Décadas depois de Daniel Patrick Moynihan, os estudiosos estão admitindo que a cultura e a pobreza persistente estão entrelaçadas.
Patricia Cohen
Um terreno baldio na East 110th Street em Nova York em 1952: o estudo da degradação urbana há muito é influenciado por modas políticas. Créditos: William C. Eckenberg/The New York Times |
Por mais de 40 anos cientistas sociais investigando causas da pobreza tenderam a tratar explicações culturais como as trataria Voldemort: Aquilo Cujo Nome Não Deve Ser Dito.
A reticencia era herança de pesadas guerras que começaram depois que Daniele Patrick Moynihan, então assistente na secretaria de trabalho do governo Johnson, introduziu a ideia de uma "cultura da pobreza" ao público em um surpreendente relatório de 1965. Embora ele não tenha inventado a frase (a honra pertence ao antropólogo Oscar Lewis) sua descrição da família negra urbana como presa em um inescapável "emaranhado de patologia" de mães solteiras e dependência em serviços sociais era vista como atribuindo deficiências morais auto-perpetuantes aos negros, como se os culpasse por seu próprio infortúnio.
A análise de Moynihan nunca perdeu seu apelo para os pensadores conservadores, cujos argumentos no final da história sucederam quando presidente Bill Clinton assinou lei em 1996 "acabando com bem-estar como o entendemos". Mas nas trincheiras majoritariamente liberais da sociologia e antropologia acadêmicas a palavra "cultura" virou uma granada armada e a ideia que atitudes e padrões de comportamento mantinham as pessoas na pobreza foram evitadas.
Agora depois de décadas de silêncio esses estudiosos falam abertamente sobre você-sabe-o-que e concedem que cultura e pobreza persistente estão emaranhadas.
"Finalmente alcançamos um estágio das pessoas não terem mais medo de serem politicamente incorretos", disse Douglas S. Massey, sociólogo em Princeton que argumenta que Moynahan foi injustamente amaldiçoado.
O velho debate deu forma ao novo. Mês passado Princeton e o Brookings Institution publicaram uma coleção de trabalhos sobre pais solteiros, um assunto que observaram ter se tornado proibido depois do relatório Moynihan. No recente encontro anual da American Sociological Association os presentes discutiram a ressurgência da especialização de estudo sobre cultura. E em Washington na primavera passada, cientistas sociais participaram de um informativo do Congresso sobre cultura e pobreza relacionado com uma edição especial do "The Annals", jornal da American Academy of Political and Social Science.
"A cultura voltou à agenda da pesquisa sobre pobreza", declara a introdução, reconhecendo que ela nunca deveria ter sido removida.
O tema gerou interesse em Capitol Hill porque muito da pesquisa intersecta com os debates sobre políticas sociais. Visões das raízes culturais da pobreza "têm um importante papel em formatar como os legisladores escolhem se endereçar aos assuntos relativos à pobreza", notou Lynn Woolsey, democrata da Califórnia no encontro.
O tema gerou interesse em Capitol Hill porque muita pesquisa se interage com os debates políticos. As visões das raízes culturais da pobreza "desempenham papéis importantes na definição de como os legisladores escolhem abordar questões de pobreza", declarou a Representante Lynn Woolsey, democrata da Califórnia, no encontro.
Esse pico de pesquisa acadêmica também chega quando a porcentagem dos americanos vivendo em pobreza atingiu o maior nível em de 15 anos: um em sete, ou 44 milhões.
Com esses estudos veem muitas e variadas definições de cultura mas todos diferem do modelo dos anos 60 nesses aspectos cruciais: hoje, cientistas sociais estão rejeitando a noção de uma cultura de pobreza monolítica e imutável. E atribuem atitudes e comportamentos destrutivos não ao inerente caráter moral, mas ao racismo e isolamento persistentes.
Para Robert J. Samson, sociólogo de Harvard, cultura é melhor descrita como "entendimentos compartilhados".
"Eu estudo desigualdade e o foco dominante é em estruturas da pobreza", ele disse. Mas adiciona que a razão que um bairro se torna numa "armadilha de pobreza" tem também a ver com a percepção comum de como as pessoas na vizinhança agem e pensam. Quando pessoas veem grafiti e lixo, eles o acham aceitável ou veem que seria desordem? Eles respeitam o sistema legal ou têm alto nível de "cinismo moral", acreditando que "leis são feitas pra serem quebradas"?
Como parte de um grande estudo em Chicago o professor Sampson visitou vários bairros diferentes nesse verão, deixando cair envelopes endereçados e selados para ver quantas pessoas colocariam na caixa de correio, um sinal que cuidar do alheio é parte da cultura de uma comunidade.
Em alguns bairros como Grand Boulevard, aonde a notória favela de Robert Taylor se ergueu, quase nenhum envelope foi remetido; em outras, pesquisadores receberam mais de metade das cartas. Renda não explica necessariamente a diferença, disse professor Sampson, mas ao invés, as normas culturais da comunidade, os níveis de cinismo moral e desordem.
A percepção coletiva do bairro - está em ascensão ou estagnado? - é uma forma mais eficaz de prever o futuro de uma comunidade do que o nível real de pobreza, disse ele.
William Julius Wilson, cujo trabalho pioneiro francamente confrontou vida no ghetto enquanto focalizava explicações econômicas para pobreza persistente, define cultura como uma maneira dos "indivíduos de uma comunidade desenvolverem entendimento de como o mundo funciona e tomar decisões baseadas naquele entendimento".
Para alguns jovens negros, disse o sociólogo professor Wilson de Harvard, o mundo funciona assim: "se você não tem uma cara de forte você não sobrevive. Se você tem acesso a armas, tenha-as, e se brigar, use-as".
Tentando recapturar o tema dos economistas os sociólogos se aventuram em bairros pobres para entender mais aprofundadamente as atitudes dos residentes. Seus resultados desafiam algumas crenças comuns, com a crença que mães pobres ficam solteiras porque não dão valor ao casamento.
Na Filadélfia, por exemplo, mães pobres disseram às sociólogas Kathryn Edin e Maria Kefalas que elas achavam casamento profundamente importante, ate sagrado, mas não achavam que seus parceiros eram "próprios para o casamento". Esses resultados estão empurrando alguns experts em lei e pobreza a concluir que é improvável que programas que promovem casamento sem alterar condições econômicas e sociais funcionarão.
Mario Luis Small, sociólogo da Universidade de Chicago e editor da edição especial do The Annals, tentou descobrir por que algumas mães da cidade de Nova York com filhos em creches desenvolveram redes de apoio, enquanto outras não. Como ele explicou em seu livro de 2009, “Ganhos não antecipados”, a resposta não dependia de renda ou etnia, mas sim das regras da creche. Centros que realizavam viagens de campo frequentes, associações de pais organizadas e procedimentos de coleta e entrega criaram mais oportunidades para os pais se conectarem.
Acadêmicos mais jovens, como o professor Small, de 35 anos, atribuíram o aumento nas explicações culturais a uma “nova geração de estudiosos sem a bagagem desse debate”.
Scholars like Professor Wilson, 74, who have tilled the field much longer, mentioned the development of more sophisticated data and analytical tools. He said he felt compelled to look more closely at culture after the publication of Charles Murray and Richard Herrnstein’s controversial 1994 book, “The Bell Curve,” which attributed African-Americans’ lower I.Q. scores to genetics.
The authors claimed to have taken family background into account, Professor Wilson said, but “they had not captured the cumulative effects of living in poor, racially segregated neighborhoods.”
He added, “I realized we needed a comprehensive measure of the environment, that we must consider structural and cultural forces.”
He mentioned a study by Professor Sampson, 54, that found that growing up in areas where violence limits socializing outside the family and where parents haven’t attended college stunts verbal ability, lowering I.Q. scores by as much as six points, the equivalent of missing more than a year in school.
Changes outside campuses have made conversation about the cultural roots of poverty easier than it was in the ’60s. Divorce, living together without marrying, and single motherhood are now commonplace. At the same time prominent African-Americans have begun to speak out on the subject. In 2004 the comedian Bill Cosby made headlines when he criticized poor blacks for “not parenting” and dropping out of school. President Obama, who was abandoned by his father, has repeatedly talked about “responsible fatherhood.”
Conservatives also deserve credit, said Kay S. Hymowitz, a fellow at the conservative ManhattanInstitute, for their sustained focus on family values and marriage even when cultural explanations were disparaged.
Still, worries about blaming the victim persist. Policy makers and the public still tend to view poverty through one of two competing lenses, Michèle Lamont, another editor of the special issue of The Annals, said: “Are the poor poor because they are lazy, or are the poor poor because they are a victim of the markets?”
So even now some sociologists avoid words like “values” and “morals” or reject the idea that, as The Annals put it, “a group’s culture is more or less coherent.” Watered-down definitions of culture, Ms. Hymowitz complained, reduce some of the new work to “sociological pablum.”
“If anthropologists had come away from doing field work in New Guinea concluding ‘everyone’s different,’ but sometimes people help each other out,” she wrote in an e-mail, “there would be no field of anthropology — and no word culture for cultural sociologists to bend to their will.”
Fuzzy definitions or not, culture is back. This prompted mock surprise from Rep. Woolsey at last spring’s Congressional briefing: “What a concept. Values, norms, beliefs play very important roles in the way people meet the challenges of poverty.”
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