23 de outubro de 2019

Falsidades versus médicos cubanos

Não há trabalho forçado, mas sentimentos humanos

Pedro Monzón

Folha de S.Paulo

UBS da terra indígena de Massacará, em Euclides da Cunha (BA); com pressão alta, a lavradora Elza Dantas de Souza, 32 anos, teve que seguir para outro posto de saúde após a saída dos médicos cubanos. Adriano Vizoni/Folhapress

Uma mentira foi imposta nas declarações de alguns líderes políticos, mas o pior é tentar demonstrar que a colaboração médica cubana é um ato criminoso. Por trás dessa tentativa estão os Estados Unidos.

Agora os EUA pagarão US$ 3 milhões “a organizações que investigam, recolhem (...) informações sobre violações dos direitos humanos em Cuba, incluindo trabalho forçado nas chamadas missões médicas”.

Há notícias falsas que não afetam os interesses imediatos dos povos; portanto, causam confusão ou são ignoradas. No entanto, para que a campanha contra a colaboração cubana seja bem-sucedida, milhões de pessoas devem ser persuadidas: os povos beneficiados por muitos anos, os governos favorecidos e as instituições internacionais.

Também seria necessário convencer os próprios médicos cubanos que são escravos, ainda que, voluntariamente, oferecem seus serviços internacionalistas. Esses são objetivos impossíveis, tanto como convencer a Assembleia Geral da ONU de que Cuba deve ser bloqueada.

A verdade é que, desde 1963, em 164 países, cerca de 1,6 bilhão de pessoas foram ajudadas graças ao trabalho de 407 mil dos nossos profissionais de saúde. Em acidentes de contaminação radioativa (como a tragédia de Tchernóbil), fenômenos climáticos ou epidemias perigosas, como o ebola, os colaboradores cubanos ofereceram a sua participação desinteressada e decisiva. Além disso, 35 mil médicos de 136 países estudaram em Cuba, incluindo brasileiros. Em resumo, um terço de toda a assistência médica mundial se apoia em Cuba, um fenômeno sem precedentes.

Apenas uma pequena parte dos nossos profissionais de saúde ficou encantada com promessas materiais, guiadas por propósitos ignóbeis e, raramente, em troca, alguns deles dão como desculpas falsos argumentos políticos. A grande maioria permanece nos projetos de solidariedade e compartilha a história do povo de Cuba, que nunca foi caracterizado pela subordinação dócil a imposições de nível político. Se houvesse tentativas de escravizá-los, a reação teria sido uma rebelião abrupta.

Os médicos cubanos são solidários porque seu trabalho não está ligado ao mercado ou a política, mas a sentimentos humanos. Por outro lado, eles são bem remunerados no exterior e em Cuba, onde mantêm seu salário e emprego. O dinheiro restante não vai para um fluxo privado, senão para fundos que financiam um dos sistemas de saúde gratuitos mais sofisticados do mundo, o cubano; bem como o apoio de países pobres que recebem serviços médicos em solidariedade.

O Brasil tem sido um dos mais beneficiados. Antes do Programa Mais Médicos, mais de 800 mil brasileiros nunca haviam tido assistência médica. Em cinco anos, os cubanos trataram de 113,359 milhões de pacientes e cobriram 3.600 municípios —700 deles nunca tiveram um médico.

A qualidade e o humanismo de seu trabalho só podem ser qualificados pelos depoimentos de admiração e carinho daqueles cidadãos brasileiros, que hoje não possuem cobertura de saúde, o que nos entristece.

Em suma, essa nova perseguição contra Cuba é tão implacável quanto inútil e desumana.

Sobre o autor

Cônsul-geral de Cuba em São Paulo

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