Carolina Linhares
Julia Chaib
Bruno Boghossian
Folha de S.Paulo
Geraldo Alckmin durante congresso do Sindicato dos Aposentados, em Mongaguá - 16.dez.21/Geraldo Alckmin no Twitter |
O ex-governador Geraldo Alckmin se filia nesta quarta-feira (23) ao PSB sem levar políticos de peso ao novo partido, mas com o trunfo de garantir à sigla a cadeira de vice na chapa do ex-presidente Lula (PT) e com a missão de simbolizar o aceno do petista à centro-direita.
Integrantes do PT e do PSB esperam que Alckmin tenha protagonismo na campanha para o Palácio do Planalto e também em um eventual governo, embora seus papéis ainda não estejam totalmente definidos.
Em conversas reservadas, Lula tem afirmado querer um vice com quem possa efetivamente dividir a gestão do país. O ex-presidente menciona nas reuniões com Alckmin a função que o seu ex-vice-presidente José Alencar desempenhava e cita, por exemplo, que ele era figura certa nas reuniões de governo.
No evento desta quarta, em Brasília, Alckmin vai dividir o palco com outras filiações de peso do PSB —o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que disputará o Governo do Maranhão, e o senador Dario Berger (MDB), que concorre ao Governo de Santa Catarina.
No total, serão cerca de 40 novos filiados na ocasião, incluindo também o advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho e Carmen Silva, líder do Movimento Sem-Teto do centro de São Paulo.
A migração de Alckmin ao PSB encerra uma novela que incluiu negociações com outras siglas, como Solidariedade, PV e até mesmo União Brasil.
Integrantes da cúpula da União, que resultou da fusão de DEM com o PSL, chegaram a conversar com aliados do ex-governador sobre a possível migração da sigla, mas pesou a posição do partido de preferir uma candidatura presidencial de centro-direita.
A filiação de Alckmin abre caminho para o lançamento da pré-candidatura de Lula e para a oficialização da chapa com o ex-governador, algo que deve ocorrer só no fim de abril ou até mesmo em maio.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deve ir ao evento. Já Fernando Haddad (PT), candidato ao Palácio dos Bandeirantes e um dos gestores da chapa Lula-Alckmin, não deve comparecer —assim como o ex-presidente.
Nesta segunda (21), Haddad afirmou que Alckmin tem um perfil complementar ao de Lula. "Alckmin tem uma interlocução com setores que podem se reaproximar do Lula. Ele dobra os esforços de interlocução. Uma pessoa que foi candidata duas vezes à Presidência, foi governador", disse.
Petistas dizem que durante a campanha o ex-tucano terá algumas missões, entre elas atuar para agregar votos a Lula entre eleitores das regiões Sul e Sudeste.
A expectativa é a de que ele viaje por São Paulo e ajude na campanha de Haddad. Lula tem dito em conversas reservadas ver chances reais de o PT vencer o governo paulista pela primeira vez e uma das razões para isso é a colaboração de Alckmin.
No entanto, a contribuição de Alckmin para o projeto de frente ampla de Lula tem sido mais simbólica até aqui. O ex-governador não deve provocar uma revoada de tucanos rumo ao PSB.
Alckmin vai filiar quatro tucanos históricos no novo partido. Segundo membros do PSB e aliados do ex-governador, a lista dos demais nomes que podem acompanhá-lo não inclui prefeitos ou políticos com mandato, apenas militantes e líderes locais de São Paulo.
Do círculo próximo de Alckmin no PSDB devem se filiar ao PSB Pedro Tobias e Antonio Carlos Pannunzio, que foram dirigentes do PSDB-SP, e os ex-deputados federais Silvio Torres e Floriano Pesaro.
Tobias afirma, porém, que deve fazer outro evento de filiação em São Paulo para comportar outros aliados de Alckmin a caminho do PSB. "Muita gente quer filiar, mas ir a Brasília custa, não cabem todos. Muita gente está me ligando, gente que foi prefeito, militante", diz à Folha.
"É uma sorte para o PT, Alckmin está amansando o antipetismo. Tem gente que me xinga na rua, foram meus amigos. Mas chega dessa briga, de nós contra eles, temos que pensar no Brasil um pouco. É a única forma de tirar Bolsonaro e não é fácil", diz Tobias sobre a chapa Lula-Alckmin.
"Alckmin está com a agenda lotada, falando com igreja, associação, sindicato", completa.
Entre tucanos de São Paulo, a leitura é a de que Alckmin está isolado em sua mudança de rumo. Aliados do ex-governador justificam que prefeitos aliados a ele pensam duas vezes antes de deixar a base de João Doria (PSDB) pois dependem de recursos do governo.
Outros tucanos ligados a Alckmin em São Paulo e que formaram um grupo de apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB-RS) nas prévias do partido não se desligaram do PSDB mesmo após a vitória de Doria.
Alckmin adiou sua saída do PSDB para ajudar Leite nas prévias e havia a expectativa de que membros desse grupo se desfiliassem com o ex-governador.
O ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB) minimiza a crítica de que Alckmin não agrega filiados ao partido. "Discordo de que ele não agrega, ele vai agregar muito pelas relações que ele tem e pelo respeito que ele tem de diversas alas da sociedade", diz.
"Alckmin traz um peso muito grande para o partido. Ele, como governador, lançou muitos programas sociais que fizeram muito sucesso, como o Bom Prato", completa.
O evento de filiação ocorre uma semana após movimentos da Justiça que atingem Alckmin. O Ministério Público homologou no dia 15 delação de um ex-presidente da concessionária Ecovias que fala em pagamento de caixa 2 de R$ 3 milhões ao ex-tucano.
O inquérito havia sido arquivado no dia 10 pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, mas os desdobramentos prosseguem na área cível.
A Justiça Eleitoral também decidiu ratificar uma outra denúncia no dia 17, na qual Alckmin é acusado de receber R$ 11,3 milhões em caixa 2 da Odebrecht, o que ele nega.
Pesaro defende o aliado e diz que Alckmin "tem sido inocentado em todas as acusações". "Quem conhece o Geraldo, seus eleitores, a opinião pública e o sistema político, sabe que ele é uma pessoa correta."
Ele diz que, ao aceitar ser vice de Lula, Alckmin tomou uma atitude corajosa e desprendida de preconceito.
"Quem ainda não entendeu vai entender. Ao compor com Alckmin, Lula demonstra uma direção para o centro democrático. E Alckmin vai fazer a interlocução para além das fronteiras do petismo", afirma à Folha.
Conforme adiantou o Painel, Alckmin deverá ser contemplado com um cargo na direção do PSB, possivelmente com a vice-presidência, como um gesto para reforçar seu prestígio na nova casa.
Desde que a aproximação entre Lula e Alckmin teve início, em novembro passado, o ex-governador percorreu o caminho esperado para selar a aliança —deixou em dezembro o PSDB, partido que ajudou a fundar, e, na semana passada, anunciou a filiação ao PSB, principal legenda a embarcar na campanha do petista até agora.
Em paralelo, PSB e PT negociavam uma federação, que não saiu do papel —a aliança foi formada apenas entre PT, PV e PC do B.
Embora a federação não tenha vingado, já havia a garantia de que o PSB apoiaria Lula e de que o acordo para que Alckmin ocupasse a vice estaria preservado apesar das divergências entre as siglas nos estados, sobretudo em São Paulo.
Enquanto o PT aposta em Haddad para retomar o estado dos tucanos, o PSB quer lançar o ex-governador Márcio França, que é próximo de Alckmin e que também teve papel central na costura da aliança com Lula.
Integrantes do PT e do PSB esperam que Alckmin tenha protagonismo na campanha para o Palácio do Planalto e também em um eventual governo, embora seus papéis ainda não estejam totalmente definidos.
Em conversas reservadas, Lula tem afirmado querer um vice com quem possa efetivamente dividir a gestão do país. O ex-presidente menciona nas reuniões com Alckmin a função que o seu ex-vice-presidente José Alencar desempenhava e cita, por exemplo, que ele era figura certa nas reuniões de governo.
No evento desta quarta, em Brasília, Alckmin vai dividir o palco com outras filiações de peso do PSB —o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que disputará o Governo do Maranhão, e o senador Dario Berger (MDB), que concorre ao Governo de Santa Catarina.
No total, serão cerca de 40 novos filiados na ocasião, incluindo também o advogado criminalista Augusto de Arruda Botelho e Carmen Silva, líder do Movimento Sem-Teto do centro de São Paulo.
A migração de Alckmin ao PSB encerra uma novela que incluiu negociações com outras siglas, como Solidariedade, PV e até mesmo União Brasil.
Integrantes da cúpula da União, que resultou da fusão de DEM com o PSL, chegaram a conversar com aliados do ex-governador sobre a possível migração da sigla, mas pesou a posição do partido de preferir uma candidatura presidencial de centro-direita.
A filiação de Alckmin abre caminho para o lançamento da pré-candidatura de Lula e para a oficialização da chapa com o ex-governador, algo que deve ocorrer só no fim de abril ou até mesmo em maio.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deve ir ao evento. Já Fernando Haddad (PT), candidato ao Palácio dos Bandeirantes e um dos gestores da chapa Lula-Alckmin, não deve comparecer —assim como o ex-presidente.
Nesta segunda (21), Haddad afirmou que Alckmin tem um perfil complementar ao de Lula. "Alckmin tem uma interlocução com setores que podem se reaproximar do Lula. Ele dobra os esforços de interlocução. Uma pessoa que foi candidata duas vezes à Presidência, foi governador", disse.
Petistas dizem que durante a campanha o ex-tucano terá algumas missões, entre elas atuar para agregar votos a Lula entre eleitores das regiões Sul e Sudeste.
A expectativa é a de que ele viaje por São Paulo e ajude na campanha de Haddad. Lula tem dito em conversas reservadas ver chances reais de o PT vencer o governo paulista pela primeira vez e uma das razões para isso é a colaboração de Alckmin.
No entanto, a contribuição de Alckmin para o projeto de frente ampla de Lula tem sido mais simbólica até aqui. O ex-governador não deve provocar uma revoada de tucanos rumo ao PSB.
Alckmin vai filiar quatro tucanos históricos no novo partido. Segundo membros do PSB e aliados do ex-governador, a lista dos demais nomes que podem acompanhá-lo não inclui prefeitos ou políticos com mandato, apenas militantes e líderes locais de São Paulo.
Do círculo próximo de Alckmin no PSDB devem se filiar ao PSB Pedro Tobias e Antonio Carlos Pannunzio, que foram dirigentes do PSDB-SP, e os ex-deputados federais Silvio Torres e Floriano Pesaro.
Tobias afirma, porém, que deve fazer outro evento de filiação em São Paulo para comportar outros aliados de Alckmin a caminho do PSB. "Muita gente quer filiar, mas ir a Brasília custa, não cabem todos. Muita gente está me ligando, gente que foi prefeito, militante", diz à Folha.
"É uma sorte para o PT, Alckmin está amansando o antipetismo. Tem gente que me xinga na rua, foram meus amigos. Mas chega dessa briga, de nós contra eles, temos que pensar no Brasil um pouco. É a única forma de tirar Bolsonaro e não é fácil", diz Tobias sobre a chapa Lula-Alckmin.
"Alckmin está com a agenda lotada, falando com igreja, associação, sindicato", completa.
Entre tucanos de São Paulo, a leitura é a de que Alckmin está isolado em sua mudança de rumo. Aliados do ex-governador justificam que prefeitos aliados a ele pensam duas vezes antes de deixar a base de João Doria (PSDB) pois dependem de recursos do governo.
Outros tucanos ligados a Alckmin em São Paulo e que formaram um grupo de apoio ao governador Eduardo Leite (PSDB-RS) nas prévias do partido não se desligaram do PSDB mesmo após a vitória de Doria.
Alckmin adiou sua saída do PSDB para ajudar Leite nas prévias e havia a expectativa de que membros desse grupo se desfiliassem com o ex-governador.
O ex-prefeito de Campinas Jonas Donizette (PSB) minimiza a crítica de que Alckmin não agrega filiados ao partido. "Discordo de que ele não agrega, ele vai agregar muito pelas relações que ele tem e pelo respeito que ele tem de diversas alas da sociedade", diz.
"Alckmin traz um peso muito grande para o partido. Ele, como governador, lançou muitos programas sociais que fizeram muito sucesso, como o Bom Prato", completa.
O evento de filiação ocorre uma semana após movimentos da Justiça que atingem Alckmin. O Ministério Público homologou no dia 15 delação de um ex-presidente da concessionária Ecovias que fala em pagamento de caixa 2 de R$ 3 milhões ao ex-tucano.
O inquérito havia sido arquivado no dia 10 pela 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, mas os desdobramentos prosseguem na área cível.
A Justiça Eleitoral também decidiu ratificar uma outra denúncia no dia 17, na qual Alckmin é acusado de receber R$ 11,3 milhões em caixa 2 da Odebrecht, o que ele nega.
Pesaro defende o aliado e diz que Alckmin "tem sido inocentado em todas as acusações". "Quem conhece o Geraldo, seus eleitores, a opinião pública e o sistema político, sabe que ele é uma pessoa correta."
Ele diz que, ao aceitar ser vice de Lula, Alckmin tomou uma atitude corajosa e desprendida de preconceito.
"Quem ainda não entendeu vai entender. Ao compor com Alckmin, Lula demonstra uma direção para o centro democrático. E Alckmin vai fazer a interlocução para além das fronteiras do petismo", afirma à Folha.
Conforme adiantou o Painel, Alckmin deverá ser contemplado com um cargo na direção do PSB, possivelmente com a vice-presidência, como um gesto para reforçar seu prestígio na nova casa.
Desde que a aproximação entre Lula e Alckmin teve início, em novembro passado, o ex-governador percorreu o caminho esperado para selar a aliança —deixou em dezembro o PSDB, partido que ajudou a fundar, e, na semana passada, anunciou a filiação ao PSB, principal legenda a embarcar na campanha do petista até agora.
Em paralelo, PSB e PT negociavam uma federação, que não saiu do papel —a aliança foi formada apenas entre PT, PV e PC do B.
Embora a federação não tenha vingado, já havia a garantia de que o PSB apoiaria Lula e de que o acordo para que Alckmin ocupasse a vice estaria preservado apesar das divergências entre as siglas nos estados, sobretudo em São Paulo.
Enquanto o PT aposta em Haddad para retomar o estado dos tucanos, o PSB quer lançar o ex-governador Márcio França, que é próximo de Alckmin e que também teve papel central na costura da aliança com Lula.
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