A vitória de Obama sinaliza uma virada política comparável a 1980 ou 1932? Mike Davis mapeia as mudanças no nível do condado, de baixo para cima - minoria-maioria demográfica, subúrbios subprime, preocupações financeiras do colarinho branco - catalisadas pela campanha de 2008. De cima, realinhamento do capital americano atrás do presidente do silício.
Mike Davis
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56 • Mar/Abr 2009 |
Tradução / Na véspera da eleição de novembro, a pequena cidade de Manassas, no estado da Vírgina se tornou o improvável Woodstock da geração Obama quando milhares de pessoas se reuniram para ouvir seu candidato chegar ao fim de sua longa campanha de quase dois anos com um apelo final pela “Mudança na América”. Foi um grand finale orquestrado com considerável autoconfiança e ironia. Enquanto Manassas (população de 37000) se mantém uma fortaleza azul, o resto do condado de Prince William (38000) resume a ganância que se esbaldou na era Bush: uma paisagem urbana desorganizada de velhas casas, novas McMansões, shoppings falsamente históricos, centros de negócios de alta tecnologia, mega-igrejas evangélicas, ilhas de casas-apartamento párias e vestígios melancólicos de um lado gracioso da Virgínia. Costeado a sudeste pela Base de Quântico da Marinha e do Centro Nacional de Treinamento do FBI, o condado assegura a condição de uma proeminente nota de rodapé numa novela de Tom Clancy (1).
Como a parte ao sul do [Rio] Potomac, em Los Angeles, e a sétima região mais rica nos EUA, Prince Williams é exatamente o tipo “externo” ou “emergente” de subúrbios famosos pela mobilização que Karl Rove fez para reelegerem George W. Bush em 2004 (2). Na verdade, desde a vitória de Nixon sobre Hubert Humphrey em 1968, o Partido Republicano tem contado com subúrbios dos estados do sul e do sudeste que têm clima ameno e são conservadores [sunbelt], como o condado de Prince William, para ampliar as margens de vitórias nas eleições nacionais. Reaganomics [a política econômica do governo Reagan], é claro, foi incubada nas famosas revoltas contra impostos que sacudiram a Califórnia suburbana no fim dos anos 70, enquanto o "Contrato de Newt Gingrich de 1994 com a América" era principalmente uma carta magna para eleitores afluentes nos interiores do Oeste americano e em cidades da periferia do Novo Sul (3). Mesmo em subúrbios desenvolvidos e densos os Republicanos obtiveram vantagens da "contradição dos americanos pós-suburbanos permanecerem resolutamente anti-urbanos, mesmo com seu mundo tendo sido progressivamente urbanizado" (4).
Com efeito, Obama assinalou o começo de uma nova época quando escolheu como ponto máximo de sua campanha o que tem sido o lado errado do subúrbio Mason-Dixon-Line para a maioria dos Democratas, desde os anos 60 (com as exceções parciais de Jimmy Carter e Bill Clinton). Mesmo que o comício não estivesse marcado para as nove da noite, a multidão já estava pronta para a festa do Condado de Prince William no pôr do sol, e a rodovia interestadual sul 66 estava tomada de gente pela metade no sentido de volta a Washington DC até 26 milhas a nordeste. Um blogueiro do Washington Post maravilhou-se com a quantidade de fãs pelevermelha [índios] vestidos com a camisa do time, que haviam optado por ouvir Obama em vez de acompanharem o jogo clássico do sábado à noite contra o Pittsburgh Steelers. Segundo a polícia estadual havia mais de 80 mil pessoas, mas a campanha de Obama estava certa de que seu candidato falou para mais de 100 mil – talvez a maior audiência de uma multidão em um discurso eleitoral da história americana.
A última vez que uma multidão tão vasta reuniu-se em Manassas foi no fim de agosto de 1862, quando o exército da Virgínia, comandado por Robert E. Lee colidiu violentamente com o exército maior e dirigido pelo incompetente John Pope de Potomac. Vinte mil soldados mortos e feridos derramaram seu sangue no solo já manchado de vermelho com a abertura da maior batalha da Guerra Civil, no ano anterior. (O costume sulista que nomeou as batalhas com base na cidade mais próxima, glorificou esse massacre chamando-o de “A Segunda Batalha de Manassas”, enquanto para o Norte, onde as batalhas eram batizadas com o nome do rio ou riacho mais próximo, era “O Segundo Bull Run”.)
Obama, que lançou sua campanha eleitoral em Prince William, estava bastante consciente que falava sobre um solo consagrado pela antiga guerra ainda incompletamente redimida do legado da escravidão. Quando, depois de um longo atraso no trânsito do lado de fora do Aeroporto Dulles, ele finalmente subiu ao palco em passos largos às 10 e meia da noite. Estava cansado mas exultante. Como tinha feito várias vezes antes, prometeu aos seus apoiadores que o “o sentido de responsabilidade seriamente trabalhado” que lhes era comum definiria seu novo governo, não a “ganância e a incompetência” que haviam caracterizado a era de Bush. Jovens apoiadores começaram a cantar a assinatura da campanha, emprestada da batalha dos campesinos da Califórina nos anos 60: “Yes, we can!” (Si se puede, no original). Quase tão alto como Lincoln, e às vezes tão eloquente quanto, Obama levantou a multidão ao final, como que lhe assegurando, quando disse: “Virgínia, you can change the world” (5).
Obama supera Lee
Em 2004, George. W. Bush venceu na Virgínia com 53,1% dos votos e no Condado de Prince William com 52,8%. Desde 1948, só Lyndon Johnson (1964) tinha conseguido manter o velho domínio para os democratas, e John McCain era o favorito para preservar a tradição republicana num estado com uma famosa maioria de votos conservadores, militares e cristãos. O condado de Prince William, controlado pelos republicanos, era notório por sua delegação de direita na legislatura Richmond, bem como na recente perseguição a imigrantes ilegais latinos, “orgulhoso de ser o último reduto republicano no norte da Virgínia” (6).
Nesse evento, os eleitores da Virgínia, inclusive os bons burgueses de Prince William, deram a Barack Obama 52,7% da vitória no estado e 57,6% da margem em todo o país (um crescimento enorme de 12 pontos percentuais, em relação a 2004). enquanto Kerry venceu apenas em uma das quatro maiores regiões da Virgínia (norte da Virgínia), Obama venceu facilmente três (acrescentando a região da capital e Hampton Roads, no leste da Virgínia); ao passo que McCain obteve a pobre consolação dos votos no sudeste dos Montes Apalaches (7). Foi um resultado impressionante. Um democrata negro e com nome muçulmano chegou a Manassas e, com feito, bateu os fantasmas de Robert E. Lee e Jim Crow. O mundo está então mudando? As placas tectônicas paralisadas da política eleitoral americana finalmente está se movendo para a esquerda?
A psefologia (a análise estatística de eleições) é uma obsessão americana inescrutável, como mastigar tabaco e caçar com rifle. Ainda que Margaret Thatcher, Tony Blair e Ehud Barak tenham todos flertado com a escuridão, um ditado britânico cunhado do termo grego correlato nos anos 50 diz que só os nativos dos pântanos da Louisiana ou num escritório de advocacia de Washington podem possuir o instinto perfeito para obter estratégias vitoriosas de um pequeno fragmento de voto. Alguns compararam a análise do voto à habilidade sutil de um sommelier, mas é na verdade mais parecido (para estender a analogia francesa) com a atenção acurada dos médicos de Louis XIV aos conteúdos das panelas reais. Com a eleição nacional recente [de 2000] tendo sido decidida pelos “hanging chads” (8) na Flórida e com poucas abstenções em Ohio, a menor diferença estatística de uma tendência atrai intenso escrutínio desde os epígonos de Lee Atwater e James Carville. Na sua contagem de alguns poucos votos decisivos, a campanha de "boiler rooms" (9) dedicou-se monasticamente ao rastreamento de modismos obscuros no YouTube e de vegetarianos do Nebraska.
Desde esse ponto de vista as vitórias de Obama na Virgínia e em outros estados oscilantes, como Colorado, Flórida e Carolina do Norte constituem um ponto de virada: a aceleração de uma mudança de atitude no eleitorado que acontece uma vez a cada geração. Analistas conservadores estão especialmente preocupados com que a eleição possa prefigurar uma transformação política comparável à vitória epocal de Roosevelt em 1932 ou à de Reagan em 1980. De fato, com Wall Street e Detroit repentinamente em ruínas, e com o medo corroendo a alma da classe média suburbana, o Partido Republicano parece estar se dissolvendo numa amargura sem fim de facções sectárias e cultuando lideranças com limitado apelo nacional, como Sarah Palin. Em contraste, Obama abriu generosamente as portas da Casa Branca para os Clinton e republicanos, reforçando sua imagem de centrista pragmático focado num governo competente e na unidade nacional.
A maioria dos analistas políticos e estrategistas partidários atribuem o significado dessa eleição à teoria do realinhamento eleitoral proposta primeiramente em 1955 pelo legendário cientista político da Universidade Harvard, V. O. Key Jr – mais tarde desenvolvida em detalhe por seu protegido no M.I.T., Walter Dean. Para explicar a ascensão e queda de sucessivos sistemas partidários, de Andrew Jackson a Ronald Reagan, eles postularam uma causalidade análoga à do paradigma paleontológico do“equilíbrio pontuado”, de Eldredge e Gould, segundo a qual a evolução eleitoral é espremida em reorganizações episódicas que estão sincronizadas com grandes crises econômicas (1896, 1932 e 1980). Ainda que muitos intelectuais acadêmicos permaneçam céticos, a tese de Key e Burham da “eleição decisiva” (critical election) do realinhamento durável de blocos de interesse e de lealdades partidárias permanece sendo o santo graal da atual campanha presidencial. (10)
No seu Critical Elections and the Mainsprings of American Politics [A Decisão Eleitoral e o Motor da Política Americana] (1970), Burnham apresenta uma definição canônica razoável:
“O realinhamento crítico é caracteristicamente ligado a disrupções curtas mas muito intensas dos padrões tradicionais de comportamento dos eleitores. Partidos majoritários se tornam minoritários; a política que já foi competitiva se torna não-competitiva ou, alternativamente, áreas que até agora eram de um só partido se tornam arenas de intensa competição partidária; e grandes blocos de eleitorado ativo – minorias, para ser claro, mas talvez chegando a um quinto ou a um terço dos votantes – mudam seu vínculo partidário”. (11)
Mesmo que a maioria de 53% dos votos populares de Obama não tenha alcançado a marca da vitória esmagadora de FDR [Franklin Delano Roosevelt] em 1932 (57%), ela é maior que a obtida pela performance de Reagan em 1980 (51%) e, é claro, eclipsa a pluralidade fortuita de Clinton (43% no colégio eleitoral, contra os outros dois candidatos, George H.W.Bush e Ross Perot) (12). Exceto as quatro vitórias de FDR e a aniquilação de Lyndon Johnson sobre Barry Godwater em 1968, Obama saiu-se melhor do que qualquer candidato democrata desde a Guerra Civil, e sua campanha jogou lenha na fogueira do critério de Burnham da abertura do terreno inimigo à intensa competição, enquanto se galvanizam novos eleitores e grupos de interesses em nome do novo movimento insurgente.
A campanha democrata de 2008 foi o que Marshall McLuhan chama de salto de um universo midiático a outro.
Mais ainda, sua vitória forjou-se numa nova estratégia de comunicação política operando em redes baseadas na internet, que dificilmente existiu em 2000 e ainda é pobremente entendida pelos velhos políticos. Ainda que tanto nas campanhas presidenciais de 1932 como na de 1960 também tenham sido introduzidas grandes inovações na tecnologia da política (rádio e televisão, respectivamente), a campanha democrata de 2008 foi o que Marshall McLuhan chama de salto de um universo midiático a outro.
Construída sob o modelo “choque e pavor” de Howard Dean na internet nas primárias de 2004 (e mantendo a habilidade da perspicácia de Dean como presidente nacional dos Democratas), a campanha de Obama usou a especialidade do Vale do Silício para extrair um Eldorado de pequenas doações através de uma rede social e de sites da campanha (13). Como disse admiravelmente Joshua Green no Atlantic, "durante o mês de fevereiro.... sua campanha levantou 55 milhões de dólares - sendo 45 milhões só na internet - sem que o próprio candidato tivesse aberto um só fundo de arrecadação (14). Enquanto tentava competir com esse "Fanático" [Juggernaut] (15), a campanha de Hillary Clinton caminhou para a bancarrota no verão, e McCain já tinha ultrapassado seu orçamento em 154 milhões de dólares no outono - um revés dramático para a vantagem financeira habitual dos republicanos nas eleições presidenciais. (16)
Uma intensa arrecadação permitiu à campanha de Obama intensificar os esforços para os registros de votação ao longo do país e montar uma blitz midiática num número sem precedentes de estados. Os democratas também fizeram um uso brilhante dos votos novos e das abstenções (quase um terço do total dos votos), para assegurar o voto dos trabalhadores, idosos caseiros, e do residentes inertes – todos esses tradicionalmente tiveram problemas para conseguir tempo livre para votar ou enfrentavam longas filas de espera. Novas armas, como o blog do candidato (uma versão digital dos firesides chats (17)) e marketing viral em mensagens destinadas a mobilizar um imenso exército de voluntários (5000 só no Condado de Prince William), enquanto a saturação de propagandas nas tevês, nos telefonemas automáticos e na arregimentação de estrelas de rock desarmavam as posições inimigas.
A campanha de Obama explorou todas as oportunidades para tornar a eleição um conflito epocal tecno-geracional, contrapondo várias redes de diversas expressões da juventude ao ódio obeso dos fãs de rádios AM e às congregações evangélicas robóticas. Com as multi-tarefas em seus amados Blackberrys ou em Ipods plugados nas suas manhãs de ginástica, Obama facilmente se lançou como a personficação das competências do século 21, algo que alguns psicólogos podem representar como um salto evolutivo, ao passo que McCain, com sua fobia confessa a computadores e locuções arcaicas (“Meus amigos....”), está pronto para a caricatura de um paciente de Alzheimer desorientado.
Porém, revoluções na comunicação política não tornam realinhamentos automáticos, e novas eras vastamente aclamadas na história política americana tornaram-se algumas vezes miragens de vida curta. Na cuidadosa construção de Burnham, uma “eleição de realinhamento” só pode ser ratificada como divisor de águas depois que o sistema político tiver começado, sem ambiguidade, a consolidar seus resultados. Então, a vitória de Carter em 1968, que alguns democratas celebraram como um renascimento democrático no Sul, levou um partido dividido a um beco sem saída, sem esperanças, enquanto a vitória de Bill Clinton sobre Bush pai em 1992 foi uma conquista partilhada com o bilionário aventureiro Ross Perot (que tomou 19% dos votos, a maioria de Bush) e rapidamente posto em xeque pela varredura republicana do Congresso em 1994. (Como nos lembra Matt Bai, “os exuberantes anos 90 foram, na verdade, a pior festa da década desde os vibrantes anos 20”) (18).
Obama, que será o primeiro presidente da história a enfrentar os dois desafios de uma guerra no exterior e uma depressão econômica, pode indubitavelmente implicar o ressurgimento republicano em 2010 ou 2012. Mais ainda, sua popularidade, como a de Bill Clinton, excede a do seu partido e um nada formidável contingente de democratas pegou carona na sua vitória de Novembro. (Os democratas esperavam ganhar 10 novos assentos no Senado e 30 a mais no Congresso; na eleição chegaram a 7 e 21, respectivamente.). Os psefologistas, porém, provavelmente darão a Obama chances melhores para fazer um realinhamento partidário do que deram a Clinton e a Carter. Já nas análises preliminares do voto da eleição presidencial de 2008 se revelam novas alianças e mudanças de vínculos de lealdade; coisa que uma crise econômica em aprofundamento pode ter cimentado: uma maioria democrática e durável, senão liberal.
Essas tendências potenciais de realinhamento incluem o desaparecimento do “1896 invertido” no mapa eleitoral do país; provavelmente o ápice do voto evangélico e da estratégia republicana da cultura da guerra. As vitórias de Obama nos redutos de Karl Rove, o reaparecimento de uma coalizão de arco-íris no eleitorado; uma revanche latina contra o nativismo; e o triunfo político da Nova Economia sobre a Velha.
A dissolução da América vermelhaNa famosa “eleição dramática” de 1896, William McKinley, de Ohio, uma estrela paradigmática dos republicanos venceu o pleito com a esmagadora maioria do eleitorado dos estados do Nordeste e dos Grandes Lagos, mais os votos da Califórnia e do Oregon. De outra parte, seu oponente, William Jennings Bryan, uma estrela menor dentre os democratas, oriundo do Nebraska, obteve os votos no oeste da região das Montanhas Rochosas, nos Great Plans [sudoeste de Oklahoma] e a primeira Confederação Republicana pró-taxação, em outras palavras, os dirigentes do centro industrial, enquanto os democratas do dinheiro barato eram a voz dos descontentes das minas e das fazendas nas periferias do Oeste e do Sul.
Pois na última década o exato inverso do voto de 1896 definiu a distribuição dos assim chamados estados azuis e vermelhos. Assim, o Maquiavel de Bush, Karl Rove, baseou diretamente as estratégias da campanha presidencial de 2000 e 2004 em maiorias republicanas impregnáveis no que uma vez já foi o reduto interiorano de Bryan, no Oeste e no Sul, enquanto Gore e Kerry contaram com a sólida democracia no antigo núcleo de McKinley. Os maiores estados em que houve mudanças ao longo da era dos 60 aos 80, a Califórnia e o Texas, foram capturados, respectivamente, por liberais democratas e republicanos conservadores nos anos 90. Assim, o que permaneceu em jogo numa era de votos populares extremamente fechados foi um punhado de “estados púrpura”: mais especificamente, o voto dos ricos do Colorado, do Missouri, Ohio e Flórida.
Ainda que (como podemos ver) uma mudança simples na perspectiva analítica forneça um olhar diferente dessa guerra requentada entre estados como uma luta complexa entre eleitorados em cores e periferias dos sistemas metropolitanos e corredores urbanos, o conceito de uma divisão regional principal na política presidencial ficou mais uma vez marcado no imaginário da era Bush. Com efeito, grande parte do papel desempenhado por Sarah Palin na chapa com McCain era fazer os eleitores da “América verdadeira” se lembrarem disso incessante e odiosamente – um papel cuja apoteose reside no subúrbio deprimente de onde ela vem -, bem como de seu Outro, o estranho.
Em tese, contudo, um candidato a presidente não precisa dirigir uma nação vermelha ou azul, nem mesmo ter a maioria dos estados: os votos de onze dos estados mais populosos será suficiente. Obama venceu em nove – perdendo apenas no Texas e na Georgia. Ao subtrair três dos maiores estados do Sul e três dos mais populosos dos estados da Região das Rochosas, vê-se que ele destruiu os mitos de Rover relativos ao (novo) Sul Sólido e à América Estado Vermelho.
Nos antigos Estados Confederados (com algo em torno de um terço da população norte-americana), McCain perdeu na Virgínia, na Carolina do Norte e na Flórida: grandes estados com economias avançadas e bem-educados rapidamente aumentaram seu eleitorado. Em ambos, Virgínia e Carolina do Norte, a vitória de Obama foi construída com base na aliança com os afro-descendentes [African-Americans] e profissionais liberais brancos, reforçada por imigrantes e estudantes dos primeiros anos da universidade [colleges] (19). Enquanto isso, na Geórgia, Obama ganhou grande parte dos votos (47%) que qualquer democrata desde Jimmy Carter, trazendo o "estado do pêssego" de volta à categoria dos oscilantes.
Os estrategistas republicanos deveriam estar especialmente preocupados com a forte demonstração (45%) na região metropolitana de Atlanta - as regiões de Cobb e Guinnett, com uma população de quase 1,5 milhões de pessoas - onde uma crescente classe média negra e uma significativa migração latina está erodindo um dos blocos mais conservadores no país. Ainda que McCain tenha vencido no Texas por quase um milhão de votos, ele perdeu tanto em Dallas como na região de Harris (região metropolitana de Houston), estimulando desse modo as esperanças democratas de pôr um fim na supremacia republicana no próximo ciclo eleitoral (20).
No Oeste, o senador do Illinois levou os votos cruciais do Colorado, Nevada e Novo México. Pela primeira vez os democratas se tornaram maioria, por apenas uma fatia da soma dos votos presidenciais dos cinco “mega” estados a Oeste da Região das Rochosas, a região de crescimento mais rápido do país. Esses novos estados “Los Angeleses” (habitados em peso por “fugitivos” da Califórnia) se tornaram a primeira divisão do campo de batalha eleitoral e ganharão ao menos três assentos a mais no Câmara dos Deputados na próxima redistribuição baseada no Censo do decênio 21. (22) Nesse sentido, esses estados figuram fortemente nas esperanças dos democratas de obterem um duradouro realinhamento.
Em outro lugar do Oeste, em Montana, Obama alcançou um progresso impressionante sobre Kerry, dadas as razões dos democratas para viver em Idaho, aumentando sua maioria em Tucson, tomando Omaha (vencendo pela primeira vez em Nebraska desde 1964), e ficou a apenas 2000 votos da conquista da Região de Salt Lake (na qual Bush tinha vencido com a diferença de 80 000 votos em 2004). (23) De sua parte, os republicanos mantiveram milhõs de acres imóveis inabitados no Alaska, Wyoming e nos estados do meio-oeste e com a ajuda de seus dois mais importantes eleitorados do Oeste - mórmons e aposentados - evitou o que algumas pesquisas estavam prevendo, como a zebra no seu estado natal, o Arizona.
Mais ainda, ao longo do Sunbelt [os estados do sul dos EUA: Alabama, Arizona, Califórnia, Flórida, Geórgia, Luisiana, Arkansas, Colorado e Utah], Obama foi particularmente bem sucedido em todos os “corredores tecnológicos” que comandam o crescimento regional: os subúrbios do norte da Virgínia D.C., o assim chamado
Crescente Chesapeake, o Triângulo da Pesquisa na Carolina do Norte, a Costa Espacial da Flórida, as regiões mais populosas do Colorado [“Front Range” cities of Colorado], o corredor Albuquerque-Santa Fé no Novo México, e o Vale do Silício, além de todos os seus vizinhos na Costa Oeste. Enquanto Kerry perdeu 97 de 100 nas regiões de crescimento mais rápido, Obama ganhou 15, inclusive as três maiores, e trouxe para os democratas ao menos 8 pontos em 67 outras regiões.
Tampouco os republicanos encontraram consolo no patriotismo e nos valores familiares do velho centro industrial. No começo McCain tinha altas esperanças de disputar a maioria católica da região, a classe trabalhadora branca que tinha participado nas prévias da impersonificação de Hillary Clinton como Rosie the Riveter (24).
Mas, na sombra de um colapso da indústria automobilística, da queda dos valores dos imóveis e o encolhimento das aposentadorias, a imensa maioria dos apoiadores de Clinton desdenharam o anúncio do “encanador Joe” do McCain, em favor da vaga promessa repetida por Obama de que iria salvar os empregos na indústria EUA (25).
A vitória democrata menos esperada na região foi em Indiana, um reduto fortemente azul, mas um estado culturalmente conservador que deu a Bush mais votos em 2004 (60%) do que o Mississippi, e por isso foi considerado um terreno muito pouco competitivo. Ao longo da última década de fechamento de fábricas e de retração econômica, os hoosiers (26) provavelmente deram um melhor exemplo do que os cidadãos do Kansas, para o famoso argumento de Thomas Frank em Qual o Problema com o Kansas? (2004) (27), que levou à enganação da classe trabalhadora branca a votar contra seus próprios interesses econômicos. Em Indiana, ao menos, a consciência de classe submeteu-se a um revival.
De fato, a vitória de Obama deveu-se majoritariamente ao dramático aumento do apoio dentre os brancos (45% versus 34% para Kerry), especialmente nos centros industriais menores e populosos, como Evansville, Kokomo e Muncie (a “Middletown” original dos famosos estudos de Lynd nos anos 20 e 30) (28) que tinham sido maciçamente pró-Bush em 2004. Como disse James Barnes no National Journal, "essa é a parte que já foi brilhante na linha de montagem automobilística, mas muito dessa indústria se foi, e os eleitores que no passado votavam em questões sociais (a cidade de Anderson, em Indiana, é o lar da Igreja de Deus) ou na segurança nacional podem ser ganhados com um tom econômico forte) (29).
Esse foi exatamente o tom que a bem preparada campanha de Obama deu aos milhares de voluntários apaixonados para falarem de empregos e aflição econômica, enquanto McCain confiou num impotente esforço da igrejas evangélicas vociferantes e de câmaras de comércio desanimadas (30).
O sucesso democrata em Indiana repetiu-se na vizinhança do noroeste de Ohio, onde as forças de Obama foram altamente energizadas pelo enferrujado mas ainda orgulhoso sindicato de Toledo, que já foi um baluarte da campanha de Bush nos exúrbios e cidades industriais da região. Como resultado os democratas têm, agora, toda a margem dos Grandes Lagos, pela primeira vez desde Lyndon Johnson.
Obama também foi surpreendentemente bem no país do Lake Wobegone: o reduto luterano do norte do Meio-Oeste, a prova histórica da insurgência política, onde 50 condados rurais brancos no Wiscounsin, Minnesota e Iowa, que tinham votado em Bush em 2004 mudaram de voto em seu favor. Ainda que ele tenha perdido Dakota do Norte, diminuiu a margem de vantagem dos republicanos dos largos 19 pontos de 2004. No Missouri, onde Obama marcou vitórias em vários subúrbios tradicionalmente conservadores de St. Louis, a eleição produziu um empate virtual, com McCain chegando ao final com uma vitória por menos de 4000 votos da zona rural (31).
Enquanto isso, no Nordeste a aleição foi um evento de quase-extinção para o Partido Republicano, em que este perdeu seu último membro na Câmara dos Deputados para a Nova Inglaterra. O condado de Duchess em Nova York – notório nos anos 30 e 40 como um pântano de odiadores de Roosevelt – silenciosamente passou para o lado de Obama, como o fizeram os últimos redutos suburbanos do partido republicano na Grande Nova York: o bairro de Staten Island e o Condado de Suffolk a leste de Long Island.
Os magros progressos de McCain sobre Bush em 2004 ficaram confinados às paróquias cajun (32) da Luisiana e ao planalto sul, a 400 longas milhas de uma zona de condados de maioria branca evangélica que vai das montanhas do Leste de Oklahoma até as montanhas do West-Virgínia (um estado que, ao contráio, permanece solidamente democrata, não tendo eleito sequer um republicano para o Senado desde 1956). Aqui, aparentemente, raça e/ou fundamentalismo religioso determinaram os resultados. Uma piada local dizia que Bill Clinton tinha sido popular nessa região muito pobre, mas isso era uma consolação pequena para "William Jennings" McCain, ao vencer em Jonesboro e Hazard, quando estava perdendo em termos demográficos em Charlote e Orlando (33).
A perda da vantagem republicana
Se a estratégia sagaz da equipe de Obama no período das primárias foi tirar vantagem do “Fanático” (34) de Clinton ao atrair democratas frequentemente ignorados nas "convenções estaduais" de maioria republicana, o seu movimento enfático depois da convenção foi concentrar recursos sem precedentes para mudar a tendência de grandes redutos suburbanos que, até então, tinham sido considerados unilateralmente republicanos. Kerry e Gore, com pouco dinheiro e menos audácia, tinham evitado grandes ataques nos centros "Roverianos" (35) e preferido mobilizar mais votos em centros metropolitanos e em subúrbios do interior indubitavelmente democratas. Mas a campanha de Obama abraçou o "nós-podemos-virar-os-subúrbios", estratégia testada com sucesso nas recentes eleições da Virgínia pelo grande articulador democrata Mike Henry. Eles, assim, insolentemente fincaram a bandeira em regiões demograficamente dinâmicas, como o Condado de Prince William, onde calcularam que gerentes de franquias, contadores e servidores públicos estavam mais preocupados em sacar os seus fundos 401(k) (36) e com o fato de estarem devendo em seus contratos de home equity (37) do que com o espectro da monogamia gay. Ainda que o tema da raça permaneça sendo um formidável obstáculo para o convencimento total dos eleitores nos antigos bastiões suburbanos de grupos brancos, a campanha acreditava que isso não evitaria mais a possibilidade de vitórias democratas.
Contudo, essa estratégia suburbana teve seu preço: uma retórica de campanha que privilegiou obsessivamente as necessidades da “classe média” mas raramente focou no desemprego estrutural ou em questões de igualdade que afetam milhões de cidadãos das cidades e eleitores não-brancos de Obama. Mais ainda, muitos democratas concorrendo em subúrbios distantes (como a turma anterior, em 2006) estavam competindo com plataformas conservadoras – frequentemente pró-armas, anti-impostos e anti-imigrantes -, o que demandou uma mudança ideológica mínima dos eleitores. Conforme Chris Cillizza, o principal analista político do The Washington Post alertou aos liberais depois da eleição: “O fato de que aproximadamente um terço da maioria democrata na Câmara dos Deputados senta em assentos com republicanos fundamentalistas (ao menos no nível presidencial) é quase suficiente para manter o sonho da agenda liberal parada no Congresso. A primeira regra da política é a sobrevivência, e se esses novos desembarques em Washington pretendem ficar nas redondezas, eles devem construir uma base centrista desde agora até 2010” (38).
Porém, muitos liberais ficaram cegos com a luz das grandes vitórias de Obama nas regiões suburbanas que haviam sido cruciais para Bush em 2004: Jefferson e Araphoe (região metropolitana de Denver) no Colorado, Hillsborough (Tampa) na Flórida, Wake (Raleigh) na Carolina do Norte, Washoe (Reno), em Nevada, Berks e Chester (Filadélfia), na Pensilvânia, Hamilton (Cincinati), em Ohio, Macomb (Detroit), em Michigan e Riverside, no sul da Califórina (39). Com efeito, ele venceu nove de doze subúrbios "virados" (que mudaram de voto) em 12 estados também "virados" segundo o Metropolitan Institute (Kerry tinha conseguido vitórias estreitas em apenas 3 deles) (40). Ele também conquistou duas de três regiões ícones dos republicanos, chamadas Orange (na Flórida e em Nova York), e deu ao campo de McCain um susto ruim no terceiro (Califórnia).
No entanto, “suburbano” é uma caracterização obsoleta e quase obscurantista da localização sócio-espacial desses eleitores oscilantes. Geógrafos urbanistas e cientistas políticos têm proposto tipologias competitivas para descrever as metrópoles “pós-suburbanas”, mas tem havido pouco consenso quanto ao modo de definir ou como se deve chamar o novo mundo, além de Levitttown (41). Análises eleitorais recentes, contudo, favoreceram o esquema das regiões desenvolvido por Robert Lang e Thomas Sanchez no Metropolitan Institute, na Virgínia Tech:
"Regiões Limítrofes são cidades centrais densamente populosas. Subúrbios do Interior são áreas suburbanas aproximadas que são densamente construídas (90% dos residentes vivem em área urbana) e ao menos metade dos trabalhadores trabalham na cidade central. Subúrbios desenvolvidos são densos (75% dos residentes vivem em área urbana), regiões bem-estabelecidas cujas populações não está mais crescendo. Nos Subúrbios Emergentes ao menos 25% da população vive em área urbana, e ao menos 5% trabalha na área central. A maior parte do crescimento dessas regiões ocorreu recentemente. Em regiões exurbanas pode-se ler que a suburbanização de larga-escala está só começando a tomar lugar e está muito mais distantes do centro (42).
A tendência eleitoral de larga escala da última geração tem sido um crescimento da maioria democrata nos subúrbios do interior que estão envelhecendo (o primeiro, frequentemente desapontando os níveis na mobilidade geográfica e social não-branca), o impasse político nos subúrbios desenvolvidos mais estáveis e segregados, e muitos votos certos nos republicanos nos subúrbios exteriores e exúrbios. “Seja o estado vermelho ou azul”, escrevem Lang e Sanchez,
“O padrão permanece o mesmo. Há uma gradação política metropolitana nas grandes áreas metropolitanas dos EUA: o centro se inclina para os democratas e a periferia para os republicanos. Entre esses extremos, o voto desliza paralelo a um contínuo, chegando à metade majoritariamente nos subúrbios desenvolvidos (43).
A bolha imobiliária e o frenesi da construção suburbana dos anos 2000, contudo, coincidiram com a maturação dos mercados de emprego nas “cidades-limítrofes” agora com 20 ou 30 anos (agrupamentos de alta densidade de escritórios e espaços comerciais usualmente localizados nas interseções de freeways radiais e circunferenciais), mudaram tanto o cálculo do custo habitacional das famílias como o do financiamento das hipotecas, induzindo às famílias das minorias e de imigrantes a saltarem de padrão, indo para os subúrbios emergentes, frequentemente com a ajuda de empréstimos não-tradicionais. Como resultado, orçamentos familiares não-brancos pela primeira vez passaram a ser o segmento de mais rápido crescimento nas periferias suburbanas em inúmeras áreas metropolitanas. O desafio para a campanha de Obama era usar esses novos dados demográficos como uma alavanca arquimediana (44) para mudar os subúrbios mesmo no Sul, em direção aos democratas.
O Condado de Prince William mais uma vez é um reduto. Um estudo feito no ano passado pela Comissão Regional do Norte da Virgínia revelou que as minorias, especialmente latinos e asiáticos têm contribuído com um formidável crescimento de 94% da população do Condado de Prince William desde 2000. Desde que Bill Clinton se tornou presidente, a população não-branca do Condado cresceu de menos de um quinto para quase a metade, e Prince William em breve vai se tornar a primeira região do norte da Virgínia de uma “minoria-maioria”. Uma “mudança sísmica na população”, escreveu o repórter, “vem ocorrendo em toda a parte sul do norte da Virgínia, onde os preços das casas é mais acessível, como um ímã poderoso, vem atraindo famílias [aos subúrbios externos] – predominantemente imigrantes e minorias, que acham muito caro viver próximo ao centro e miram adiante um lugar que podem comprar (45).
Só que hipotecas “acessíveis” tornaram-se abruptamente saldos negativos e então arrestos, durante a longa campanha presidencial. O que o Goldmann Sachs tinha previso em 2006 que seria uma “desaceleração feliz” virou uma aniquilação geral do patrimônio e dos valores das casas das pessoas (46). Na véspera do comício final de Manassas, o Condado de Prince William tinha se tornado o epicentro da crise das hipotecas na região metropolitana de Washington DC, com aproximadamente 8000 execuções. Alguns bens de família perderam mais de 30% do seu valor; casas na cidade, ao menos 40%. Entre as primárias e a vitória de Obama, dezenas de negócios tinham fechado as portas no centro de Manassas, companhias de tecnologia tinham feito cortes profundos no seu pessoal, e um novo site apareceu alegremente documentando o crescimento do número de McMansões abandonadas na região. (47)
Ainda que nenhum estrato da sociedade e Prince William tenha ficado isento do massacre da crise das hipotecas subprime, ele foi mais letal para as minorias novas proprietárias da casa própria. Numa série de artigos, o Washington Independent relatou o destino do Sul de Georgetown, uma subdivisão de centenas de casas urbanas em Manassas onde xerifes militavam arduamente para despejar residentes democratas da região, muitos deles imigrantes da América Central, postos contra a parede, entre os custos explosivos de suas hipotecas e o colapso do mercado de emprego local. Um caso tipicamente triste foi o de um salvadorenho pintor de casas que ganhava 500 dólares por semana e a quem foi oferecido uma hipoteca “Alt-A” (48) sem sinal de entrada, por uma subsidiária do (agora falecido) Lehman Brothers em 2005, para financiar uma casa no valor de 280 000 dólares. Nos últimos meses sua casa perdeu mais de 50 000 dóares do seu valor, e as prestações mensais da hipoteca saltaram de 1.400 dólares para 2.600 dólares. Seus inquilinos foram forçados a fugir da repressão do condado sobre latinos sem documentos e a trabalhar na evaporada construção civil (49).
Projetadas em escala nacional, essas histórias explicam como os confortáveis 48% de McCain sobre 42% de Obama nos subúrbios no período logo após as convenções erodiu-se em gerações após a quebradeira do outono (50). As pesquisas mostraram que mais de 70% dos apoiadores de Obama dos sub侔bios tinham perdido recentemente seus home equity, empregos ou ambos - um contraste radical ao mero um sexto dos suburbanos apoiadores de McCain que reportaram prejuízos nas finanças familiares. Com efeito, a campanha de Obama se tornou tanto parte do sofrimento pessoal como da diversidade étnica (51). Como resultado, a eleição geral consolidou uma maioria democrata nos subúrbios desenvolvidos, enquanto diminuiu a distância dos apoiadores nas periferias e mobilizou votos brancos o suficiente para vencer em muitos subúrbios emergentes.
O apoio do arco-íris
É claro que essa mudança eleitoral nos subúrbios reflete mudanças ainda mais fundamentais no universo dos votos estadunidenses. Em 1976, quando Jimmy Carter derrotou Gerald Ford, 90% do eleitorado ativo era branco não-hispânico. No último novembro, a parcela de brancos caiu para 74%; uma transição para a diversidade cujo futuro está assegurado pelo impulso demográfico. Quase a metade dos bebês nascidos nos EUA nos últimos anos ganharam sobrenomes hispânicos, por exemplo, e as “minorias” estadunidenses, tomadas em separado, passaram a constituir, no último período, a décima segunda mais populosa nação do planeta (100.7 milhões de pessoas) (52). Ao longo da administração Bush, o número de eleitores latinos idosos da Virgínia cresceu cinco vezes mais rápido que a totalidade da população, 11 vezes mais rápido em Ohio e quase 15 vezes mais rápido na Pensilvânia (53). Como Karl Rove e outros estrategistas republicanos nervosos entenderam bem, os republicanos já tinham alcançado o máximo de apoio dentre os votos evangélicos brancos e seriam cultural e politicamente marginalizados a não ser que estabelecessem novas conexões dentre os imigrantes e a "minoria-maioria" que está se formando (54).
Na verdade, o verdadeiro drama do último novembro não foi a medida relativa voto (só um pouco maior a quantidade do quem em 2004), mas sua demografia profética (55). Profetas eleitorais prestaram particular atenção aos eleitores da "geração do milênio"(18-29 anos) - supostamente desmamada da internet, confortável com a diversidade, mas raivosa diante do declínio das oportunidades econômicas - como uma força potente para o realinhamento (56). A geração do milênio chegou rapidamente, na primeira ocasião, com Obama vencendo dois terços do voto jovem (com um comparecimento na casa dos 53%). Mas tendências internas ao sub-universo desse eleitorado (58-60 milhões de indivíduos) reflete a dramática variação em região e classes sociais.
A diferença geracional dentre os eleitores brancos, por exemplo, foi grande em estados como Califórnia, Nova York e Massachusetts, onde os “milênios” deram a Obama 10 a 15% a mais de votos do que o fizeram outros eleitores, mais velhos, mas a diferença era negligenciável ou mesmo negativa (Carolina do Sul) em alguns estados do Sul e do Meio. Classes, enquanto isso, permanecem sendo fortemente determinante para o voto dos “milênios”: em 2000 e em 2004, mais de dois terços dos que tinham terminado o básico na universidade votaram, enquanto menos de um quarto deles, com apenas o ensino médio completo foram à cabine de votação. Mas a diferença desses “milênios” não-universitários que votaram em 2008 é formidável, especialmente dentre os brancos (57). Comparado com o voto em Kerry em 2004, o apoio a Obama na juventude branca da classe trabalhadora cresceu 30 pontos dentre as mulheres e 14 pontos dentre os homens. Um recente relatório do Partido Democrata enfatiza a urgência estratégica de consolidar essa tendência do apoio de jovens brancos trabalhadores nas Burger Kings e no auxílio de enfermagem: "isso afastaria qualquer expectativa dos republicanos de reconstruir uma coalização nos termos da de Reagan e eventualmente asseguraria uma maioria democrata estável e de longo prazo (58).
Mas o último suporte da eleição não foi tanto do “fator milênio” como o foi a unidade no dia da votação de negros e latinos numa renovação da “coalizão arco-íris” (59). Nacionalmente, os brancos deram 700 000 votos a menos que em 2004, mas os afro-americanos deram quase três milhões a mais, dando então a Obama um terço de sua margem de vitória. Considerando a hostilidade inicial à era dos direitos civis em direção a Obama e a sua "ausência de raízes" a mobilização dos eleitores afro-americanos nos campos de batalha dos estados foi excepcional e em nada menos que no Missouri e em Nevada, onde houve um crescimento no apoio de 74% e 68% (60).
Do ponto de vista de uma maioria eleitoral durável, o ganho mais importante dos democratas em 2008 foi o apoio massivo que Obama recebeu do rapidamente crescente e muito jovem eleitorado latino.
Mas a proporção dos votos nacionais afro-americanos, como dos brancos evangélicos, crescerá muito vagarosamente, se crescer, nas próximas décadas. Do ponto de vista de uma maioria eleitoral durável, o ganho mais importante dos democratas em 2008 foi o apoio massivo que Obama recebeu do rapidamente crescente e muito jovem eleitorado latino (agora 12% do total dos registrados para votar) (61). Os eleitores de origem mexicana, por exemplo, deram suas importantes vitórias no Colorado e em Nevada, enquanto os americanos do Meio reforçaram sua maioria no norte da Virgínia. No Texas, o voto Tejano (ou, especialmente, o Tejana) foi decisivo para varrer as grandes cidades e o Vale do Rio Grande, a despeito dos anátemas usuais dos bispos católicos pró-vida. Obama venceu na Flórida graças especialmente ao espetacular comparecimento dos porto-riquenhos e dos imigrantes latinos no centro da Flórida, reforçado pela maioria dos jovens eleitores cubano-americanos contra o exílio geriátrico dos líderes que tem sido há muito guardiões do autoritarismo do poder republicano no sul da Flórida (62).
Assim como na análise das causas da imigração, é importante distinguir entre os fatores “empurre” e “puxe” do comparecimento latino. A despeito da grande preocupação nos últimos anos quanto ao aumento da população das relações intergrupais de minorias, a sensacional popularidade de Obama dentre os jovens eleitores latinos (76% na Flórida e 84% na Califórnia) atesta a importância crescente da identidade não-branca ou misturada como norma cultural (como vem há muito sendo o caso no estado de origem de Obama, o Havaí), assim como o crescimento da integração cultural e social de afro-americanos, latinos, asiáticos e imigrantes de todos os tipos nas vizinhanças das grandes cidades e nos velhos subúrbios (63). Obama estava claramente sendo visto como abrindo os portões da oportunidade para a maior parte da nação hip-hop, inclusive para a possibilidade de um futuro presidente latino ou asiático.
Dois fatores “empurre” também foram decisivos. Primeiro, a quantidade de latinos e hispânicos no agregado das perdas de fundos da bolha econômica de Bush. Como o Instituto de Política Econômica acabou de reportar, “a mudança econômica mais significativa [desde 2000] foi uma perda de 2.2% na renda familiar real hispânica. Essa estagnação econômica para os hispânicos ocorreu durante um período em que a renda bruta doméstica cresceu 18% e a produtividade dos trabalhadores, 19%. Ainda assim, a despeito desses ganhos, a população hispânica não se beneficiou da riqueza que ajudou a criar na economia norte-americana ao longo dos anos 2000. A situação para as economias familiares de hispânicos nascidos no exterior tem sido mais calamitosa: entre 2000 e 2007 sua renda média caiu 9.1% e agora elas se encontram na linha de frente do desemprego gerado pelo colapso da indústria da construção civil (64).
Segundo, a comunidade de imigrantes latinos (e portanto de qualquer um que tenha a pele marrom) tem sido aterrorizada pela insurgência nativista no Partido Republicano – um reino de preconceito que tem sido imitado ou acomodado por muitos democratas fora das maiorias-minorias das cidades centrais (como Kirsten Gillibrand, a apontada como substituta de Hilary Clinton no Senado). Embora os vigilantes “minutemens” (65) que originalmente incendiaram as redes conservadoras sejam pouco mais que poucas frações de grupúsculos, sua agenda central - a construção de uma literal Cortina de Ferro na fronteira mexicana, a legislação local de normas anti-imigrantes e a repressão deles pela polícia local - tornou-se política nacional republicana na estratégia Bush-Rove de pesada rejeição da reforma da imigração e do cultivo do voto latino. Em alguns condados suburbanos e em pequenas cidades, experimentos urbanos de controle de imigração se tornaram de fato campanhas de limpeza étnica.
Mais uma vez, o Condado de Prince William é um paradigma. Como a população latina explodiu com a bolha imobiliária do começo dos anos 2000, grupos como o “Help Save Manassas” [Ajude a salvar Manassas] (que descrevia os latinos como um “flagelo que está infestando as vizinhanças”) estava mobilizado para expulsar latinos sem papel do país (66). No verão de 2007, enquanto o mercado imobiliário azedava e a demanda pelo trabalho na construção civil decrescia, os vereadores (county supervisors) votaram por unanimidade o corte dos serviços públicos aos trabalhadores sem documentos. Eles também recomendaram à polícia que trabalha com o serviço federal de imigração que checasse o status de todos os presos. As escolas, de sua parte, acrescentaram a recomendação que os pais devem apresentar comprovantes legais de residência para poderem pegar seus filhos depois da aula. "A mensagem estava sendo enviada", gabava-se o presidente da câmara de vereadores sob aplausos dos minutemens e de seus apoiadores patriotas em todo o país: "se você é um estrangeiro ilegal, não é bem vindo no Condado de Prince William" (67).
Enquanto a turma do Help Save Manassas debatia “se os estrangeiros ilegais tinham ou não uma temporada de acasalamento preferida”, o Washington Post reportou que a “antes vibrante subcultura latina construída no Condado de Prince William por mais de uma década [tinha começado] a decair em questão de meses...Com os latinos sentindo os efeitos combinados da queda na construção civil, da crise das hipotecas e das novas leis locais que visam a capturar imigrantes ilegais, as lojas de latinos estão à beira da bancarrota, os grupos de igrejas estão perdendo membros, vizinhos estão recebendo placas de “à venda” nas suas casas, e os shopping centers que já foram movimentados estão se transformando em cidades-fantasmas” (68).
Regras da Evasão
Mas, se os imigrantes eram onipresentes na combustão local da campanha, no debate presidencial eram pessoas desaparecidas. Através do que certamente foi um acordo negociado, os candidatos evitaram o mútuo embaraço de discutir quais as concessões que cada um faria no que concerne ao tema dos direitos dos imigrantes. McCain, inacreditavelmente, abandonou seu próprio projeto maior de lei de reforma da política de imigração (cujo co-autor, em 2007, era Teddy Kennedy), enquanto Obama, como observou o The New York Times, tinha “engrossado o tom com os imigrantes ilegais”, de acordo com a “nova lei e ordem da linguagem adotada na plataforma do Partido Democrata na convenção” (69). À medida que ambos os candidatos estavam competindo em mídias em espanhol se dizendo os melhores amigos dos imigrantes, eles não tinham muitas razões para expor essa mútua hipocrisia.
Um polêmico balanço similar do terror comandou o debate sobre o colapso financeiro e a ajuda federal aos bancos. Enquanto a pirâmide de débitos colapsava, ambos os candidatos competiam na denúncia dos vândalos de Wall Street, mas então votaram obedientemente pela catastrófica política classista do plano Paulson, o qual (como Jeffrey Sachs reconhece) assegurou “uma massiva transferência da riqueza dos pagadores de impostos aos dirigentes e proprietários de instituições financeiras bem-relacionadas” (70). Pesquisas no início de outubro mostraram uma grande maioria de americanos ferozmente contra a sem precedentes abdicação de poder do Congresso aos amigos de Wall Street e uma improvável coalização de republicanos rurais conservadores e democratas progressistas urbanos (inclusive muitos membros do Black Caucus fizeram uma breve tentativa de construir uma barricada legislativa ao longo da Avenida Pensilvânia. Eles não receberam apoio de nenhuma das campanhas.
Na verdade, o segundo debate presidencial com participação do público em Nashville, poucos dias depois da aprovação do plano de resgate foi notável por sua evasão das perguntas angustiadas do público sobre desemprego e arrestos de casas (71). Nenhum candidato estava pronto para pegar a lança e liderar os sans-culottes; em vez disso, ambos se restringiram caninamente aos seus velhos pontos de fala como se o céu não tivesse desabado. O debate amplia diferenças políticas que raramente transcendem o níve ordinário dos debates entre a centro-direita e a centro-esquerda, enquanto ambas as campanhas escrupulosamente evitaram os botões nucleares vermelhos marcando "moratória hipotecária", "imigração", "nacionalização", "Nafta" e por aí vai. Poucas campanhas presidenciais na história estadunidense fugiram tão completamente do engajamento em seus problemas atuais.
A profunda impopularidade de Bush, é claro, exigiu do senador do Arizona que ele agisse como uma partícula quântica, ocupando vários espaços ideológicos simultaneamente. Ainda que tenha chamado Teddy Roosevelt, o imperialista progressista, de seu herói, McCain deu guinadas inclassificáveis entre o centrismo ecumênico e o contorcionista-lutador fundamentalista, com a investida dócil no populismo econômico que rapidamente foi seguido de sermões sobre a prioridade do corte de impostos para as pessoas ricas, como ele mesmo, que não sabe quantos carros próprios tem. Seus discursos sobre o sofrimento dos encanadores e dos pequenos negociantes era contraditado por sua própria dependência da maior parte do coração de Manhattan (Lower Manhattan), do executivo da Merrill Lynch John Thain como o maior “empacotado” de seus colaboradores corporativos de campanha. Além disso, McCain tinha muitos opositores – fora Obama e Bush, ele também estava concorrendo contra si mesmo (como no caso da política de imigração). No final, o bombeiro de Hanói não tinha deixado nada para gastar, senão suas histórias da prisão, as insinuações racistas, e o espectro de Bill Ayers (72).
Em contraste, Obama não foi perturbado pelos fanáticos quanto às suas raízes, de modo que pôde deslizar sobre platitudes hipnóticas e posições de caráter, em vez de representações desesperadas e de truques publicitários. A especificidade de idéias e políticas não constituiu prática comum na campanha, que foi principalmente engrenada para a produção de carisma, com uma narrativa que raramente se desvia para longe dos slogans dos bons sentimentos que têm caracterizado a maior parte das campanhas democratas no último período. A despeito de seu currículo, Obama não tinha plano para combater a pobreza urbana, ainda que tenha feito fracas promessas pró-trabalhadores às centrais sindicais, e foi deliberadamente vago a respeito do comércio exterior, da política urbana, da moradia, da educação e do um milhão de prisioneiros na Guerra contra as Drogas.
Hilary Clinton “voltou-se para a classe trabalhadora” na primária da Pensilvânia (na verdade, uma tentativa mais sutil do que a de McCain de passar uma mensagem racial) jogando a campanha de Obama para fora dos trilhos por um mês ou dois, mas ela retomou o curso apenas com uma modesta mudança de rumo na sua navegação dada a enormidade da crise. Assim como Roosevelt em 1932, Obama usou eloquência e compaixão (dentre o merengue denso dos Pais Fundadores e do Nós Somos Um) para forjar um vínculo emocional arrebatador nos eleitores “azuis”, enquanto oferecia poucas novas idéias ou planos concretos.
A esse respeito, contudo, ele estava próximo da maior parte dos planos democratas. Matt Bai, um repórter do The Washington Post que escreveu sobre o papel dos milionários “pontocom”, das fundações liberais e blogueiros no redesenho da imagem dos partidos, argumenta que os líderes democratas, como Harry Reid e Nancy Pelosi têm deliberadamente adotado “slogans insípidos” para apresentar uma pequena meta à direita. “No outorno de 2005”, Bai escreve:
“Os índices de aprovação de Bush tinham despencado abaixo dos 40%, então, líderes partidários decidiram que seria melhor deixar o colapso dos republicanos nas suas próprias costas, no lugar de oferecerem uma agenda verdadeira e correr o risco da possibilidade de que alguns eleitores possam não gostar... 'Conte-nos o que você quer escutar', o partido parece dizer, 'e nós nos comprometemos a introduzi-lo no nosso panfleto” (73).
Contudo, a agenda de Obama se tornou menos opaca em junho, quando ele desapontou os apoiadores sindicalistas ao escolher Jason Furman, o diretor do Brookings Institute (74) - afiliado ao Hamilton Project (75) - como o dirigente de sua equipe de política econômica (76). O Projeto, fundado pelo ex-secretário do Tesouro Robert Rubin em 2006, tem sido parte da rede institucional que elaborou o legado da administração Clinton: neste caso, como um megafone para políticas econômicas centristas que misturavam conservadorismo fiscal e desregulação financeira com investimentos públicos mais inteligentes. A indicação de Furman foi seguida pelo desembarque no círculo interno do sucessor de Rubin no Tesouro de Clinton, Lawrence Summers, um devoto de Milton Friedman ("qualquer democrata honesto deve agora admitir que agora somos todos friedmanistas"), com quem Rubin, Alan Greenspan e Phil Gramm tinham desmantelado os últimos "firewalls" do New Deal (o Ato Glass-Steagal) entre os brancos tradicionais e os esquemas-Ponzi (77) de derivativos. Ao fazer do Hamilton Project seu gabinete econômico secreto e depois elevar o radioativo Summers à diretoria do Conselho Nacional de Economia, Obama restaurou ao poder os autores da catástrofe e incluiu a si mesmo, de bom grado, na esquálida história dos "Rubinics" e na notória porta de trás entre a Casa Branca de Clinton e os grandes investimentos bancários e fundos financeiros (78).
A eleição contra-factual
Seria portanto difícil caracterizar a campanha de 2008 como uma confrontação epocal ideológica, a não ser no sentido limitado de que ambos os candidatos (McCain algumas vezes mais claramente que Obama) repudiaram os horrores da Casa Branca de Bush e advogaram o retorno ao “centro vital” de Arthur Schlesinger (79). Essa perspectiva se aproxima muito do critério que Burnham estabelece para uma "eleição decisiva" (80).
Na campanha ou nas campanhas que se seguiram a rupturas, o estilo político da insurgência é excepcionalmente ideológico para os padrões norte-americanos. É algo que produz um sentido de grave ameaça dentre os defensores da ordem estabelecida, os quais, por sua vez, desenvolvem posições ideológicas opostas (81).
De fato, a nova administração parece determinada a prever a todo custo uma polarização ideológica desse tipo, ao reunir tantos defensores moderados da “ordem estabelecida” quanto é possível. Com a administração da crise firmemente nas mãos dos bacharéis do Citigroup e do Goldman Sachs, a política externa delegada à sub-presidente Hilary Clinton e seu esposo, e a doutrina da “tempestade” de Gates e Petraus preservada no Pentágono, Obama construiu um time que delicia a The Economist e a Foreign Affairs no mesmo grau em que preocupa a The Nation. Assim como na era Clinton, trabalho e meio ambiente têm sido postos em segundo plano, com importantes mas secundários postos que carecem de peso na linha da Administração (82).
Certamente o novo presidente e sua maioria no Congresso estão comprometidos com políticas de assistência humanistas que distinguem o centrismo democrata do barbarismo spenceriano dos republicanos do Sul, mas por si só isso dificilmente é causa da celebração de uma nova era. Pertencendo ou não seu coração à esquerda, como muitos admiradores acreditam, as indicações de Obama afirmam uma impressionante continuidade com a era Clinton, assim como com o bipartidarismo realista nos assuntos estrangeiros. Poucos observadores políticos anteciparam que um mandato de “mudança” seria imediatamente conduzido para uma fusão dos campos de Clinton e de Obama, com o pessoal do primeiro outorgando primazia (83). (Isso é uma pancada num acordo pré-convenção democrata que previu uma imensa partição de poder entre os Clinton e seus amigos) (84).
Esse triunfo do centrismo veterano diante dessa crise escancarada de complexidade inimaginável atesta a falência do eleitorado progressista do Partido Democrata, especialmente o dividido movimento operário, em exercer uma influência comensurável com sua imensa lista de contribuintes financeiros para as vitórias do partido. (O New York Times estimou que os trabalhadores gastaram 450 milhões apoiando os democratas e que mobilizaram 250 000 voluntários.) (85). Os trabalhadores teriam tido mais influência sobre a linha final da campanha - especialmente sobre a resposta de Obama ao derretimento das hipotecas e dos bancos e do resgate das ind俍trias automobil﨎ticas - se tivessem sido capazes de avaliar seu voto ou de controlar o equilíbrio de forças numa convenção em disputa. Nenhum cenário, em minha opinião, teria sido implausível se o apoio da maioria dos sindicatos tivesse sido dado ao impressionante impulso inicial da campanha de John Edwards.
Embora se possa ressentir do caráter de Edwards (como exposto em mais um escândalo de cama descoberto por blogueiros da direita), ele era o único grande candidato a ir ao encontro do parâmetro do realinhamento decisivo de Burnham de uma insurgência com uma plataforma ideológica distinta – no caso dele, populismo econômico raivoso. O ex-senador da Carolina do Norte (filho de um operário da indústria têxtil do Piedmont [Alabama] que se tornou um advogado milionário) apresentou um espaço programático que estava vago desde a insurgência de Jessie Jackson nos anos 80: a prioridade da justiça econômica para as pessoas pobres e trabalhadores (86). Deixando de lado os eufemismos banais de sua campanha a vice de 2004, ele falou diretamente da exploração e da urgência da sindicalização, propôs uma nova guerra contra a pobreza, denunciou "executivos Benedict Arnold" (87) que exportaram empregos e, num debate com Obama e Clinton em Iwoa, argumentou que era uma "completa fantasia" acreditar que uma agenda progressista poderia ser alcançada via negociação com os republicanos e com os lobies corporativos. Só uma "luta éica" poderia assegurar reforma na assistência em saúde e nos salários míimos. (A resposta de Obama foi uma típica evasão eloquente: “Nós não precisamos de mais calor; precisamos de mais luz") (88).
Na ocasião, Edwards obteve o apoio caloroso em peso da antiga CIO (89) (mineiros e trabalhadores do setor do aço), carpinteiros e alguns conselheiros estaduais independentes do serviço de empregos e trabalhadores do setor hoteleiro. Sua campanha ruiu devido à recusa de duas centrais sindicais (a AFL-CIO e a Change to Win) e das suas grandes maiorias de eleitores internacionais a endossar o que seria, contudo, a maior candidatura quimicamente pura pró-trabalhadores de uma geração. As grandes centrais sindicais, em vez disso, lutaram entre si (e algumas vezes dentre seus próprios membros), num embaralhado caótico para apostar no último minuto num candidato que eles acreditavam seria o vencedor com certeza. Em alguns estados, os operários desafiaram seus líderes a votarem em Hilary (trabalhadores do setor da culinária em Nevada), e em outros estados, em Barack (trabalhadores do setor público da Califórnia). No momento da convenção em Denver, o colunista veterano Harold Meyerson (escrevendo na
Dissent) alertava aos progressistas democratas: “O que incomoda é o quão miseravelmente se comportaram as centrais sindicais durante as primárias democratas e o quanto estão divididas chegando no outono” (90). Embora os voluntários das sindicais tenham em última instância feito um trabalho épico derrotando McCain, especialmente em estados como Indiana e Wisconsin, o movimento sindical, engajado numa verdadeira luta de vida e morte no setor privado, perdeu sua melhor chance de impor assistência em saúde, leis trabalhistas e reformas na negociação, como plataforma de uma Casa Branca restaurada.
A presidência do silício e seus limites
No final das contas, a própria crise e não a eleição estabeleceu o levante pesado, levando pânico à opinião da elite do avental de proteção da Velha Mãe Keynes. (Talvez não o Keynes real que lutou com paradoxos de armadilhas de liquidez e sinais perversos do mercado, mas o Keynes que supostamente ria quando quer que governos imprimissem moeda para salvar bancos). Ironicamente, nenhum dos proeminentes keynesianos contemporâneos ou dos pós-keynesianos, como Paul Krugman, Joseph Stiglitz ou James Galbraith passaram no exame de qualificação para a nova administração. Em contraste com Os Cem Dias de FDR, quando o presidente aproximou-se de conselheiros, inclusive alguns críticos entrincheirados do poder das corporações e das prerrogativas gerenciais como Guy Rexford Tugwell, Gardiner Means e Adolf Berle, o cérebro da política econômica de Obama partilha um conceito definido da administração Hoover: os arquitetos da crise (então Andrew Mellon; Timothy Geithner e Larry Summers agora) consideravam a si mesmos os doutores mais competentes (91).
Mas, se os principais banqueiros e coveiros financistas ainda estão renunciando a ceder o reinado sobre as ruínas de Wall Street, Obama aliou-se com ícones da tecnologia para estabelecer as pedras angulares de um renascimento econômico baseado no investimento público massivo em “infraestrutura verde”. Enquanto for a idéia principal da nova administração será a que menos deve aos precedentes dos Clinton e a que ressoa mais próximo do idealismo dos voluntários e dos apoiadores oriundos dos grandes centros de tecnologia. A presença constante mais próxima do fundador do Google, Eric Schmidt ao lado de Obama (e no interior de sua equipe de transição) tem sido um símbolo cuidadosamente escolhido do vínculo que está estabelecido entre o Vale do Silício e a Presidência. (O dote inclui a imensa maioria dos contribuintes da campanha presidencial de executivos e empregados de Cisco, Apple, Oracle, Hewlett-Packard, Yahoo e Ebay). Mas a promessa poderosa do keynesianismo verde pode vir a se realizar diferentemente do imaginado pelos economistas radicais e ativistas ambientais. Uma mudança fundamental de poder parece estar ganhando espaço na infraestrutura dos negócios de Washington, com corporações da “Nova Economia” ganhando rapidamente influência entre Obama e os democratas, enquanto os leviatãs da Velha Economia, como General Motors lutam contra perdas e aposentadorias de funcionários e gigantes da energia temporariamente escondidos nas cavernas. A unidade sem precedentes de empresas de tecnologia por trás de Obama tanto ajudou a definir como foi definida por sua campanha. Através de sua vitória, elas adquiriram crédito para assegurar que qualquer infraestrutura verde também será boa política industrial, exceto para a dinâmica envelhecida do dinheiro de curto prazo das corporações.
Há uma óbvia analogia histórica. Assim como Gerard Swope da General Electric (o Steven Job daquele tempo) e um bloco avançado de corporações de capital intensivo e bancos de investimentos apoiaram entusiasticamente a parceria com Roosevelt para criar a mal-fadada Administração da Recuperação Nacional (NRA, em inglês) em 1933, que também tinha Schmidt e seus companheiros ligados com fio metálico (juntos à ainda mais poderosa delegação da Califórnia) se tornaram os principais entusiastas da promessa de Obama de lançar um programa Apollo de energia renovável e de novas tecnologias (92).
Devemos anotar que esse realinhamento da política pela economia se encaixa desajeitadamente no paradigma Keys-Burnham, que concede primazia à opinião pública e à durabilidade dos blocos eleitorais.
Uma “presidência do silício”, por outro lado, está perfeitamente acomodada na teoria de “investimento” de Thomas Ferguson da mudança política que privilegia a economia política e a luta de classes no interior do capital enquanto modos de explicação. Analisando estudos de casos New-Deal no seu livro de 1995, Ferguson – um descendente intelectualmente sobrecarregado de Charles Beard – conclui que as elites dos negócios, não os eleitores, geralmente determinam tanto a natureza como o curso dos realinhamentos eleitorais (93).
O verdadeiro produto de mercado dos partidos políticos é definido por grandes investidores, que geralmente têm boas e claras razões para investir no controle do estado.
O produto fundamental de mercado dos partidos políticos geralmente não são eleitores. Como um número recente de análises documentaram, muitos dos eleitores possuem recursos desesperadamente limitados e – especialmente nos Estados Unidos – exíguas informações e interesse em política. O verdadeiro produto de mercado dos partidos políticos é definido por grandes investidores, que geralmente têm boas e claras razões para investir no controle do estado. Enquanto as mudanças básicas do realinhamento ganham espaço nos blocos centrais de investimentos que constituem os partidos políticos. Mais especificamente, realinhamentos ocorrem quando mudanças cumulativas de longo prazo nas estruturas industriais (comumente interagindo com uma variedade de fatores de curto prazo, notavelmente quedas bruscas na economia) polarizam a comunidade de negócios, de modo que reúne um novo bloco poderoso de investidores com interesses duráveis. Quando esse processo começa, a competição partidária esquenta e ao menos algumas diferenças entre partidos emergem mais claramente (94).
Mas o que repentinamente mobilizou a auto-idenficada Nova Economia como um “bloco de investidores” no sentido que Ferguson atribui? E por que Obama?
Uma resposta é francamente cultural: Obama “saca” e gosta da tecnologia e dos seus empreendedores. Como anotou Joshua Green no Atlantic no ano passado, o jovem candidato exemplifica o legendário outsider que reinventa a política americana na sua própria garagem e então lança uma mudança histórica como Oferta Inicial de Ações (IPO), com a ajuda de capitalistas visionários venturosos. Além do mais, Obama, ao contrário de Hilary Clinton (que parecia mais à vontade em Holywood), chegou à montanha (ou melhor, à perspectiva da montanha) e escutou. Ele descobriu um vulcão à beira da erupção. Nenhum setor da força de trabalho corporativa, seja de patrões ou de empregados ficou mais ultrajado com a carnificina sem fim no Iraque, a brutalidade incendiária da cultura de guerra de Rove, o ataque contra os imigrantes e os confrontos republicanos contra o avanço da ciência (95).
Há obviamente, porém, prioridades profundas, mais egoístas. Mesmo antes do crash, videntes venerados como Andy Grove (ex-executivo da Intel) expressavam medo do declínio do investimento e da inovação no coração da terra da tecnologia. Como a Business Week apresentou numa reportagem especial (“O que há de errado com o Vale do Silício?”): “Os fundos federais para a ciência avançada da computação e da engenharia elétrica têm caído velozmente desde o final dos anos 90, assim como o número de estadunidenses interessados em cursar ciência da computação. E grandes companhias de tecnologia estão dando menos ênfase à pesquisa básica e priorizando os trabalhos de retorno rápido” (96).
Os pessimistas se preocupam com que o Vale do Silício esteja embretado no primeiro estágio da síndrome do ciclo do produto de Detroit: a era heróica de Henry Ford seguida pelo design do rabo de peixe e pela esclerose corporativa. (Então a Web 2.0 tem sido criticada como um mero desenvolvimento de produto no lugar de ser uma inovação tecnológica). A presidência de Obama, desse ponto de vista, pode resgatar a escala de compromissos de Kennedy com a ciência básica, assim como com subsídios estáveis para o mercado de energia renovável, de produtos de tecnologia verde (smart utilities) e banda larga universal, que seriam maneiras de resolver de vez o problema dos preços voláteis da energia. (97)
A Nova Economia, assim como a Velha, também reconhece que a sobrevivência, na atual tormenta econômica depende da presença na corte: ao menos no curto prazo, Obama e as lideranças democratas terão influência extraordinária sobre a seleção dos vencedores e perdedores. Os destinos contrastantes do Lehman Brothers e da AIG (uma deixada sangrando até a morte e a outra que recebeu socorro governamental) causaram tremores na espinha de todo executivo e grande acionista nos Estados Unidos. Mais ainda do que no estudo de caso de Ferguson nos anos 30, o futuro de toda corporação ou setor depende de investimentos sensatos para “controlar o estado”, o que explica por que K Street (o maior dos lobistas de Wall Street outrora obediente ao Partido Republicano) tem se tornado tão azul no último ano. Mas, de todos os novos investidores democratas, só as indústrias de tecnologia, com seus universitários cativos e a vasta lista de fãs na internet, ainda mantém legitimidade pública suficiente (doméstica e internacional) e autoconfiança interna para agir hipoteticamente como um bloco hegemônico construtivo em vez de como um movimento de lobistas desesperados.
Mas então, de novo, as indústrias de tecnologia podem simplesmente ser engolidas com todo mundo, na Götterdämmerung (98) de Wall Street, enquanto Larry Summers e Ben Bernanke lutam nos bunkers até que a última fatura de impostos seja gasta. (A eufórica unidade nacional de Roosevelt e o National Recovery Industry de Swope deveria ser relembrada; ela foi rapidamente dissolvida em batalhas, bombas de gás lacrimogênio e baionetas). O pacote de estímulo de quase um trilhão de dólares de Obama oferece pouca ajuda financeira à infraestrutura verde, mas poucos economistas parecem dispostos a acreditar que isso realmente pode interromper a débâcle interna, menos ainda gerar "vazamento" através da importação para estimular a Ásia e a Europa. O sistema financeiro norte-americano (nos últimos anos o gerador de 40% dos lucros corporativos) está morto - um cadáver colossal escondido da opinião pública pelos ruidosos debates da campanha presidencial do outono. Os centristas orientados pelo mercado e desreguladores reformados que Obama restaurou ou manteve no poder tem tanta chance de trazer os bancos de volta à vida como seus generais tem de vencer a guerra contra os Pashtuns no Afeganistão. E nenhum contemporâneo de Walter Rathenau ou Guy Rexford Tugwell emergiu ainda com um esquema de reconstrução, a partir dos escombros, de alguma forma plausível de estado capitalista.
Enquanto isso, a imprensa financeira alerta que trilhões serão necessários, em último caso, para fazer um “mau banco” ou a nacionalização dos bancos funcionar. Mas se os gastos domésticos de Obama fracassarem em produzir benefícios colaterais significativos para os parceiros comerciais norte-americanos, eles podem pensar duas vezes em comprar a dívida de Washington, e decidir impor algumas condições de sua parte. (Por trás do dogma de que os chineses são escravos de seu superávit comercial e da subvalorização da moeda e não têm alternativa senão subsidiar o nosso Tesouro).
Em Davos, Putin e Jiabao lembraram ao novo presidente que não há mais o senhor da sua própria casa da mesma maneira que o foram Roosevelt ou Reagan. O dólar corre o risco de se tornar a coleira do cachorro num novo New Deal. Em todo caso, a bolha mundial do consumismo estadunidense, como existiu até o início da candidatura formal de Obama em 2007 nunca mais será restaurada, e o prolongamento da estagnação, não a recuperação do protagonismo tecnológico parece o cenário mais realista para a era que talvez algum dia venha ser chamada pelo seu nome.
Notas:
(1) Tom Clancy é um escritor norte-americano que ficou famoso pelas adaptações de suas obras para videogames.Para entender a referência que o autor faz às novelas de Clancy, é o caso notar que o escritor ficou conhecido pelo gênero techno-thriller, que mescla intriga política com novas tecnologias militares, em plena guerra fria. O sucesso de Clancy veio com o elogio do mais poderoso dos fãs, o então presidente Ronald Reagan. N.deT.
(2) Adequando-se à capital de um império, Washington DC tem a mais afluente margem suburbana do país. Como mostra Thomas Frank em The Wrecking Crew: How Conservatives Rule [Grupo de Destruição: Como os conservadores mandam](Nova York, 2008), cinco das sete regiões mais ricas com população acima de 250 000 habitantes estão nos subúrbios de Washington DC, nas vizinhanças de Maryland e Virgínia (pp. 11 e 277). Sobre o papel estratégico dos subúrbios emergentes em 2004, ver Ronald Brownstein e Richard Rainey, gop Plants Flag on New Voting Frontier [Republicanos fincam bandeiras em novas fronteiras eleitorais], Los Angeles Times, 22 de novembro de 2004, e Gregory Giroux, A Line in the Suburban Sand [Um traço na areia do Subúrbio], cq Weekly, 27 de junho de 2005.
(3) Como o antigo sul escravista dos EUA é conhecido. Novo Sul é uma maneira de denominar a região depois da Guerra de Secessão. N.deT.
(4) Jon Teaford, Pos-Suburbia: Government and Politics in the Edge Cities [Pós-Subúrbio: Governo e Política nas Cidades fronteiriças], Baltimore, 1997, p. 6
(5) O comício de Manassas pode ser visto no YouTube.
(6) Kristen Mack, “Prince William, the State's Bellwether”[Condado de Prince Williams: o Reduto eleitoral do estado], Washington Post, 12 de novembro de 2008.
(7) “Blue Virgínia”, 2008 Election Brief, Metropolitan Institute, Virginia Tech.
(8) Hanging chads é o nome do imbróglio em que se converteu o resultado da eleição para presidente na Flórida, em 2000. Os furinhos da cartela eleitoral não teriam “acertado” no nome do então candidato Al Gore, prejudicando assim a contagem de votos do democrata e viabilizando a “eleição”, com uma mínima e contestada diferença de votos, de George W. Bush. Com efeito, Bush venceu na Flórida por 537 votos, obtendo 271 votos de delegados, um a mais para ser eleito presidente dos EUA.
(9) “Boiler Room” é um tipo de fraude financeira, que consiste na indução de compra de valores mobiliários a preços superiores ao seu valor real, num mercado de baixa liquidez e transparência. Durante algum tempo, os vendedores desses títulos sobrevalorizados sustentam esses valores fictícios via manipulação de investidores menos informados qusão convencidos a comprá-los a preços inflacionados. O autor se refere a essa fraude para expressar ironicamente o tipo de guerra por votos que os republicanos travaram, em antigos redutos eleitorais (N.deT).
(10) V. O. Key, “A Theory of Critical Elections”, Jounal of Politics, 17 (1955), pp. 3-18; e Walter Dean Burnham, Critical Elections and the Mainsprings of American Politics, New York, 1970. Para uma crítica intelectual, ver David Mayhew, Electoral Realignments, New Haven, 2004.
(11) Burnham, p. 6.
(12) O comparecimento nacional (em proporção ao universo de votos registrados) não quebrou recordes históricos, em parte por causa de um declínio relativo dos votos da Costa Oeste e de Nova York, onde a vitória de Obama era certa. Por outro lado, houve um dramático crescimento na participação do eleitorado no Sul profundo (tanto de brancos como de negros), nos estados das Montanhas Rochosas [Idaho, Utah, Nevada, Arizona e partes do leste do Oregon e de Washington e noroeste do Novo México, oeste do Colorado, sudoeste de Wyoming e noroeste de Montana], regiões latinas e pequenas cidades industriais do Meio-Oeste. Ver “Novos Eleitores, Novas Bases de Poder”, com mapa, New York Times, 6 de novembro de 2008.
(13) O momento da concepção da política da internet, contudo, foi a criação do www.MoveOn.org”, Carl Cannon, in: “Movin' On” National Journal,, 2 de dezembro de 2006, pp. 57-9
(14) Joshua Green, “The Amazing Money Machine” [A Impressionante Máquina de Dinheiro], The Atlantic, Junho de 2008.
(15) Personagem da Marvel Comics, ligado principalmente às histórias dos X-Men. “Fanático” é como ficou conhecido na tradução do quadrinho para o português. N.deT.
(16) Fonte: Federal Election Commission (www.fec.gov)
(17) Fireside chats foram séries de trinta programas de rádio do Presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt, entre 1933 e 1944. N.deT. Com Wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/Fireside.
(18) Matt Bai, The Argument: Billionaires, Bloggers, and the Battle to Remake Democratic Politics, [O Argumento: Bilionários, Blogueiros e a Batalha para Reconstruir a Democracia Política] Nova York, 2007, p. 7
(19) Obama venceu com 39% dos votos dos brancos da Virgínia em comparação aos 32% de Kerry; e com 5% na Carolina do Norte, em comparação com os 27%. Ver Charles Franklin, “White Vote for Obama in the States, Part. 2”, [O Voto Branco em Obama, Parte 2]Pollster.com, 15 de novembro de 2008.
(20) Dave Mann, “Turning Houston Blue” [Tornando o Texas Azul], The Texas Observer, 17 de Outubro de 2008.
(21)“Reappointnment”, a expressão utilizada no original, é o processo de redistribuição de assentos na Câmara dos Deputados dos EUA dentre os estados da federação, como reflexo das mudanças populacionais registradas no censo decenal. N.deT.
(22) Michael Teitelbaum, “Census Estimates Show Clout Again Likely to Go West and South”[Senso estima apresentar mais uma vez a influência da ida para o Oeste e para o Sul], Congressional Quartely Today Online News, 23 de dezembro de 2008.
(23) A despeito da pequena margem da vantagem de McCain, os democratas – inclusive dos americanos-japoneses – tomaram o controle do Conselho Eleitoral da Região de Salt Lake. As consequências provavelmente incluirão benefícios na área da saúde para os cônjuges, barganhas coletivas para que se tenha emprego na região e uma comissão independente para avaliar as mudanças de fronteiras geográficas com base no censo. A capital do estado de Deseret, de Brigham Young então continua sua recente evolução em direção da esquerda. (Ver Jeremiah Stettler, “In Salt Lake County, election shifted power swings to Dems” [Em Salt Lake a eleição mudou a relação de poder em direção aos democratas], The Salt Lake Tribune, 6 de novembro de 2008).
(24) “Rose the Riveter – Rose a Rebitadeira em português - é o ícone cultural da representação feminista nos EUA, construído em função do trabalho feminino nas fábricas durante a Segunda Guerra Mundial. As mulheres que substituíram homens porque estes estavam na guerra veio a simbolizar o poder econômico das mulheres e a tornar-se também um ícone do feminismo. N.deT.
(25) A maior exceção foi a antiga região do aço, nos arredores de Pittsburgh no oeste da Pensilvânia, mas Obama facilmente ganhou espaço com a ajuda das mudanças de voto nos antigos subúrbios republicanos da Filadélfia.
(26) Como se chamam os cidadãos de Indiana. N.deT.
(27) What's the Matter with Kansas?
(28) Robert Staughton Lynd (1892-1970) foi um sociólogo norte-americano nascido em New Albany, Indiana. Foi professor de sociologia na Universidade Columbia e na Universidade de Nova York. Junto com Helen Lynd produziu o estudo “Middletown: A Study in Contemporary American Culture (1929) e Middletown in Transition (1937), que são clássicos da sociologia norte-americana. N.deT.
(29) James Barnes, “Obama Pulls Off a Hat Trick of Outreach”,[Obama deu um hat-trick no outro lado] National Journal, 8 de novembro de 2008. Bem inacreditavelmente, as pesquisas de boca-de-urna em Indiana incidavam um pequeno declínio na preferência dos eleitores negros por Obama, em comparação com Kerry.
(30) Pesquisas de opinião mostram que quase um quarto dos eleitores entrevistados disseram ter sido contatados pela campanha de Obama para irem votar, em comparação com meros 8% da campanha de McCain. Desses contatados como parte do esforço de campanha de Obama, quase três quartos votaram nele. “State by State”, New York Times, 6 de novembro de 2008.
(31) Mesmo que a campanha de Nader tenha sido ignorada pela mídia nacional, seus 17000 votos certamente incomodaram as esperanças de democratas locais.
(32) Cajun: habitantes da Luisiana de origem acadiana, francófonos originários do Canadá, que reivindicam uma cultura própria. N.deT.
(33) A política nacional e a estadual não são eleitoralmente conversíveis nos EUA. Por exemplo, cinco dos estados em vencidos confortavelmente por Bush em 2004 e por McCain em 2008 tiveram sólidas maiorias democratas em seus parlamentos estaduais (Arkansas, Alabama, Kentucky, Mississippi e West-Virginia).
(34) Ver N.deT. 12
(35) Ver p.6 N.deT.
(36) 401(k) é o nome de um tipo de plano de aposentadoria patrocinado pelo empregador, adotado nos EUA e em outros países e que recebe este nome com base no código fiscal norte-americano que o prevê. Trata-se da aplicação do imposto de renda que deveria estar retido na fonte. O empregado tem o valor descontado não para o pagamento do IR mas para aplicar no mercado financeiro sem pagar taxas, salvo em caso de saque. N.deT. Com Wikipedia, http://pt.wikipedia.org/wiki/401_(k)
(37) Contratos de alienação fiduciária com o imóvel como garantia, inclusive o que no Brasil se chama Bem de Família, conforme a lei. N.deT.
(38) Chris Cillizza, “Five Myths About an Election of Mythic Proportions” [Cinco mitos sobre uma eleição de proporções míticas], The Washington Post, 16 de novembro de 2008. Ver também Richard Cohen e Brien Friel, “The New Centre”, National Journal, 7 de março de 2008.
(39) Alec MacGillis e Jon Cohen, “Democrats Add Suburbs to Their Growing Coalition” [Democratas incluem subúrbios na sua coalização em crescimento], The Washington Post, 6 de novembro de 2008.
(40) A lista dos subúrbios virados feita por Robert Long, et all., “The New Suburban Swingers: How America's Most Contested Suburban Counties Could Decide the Next President”[O novos subúrbios virados: como as regiões suburbanas mais competitivas puderam escolher o próximo presidente], 2008 Election Brief, Metropolitan Institute, Virginia Tech, Blacksburg 2008, p. 5
(41) Robert Lang e Patrick Simmons, “Boomburbs” Fast-Growing Suburban Cities [“Boombúrbios”: o crescimento acelerado das cidades suburbanas], In: Bruce Katz e Rober Lang (eds.), Redefining Urban and Suburban America: Evidence from Census 2000 [Redefinindo a América Urbana e Suburbana: evidência a partir do Censo 2000], Brookings Institution, Washington DC 2003. p. 10.4
(42) Lang, et al., p. 2.
(43) Robert Lang e Thomaz Sanchez, The New Metro Politics: Interpreting Recent Presidential Elections Using a County-Based Regional Typology[A Nova Política Metropolitana: Interpretando a Eleição Presidencial Recente usando uma base tipológica regional], Metropolitan Institute, Virgina Tech, Blacksburg 2006, p. 5
(44) A referência feita pelo autor parece ser esta: “Arquimedes foi um matemático, físico e inventor grego. Um dos maiores cientistas e matemáticos de todos os tempos. Ele descobriu o princípio da alavanca. E em função dessa descoberta lhe é atribuída a máxima “Dêem-me uma alavanca e um ponto e moverei o mundo”. N.deT. Com Wikipedia.
(45) Ken Billingsley citado por Nick Miroff, “Divesity Blooms in Outer Suburbs” [A diversidade do progresso nos subúrbios externos], The Washington Post, 3 de novembro de 2008.
(46) “A Happy Slowdown?”, CEO Confidential, Goldmann Sachs, 4 de setembro de 2006.
(47) David Sherfinski, “Sick Suburb” [Subúrbio Doente], The Examiner, 10 de dezembro de 2008; e Mary Kane, “At the frontline of the Foreclosure Crisis, Counties Go It Alone” [Na linha de frente da crise dos arrendamentos, os subúrbios estão por sí sós], The Washington Independent, 24 de novembro de 2008
(48) É um tipo de hipoteca – abreviação para a expressão Alternative-A paper – mais arriscado que as de tipo A-paper e com menor risco do que as “subprime”, a categoria mais arriscada. N.deT.
(49) Mary Kane, “Foreclosure Machine Grinds On Through Holiday Season” [A máquina de arrendamento varre a estação de férias], The Washington Independent, 4 de dezembro de 2008
(50) Estatísticas das pesquisas via Dallas News, 5 de outubro de 2008.
(51) Informe do “Comunicado do Centro Nacional para Estudos Suburbanos de que somente nas pesquisas eleitorais da campanha presidencial de 2008 as enquetes focaram exclusivamente nos eleitores dos subúrbios”, da Universidade Hofstra, 29 de setembro de 2008.
(52) Os dados são do US Census Bureau News: “Minority Population Tops 100 Million”[População de Minoria chega a 100 Milhões], em 17 de maio de 2007.
(53) Kevin Pollard, “Swing, Bellwether, and Red and Blue States: Demographics and the 2008 US Presidential Election”[Variações, Tendências dominantes e os Estados Vermelho e Azul: a demografia e a eleição presidencial norte-americana de 2008], Population Reference Bureau (www.prb.org/Articles/2008/electiondemographics).
(54) No total, a parte [branca evangélica] do total do eleitorado cresceu de 23% a 26% (entusiasmados com Palin?), mas onde Kerry obteve apenas 21% desses votos, Obama conseguiu 24% (dado o efeito Palin, eu acho).
(55) Com efeito, a participação do eleitorado nos EUA permanece extremamente baixa em parâmetros mundiais. Aproximadamente 100 milhões de cidadãos estadunidenses elegíveis não votaram no ano passado, apesar do gasto de 1,6 bilhões de dólares em propaganda política de ambos os partidos.
(56) Scott Keeter, 'The Aging of the Boomers and the Rise of the Millennials [O envelhecimento dos boomers e o levante da geração do Milênio]', in Ruy Teixeira, Red, Blue and Purple America: The Future of Election Demographics [América Vermelha, Azul e púrpura: o futuro da demografia das eleições] Brookings Institution, Washington DC 2008, pp. 225-57
(57) Karlo Barrios e Emily Hoban, “Quick facts about us Young Voters: The Presidential Election Year 2008” [Breves fatos sobre nossos eleitores jovens: o ano eleitoral da eleição presidencial de 2008], circle Fact Sheet, Tufts University, Boston www.civicyouth.org
(58) Andrew Levison, How Democrats Can Keep and Expand the Support of the Younger White Working-Class Voters Who Voted for Obama in 2008 , [Como os democratas podem manter e expandir o apoio dos jovens brancos da classe trabalhadora que votaram em Obama em 2008],The Democratic Strategist, White Paper, 2008 (disponível em PDF: www.thedemocraticstrategist.org), pp. 1-2.
(59) Quase mas não bastante verdadeira foi a asserção de Stephen Ansolabehere e Charles Stewart: “Se os negros e hispânicos tivessem votado nos democratas nos níveis de 2004 McCain teria vencido” (“Amazing Race: How Post-Racial Was Obama's Victory?”[Raça Impressionante: quanto pós-racial foi a vitoria de Obama?]
(60) Jody Herman e Lorraine Minnite, “The Demographics of Voters in America's 2008 General Election: a Preliminary Assessment” [A Demografia eleitoral da eleição geral estadunidense de 2008: um balanço preliminar], memorando de pesquisa do Project Vote, 18 de novembro de 2008.
(61) A idade média da população hispânica em 2006 era 27,4, em contraste com os 36, 4 da população geral, segundo o Census Bureau News, “Minority Population Tops 100 Million”, 17 de maio de 2007.
(62) James Barnes, “Obama Pulls Off a Hat Trick of Outreach”[Obama consegue estender a goleada], National Journal, 8 de novembro de 2008.
(63) Ver William Frey, “Melting Pot Suburbs”,[Liquefazendo os subúrbios] in Katz e Lang, pp. 155-79
(64) Algernon Austin e Marie Mora, “Hispanics and the Economy”[Os Hispânicos e a Economia], EP Briefing Paper 225, Washington DC, 31 de outubro de 2008, p.1.
(65) Minutemen é como eram chamados os membros da milícia colonial americana durante a guerra revolucionária de independência. Eles se mobilizavam rapidamente para permitir às colônias deslocarem forças a fim de resistirem às ameaças de soldados obedientes à coroa. Considera-se que os minutemen foram os primeiros a lutar pela independência norte-americana. Mike Davis parece usar a expressão para designar aqueles conservadores que se reivindicam patriotas com referência mitíca na figura dos minutemen, espécie conveniente de patriotismo originário. N.deT.
(66) Kristen Mack, “Activists Want Answers on Panel Choice”[Ativistas exigem respostas a algo como a câmara de vereadores], The Washington Post, 23 de setembro de 2008.
(67) Nick Miroff, “Prince William Immigration, Housing Ills Seen as Linked” [Imigração em Prince William, abrigar o mal será tomado como conivência], The Washington Post, 5 de outubro de 2005 (reimpresso com júbilo em vários sites de minutemens)
(68) N.Aizenman, “In Northern Virginia, a Latino Community Unravels”[No norte da Virgínia uma comunidade latina se descostura], The Washington Post, 27 de março de 2008.
(69) Julia Preston, “Immigration Cools as Campaign Issue”[Novos Imigrantes como Questão Eleitoral] , New York Times, 29 de outubro de 2008.
(70) Jeffrey Sachs, “The Tarp is a fiscal straitjacket”[O Tarp (Troubled Assets Relief Program) é uma camisa-de-força fiscal], Financial Times, 28 de janeiro de 2009.
(71) O debate presidencial pode ser visto em www.youdecide2008.com/video
(72) William Charles Ayers (nascido em 26 de Dezembro de 1944) é um professor norte-americano de educação fundamental e também um teórico da pedagogia que se tornou ativista anti-guerra nos anos 60 do século passado. Ele é conhecido pela radicalidade de seu ativismo nos anos 60 e 70, bem como por seu trabalho pela reforma da educação, do currículo e da formação. Em 1969 ele conduziu uma campanha de bombardeios de prédios públicos que durou de 69 a 70. Hoje em dia, Ayers é professor do College na Universidade de Illinois em Chicago. A referência irônica do autor a Ayers repousa tanto na militância anti-guerra como no fato de Ayers dar aulas em Chicago. Ambas as coisas seriam espectros a açoitarem a imaginação de McCain. N.deT.
(73) Bai, p. 177.
(74) The Brooking Institute: http://www.brookings.edu/ N.deT.
(75) The Hamilton Project: http://www.brookings.edu/projects/hamiltonproject.aspx N.deT.
(76) O jornalista David Leonhardt passou quase um ano entrevistando Obama e seus conselheiros econômicos originais da Universidade de Chicago, tentando decifrar sua filosofia econômica. Ele ficou impressionado com o modesto tratamento dado por eles à desigualdade econômica e à reforma fiscal, em contraste com suas propostas enfatizadas a respeito da racionalização da assistência em saúde, reconstrução de infraestrutura, e condução de uma transição à energia renovável. “Por mais ambiciosas que as propostas de Obama possam ser, elas ainda deixam a diferença entre ricos e pobres muito longe do que era há 15 ou 30 anos atrás. Essa diferença simplesmente não seria grande o suficiente como é agora”. (“A Free Market Loving, Big-Spending, Fiscally Conservative, Wealth Redistributionist”[Um amável livre-mercado, grande gastador, fiscalmente conservador, redistribucionista da riqueza], New York Times Magazine, 24 de agosto de 2008).
(77) Um esquema-Ponzi é uma operação de investimento fraudulenta que remunera os retornos aos investidores com o próprio dinheiro destes ou com dinheiro pago por investidores posteriores, no lugar de remunerar com algum lucro obtido com a operação. O termo “esquema-Ponzi” é usado nos países de língua inglesa, por conta do caso do imigrante italiano Charles Ponzi que se tornou famoso nos Estados Unidos em 1903, e no Brasil se conhece como Pirâmide. Trata-se de um esquema fadado ao colapso, visto que os ganhos sempre são menores que os investimentos aplicados. N.deT.
(78) Até o New York Times editorializou os perigos inerentes à religação de Obama a banqueiros investidores para a sabedoria econômica diante da crise: “Outra questão obscurecendo a agenda dos trabalhadores é se o Senhor Obama dará o mesmo peso às preocupações dos trabalhadores – da reforma da assistência em saúde ao aumento do salário mínimo – enquanto a crise financeira ainda está em pleno vigor. Muitos membros de sua equipe econômica são veteranos da administração Clinton alinhados com Wall Street. Na era Clinton, questões financeiras rotineiramente ultrapassaram as preocupações dos trabalhadores. Se as promessas de campanha do Senhor Obama forem mantidas, essa mentalidade não pode prevalecer de novo”. (29 de dezembro de 2008)
(79) Arthur Sclesinger Jr. foi um historiador e crítico social norte-americano que se tornou um dos maiores pensadores do liberalismo contemporâneo dos EUA. Foi conselheiro do presidente Kennedy de 1961 a 1963. Nos anos 50 publicou o livro The Vital Center, no qual defendia a tese de que a política estadunidense é sobretudo uma política de centro, como alternativa à polarização característica da Guerra Fria. N.deT.
(80) Walter Dean Burnham é um cientista político especialista em análise de eleições, cf notas 10 e 11 da página 4 deste texto. Em 1970 ele lançou o livro Critical Elections and the Mainsprings of American Politics [Eleições Decisivas e o Motor da Política Americana], no qual apresenta uma teoria do desenvolvimento da política norte-americana cujo argumento é o de que o papel dos partidos políticos não determinou o resultado de eleições nas décadas anteriores à publicação do seu livro. Novos compromissos, ideologias e políticas públicas passariam ao largo das agendas partidárias, em processos eleitorais que envolveram uma ruptura com o quadro político antecedente. Os exemplos de eleições decisivas de Burnham são a de 1860 e a de 1932. N.deT.
(81) Walter Dean Burnham, The Current Crisis in American Politcs [A crise atual na Política Americana], New York, 1982, p. 101.
(82) Hilda Solas, a nova secretária de Obama, já está sendo comparada a sua grande predecessora no gabinete de Roosevelt, Frances Pekins. Mas Perkins tem sido dotada da mais liberal das hagiografias, com poderes que ela [Solas] não possui. Se em momentos críticos na última luta de classes em 1930, ela fosse uma soberba advogada dos sindicatos no interior da Administração, sua vocação ordinária era a de pacificadora: encarregada de manter os trabalhadores insurgentes na linha, por trás da agenda de FDR [Franklin Delano Roosevelt] de movimentos lentos e reformas pacíficas. As experiências frustradas de Robert Reich como secretário do trabalho de Clinton são cautelosas sob os mesmos aspectos.
(83) Obama também deixou as portas da Casa Branca abertas a neo-conservadores determinados. Nenhum candidato democrata moderno teve tantos admiradores na direita, para nomear só alguns: o colunista David Brooks, o senador Chuck Hagel, o ex-embaixador na ONU Ken Adelman e Cristopher, o filho de William F. Buckley.
(84) Clinton tinha bases legítimas para lutar. Se os resultados da Flórida e do Michigan (desqualificados pelo comitê democrata por violaram as regras de agenda) fossem contados, ela venceria a primária no voto popular por mais de 100 000 votos.
(85) Steven Greenhouse, “After push Obama, Union Seek New Rules”[Depois do Apoio a Obama, centrais sindicais buscam novas regras], New York Times, 9 de novembro de 2008.
(86) Peço desculpas aos apoiadores de Dennis Kucinich e Ralph Nader, mas o homem do congresso de Cleveland não tinha chance de vencer a grande primária e Nader, embora admirável, nunca foi um populista efetivo. Só a campanha de Edward, em minha opinião, tinha a possibilidade de forçar programaticamente Clinton e Obama para a esquerda.
(87) A referência a Benedict Arnold é à de um traidor do país, visto que Arnold foi um general estadunidense que passou para o lado dos britânicos durante a guerra de independência. N.deT.
(88) Citado por Ronald Brownstein, “Style & Substance Among The Dem's Big Three” [Estilo & Substância dentre os grandes três democratas], NationalJournal.com, 2 de Janeiro de 2008
(89) Congresso de Organizações Industriais, em inglês, que depois veio a compor a AFL-CIO. N.deT.
(90) Harold Meyerson, “For Labour, Armaggedon” [Para os Trabalhadores, o Armagedon], outono 2008.
(91) Considerações sobre a política externa de Obama ultrapassam o escopo deste ensaio, ainda que suas indicações para o Pentágono e o Departamento de Estado sinalizem claramente mais continuidade que mudança.
(92) Para uma reflexão fascinante da teoria econômica do New-Deal da nova era, inclusive uma síntese possível das idéias de Keynes, Hanse e Schumpeter, ver Theodore Rosenof, Economics in the Long Run [A economia no longo prazo] , Chapel Hill, 1997.
(93) An Economic Interpretation of the Constitution (1913) [Uma interpretação Econômica da Constituição], de Charles Beard, que argumenta que o fato de os Pais Fundadores da Política serem aproximadamente a soma dos seus interesses materiais ainda é uma tese que valia à pena ser considerada, mesmo se historiadores políticos e econômicos tratassem dela como um determinismo econômico vulgar.
(94) Thomas Ferguson, Golden rule: The Investment Theory of Party Competition and the logic of Money-Drive Political Systems [A Regra de Ouro: Teoria do Investimento da Competição Partidária e a Lógica do Comando do Dinheiro nos Sistemas Políticos], Chicago, 1995, pp. 22-3. Ferguson, é claro, reconhece que os eleitores também se tornam mais ativos, mas “apenas se o grau de organização efetiva cresce significativamente, embora não receba por isso mais do que migalhas”.
(95) A contribuição financeira dos republicanos no Vale do Silício caiu de 43% em 2000 para meros 4% em 2006, enquanto os democratas apoiaram benefícios fiscais para a “Agenda da Inovação” da R & D [http://www.rndsystems.com], a duplicação do financiamento para a Fundação Nacional de Ciência e por aí vai. Ver www.beltwayblogroll.nationaljournal.com/archives/2006/08/silicon_valley.php; e Jim Puzzanghera, “Pelosi likely to Speak up for tech industry” [Nancy Pelosi provável porta-voz da indústria de tecnologia], Los Angeles Times, 13 de novembro de 2006. A história referida acima do Vale do Silício foi escrita por Sara Miles em How to Hack a Party Line [Como estabelecer uma linha partidária](New York, 2000).
(96) Steve Hamm, “Whatever Happened to Silicon Valley Innovation?”[O que aconteceu com a inovação no Vale do Silício?], Business Week, 31 de dezembro de 2008
(97) A grande exceção ao declínio do apoio federal à inovação, é claro, tem sido o imenso investimento da guerra contra o terrorismo na sobrevivência das tecnologias avançadas de guerra – um setor que provavelmente Obama não negligenciará.
(98) Trata-se da última das quatro óperas do O Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner e a tradução é O Crepúsculo dos Deuses. N.deT