ao vivo sofria a oposição emergente de uma nova “forma livre” de jazz, musical­mente radical. O paradoxo é que, com isso, o movimento mais radical e racial­mente militante do jazz foi politicamente isolado de suas bases constitutivas afro-americanas.

Nessa época, minha vida estava mudando. Minha esposa, Marlene, alega que a pedi em casamento num show de Bob Dylan. O casamento e os filhos pequenos, inevitavelmente, puseram fim aos hábitos noturnos desregrados de Francis Newton, embora não às resenhas de shows e discos. Mas já não era tão divertido, a não ser na impactante e perturbadora primeira visita à Inglaterra de Ray Charles, que ouvi pela primeira vez entre os poucos bran­cos em um canto de um grande baile de rock’n’roll em Oakland, na Cal­fórnia, em meio a um grupinho de brancos, quando ele ainda era conhecido apenas do público negro. Eles não dançaram muito enquanto Ray Charles cantava. Agora não só uma grande estrela pop, mas também um santo inova­dor, o quarto na linha sucessória formada por Lester Young, Billie Holiday e Charlie Parker, e certamente um monstre sacré, ele “trabalhava” a plateia no Finsbury Park Astoria, com sua “santificada” voz de blues, num estilo que combinava efeitos do showbiz com emoção e muita alma. Ainda fico arre­piado ao lembrar de mim ouvindo aquele homem corcunda, magro, infeliz e cego, enquanto ele arrebatava a plateia ao dizer “eu já fui cego, mas agora consigo ver”. Aquela noite, além do meu espetacular fracasso em reconhecer o potencial dos Beatles (nunca tive tempo para os Stones), permanece como a última lembrança dos anos de Francis Newton cobrindo a “cena” para os leitores do New Statesman.

10 de maio de 2007

Presidente Gore: Gore Vidal

Uma década atrás, fui almoçar com Gore Vidal em sua casa em Ravello. Aquela casa (já abandonada) e aquele tipo de ocasião foram escritos com tanta frequência pelos hóspedes de Vidal e ...

Inigo Thomas

Vol. 29 No. 9 · 10 May 2007

Point to Point Navigation: A Memoir, 1964-2006
por Gore Vidal.
Little, Brown, 278 pp., £17.99, novembro 2006, 0 316 02727 8

Uma década atrás, fui almoçar com Gore Vidal em sua casa em Ravello. Aquela casa (já abandonada) e esse tipo de ocasião foram escritos com tanta frequência pelos convidados e entrevistadores de Vidal, e pelo próprio Vidal, que há pouco a dizer que não tenha sido dito. É um lugar lindo, se você gosta de casas empoleiradas em penhascos, com uma vista épica do Mar Tirreno (em algum lugar na distância nebulosa ao sul de Salerno estão os restos do assentamento grego em Paestum). Se você não gosta de casas empoleiradas em penhascos, então a ausência ofuscante de um horizonte ao meio-dia em um dia de verão e o mergulho íngreme para a estrada abaixo são enervantes.

Antes do almoço, houve natação e a vaga sensação de ser avaliado. O anfitrião estava reclinado em uma cadeira de praia sob um guarda-sol, vestido com uma camisa jeans desbotada e um par de calças velhas e manchadas, seu cabelo branco imaculadamente chicoteado acima de um rosto um tanto escondido por um par de enormes óculos escuros Imelda Marcos – essa combinação de tremendo cuidado e desatenção, o estilo de um mafioso siciliano, sua compostura patrícia sugestiva de Burt Lancaster interpretando o Leopardo de Lampedusa. Nem Vidal nem Howard Auster, seu companheiro de longa data, nadaram na piscina, que era ainda mais impressionantemente azul do que o mar ao pé do penhasco. Sol, ciprestes, cigarras, ar perfumado, o drama físico: todas as coisas mediterrâneas que aguçam os sentidos. Kurt Vonnegut, um hóspede da casa, havia desaparecido: sua esposa fotógrafa, Jill Krementz, não conseguiu encontrá-lo em lugar nenhum nos oito acres da propriedade Vidal. Vidal, que parecia saber algo sobre Vonnegut que sua esposa não sabia, presumiu que Vonnegut só queria ficar fora do alcance da câmera conjugal por um tempo. Isso era verdade; Vonnegut finalmente retornou.

Almoço dentro de casa em uma mesa de vidro, as cadeiras tipo trono usadas em uma cena de Ben Hur: quatro foram feitas para o filme, que Vidal ajudou a roteirizar — sem créditos, ele disse — e ele mandou fazer mais duas para sua sala de jantar. Quando me sentei, em frente a Vidal e ao lado de Auster, acidentalmente bati na canela de Auster. "Gosto mais forte", ele disse. A sala de estar, sofás, livros. Em uma mesa de console, fotografias de muitas pessoas famosas. "Alguns familiares, alguns amigos", Vidal disse, com afeição cansada. Os que estavam em exposição eram algumas das pessoas sobre as quais Vidal escreve em Palimpsesto e Navegação Ponto a Ponto, seu novo livro de memórias, pessoas com as quais ele nem sempre é generoso. Sua afeição e antipatia por aqueles que ele conhece, ou conheceu: isso é central para a ambivalência de Vidal sobre a América e os americanos, amigos e amigos como inimigos, seu amor e aversão a ela e a eles, e mais geralmente suas duas mentes sobre os Estados Unidos. Alguns estão em duas mentes sobre Gore Vidal: eles admiram sua inteligência, mas o consideram insuficientemente americano ou, alguns dizem, antiamericano. Eles estão errados: o que ele é contra é qualquer um que esteja disposto a ser liderado, qualquer um que diga que deve ser seguido.

"Agradável" não é uma palavra que você usaria para descrever Vidal. "Irreprimível" é uma palavra que você usaria. Ele escreveu 29 romances, centenas de ensaios e as duas memórias: é uma bibliografia assustadora, e nenhum ponto de partida óbvio se apresenta, além do próprio homem. Em Two Sisters, seu "romance como memória, memória como romance", o narrador, V., um Vidal idealizado, diz: "Em certo sentido, o único propósito da vida é a criação de um eu e o que importa é a soma total de todas as tentativas de alguém". Houve muitas tentativas e muitas vidas. Além de ser um romancista, satirista, dramaturgo, ensaísta, ex-americano no exterior, agora americano em casa, Vidal é um espirituoso da televisão e do rádio, patrício, ator, conversador, self-made man, apresentador e, às vezes, candidato ao Congresso. Anti-império americano ele é, mas ele próprio é um pouco de um império. Ou uma casta.

Há o Vidal que aparece em Duas Irmãs e o Vidal que aparece como seu eu jovem em seu romance de Roosevelt, A Era de Ouro. Há o ventríloquo Vidal, reconhecível em alguns de seus personagens históricos – Aaron Burr e o Imperador Julian – assim como em suas sátiras. Em Burr, Charles Schuyler, um personagem inventado por Vidal para ser o biógrafo deste vice-presidente, diz que seu tema é "um homem de charme e fascínio perfeitos. Um monstro, em suma". Não muito diferente do autor do romance. "Suspeito que Cromwell estava certo", diz o vice-presidente Burr a Schuyler, "o homem que não sabe para onde está indo vai mais longe. Talleyrand costumava me dizer que para o grande homem tudo é acidente. Obviamente, ele não foi um grande homem, pois sobreviveu por meio de um planejamento cuidadoso, por nunca mostrar seus verdadeiros sentimentos. Você deve aprender essa arte, Charlie". Vidal não conheceu muitos acidentes, ou ele escolheu não escrever sobre eles se conheceu. Ele não demonstra seus sentimentos, mas também não se esconde. Ele está no seu melhor como memorialista. Seus ensaios são sua conquista, mas Palimpsesto é seu melhor livro. Você não pode deixar de se perguntar se ele não está pessimista sobre a reputação do ensaísta e sua fragilidade. Os ensaios são endereçados aos tempos em que são escritos, como devem ser, vivos em um momento, muitas vezes inertes no outro, mas ele tem poucos motivos para se preocupar com isso: Vidal sabe tão bem quanto qualquer um que na América as coisas têm o hábito de se repetir; muitos de seus antigos ensaios têm mais vida do que os recentes.

O Vidal político domina. Se você não acredita que toda ação humana é motivada por política ou considerações de ganho pessoal, então a escrita de Vidal, seus romances especialmente, serão menos gratificantes. Seus protagonistas são enérgicos, conhecedores, racionais, às vezes monstros. Poder e fama, progredir: esses são temas americanos essenciais; e até onde alguns vão para alcançar o poder e, uma vez em posse dele, vão protegê-lo e expandi-lo para melhor coagir os outros, esses são os assuntos favoritos de Vidal. Suas versões de Lincoln, Franklin Roosevelt e do Imperador Julian são todas mais ou menos ditatoriais. "Como sou sincero", diz Julian de Vidal. "Nunca admiti a ninguém que, no meu primeiro encontro com Constâncio, tudo o que eu conseguia pensar era o quanto eu gostaria do domínio da Terra." Um dos melhores ensaios de Vidal é sobre os romances de Oz de L. Frank Baum e, como Baum, Vidal está curioso sobre as formas extremas de poder que surgem nas democracias. Em Glinda de Oz, o último da série, o Ditador Supremo se explica: "Sou o Ditador Supremo de todos e sou eleito uma vez por ano. Esta é uma democracia, você sabe, onde as pessoas têm permissão para votar em seus governantes. Muitos gostariam de ser o ditador supremo, mas como eu fiz uma lei que diz que eu sempre devo contar os votos, eu sempre sou eleito. Vidal leu Baum quando criança, mas a influência dos livros de Oz perdurou e, como muitos americanos, Vidal acredita que algumas votações fora do comum ocorreram nas eleições recentes dos EUA. As máquinas de votação computadorizadas selecionadas por alguns estados para as eleições não conseguem nem mesmo produzir um registro em papel dos votos que coletaram: é impossível contá-los manualmente. Que mago teve essa ideia e por que tanta mania de melhorar um pedaço de papel?

Desde o início, Vidal foi um escritor que se propôs a prevalecer. Ele tentou superar, ou afastar, aqueles que desafiavam o que ele acreditava ser sua posição à frente do bando pós-Segunda Guerra Mundial. Ele não ficou satisfeito quando Truman Capote apareceu em seu encalço, e ficou furioso quando Capote professou uma intimidade com André Gide maior do que a sua — embora isso tenha se mostrado um embelezamento de Capote, prova para Vidal de que embelezamento era o que Capote fazia de melhor. Ele também não ficou tremendamente feliz quando Norman Mailer publicou The Naked and the Dead. Ele se recuperou e, nos sete anos após 1945, escreveu sete romances. Ele não ficou satisfeito com os primeiros. O que ele menos gosta, In a Yellow Wood (1947), foi escrito quando ele foi brevemente editor em uma editora de Nova York, e é sobre um homem que se deparou com uma escolha entre o escritório e a vida. Ele acha que sua voz autoral não apareceu adequadamente até The Judgment of Paris (1952), um conto de um americano que vive na Europa entre americanos muito mais ricos do que ele, que decide enquanto vagueia de Paris a Roma que a vida não é sobre escolhas, mas sobre fazer o que você quer fazer. Evitar as exigências dos outros é a melhor maneira de continuar. Esse foi o caminho tomado por Vidal.

Em Nova York, no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, ele seguiu uma vida na cidade e era íntimo de Anaïs Nin, que era apaixonada por sua boa aparência, assim como ele pela dela por um tempo. Ele comprou uma casa neoclássica no interior, com vista para o Hudson e uma colunata pintada de branco para dar a aparência de mármore quando vista de longe. Edgewater, a casa de Vidal em Hudson, é idêntica às casas de Nova York descritas por Tocqueville em Democracy in America, construções com colunas de madeira que provaram a Tocqueville que nos EUA a aparência contava mais do que a realidade. Vidal também acha que a realidade é menos importante do que a aparência, e um de seus objetivos tem sido parecer mais americano do que qualquer outra pessoa.

Quando ele fez seu nome, os EUA entraram em guerra na Coreia. Os EUA também estavam envolvidos em atividades secretas, como massagear um golpe no Irã e outro na Guatemala, onde Vidal comprou um convento, barato, e viveu por vários anos no final da década de 1940, tendo persuadido seu pai a lhe dar o dinheiro que poderia ter sido gasto na educação em Harvard que ele recusou. A Guatemala levou a Dark Green, Bright Red (1950), um romance sobre a maneira como os EUA e a United Fruit Company promoveram seus interesses na América Central. Vidal foi rápido em perceber as consequências da Guerra Fria nos EUA e a conformidade que ele achava que ela inspirava. Como Mailer, ele acreditava que a sociedade americana na década de 1950 havia sido adormecida por medos e ódios fabricados pelo governo, pela religião e pela conversa implacável de que tudo estava bem nos EUA quando não estava. Sua resposta foi falar e escrever, igualmente implacavelmente.

Tennessee Williams, que conheceu Vidal em Roma em 1948, o ano em que a CIA orquestrou o resultado das eleições italianas, disse: "Eu me pergunto se algum outro escritor vivo vai continuar tão ferozmente, incessantemente quanto Vidal. Ele tem uma mania de lançar um livro por ano. Eles agora estão empilhados como aviões sobre um aeroporto, esperando a pista." Williams provavelmente não sabia ao fazer sua escavação que o pai de Vidal, Gene, um dos amantes de Amelia Earhart, foi um fundador do negócio de companhias aéreas dos EUA e serviu como comissário aéreo de Roosevelt na década de 1930. Ele pode não saber também que a mãe de Vidal, a julgar pelo relato de Vidal, se parecia com uma das "mulheres monstro" de Williams - a frase de Vidal para aquelas figuras de autodestruição nas peças de Williams. Nina Gore, filha de um senador cego de Oklahoma, divorciou-se do pai de Vidal em 1935 e casou-se em seguida com Hughdie Auchincloss, que mais tarde se tornou padrasto de Jackie Kennedy. Ela teve oito filhos com maridos diferentes, mas aparentemente não era uma boa mãe para nenhum deles. Ela bebia e era amante de Clark Gable. Vidal não é totalmente direto sobre sua mãe e seu pai: as amantes de seus pais, ao que parece, são mais importantes para ele e contam como evidência de que todos são muito intimamente conectados com todos os outros nos EUA e muito intimamente conectados com Vidal.

Vidal não conseguia parar de escrever livros; nem parou de ir para a cama com homens: mais de mil, ele disse sobre suas conquistas imediatas do pós-guerra. "Não é um recorde mundial": o que não é pretendido como modéstia. "Sempre dependi da gentileza de estranhos", diz V. em Duas Irmãs. "Por que essa é uma frase tão poderosa? Ela continua passando pela minha cabeça. Talvez seja porque são estranhos que eu gosto na cama.’ Talvez, mas a fala é de Blanche DuBois em Um Bonde Chamado Desejo, e ecoa o que ela já disse: ‘Sim, eu tive muitas intimidades com estranhos. Depois da morte de Allan, intimidades com estranhos eram tudo o que eu parecia capaz de preencher meu coração vazio. Acho que foi pânico, apenas pânico, que me levou de um para outro, em busca de proteção.’ Você não poderia dizer que Vidal buscou proteção, ou conheceu o pânico, mas ele buscou problemas.

Há alguma confusão sobre esses assuntos em Palimpsest, e novamente em Point to Point Navigation. Seu amor de infância, Jimmy Trimble, era, ele diz, seu gêmeo, um perfeito eu duplo. Ele morreu em Iwo Jima. Ele aparece sob seu próprio nome em Lincoln de Vidal, aparecendo como um mordomo. Mas a morte de Trimble como motivação para a vontade de Vidal de ter sucesso? Amor reprimido como o motor para a enorme produção de Vidal? Cinquenta anos atrás, Vidal disse a Christopher Isherwood que ele era um inimigo do amor. Envolvia muito envolvimento; e envolvimentos de qualquer tipo, sejam eles conduzidos por um indivíduo ou pelo governo dos EUA, eram muito europeus para este americano, para quem tudo o que é pessoal tem uma dimensão política. Para ele, envolvimentos não podem deixar de terminar com amizades destruídas e pessoas se machucando.

Em ‘Reflexões sobre a Glória Refletida’, o último ensaio em seu enorme omnibus Estados Unidos, Vidal tenta explicar por que ele deixou Nova York para Roma antes de completar 40 anos. Ele diz que era importante se distanciar de sua ilustre família. Mas quão ilustre era essa família, realmente, e sua associação com sua ilustreza, tal como era, não prejudica a vida mais interessante que ele mesmo fez? ‘Eu sabia desde o começo que estava atrás da Glória’, ele escreveu naquele ensaio. ‘Ao contrário de Henry Adams’ — o escritor Vidal compara carinhosamente seu próprio trabalho — ‘saí aos 17 anos e jurei que se não fosse eleito para nada, não voltaria a viver na capital quando havia tantos outros mundos e glórias em outros lugares.’ Ele não voltou, mas marcou seu túmulo no cemitério Rock Creek de Washington, não muito longe do túmulo de Henry Adams e ao lado do túmulo de Howard Auster, que morreu há três anos. Uma explicação mais plausível para sua saída da América foi esta: "Eu moro na Itália porque é um bom ponto de vista para olhar os Estados Unidos. Afinal, eu não escrevo sobre nada além do fato de ser americano. Não tenho outro assunto."

Havia, é claro, muitos mundos para Vidal em outros lugares: viagens pela Grécia com Paul Newman e Joanne Woodward, passeios glutões e bêbados por restaurantes franceses com seu editor Jason Epstein, conversas com seu vizinho romano Italo Calvino, almoço com E.M. Forster, bate-papo com a princesa Margaret. Mas em Roma, havia apenas meses de leitura e Old Glory. Poucas pessoas se identificaram tão intimamente com a história de seu próprio país quanto Vidal — o general de Gaulle talvez. Na Itália, ele começou sua série de romances históricos sobre a formação do império americano. Em seus ensaios, ele despeja ácido sobre versões glamurosas dos EUA e sua história, atacando aqueles que eram muito próximos do poder ou que idealizavam a democracia americana ou pensavam muito nos líderes dos EUA, ou que criaram mitos sobre os chamados pais fundadores.

"Mesmo aqueles que escrevem com conhecimento sobre política tendem a cometer certos erros fundamentais", ele escreveu em "Barry Goldwater: A Chat", um ensaio publicado no início dos anos 1960. ‘Eles procuram motivos sutis onde não há nenhum. Eles acreditam que há um plano de guerra de longo prazo quando raramente há algo mais do que rápidas implantações de tropas de última hora antes de uma batalha não programada. Em uma sociedade como a nossa, política é improvisação. Para o trapaceiro astuto, e não para o verdadeiro crente, vai o prêmio.’ Esta é uma visão da política americana que Vidal não parece mais manter tão firmemente quanto antes, ou assim sugere a Point to Point Navigation. Ele acredita que o governo Bush tinha um plano de guerra de longo alcance no Oriente Médio, mesmo que o próprio presidente seja um trapaceiro habilidoso — para melhor esconder os verdadeiros crentes, os neocons, que se esconderam nos bastidores e fizeram o que Vidal considera seu trabalho imperial. "É conveniente para os cortesãos manter as grandes pessoas separadas", ele escreve em Julian, "aumentando assim a importância dos intermediários que são capazes de correr de uma ala do palácio para outra, fazendo travessuras e políticas à medida que avançam". Essa é uma passagem que pode ter saído diretamente das páginas de The Courtier, de Castiglione, mas também é uma descrição justa da maneira como os neoconservadores conduzem seus negócios.

Um palimpsesto é um pergaminho no qual as palavras são escritas repetidamente, cada ato de escrita apagando parcialmente as anteriores. Todos os livros de Vidal são, em maior ou menor grau, palimpsestos. Refrões de Palimpsesto reaparecem em Point to Point Navigation, assim como em Palimpsesto ecos dos ensaios, romances e entrevistas de Vidal são ouvidos novamente. Em Palimpsesto, há a sensação de uma vida se unindo, mas em Point to Point Navigation algo mais estranho está acontecendo. É como se Vidal estivesse tentando se cancelar até que não houvesse mais nada para escrever, como alguém finalmente bebendo a adega que vem guardando ao longo da vida. Mas seria um erro pensar que Point to Point Navigation representa as reflexões de um homem idoso cujas decepções só agora estão surgindo, assim como seria errado descartar Vidal como um sabe-tudo com um estilo irritante de "eu avisei". Ele tem estado tão alerta aos problemas que o governo Bush criou quanto qualquer outra pessoa.

Uma pergunta que Vidal faz aos seus leitores é: quão americano você é se não está em dúvida sobre os EUA? Outra é: quão bem você pode conhecer os EUA se não está? Essas duas perguntas tendiam a não ser feitas no boom patriótico que se seguiu ao 11 de setembro, uma época que permitiu medidas e ações autoritárias sobre as quais Vidal alertou os americanos por anos. É surpreendente que os melhores críticos americanos do governo Bush tenham sido romancistas e escritores bem-sucedidos e conhecidos com mais de 70 anos: Vidal, Norman Mailer, Philip Roth, Arthur Schlesinger, Susan Sontag e Joan Didion entre eles. Invejosos sobre as boas intenções americanas, não afetados pelo rugido do sentimentalismo após o 11 de setembro, eles viram o que exércitos de jornalistas mais bem informados e mais jovens não conseguiram ou se recusaram a ver.

"A linha entre libertar o mundo e escravizar o mundo é incrivelmente tênue", escreveu o liberal Paul Berman em 1996, antes de endossar as guerras de Bush. "Da mesma forma, a linha entre libertar o mundo e se jogar de um penhasco." Vidal acha que os EUA deixaram o topo do penhasco anos atrás: o que acontece no fundo é mais preocupante.

6 de maio de 2007

A história da Monthly Review: 1949-1984

Robert W. McChesney


Escrevi isto em 1984 para um seminário sobre história no meu primeiro ano da faculdade na Universidade de Washington. Para mim foi uma obra de amor porque me deu a oportunidade de ler todos os números da Monthly Review, cuidadosamente preservados em volumes na magnífica biblioteca da Universidade. Eu andava tão influenciado pela maturidade que a MR tinha atingido nos princípios e meados dos anos 70 que queria perceber que tipo de instituição e de cultura teria sido capaz de produzir tanta sabedoria e brilho... e queria ler todos os números dos anos 50 e 60 que nunca tinha visto. Sempre achei que ninguém os lera a não ser o meu professor, Robert Burke.

Pelo sim pelo não, enviei uma cópia ao meu melhor amigo, John Bellamy "Duke" Foster que na altura já era um colaborador regular da MR. Duke gostou e mostrou-a ao co-editor da MR, Paul Sweezy, que parece ter gostado também. Pouco tempo depois, Duke disse a Paul que tinha sido abordado pela Verso a fim de escrever uma biografia autorizada de Paul em conjunto com a história da Monthly Review. Duke achava que seria muito vantajoso engrandecer o legado da MR. Resposta de Paul: "Não percas tempo. Deixa isso para outra pessoa. Tens trabalho mais importante para fazer". Harry Magdoff, o outro co-editor da MR, concordou. Deve dizer-se que nem Paul nem Harry andavam atrás da publicidade, e que isso explica a relativa pobreza de material sobre eles e sobre a MR.

Nem me passava pela cabeça na altura que acabaria por me juntar a Duke, a Paul e a Harry como co-editor da MR, cargo que mantenho desde 2000-2004. Para ser franco, nunca mais me lembrei deste escrito até que ele apareceu na minha caixa de e-mail em Abril de 2007, copiado e editado num ficheiro de texto feito por Brett Clark. (Este artigo tinha sido manuscrito e depois dactilografei a versão final numa máquina de escrever eléctrica. Foi uma das últimas peças que escrevi antes de usar o computador). Na era digital, há um lugar para esta peça no ciberespaço. Assim, ei-la aqui, a história por contar da Monthly Review nos seus primeiros 35 anos. Entre outras coisas, espero que tenha algum valor para a pessoa que escrever a história dos 35 anos seguintes da MR, e para a próxima geração que for educada por esta extraordinária revista, tal como eu fui. - Bob McChesney

Tradução / A Monthly Review é uma revista socialista independente com sede em Nova Iorque e é publicada mensalmente desde Maio de 1949. A revista foi fundada por dois co-editores, Paul Sweezy e Leo Huberman. Quando Huberman morreu em 1968, o seu lugar foi ocupado por Harry Magdoff que actualmente compartilha os deveres editoriais com Sweezy. Embora a Monthly Review tenha uma tiragem actual de 8 500 exemplares – e a sua tiragem nunca tenha subido muito acima dos 12 000 – é uma das publicações marxistas mais importantes do mundo, e não apenas dos Estados Unidos. Embora Magdoff afirme que "Parto do princípio que os nossos leitores se inclinam para questões teóricas" [1] , os editores manifestaram frequentemente o seu desejo de evitar que a Monthly Review se tornasse numa revista feita "por académicos e para académicos" [2] . O seu objectivo declarado é chegar às "pessoas que estão motivadas politicamente e que precisam de saber e entender o mais possível para serem mais eficazes politicamente" [3].

Numa análise de abordagem crítica da Monthly Review em 1968, Peter Clecak elogiou a "aliança especial da independência intelectual e do compromisso moral para o avanço do socialismo" [4] dos seus editores. Mais observou que "a MR tem-se mantido consistentemente fiel ao princípio fundamental da metodologia marxista: ou seja, que para entender e participar na transformação social, é preciso transpor os fenómenos observáveis para formular e tentar responder às questões económicas fundamentais" [5] . Magdoff e Sweezy em particular são ambos economistas consumados enquanto Huberman tinha um dom especial para popularizar conceitos teóricos complicados. A contribuição permanente e exclusiva da Monthly Review durante os últimos 35 anos tem sido uma crítica implacável e uma análise coerente do capitalismo moderno.

Num retrato dos editores de 1963, a revista Business Week classificava-os como "de um tipo de socialismo completo e rigoroso, suficientemente drástico para proporcionar o corte radical com o passado considerado essencial por muita gente de esquerda nos países subdesenvolvidos. Simultaneamente mantêm uma total independência tanto de Moscovo como de Pequim" [6] . Quanto à análise económica dos editores, a Business Week observava que "a perícia em manipular os conceitos abstrusos da economia moderna impressiona os aspirantes a intelectuais… a sua análise dos problemas do capitalismo é suficientemente plausível para ser perturbadora" [7] .

A Business Week também observava que a Monthly Review tem "uma influência no exterior desproporcionada à sua difusão nos EUA" [8] . A revista deu sempre realce à compreensão do capitalismo como um sistema mundial e à compreensão dos movimentos de libertação do Terceiro Mundo como revoltas contra esse sistema. A Monthly Review tem mantido um público apaixonado no seio dos intelectuais do Terceiro Mundo e além-mar. Entre os colaboradores da Monthly Review que são ou foram chefes de estado encontram-se Andreas Papandreou, Fidel Castro e Cheddi Jagan. Em 1960 um estudo revelou que Paul Sweezy era um dos dez americanos que os líderes de negócios e políticos japoneses "mais gostariam de conhecer" [9] . A lista inclui aqueles nomes que seria esperado encontrar, como Eisenhower, Nixon e MacArthur. Em 1964, quando Ned O'Gorman regressou duma viagem do Departamento de Estado à América Latina, escreveu no National Catholic Reporter: "Os editores da Monthly Review, Huberman e Sweezy, Edgar Allen Poe, Walt Whitman e JFK são os americanos de que mais oiço falar na América do Sul" [10] .

Um artigo da Ramparts em 1974 classificava a lista de colaboradores da Monthly Review como um "Quem é quem de... intelectuais de esquerda" [11] . Entre os mencionados estavam Jean-Paul Sartre, Edgar Snow, I.F. Stone, R.H. Tawney, Henry Wallace, William Appleman Williams, Anna Louise Strong e C. Wright Mills. Outros colaboradores incluíam Albert Einstein, E.P. Thompson, Noam Chomsky, Daniel Ellsberg e Joan Robinson. E esta lista é muito superficial.

No entanto, apesar deste registo impressionante, a Monthly Review tem sido mais do que ignorada enquanto tema de análise, quer pela comunidade intelectual quer pela imprensa popular. Os poucos artigos que foram escritos acerca da Monthly Review já foram referidos neste escrito. E a análise que esses artigos fazem sobre a revista não tem nada de especial: não há nada que não seja conhecido de um leitor habitual da Monthly Review. Podiam considerar-se dois grupos de estudiosos com razões lógicas para estarem interessados num estudo da Monthly Review – os historiadores do jornalismo e os estudiosos radicais, o que inclui estudiosos não radicais interessados em teoria e prática radical. No entanto nenhum destes grupos se tem mostrado inclinado a dedicar-se a esse estudo. Convém perguntar. Porquê?

Os historiadores do jornalismo têm demonstrado um desinteresse espantoso pelo estudo da imprensa radical e não comercial, especialmente a do século XX. Portanto, a Monthly Review não foi de forma alguma excluída ou marginalizada. Da meia dúzia dos principais manuais disponíveis, apenas um deles refere a imprensa não comercial ou radical no século vinte, pelo menos de certa forma. Como a história do jornalismo, e a área da "comunicação" em geral, tem sido alimentada por privilégios corporativos e por laços estreitos com a indústria dos media, precisa de cortar o cordão umbilical e assumir seriamente uma certa noção de crítica social significativa.

Os estudiosos radicais e os estudiosos interessados nas ideias e movimentos radicais, pelo contrário, estão bem conscientes da existência da imprensa radical. Mas é um dado adquirido que os radicais precisam de tornear a imprensa predominante para conseguir difundir as suas ideias. Portanto a preocupação desses estudiosos é com aquilo que vai ser publicado – o conteúdo – em oposição ao enquadramento institucional que o permite. O próprio Harry Magdoff, quando entrevistado sobre a história da Monthly Review, respondeu a muitas das perguntas dizendo "Que interessa?" ou "Não interessa". Para Magdoff e para os radicais em geral, o mensageiro não é a mensagem. Assim, embora haja um corpo significativo de obras criticando as ideias de Sweezy, de Huberman e de Magdoff, quase não se presta atenção à Monthly Review.

A tarefa final deste autor será avaliar criticamente a contribuição da Monthly Review em quatro áreas que os editores têm vindo a analisar cuidadosamente ao longo dos anos; (1) a dinâmica do capitalismo moderno e, em particular, a sua tendência secular para a estagnação; (2) a natureza das actuais sociedades socialistas e as discussões teóricas da sociedade pós-revolucionária; (3) a natureza do imperialismo moderno e os movimentos revolucionários do Terceiro Mundo; e (4) a estratégia e as tácticas socialistas nos países desenvolvidos, em especial nos Estados Unidos. Esta última área tem recebido menos atenção do que as outras três áreas na Monthly Review. Apesar disso, é crítica para a plena compreensão do marxismo da Monthly Review.

Antes de atacar este projecto, porém, é imperioso ter um conhecimento sólido da história da Monthly Review. As principais questões importantes são: Como é que a Monthly Review funciona? Qual é a sua história? Como se sustenta a si própria? Quem toma as decisões fundamentais? Como é que a Monthly Review se vê a si mesma? Terá a Monthly Review mudado nos últimos 35 anos? Como ainda ninguém se resolveu a responder a estas perguntas, esta tarefa sem brilho mas necessária caiu nas mãos do autor.

Perante este cenário, este artigo deve ser considerado mais como uma missão de recolha de factos do que como uma tentativa de análise crítica. Não se tentará avaliar a qualidade das decisões comerciais da Monthly Review. As fontes para o grosso do artigo serão as "Notas dos Editores" que aparecem no interior das capas de cada número. As informações relativas à revista nestas "notas" certamente são rigorosas; como os editores escreveram recentemente, "descobrimos ao longo dos anos que os leitores da MR gostam que lhes diga a verdade" [12] . Apesar disso, as informações são esparsas. Para as complementar, realizaram-se três breves conversas telefónicas com membros da Monthly Review, incluindo Harry Magdoff. Infelizmente, há ainda muitas perguntas sem resposta que terão que ser abordadas em data posterior.

O documento vai ser estruturado da seguinte forma: Primeiro, uma breve descrição do formato e conteúdo da Monthly Review. Segundo, curtas biografias dos editores. Isto é importante tanto mais que a Monthly Review é em grande parte o produto personalizado dos editores. Terceiro, uma história resumida da Monthly Review enquanto empresa comercial. Quarto, uma breve história da Monthly Review Press, um importante auxiliar da revista. Há mesmo quem defenda que a Press acabou por igualar a importância da revista. Quinto, uma breve visão sobre a equipa da Monthly Review, as suas operações internas e os seus programas ao longo dos anos. Sexto, um exame sobre quem lê a Monthly Review e quem é que os editores tentam atingir. Por fim, uns breves comentários conclusivos sobre o significado de tudo isto para perceber qual o futuro da revista.

I

A Monthly Review tem mantido o mesmo aspecto e formato editorial desde o início. A publicação é na forma padrão de "revista". Não há fotografias nem gráficos. A única cor aparece na capa que também se tem mantido sem alterações ao longo dos anos. Cada número apresenta geralmente três ou quatro artigos com uma extensão de 10 a 15 páginas. O tamanho médio da Monthly Review tem aumentado com o tempo. Nos anos 50 o tamanho médio era de 32-48 páginas enquanto que nos anos 60 a norma passou a ser de 64 páginas, com edições esporádicas de 96 páginas. Em 1956 a Monthly Review fundiu as edições de Julho e Agosto e esta prática manteve-se desde então. Estas edições duplas são normalmente muito mais extensas e concentram-se sobre um tema central.

Para além dos artigos e das já mencionadas "Notas dos Editores", há outras características regulares. No fim de cada número aparecem a correspondência e apreciações a livros. A correspondência não é do tipo de "olá, como vão as coisas", mas é normalmente uma crítica equilibrada de qualquer artigo publicado pouco tempo antes. As apreciações a livros, em geral mas de forma nenhuma exclusivamente, concentram-se na oferta intelectual de esquerda. Scott Nearing, o famoso velho socialista, publicou a sua coluna "World Events" (Acontecimentos Mundiais) no verso da Monthly Review durante uns 20 anos até ao início da década de 70. E, no único desvio ao aspecto não gráfico da revista, o conhecido cartunista Fred Wright teve uma colaboração regular durante grande parte dos anos 50.

A característica mais importante da Monthly Review é a "Review of the Month" (Acontecimentos do Mês) que é o artigo de abertura de cada número. Inicialmente esta secção consistia numa série de comentários curtos semelhantes aos editoriais do The Nation. Poucos anos depois, foi adoptada a sua forma actual – um artigo de 10 a 15 páginas dedicadas a um assunto específico. Os artigos geralmente são escritos por ambos os editores. Estes descreveram o seu modus operandi em 1956: "Tentamos sempre tratar os assuntos de forma escorreita e como um todo. Isso obriga a uma leitura dos seus antecedentes, à análise de literatura recente, acumulando muito mais material do que podemos comprimir em poucas páginas… Depois os rascunhos têm que ser trocados por correio entre os editores, e muitas vezes apresentamo-los a uma ou mais pessoas em cujo julgamento e conhecimento de um determinado assunto temos uma confiança especial" [13] .

De vez em quando as análises apresentam intervenções ou documentos preparados apenas por um dos editores e nessa altura são devidamente assinalados. E durante a última década a Monthly Review passou a entregar cada vez mais frequentemente a "Review of the Month" a um colaborador convidado. Geralmente as análises tendem a tratar de questões que cabem nas quatro grandes categorias já mencionadas. Especificamente, estas análises comentam muitas vezes de forma atempada evoluções críticas da economia política mundial e no seio do capitalismo americano.

Para além das quatro grandes categorias, os artigos da Monthly Review por vezes preocupam-se com as condições sociais nos Estados Unidos, a natureza do marxismo, e com assuntos ainda mais ecléticos como a ciência, a arte ou a religião. Também, durante estes 35 anos, alguns dos assuntos passaram a ser mais destacados durante um determinado período. Nos primeiros anos da Monthly Review foram examinados em profundidade a natureza e o significado do McCartismo. Nos finais dos anos 50 começaram a ser alvo de grande atenção os movimentos dos direitos civis. A Revolução Cubana dominava as páginas da Monthly Review no princípio dos anos 60. Em 1961 os editores descreveram-na como "uma porta aberta decisiva para o socialismo no hemisfério ocidental… acontece que estamos numa posição excepcionalmente favorável para dar notícias sobre a Revolução Cubana e achamos que a melhor forma de servir a causa do socialismo mundial é tirar o melhor partido disso" [14] . Os editores visitaram Cuba imensas vezes e publicaram vários livros e artigos sobre o socialismo cubano.

Nos meados dos anos 60 a Guerra do Vietname estava no auge e a Monthly Review não só criticava especificamente o esforço de guerra dos EUA como também publicava uma considerável série de artigos sobre o imperialismo americano. Em 1968 os editores escreveram que "o entendimento do imperialismo – tanto a nível teórico como empírico – é de uma importância crucial para o desenvolvimento do movimento de esquerda neste país" [15] . Em meados dos anos 70 a Monthly Review dava um realce ainda maior à sua análise das tendências para a estagnação no capitalismo americano. E no início dos anos 80, com a eleição da administração Reagan, esta análise crítica do capitalismo foi complementada com uma preocupação crescente sobre a corrida ao armamento e a escalada das despesas militares.

As "Notas dos Editores" que aparecem no interior da capa incluem muito mais do que simples informações relativas ao bem-estar da publicação. O espaço é utilizado para uma série de outros fins: estimular as assinaturas e contribuições financeiras, assinalar as acções pessoais e as viagens dos editores, lamentar as mortes de amigos, anunciar os últimos livros publicados pela Monthly Review Press, fazer propaganda de outras publicações e eventos de esquerda e publicar comentários de cartas.

Durante os anos 50 estas "Notas dos Editores" proporcionaram a Huberman e a Sweezy uma cobertura substancial nas confrontações com a caça às bruxas. Huberman foi convocado perante a Subcomissão de Segurança Interna de McCarthy para responder a perguntas sobre alguns dos seus livros. Mas recusou-se a fazê-lo e a Monthly Review publicou o texto do interrogatório e as suas declarações à subcomissão. Sweezy, que viveu durante muito tempo em New Hampshire, foi interrogado por acusações de sedição pelo esquadrão anti-subversivo daquele estado. Depois de se recusar a entregar as suas notas pessoais e a cooperar com esta inquisição, foi intimado por desobediência e esteve à beira de ser preso. No final o Supremo Tribunal dos EUA decidiu a seu favor numa sentença que foi considerada "de referência" [16] .

II

A Monthly Review é essencialmente produto dos seus editores – Leo Huberman, Paul Sweezy e Harry Magdoff. Além deles, Paul Baran desempenhou um papel significativo na revista até à sua morte prematura em 1964. Como observou Paul Sweezy em 1969, "pouco tempo depois de a MR ter começado a sua publicação tivemos a sorte de ficar cada vez mais estreitamente associados a Paul Baran. Por uma série de razões, entre as quais a geografia, isso nunca foi formalizado sob a forma de ele se juntar a nós como editor da MR, mas isso não impediu que a associação fosse continuada, íntima e mutuamente benéfica" [17] . Noutra altura Sweezy escreveu, referindo-se a Baran, que "Não é exagero dizer que as ideias e opiniões editoriais expressas na MR ao longo dos anos tanto eram dele como nossas" [18] . Numa palavra, ele fazia parte integrante da MR: sem ele esta nunca teria evoluído como evoluiu". Importa agora fornecer uma breve informação biográfica sobre cada um destes quatro homens.

Leo Huberman nasceu em Newark, New Jersey em 1903. Fez os seus estudos na Universidade de Nova Iorque e na London School of Economics. Huberman foi professor em Newark e em Nova Iorque até 1938, altura em que foi nomeado presidente do departamento de ciências sociais em New College, na Universidade da Columbia. Em 1940 Huberman foi editor do jornal PM, de curta duração, e desempenhou uma série de outros cargos até à fundação da Monthly Review. Huberman escreveu ou foi co-autor de 11 livros e de centenas de artigos. É mais conhecido pelo 'We the People' (Nós, o Povo) (1932) e 'Man's Worldly Goods' (Património do Homem) (1936) [NT1] , ambos versões populares da história económica. Huberman morreu em 1968 [19] .

Paul Sweezy nasceu numa família da classe alta em Nova Iorque em 1910. Fez os seus estudos em Exeter, Harvard, e na London School of Economics. Sweezy fez o doutoramento em filosofia em Harvard sob a orientação de Joseph Schumpeter. Paul Samuelson assinala que Sweezy "se posicionou rapidamente entre os economistas mais importantes da sua geração" [20] . A procura em situação de oligopólio (Demand Under Conditions of Oligopoly) de Sweezy é leitura obrigatória para a maior parte dos candidatos ao doutoramento em economia e foi ele o criador da curva de procura "angular" ("kinked" demand curve) [21] . Sweezy foi professor em Harvard durante doze anos e saiu nos finais dos anos 40 por razões alternadamente alegadas de cansaço ou de pressões políticas. É autor de vários livros e de infindáveis artigos. As suas obras teóricas mais significativas são Teoria do desenvolvimento capitalista' (The Theory of Capitalist Development') (1942) e Capital monopolista (Monopoly Capital) (1966) de que foi co-autor juntamente com Paul Baran.

Harry Magdoff, nascido em 1913, foi abordado pela primeira vez para ser editor na Monthly Review em meados dos anos 60 ainda Leo Huberman era vivo. Na altura recusou para se poder concentrar na sua investigação sobre o imperialismo. A situação alterou-se com a morte de Huberman. A sua mulher recorda que "Paul foi ter com Harry e disse-lhe, que se não se juntasse a ele, teria que fechar a revista" [22] . Magdoff tornou-se co-editor oficialmente em Maio de 1969.

O currículo de Magdoff é muito mais de ordem prática e menos académico do que o de Sweezy ou mesmo o de Huberman. Foi responsável pelos estudos de produtividade estatística num Projecto de Investigação Nacional da WPA (Work Projects Administration) nos anos 30 e foi nessa época que concebeu o método de medir a produção e a produtividade que ainda hoje se usa no Departamento do Trabalho dos EUA. Durante a Segunda Guerra Mundial Magdoff foi chefe da Divisão de Requisitos Civis da Comissão Consultiva da Defesa Nacional. Foi responsável especificamente pelo planeamento e controlo da indústria de maquinaria metalúrgica [23] . Magdoff escreveu o livro A era do imperialismo ('The Age of Imperialism') (1968), e grande quantidade de artigos.

Paul Baran nasceu na Ucrânia em 1910. Fez os seus estudos no Institute for Social Research em Frankfurt, Cambridge, e em Harvard, onde fez o exame geral para o doutoramento em 1941. Baran trabalhou para o governo dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial e depois da guerra trabalhou para o Departamento do Comércio e para o Banco de Reserva Federal de Nova Iorque. Em 1949 Baran aceitou o cargo de professor associado em Stanford e em 1951 foi promovido a catedrático [24] . Até à sua morte em 1964 Baran foi o único economista marxista aceite nos Estados Unidos. O desagrado pela sua presença expresso por alguns dos bacharéis de Stanford foi objecto de diversas notícias recheadas de pormenores sujos [25] . Baran escreveu diversos artigos e foi co-autor com Sweezy em Capital monopolista. O Economia política do crescimento (1957) foi o seu único livro que é considerado uma das mais importantes obras de economia teórica marxista do período pós-guerra.

III

A Monthly Review foi financiada durante os primeiros anos por uma doação do conhecido literato académico F.O. Matthiessen. Matthiessen, que foi colega e amigo de Sweezy em Harvard, recebeu uma herança substancial em 1948. Não se sabe bem qual o montante exacto da doação mas Magdoff afirma que a notícia da revista Ramparts mencionando 5 000 dólares por ano durante três anos [26] está basicamente correcta [27] . Para além de Huberman e Sweezy, Otto Nathan foi fundador inicial embora Magdoff recorde que "ele pediu para não ser identificado" [28] . Segundo Beatrice Magdoff, mulher de Harry e voluntária de longa data, Huberman e Sweezy "tiveram problemas com Otto Nathan. Eram problemas de personalidade" [29] . A relação de Nathan com a Monthly Review acabou pouco tempo depois da sua inauguração.

A Monthly Review foi fundada inicialmente como uma empresa privada sendo os accionistas Sweezy, Huberman e Sybil May, uma voluntária de longa data. Harry Magdoff comenta que as vantagens da constituição como sociedade comercial deviam-se a "questões de responsabilidades financeiras" [30] . A Monthly Review nunca pretendeu obter lucros para os seus accionistas e nunca os obteve. Conforme Beatrice Magdoff assinala, "A estrutura da propriedade não tinha grande importância. Era meramente um aspecto técnico. Não significava nada" [31] . Quando Huberman morreu as suas acções passaram para Magdoff e quando May morreu em 1978 as acções dela reverteram para a empresa. Na Monthly Review o poder esteve sempre nas mãos dos editores. Magdoff afirma que, independentemente da estrutura empresarial, "era Paul e eu, e antes disso Paul e Leo, quem tomava as decisões – as decisões finais" [32] .

Apesar da doação de Matthiessen, a Monthly Review rapidamente se viu na necessidade premente de apoio financeiro. No princípio de 1950 os editores afirmaram que a revista precisava de uma tiragem de 8 000 exemplares para ser auto-suficiente [33] . Decorreria outra década antes de se alcançar esse número. Em Novembro de 1950 os editores fizeram abertamente o seu primeiro pedido de contribuições para "manter a MR em funcionamento" [34] . A Monthly Review estava na clássica situação difícil das publicações radicais não comerciais nos Estados Unidos. Como se aguentar? A solução foi também a tradicional: ser subsidiado pelo leitor por intermédio de assinaturas e utilizar voluntários e sobretudo colaboração mal paga, de que a deles próprios não era a menor parte.

A maioria das publicações de esquerda é subsidiada pelos grupos ou instituições que representam. Como a Monthly Review estava empenhada numa carreira independente, teve que apelar directamente para os seus leitores para apoio financeiro. Para facilitar esta relação, foi fundada em 1951 o Monthly Review Associates. Os Associates eram assinantes que contribuíam com uma quantia muito acima do preço da assinatura. Posteriormente, quando a Monthly Review Press entrou em funcionamento, os Associates tiveram direito a descontos substanciais nos livros da Monthly Review Press. Todos os anos em Setembro era enviado um apelo aos assinantes pedindo-lhes para aderir e aos Associates já existentes pedindo-lhes para renovar a assinatura. Sybil May foi a directora do Monthly Review Associates até morrer. Beatrice Magdoff recorda que May era "maravilhosa, ela fez todo o trabalho pelos Associates" [35] .

Não é possível dar o devido valor à importância destas contribuições para a sobrevivência da Monthly Review. Conforme os editores afirmaram honestamente em 1958, "sem essa ajuda financeira a MR seria obrigada a encerrar" [36] . Em 1957 informaram que mais de 20 por cento dos assinantes da Monthly Review eram também Associates [37] . E nos finais dos anos 50 os editores informaram que quase 25 por cento das receitas da Monthly Review provinham dos Associates [38] . Quando perguntaram a Harry Magdoff se esse número se tinha mantido relativamente constante ao longo dos anos, ele respondeu "Na verdade não sei qual é a percentagem que provém dos Associates. O que interessa é que é significativo" [39] .

Os legados também desempenharam um papel importante na manutenção da Monthly Review de acordo com Magdoff. As "Notas dos Editores" publicam frequentemente apelos aos leitores para se lembrarem da Monthly Review nos seus testamentos. Embora tenham existido muitos destes legados, Magdoff afirma que "o realmente vultuoso apareceu há uns vinte anos. Isso ajudou-nos a respirar mais à vontade" [40] .

Desde os inícios dos anos 60, a Monthly Review foi forçada a publicar os totais da sua tiragem paga para ter direito a uma autorização de envio por correio de segunda classe. Antes disso, as informações relativas à tiragem da revista são esporádicas. Ao fim de um ano a Monthly Review tinha uma tiragem paga de 2500 exemplares [41] . Nos meados dos anos 50 a tiragem subiu para cerca de 6000 o que se manteve até ao início dos anos 60. Em 1962 a Monthly Review atingiu pela primeira vez uma média de 8000 exemplares vendidos por número [42] . A tiragem não ultrapassaria a marca dos 9000 exemplares por ano senão em 1970 [43] . Os editores observavam em 1968 que a tiragem estava a subir "aflitivamente devagar" [44] .

Os anos 70 provaram ser uma década muito boa. Em 1972 a tiragem da Monthly Review ultrapassou pela primeira vez a marca dos 10 mil exemplares [45] e manteve-se acima deste número em média até 1981. Os anos 80 foram um período de redução da tiragem da Monthly Review. Os números de tiragens mais recentes, a partir de Novembro de 1983, mostram uma tiragem média de 8 309 superior à do ano anterior [46] .

Devemos realçar três pontos no que se refere à tiragem da Monthly Review. Primeiro, uma percentagem muito alta aparece sob a forma de assinaturas. Segundo, a leitura real da Monthly Review é significativamente mais alta do que a tiragem paga. Os editores avaliam que há quatro ou cinco leitores por cada exemplar e isto está em linha com as estimativas gerais que as pessoas da indústria das publicações fazem para as revistas mensais [47] .

Finalmente, é difícil dizer se o recente declínio da tiragem da Monthly Review se deve a uma redução da popularidade. Conforme os editores assinalam na edição de Abril de 1984, "É uma 'lei' bem conhecida no negócio da publicação de revistas que é preciso continuar a correr para se ficar onde se está [48] . Ou, por outras palavras, a lista de assinaturas está sujeita a um factor de erosão intrínseco". E a Monthly Review tem tido dificuldades em "continuar a correr" no sentido comercial do termo. Harry Magdoff afirma que "o que é espantoso na nossa tiragem é que apareceu praticamente sem qualquer publicidade. Nós nunca fizemos uma verdadeira publicidade à revista a não ser uma vez" [49] . E Beatrice Magdoff observa que o facto de ser uma publicação orientada para a universidade torna ainda mais difícil manter os níveis da tiragem: "O problema é que as pessoas acabam os cursos e vão-se embora" [50] .

Embora a Monthly Review tenha obviamente conseguido manter a cabeça fora de água durante 35 anos, houve várias ocasiões em que esteve em causa a sua sobrevivência. Em 1954 os editores afirmaram que para a sua sobrevivência seria necessária uma generosa resposta dos Associates ao apelo anual [51] . Em 1957 houve um pedido de capital, e fizeram-se mesmo empréstimos [52] . Os anos 60 foram um período relativamente desafogado para a publicação. Em 1965 os editores escreveram que "a maior necessidade da MR não é a contribuição financeira, por mais generosa ou adequada que seja, mas um aumento de tiragem e a venda de livros" [53] . No entanto, as recessões do início e dos meados dos anos 70 minaram gravemente a base financeira da Monthly Review e apanharam-na numa situação clássica de sobre-expansão [54] .

A mais grave crise financeira da história da Monthly Review ocorreu no ano passado. A combinação da recessão, da inflação, do grande aumento dos custos de impressão, e a redução da tiragem levaram os editores a descrever esta situação como a "pior situação de sempre" da Monthly Review . [55] Um apelo de emergência para arranjar 100 mil dólares foi bem sucedido e a crise foi debelada de momento. Apesar disso, mantêm-se os problemas subjacentes e a Monthly Review está a tentar enfrentá-los. Por um lado, os custos e as despesas gerais foram reduzidos até ao osso. Mas Susan Lowes, a actual directora da Press e na verdade a directora comercial da revista reconhece que, na melhor das hipóteses, estas medidas só servem para preencher lacunas: "Tradicionalmente resolvemos os problemas reduzindo as despesas. Mas é uma solução impossível a longo prazo porque isso torna ainda muito mais difícil gerar receitas" [56] . A solução a longo prazo, segundo Lowes, será um "esforço concertado muito maior para arranjar capital de giro. Precisamos de arranjar fundos de maneio" [57] .

Em 1980 foi dado um passo importante para remover os obstáculos às doações quando a Monthly Review e a Monthly Review Press passaram a fazer parte de uma recém-criada Fundação Monthly Review sem fins lucrativos [58] . Todas as acções da Monthly Review, Inc. foram doadas à recém-formada Fundação. O IRS aceitou que todas as doações dos Associados da Monthly Review acima de 50 dólares passassem a ser dedutíveis nos impostos. Além disso, os legados à Monthly Review passaram a ser dedutíveis nos impostos e a Monthly Review passou a poder beneficiar de todo o tipo de privilégios que anteriormente estavam fora do seu alcance.

Lowes não sabe bem se este estatuto de instituição sem fins lucrativos tem sido um benefício real para a angariação de fundos, neste momento: "Honestamente não sei se o estatuto de instituição sem fins lucrativos ajudou a arranjar dinheiro mas é de esperar que sim, especialmente no que se refere aos grandes doadores" [59] . A vantagem mais imediata do estatuto de instituição sem fins lucrativos, segundo Lowes, é ter taxas de correio mais baratas: "É uma vantagem enorme e foi a principal razão para o fazer" [60] .

A constituição da Fundação Monthly Review também exigiu uma redefinição da direcção e da tomada de decisões na revista. A Fundação tem um conselho de seis membros que, segundo Harry Magdoff, "está a dar apoio na direcção da política geral, mas não nas decisões editoriais" [61] . A importância desta evolução tornar-se-á bastante evidente no futuro quando Sweezy e Magdoff, ambos com setenta anos, tiverem que se afastar. Como Magdoff afirma em relação ao que ele e Sweezy projectam para a Monthly Review depois de se irem embora: "Não temos planos. Isso será da responsabilidade do conselho" [62] . Neste momento o autor desconhece qual a composição do conselho e a forma como são seleccionados os seus membros.

Para além de arranjar mais contribuições, a Monthly Review procurou sempre aumentar a sua tiragem como forma de arranjar dinheiro. (Claro que, ao contrário do editor privado típico, a razão principal de os editores quererem aumentar a tiragem é fazer chegar o conteúdo da revista, ou mais precisamente, o conteúdo do editorial, a um maior número de pessoas). Sem dinheiro para dispendiosas campanhas de promoção, a revista tem confiado geralmente na publicidade boca a boca [63] . Os editores exortaram muitas vezes os leitores a levar os seus amigos e as bibliotecas locais a fazerem assinaturas [64] . Mas a única promoção significativa para um aumento da tiragem ocorreu em meados dos anos 70 quando a revista começou a comprar e a trocar listas de endereços com outros grupos com tendências de esquerda. Os resultados imediatos desta campanha foram impressionantes – as assinaturas aumentaram 20 por cento nos meados dos anos 70 [65] . No entanto, a promoção foi demasiado cara para poder ser repetida. A experiência ainda está fresca no espírito de Harry Magdoff: "Acho que se fizéssemos um trabalho de vendas agressivo podíamos aumentar o número de leitores" [66] .

IV

A Monthly Review envolveu-se na publicação de livros pela primeira vez em 1952 quando I.F. Stone mencionou aos editores numa conversa acidental que estava a ter dificuldades em encontrar um editor para o seu livro Uma história encoberta da guerra da Coreia (A Hidden History of the Korean War). [67] Huberman e Sweezy acharam que o livro "não podia desaparecer só por falta de editor" [68] e assim nasceu a Monthly Review Press. Nos 15 anos seguintes a Press foi dirigida por Leo Huberman mas manteve-se integrada na revista. Os editores disseram exultantes em 1959: "A MR Press pode vir a ser uma editora experiente, uma espécie de editora universitária da esquerda americana: estamos agora perfeitamente convencidos disso" [69] . Apesar disso, a produção publicada durante este período foi bastante esparsa; nos primeiros sete anos a Press publicou apenas nove livros [70] . Em 1976 Harry Magdoff escreveu sobre os primeiros dias da Press: "A Press manteve-se nos seus primeiros anos fundamentalmente como um auxiliar da revista. Estava emperrada por muitos constrangimentos práticos e parecia destinada a manter-se uma criança fraca e subdesenvolvida" [71] .

Tudo isto mudou quando a Monthly Review foi buscar Harry Braverman em 1967 para presidente e director da Press [72] . Braverman tinha uma grande experiência como editor. Nos anos 50 fora co-editor do The American Socialist durante seis anos e durante os anos 60 trabalhou como editor sénior e vice-presidente da Grove Press. Braverman era também um perfeito literato; o seu Trabalho e capital monopolista (Labor and Monopoly Capital) foi uma das obras socialistas mais fortemente aplaudidas dos anos 70. Susan Lowes comenta que "Harry foi quem de facto pôs a Press a funcionar" [73] . Inaugurou uma série de publicações em brochura e aumentou fortemente o ritmo de publicações. Ao fim de dois anos a Monthly Review Press estava a publicar 15 a 20 títulos por ano. Lowes afirma que "mantivemo-nos quase sempre com esse ritmo a não ser durante a recessão de meados da década de 70 e de 81-82'" [74] .

Harry Braverman morreu em 1976 após doença prolongada. Foi substituído por Jules Geller que funcionou como director até se reformar em 1983. Desde então tem sido Susan Lowes a estar à sua frente. Lowes trabalhara com Braverman na Grove Press e trabalhava na Monthly Review desde 1969. A Monthly Review Press cresceu numa actividade considerável com dez empregados a tempo inteiro ou parcial. Até há pouco tempo havia mais dois empregados quando a Press administrava o seu próprio armazém. Razões de ordem financeira forçaram a Press a entregar essas tarefas a terceiros.

Enquanto empresa, a Monthly Review Press tem que se subordinar às práticas comerciais tradicionais como qualquer outra editora. Para além disso, a publicação de livros de esquerda de vendas baixas não permite que a Press retire vantagens dos baixos custos marginais que acompanham as enormes vendas das casas comerciais. Este facto teve que ser explicado aos leitores da Monthly Review pelo menos uma vez, pois parece que havia quem pensasse que uma editora "socialista" podia resistir não sei como aos malefícios da inflação e renunciar à subida dos preços [75] . Assim, Lowes afirma que "a escolha dos livros tem que ter em conta a sua possibilidade de ser comercializado. Tem que existir" [76] . No entanto, a Press está disposta a apostar num livro, "se for importante e tiver uma contribuição teórica ou qualquer coisa desse tipo, avançamos com ele de qualquer modo" [77] . Mas Lowes acrescenta logo que "se se publicarem muitos livros desse tipo ficamos em dificuldades" [78] .

Os livros da Monthly Review Press vendem em qualquer lugar 500 a 10 mil exemplares por ano. Lowes calcula que mais de metade das vendas são feitas a universidades [79] . No entanto, independentemente de qual tenha sido o êxito crítico da Monthly Review Press, nunca houve filas de compradores. Lowes declara que "a Press precisa de subsídios tal como a revista. Funciona em défice" [80] . A recente retracção financeira que afectou a revista também atingiu a Press. E as coisas não melhoraram quando as encomendas das faculdades para 1983-84 foram substancialmente menores do que se esperava [81] .

Apesar de tudo, Lowes mostra-se optimista quanto ao futuro: "Os nossos objectivos? Publicar mais livros. Provavelmente vamos publicar mais livros sobre os Estados Unidos e mais livros dirigidos aos activistas. Mas vamos manter sempre a nossa ênfase sobre o Terceiro Mundo" [82] . Também a nível de planos, segundo Lowes, encontra-se uma série de obras de ficção, uma direcção relativamente nova para a Press: "Estamos a planear uma série de romances, romances destinados à classe trabalhadora em todo o mundo. Está na forja. Conseguimos o acordo do conselho consultivo [83] .

V

A parte relativa à revista Monthly Review tem funcionado praticamente com o mínimo de pessoal que se possa imaginar. No primeiro ano os editores gozaram com um cartão de felicitações do Ano Novo que cumprimentava os editores e "toda a equipa": "'Toda a equipa' da MR, para além dos editores, consiste em mais uma pessoa que funciona como guarda-livros, estenógrafo, arquivista, expedidor e tudo o resto" [84] . A situação não se alterou grande coisa com o passar dos anos. Em 1972 os editores reconheceram que "não temos ajuda na pesquisa" [85] . E em 1976 os editores comentavam extensamente sobre a situação da equipa: "Por vezes achamos graça… ao saber que parece ser uma premissa bastante comum que a MR é como uma das grandes revistas que têm uma equipa de secretárias e de investigadores (por vezes mesmo carros e motoristas) que mantêm tudo actualizado, tudo a correr sobre rodas, etc. Para bem ou para mal… esta imagem não tem qualquer semelhança com a realidade. Somos só três pessoas na equipa da revista" [86] .

A terceira posição referida na passagem anterior era a de Editor Associado. A princípio foi preenchida por Frances Kelly, nos inícios dos anos 60 [87] . Kelly regressou posteriormente à sua Inglaterra natal para abrir o escritório da Monthly Review em Londres. Em 1969 entrou Bobbye Ortiz como Editora Associada [88] . A sua principal função parece ter sido a de editar e corrigir textos, embora não seja claro se tinha outras responsabilidades. Aposentou-se no ano passado e foi substituída por Karen Judd que tem sido editora na Monthly Review já há algum tempo. Embora esta posição possa ser de enorme valor para os editores, não se pode dizer que seja lucrativa. Beatrice Magdoff descreve Ortiz como sendo "na prática" uma voluntária [89] .

Os voluntários foram sempre essenciais para o funcionamento quotidiano da Monthly Review. A já mencionada Sybil May é talvez a mais relevante mas grande quantidade de outros preencheram lugares de recepcionistas, contabilistas, gestores de assinaturas e outros. Segundo parece, as mulheres de Leo Huberman e de Harry Magdoff, Gert Huberman e Beatrice Magdoff, desempenharam papéis especialmente importantes. Paul Sweezy escreveu que "sem elas duas, a MR decerto não seria o que é hoje" [90] . Os editores tentaram ser justos com esta bolsa de trabalho nitidamente necessário mas obviamente explorado. Beatrice Magdoff recorda que "Leo tinha uma coisa em relação aos voluntários. Fazia questão de lhes pagar 25 dólares" [91] .

A gestão comercial da Monthly Review mudou significativamente ao longo dos anos. Até ao fim dos anos 60 Leo Huberman funcionou como director comercial. Quando Harry Braverman assumiu a Press passou a encarregar-se também das responsabilidades comerciais da revista. Isso continuou com Jules Geller e agora com Susan Lowes. Lowes declara que "pode dizer-se que a revista enquanto negócio passou cada vez mais para o controlo da Press" [92] . Ou, como disse Harry Magdoff, "a Press é realmente a parte perigosa da operação" [93] . É assim que a Press presentemente é responsável pela distribuição e assinaturas da revista.

Durante alguns anos nos finais dos anos 70 e princípios dos anos 80, a Monthly Review teve um gestor comercial a tempo inteiro, bem pago. Infelizmente a pessoa que preencheu este cargo não é recordada como tendo sido uma mais valia para a empresa e a sua saída não foi lamentada. Pouco se escreveu sobre esse episódio e ainda se falou menos nisso. Conforme recorda Beatrice Magdoff, "Foi um desastre. Prefiro não falar nisso" [94] .

Embora a Monthly Review seja uma empresa em apuros dependente das doações e dos voluntários para sobreviver, tornou-se apesar disso uma célula sindical nos últimos 20 anos. Harry Magdoff recorda que "isso partiu das pessoas que aqui trabalham. Podem entrar todos os que não contratam nem despedem. É preciso sindicalizar-se para trabalhar na Monthly Review " [95] . Os trabalhadores abrangidos estão todos na área editorial do negócio. São membros do Distrito 65 que veio a filiar-se na United Automobile Workers na década passada [96] . Segundo Susan Lowes, os membros sindicalizados recebem salários equiparados aos dos outros trabalhadores na indústria editorial [97] .

Embora evidentemente os editores se orgulhem de a Monthly Review ser uma empresa sindicalizada (union shop) , esse facto exagerou uma tendência que é habitual nas publicações em apuros, de tendências de esquerda: Os trabalhadores manuais e os empregados de nível mais baixo são relativamente bem pagos enquanto que os "patrões" recebem trocos [98] . Conforme afirma Beatrice Magdoff, "Paul, Harry, os editores, recebem todos salários 'movement'. (Salários 'movement' é a expressão política elegante para pagamento de subsistência). Prossegue reconhecendo que "foi um disparate fazer" a sindicalização na Monthly Review [99] .

A Monthly Review teve sempre a sua sede em Nova Iorque e normalmente em Greenwich Village. Nos primeiros anos a revista funcionava no apartamento de Leo Huberman [100] embora durante um período no final dos anos 50 e princípio dos anos 60 a Monthly Review tenha sublocado um espaço em The Nation. Além disso, a Monthly Review manteve um escritório em Londres de 1966 a 1983. O escritório de Londres encarregava-se das assinaturas e pedidos de livros da Grã-Bretanha. No entanto, comenta Susan Lowes, o escritório de Londres na verdade nunca gerou grande quantidade de receitas: "Chegou uma altura em que estávamos numa expansão tal, não me refiro a nós mas à economia como um todo, que era possível transformar qualquer coisa num negócio. Mas com a recessão, aquilo [o escritório de Londres] tornou-se um empecilho" [101] . Além disso, Lowes comenta que o escritório de Londres não conseguiu integrar-se completamente no funcionamento global da Monthly Review: "Nunca fez o que supostamente devia fazer. Devia actuar como um batedor para a Press, descobrir material novo" [102] .

O escritório de Londres não foi a única tentativa da Monthly Review para assegurar uma presença internacional. Por diversas vezes nos últimos 20 anos a Monthly Review foi traduzida em quatro línguas estrangeiras – espanhol, italiano, grego e alemão – e distribuído além-mar. As edições italianas e gregas ainda continuam a ser publicadas e estão em curso planos para uma versão indiana [103] . Estas edições da Monthly Review em línguas estrangeiras são na verdade propriedade dos tradutores além-mar; a Monthly Review não tem qualquer interesse ou risco financeiro no seu funcionamento enquanto empresas comerciais.

A Monthly Review em espanhol foi fundada em 1963 em Buenos Aires. Um ano depois a tiragem atingia os 8 000 exemplares – tanto quanto a da Monthly Review em inglês [104] . No entanto, as pressões políticas forçaram-na a mudar-se para Santiago do Chile em 1967 onde passou a ser publicada até 1970. Nessa altura a Monthly Review em espanhol foi suprimida por razões financeiras embora em 1973 tenha havido uma curta tentativa para a ressuscitar em Bogotá [105] . Mas após sete números esta versão afundou-se também em tinta vermelha [106] . A Monthly Review de língua espanhola mais recente foi lançada em Barcelona em 1977 depois da morte de Franco. Esta versão sobreviveu até 1982 quando a falta de dinheiro e "o declínio da esquerda espanhola" olearam os mecanismos para a sua morte [107] .

O primeiro pontapé para a edição italiana da Monthly Review foi dado em 1967. Tal como com as edições em espanhol, os editores americanos anunciaram que "apenas pode ser incluído nas edições em língua estrangeira o material que apareceu na edição inglesa ou o que for expressamente aprovado por nós" [108] . No entanto, em 1971 a edição italiana começou a apresentar o seu próprio material sobre a economia italiana e comentários a livros italianos. Os editores não estavam em posição de autorizar este material; de facto, a certa altura fizeram um pedido para ver se alguns dos seus leitores americanos lho podia traduzir [109] . Esta falta de controlo editorial foi resolvida com a divisão da Monthly Review italiana em duas partes editoriais distintas – uma parte de origem local e a outra parte tradução da Monthly Review inglesa. Embora Harry Magdoff actualmente não consiga apresentar números da tiragem da edição italiana, no início dos anos 70 houve a informação de que era "metade da edição em inglês" [110] .

As edições alemã e grega apareceram pela primeira vez em 1975 e embora a Monthly Review alemã tenha desaparecido silenciosamente em 1978, a edição grega ainda se mantém. Tal como a Monthly Review italiana, a edição grega tem adicionado ao material traduzido muitos artigos sobre a Grécia. E mantém-se a mesma separação rígida das duas partes visto que, afirma Harry Magdoff "não temos controlo editorial" [111] .

VI

Beatrice Magdoff comenta que o público leitor da Monthly Review "se centra-se fortemente na comunidade universitária" [112] . Em relação aos leitores da Monthly Review, Harry Magdoff afirma que "diria que são na sua maioria estudantes, professores, especialistas. Alguns socialistas dos velhos tempos da classe trabalhadora" [113] . Uma análise à lista de endereços da Monthly Review provavelmente confirmaria esta tendência mas seria muito mais fiável um estudo do público leitor. A Monthly Review só efectuou um inquérito aos leitores – em 1957 – e os resultados confirmam a intuição de Magdoff. Segundo os resultados publicados, "os leitores da MR safavam-se bem" em termos de rendimentos em comparação com o conjunto da população [114] . Além disso, 72 por cento dos leitores da Monthly Review tinham o curso médio e 42 por cento tinham frequentado a universidade [115] .

A Monthly Review nunca teve um público leitor da classe trabalhadora. Inicialmente isto parecia ser uma área de preocupação para os editores porque escreveram que "estamos hoje mais conscientes do que ninguém de que ainda não conseguimos chegar a um público substancial da classe trabalhadora" [116] . No entanto, cedo se tornou evidente que a Monthly Review não interessava aos trabalhadores comuns e os editores reconheceram e assimilaram esse facto. "Temos que reconhecer que a MR não aspira a alcançar uma audiência de massas directamente" [117] . E, no que diz respeito à Monthly Review Press, os editores escreveram em 1979 que "é muito difícil que os livros radicais do tipo publicado pela MR Press cheguem a ser lidos pela classe trabalhadora" [118] .

Os editores da Monthly Review exprimiram o desejo de atingir os activistas, as pessoas interessadas na política radical e os "indecisos" [119] . Os dois grupos privilegiados do esquema de distribuição da Monthly Review tem sido os estudantes e os presos. Os estudantes beneficiaram de descontos nas assinaturas durante bastante tempo. No início dos anos 70 a Monthly Review iniciou um programa para presos o qual oferecia assinaturas grátis e livros a preços reduzidos aos presos americanos [120] . Embora este programa fosse considerado de grande êxito, dependia das contribuições para sobreviver e teve que ser suspenso em 1976 por falta de fundos [121] .

Embora a Monthly Review esforce-se por evitar ser uma revista académica, os editores dão uma enorme ênfase à clareza e à terminologia não técnica nos artigos que decidem publicar [122] . Além disso, dá-se preferência a artigos com uma extensão de menos de 15 páginas duplas. A Monthly Review é um tanto limitada na sua capacidade de aplicar estas políticas dada a sua política quanto a ofertas de colaboração. Beatrice Magdoff afirma: "Nunca solicitámos artigos porque se o fizéssemos tínhamos que os publicar" [123] . E segundo os editores não é possível uma interpretação estrita dos padrões da Monthly Review: "Não podíamos, mas mesmo assim enchíamos a revista" [124] .

Uma das questões da Monthly Review desde os seus primeiros dias foi se a publicação deveria tentar expandir os seus horizontes para além da área geral da economia política até áreas de questões estéticas e culturais. A par desta havia a preocupação de que a revista fosse demasiado monótona e indigesta para atrair novos leitores – mesmo os da esquerda. Estas preocupações foram explanadas numa carta aos editores pelo colaborador de longa data Michael Tanzer em 1978. Primeiro, sugeriu que a Monthly Review devia dar cobertura à cultura popular: "Se a MR pretende atingir uma audiência mais lata da esquerda agora e no futuro (e uma audiência americana), acho que seria importante aventurar-se nesta área, quanto mais não seja porque o cinema e a TV, mais ainda do que os livros, são os meios de comunicação da maior parte das pessoas" [125] . Segundo, Tanzer escreveu que "preocupa-me… que alguns dos meus amigos íntimos que são socialistas independentes e estão geralmente de acordo com a abordagem da MR, raramente lêem a revista; além disso deram indicações de que se houvesse um maior equilíbrio na revista e mais artigos de economia que não fossem tão 'maçudos, sentir-se-iam mais dispostos a lê-la" [126] .

Depois de publicar a carta de Tanzer, os editores pediram comentários aos leitores interessados. Receberam uma enorme quantidade de correspondência tanto de apoio como crítica aos pontos que Tanzer levantara. Na sua resposta aos comentários alguns meses depois os editores preveniram os seus leitores de que o seu território era acompanhado por uma certa quantidade de "monotonia" e de "terminologia difícil": "Até certo ponto compreendemos este tipo de críticas… Mas ao mesmo tempo é preciso lembrar aos leitores que não pretendemos atingir uma audiência de massas: evidentemente nunca o conseguiríamos mesmo que quiséssemos. Pretendemos fazer análises e debates marxistas sérios apresentados duma forma facilmente inteligível…Atingir este objectivo exige a adesão a padrões aceites (teóricos e empíricos) de trabalho científico e limita a extensão até onde pode ser levada a simplificação e a popularização" [127] .

Quanto à necessidade de expandir a cobertura a questões culturais, os editores optaram por um compromisso: "Seria uma forma de tentar melhorar a nossa análise do capitalismo mundial (e as suas contradições) através de um maior uso de materiais culturais" [128] . Na prática, contudo, a Monthly Review manteve a mesma linha editorial que seguira desde a sua fundação. Quando perguntaram há pouco tempo a Magdoff sobre a hipótese de expandirem a cobertura da Monthly Review a áreas culturais, ele respondeu: "A sugestão é óptima. Se encontrarmos alguma coisa boa, publicamo-la. Pouco sabemos sobre estética" [129] .

A relutância da Monthly Review em aventurar-se num território novo explica-se melhor pela sua reconhecida ignorância nestas áreas. Além disso, podia afirmar-se com razão que há outras publicações da esquerda que apresentam frequentemente este tipo de material. Apesar disso, em 1965 a Monthly Review publicou um suplemento cultural sob a direcção de Francês Kelly [130] . Como apareceu apenas uma vez e com o título de REVIEW I, parece que não aguçou o apetite dos editores para mais explorações estéticas. Harry Magdoff recorda a REVIEW I como "muito dispendiosa. Olhando para trás, foi uma loucura fazê-la. Foi uma experiência" [131] .

VII

Se a Monthly Review tem sido limitada pelo interesse dos editores em questões sérias políticas e económicas, essa é também a razão do êxito da publicação. Porque acima de tudo o que distingue a Monthly Review do pacote de jornais intelectuais de esquerda foi sempre a perspectiva especial e penetrante dos editores. Uma Monthly Review que desse realce a temas como a ética sexual, o rock punk, e o cinema de vanguarda poderia provavelmente atrair novos leitores. Mas se, ao fazê-lo, pusesse de lado as questões críticas que fizeram a imagem de marca da Monthly Review – por ex. as tendências de estagnação do capitalismo dos EUA, a natureza da sociedade socialista, do imperialismo e do Terceiro Mundo – certamente iria perder os leitores que têm sido o pilar do seu apoio.

Enquanto empresa comercial, a Monthly Review aprendeu a aceitar o seu lugar à margem da viabilidade económica e tira partido disso o mais que pode. Através de doações, trabalho voluntário e salários de subsistência para os editores, a revista tem sido capaz de sobreviver. Talvez o facto de a Monthly Review nunca ter adoptado as teorias de gestão cooperativa da Nova Esquerda com um controlo de trabalhadores igualitário tenha ajudado à sua sobrevivência. (Como exemplo de uma publicação que foi totalmente despedaçada pela gestão dos trabalhadores vejam o National Guardian ). Como a importância da Monthly Review está tão intimamente ligada às contribuições específicas dos editores, qualquer sistema de gestão que não tivesse este facto em consideração seria geradora de problemas.

São muitas as façanhas da Monthly Review. Fundou uma importante casa editora e é considerada por uma fonte como "a mais famosa revista ignorada da América" [132] . No entanto o seu futuro é duvidoso. Há os eternos problemas financeiros que parecem ser incontornáveis seja a que distância for. Muito mais importante, porém, é a questão do futuro da Monthly Review depois de Sweezy e Magdoff. Embora haja quem partilhe dos seus interesses e preocupações, poucos têm revelado a capacidade deles para uma análise marxista original e disciplinada. Ainda está para se ver se a moldura institucional que criaram é suficientemente forte para a levar até à nova geração. No entanto, se é que aprendemos alguma coisa com o passado da Monthly Review, o melhor é não apostar contra ela.

Notas

1 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

2 "Notes from the Editors," Monthly Review 27, no. 7 (December 1975).

3 "Notes from the Editors," Monthly Review 24, no. 7 (December 1972).

4 Peter Clecak, "MR: An Assessment," Monthly Review 20, no. 6 (November 1968), 3.

5 Ibid., 3.

6 "Viewing U.S. Economy with a Marxist Glass," Business Week (April 13, 1963), 68.

7 Ibid., 68.

8 Ibid., 68.

9 "Notes from the Editors," Monthly Review 11, no. 10 (March 1960).

10 "Could Karl Marx Teach Economics in America?" Ramparts (April 1974), 54.

11 Ibid., 54.

12 "Notes from the Editors," Monthly Review 34, no. 6 (November 1982).

13 "Notes from the Editors," Monthly Review 8, no. 1 (May 1956).

14 "Notes from the Editors," Monthly Review 12, no. 9 (February 1961).

15 "Notes from the Editors," Monthly Review 20, no. 2 (June 1968).

16 Ramparts, 55.

17 Paul Sweezy, "Announcement," Monthly Review 21, no. 1 (May 1969), 2.

18 "Foreward," Monthly Review 16, no. 11 (April 1965), vi

19 "Notes from the Editors," Monthly Review 20, no. 7 (December 1968).

20 Paul Samuelson, "Memories," Newsweek (June 2, 1969), 83.

21 Newsweek, 68.

22 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

23 1983 Catalogue, Monthly Review Press, 26.

24 Paul Sweezy, "A Personal Memoir," Monthly Review 16, no. 11 (April 1965), 40.

25 Ramparts, 55.

26 Ibid., 55.

27 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

28 Ibid.

29 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

30 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

31 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

32 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

33 "Notes from the Editors," Monthly Review 1, no. 10 (February 1950).

34 "Notes from the Editors," Monthly Review 2, no. 7 (November 1950).

35 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

36 "Notes from the Editors," Monthly Review 10, no. 5 (September 1958).

37 "Notes from the Editors," Monthly Review 9, no. 6 (October 1957).

38 "Notes from the Editors," Monthly Review 10, no. 5 (September 1958).

39 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

40 Ibid.

41 "Notes from the Editors," Monthly Review 2, no. 2 (June 1950).

42 "Circulation Statement," Monthly Review 19, no. 7 (December 1962), 64.

43 "Circulation Statement," Monthly Review 22, no. 6 (November 1970), 64.

44 "Notes from the Editors," Monthly Review 20, no. 6 (November 1968).

45 "Circulation Statement," Monthly Review 24, no. 6 (November 1972), 64.

46 "Circulation Statement," Monthly Review 35, no. 7 (December 1985), 64.

47 "Notes from the Editors," Monthly Review 35, no. 9 (February 1984).

48 "Notes from the Editors," Monthly Review 35, no. 11 (April 1984).

49 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

50 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

51 "Notes from the Editors," Monthly Review 6, no. 7 (November 1954).

52 "Notes from the Editors," Monthly Review 9, no. 4 (August 1957).

53 "Notes from the Editors," Monthly Review 17, no. 5 (October 1965).

54 "Notes from the Editors," Monthly Review 24, no. 9 (February 1973).

55 "Notes from the Editors," Monthly Review 35, no. 2 (June 1983).

56 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

57 Ibid.

58 "Notes from the Editors," Monthly Review 32, no. 4 (September 1980).

59 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

60 Ibid.

61 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

62 Ibid.

63 "Notes from the Editors," Monthly Review 9, no. 11 (March 1958).

64 "Notes from the Editors," Monthly Review 14, no. 1 (May 1962).

65 "Notes from the Editors," Monthly Review 28, no. 2 (June 1976).

66 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

67 "Notes from the Editors," Monthly Review 3, no. 9 (January 1952).

68 Ibid.

69 "Notes from the Editors," Monthly Review 10, no.9 (January 1959).

70 "An Open Letter to Our Readers," Monthly Review 9, no. 12 (April 1958), 432.

71 "Notes from the Editors," Monthly Review 28, no. 4 (September 1976).

72 "Notes from the Editors," Monthly Review 19, no. 5 (October 1967).

73 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

74 Ibid.

75 "Notes from the Editors," Monthly Review 21, no. 1 (May 1969).

76 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

77 Ibid.

78 Ibid.

79 Ibid.

80 Ibid.

81 "Notes from the Editors," Monthly Review 35, no.4 (September 1983).

82 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

83 Ibid.

84 "Notes from the Editors," Monthly Review 10, no. 10 (February 1950).

85 "Notes from the Editors," Monthly Review 24, no. 7 (December 1972).

86 "Notes from the Editors," Monthly Review 27, no. 10 (March 1976).

87 "Notes from the Editors," Monthly Review 14, no. 9 (February 1963).

88 "Notes from the Editors," Monthly Review 21, no. 8 (January 1970).

89 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

90 "Notes from the Editors," Monthly Review 34, no. 9 (February 1983).

91 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

92 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

93 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

94 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

95 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

96 "Notes from the Editors," Monthly Review 33, no. 7 (December 1981).

97 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

98 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

99 Ibid.

100 Ibid.

101 Entrevista telefónica com Susan Lowes, May 7, 1984.

102 Ibid.

103 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

104 "Notes from the Editors," Monthly Review 15, no. 9 (February 1964).

105 "Notes from the Editors," Monthly Review 22, no. 4 (September 1970).

106 "Notes from the Editors," Monthly Review 29, no. 2 (June 1977).

107 "Notes from the Editors," Monthly Review 33, no. 11 (April 1982).

108 "Notes from the Editors," Monthly Review 19, no. 7 (December 1967).

109 "Notes from the Editors," Monthly Review 20, no. 10 (March 1969).

110 Ibid.

111 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

112 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

113 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

114 "Who You Are," Monthly Review 9, no. 12 (April 1958), 427.

115 Ibid., 427.

116 "Notes from the Editors," Monthly Review 2, no. 5 (September 1950).

117 "Notes from the Editors," Monthly Review 24, no. 7 (December 1972).

118 "Notes from the Editors," Monthly Review 30, no. 10 (March 1979).

119 "Notes from the Editors," Monthly Review 2, no. 11 (March 1951).

120 "Notes from the Editors," Monthly Review 24, no. 3 (July-August 1972).

121 "Notes from the Editors," Monthly Review 27, no. 6 (November 1973).

122 "Notes from the Editors," Monthly Review 23, no. 5 (October 1971).

123 Entrevista telefónica com Beatrice Magdoff, May 4, 1984.

124 "Notes from the Editors," Monthly Review 26, no. 10 (March 1975).

123 Michael Tanzer, "Should MR Broaden Its Scope?" Monthly Review 30, no. 1 (May 1978), 62.

126 Ibid., 62.

127 "Notes from the Editors," Monthly Review 30, no. 3 (July-August 1978).

128 Ibid.

129 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

130 "Notes from the Editors," Monthly Review 16, no. 10 (March 1965).

131 Entrevista telefónica com Harry Magdoff, May 8, 1984.

132 Ramparts, 54.

Fundador e presidente da Free Press , professor da Universidade do Illinois em Urbana-Champaign e autor ou editor de 12 livros premiados, incluindo Telecommunications, Mass Media, and Democracy: The Battle for the Control of U.S. Broadcasting, 1928-1935; Corporate Media and the Threat to Democracy; The Global Media: The New Missionaries of Corporate Capitalism (com Edward S. Herman); Our Media, Not Theirs (com John Nichols); Rich Media, Poor Democracy: Communication Politics in Dubious Times; The Problem of the Media: U.S. Communication Politics in the Twenty-First Century; e, mais recentemente, Tragedy & Farce: How the American Media Sell Wars, Spin Elections and Destroy Democracy (com John Nichols). Apresenta um programa semanal, Media Matters , na rádio WILL-AM, filial da NPR em Urbana, Illinois.

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