Sobre

Este blog parte de uma convicção simples: a de que compreender o mundo exige recuperar o poder explicativo da análise de classe e a relevância política dos interesses materiais. Diante da hegemonia de abordagens centradas em "valores", "identidades" ou "reconhecimento", buscamos reinscrever a luta de classes no centro da reflexão sobre o presente — sem, contudo, regressar a formas rígidas ou reducionistas de marxismo.

A chamada "nova cultura marxista" tem o mérito de recolocar a questão material no debate, mas muitas vezes o faz de modo abstrato, tratando os interesses como essências fixas, dotadas de poder causal independente das pessoas e de suas lutas. Contra esse idealismo disfarçado de materialismo, afirmamos que os interesses não são fatos econômicos imutáveis, mas conjuntos de capacidades que grupos sociais podem realizar sob determinadas condições históricas.

Assim, os interesses materiais ganham sentido apenas quando ligados a um horizonte de realizabilidade — quando deixam de ser meras abstrações e se tornam demandas concretas, articuladas na disputa política. Diferentes horizontes correspondem a diferentes temporalidades e graus de plausibilidade: há interesses imediatos, defensivos, ligados à preservação do presente, e há interesses virtuais, orientados para futuros ainda distantes, mas historicamente possíveis.

O realismo capitalista restringe nosso campo de visão, fazendo parecer que apenas a defesa dos privilégios existentes é "realista". A tarefa da política radical é expandir esse horizonte, encorajando indivíduos e coletivos a imaginar e lutar por futuros que hoje parecem improváveis, mas que podem se tornar plausíveis por meio da ação organizada.

A construção da consciência de classe é, portanto, um processo de ampliação do imaginável — um esforço para transformar potenciais em possibilidades, e possibilidades em demandas. Nesse sentido, a especulação política, a cultura e o impulso utópico não são ornamentos da luta, mas parte essencial dela: são o laboratório em que novos interesses materiais e novos mundos possíveis se tornam pensáveis.

Este blog dedica-se a explorar essas questões. Nosso ponto de partida é empírico e estratégico, mas também comprometido com a imaginação política. Buscamos compreender como os interesses se formam, se transformam e se realizam — e como, nas condições presentes, ainda é possível lutar por um futuro que não se limite à administração do existente.