Sylvia Colombo
Folha de S.Paulo
Gustavo Petro (à esq.) e Federico Gutiérrez se encaram durante debate de candidatos à Presidência na Colômbia - Yuri Cortez - 23.mai.22/AFP |
Com apreensão, expectativa e suspense, 38 milhões de colombianos aptos a ir às urnas neste domingo (29) vão decidir quem será o próximo presidente do país. Por ora, a esquerda, que nunca governou a Colômbia, tem uma vantagem ampla, com o ex-guerrilheiro, ex-prefeito e senador Gustavo Petro com 40,6% das intenções de voto, de acordo com pesquisa do instituto Invamer.
O segundo colocado é o direitista moderado Federico Gutiérrez, que tem 27,1%, mas vem perdendo força desde que aceitou o apoio do atual governo, do impopular Iván Duque, e de alas mais duras da direita.
Corre por fora, com crescimento acentuado nos últimos levantamentos, o populista Rodolfo Hernández, com 20,9%, que tem plataforma de direita anticorrupção e prega um Estado mais presente na economia. A alta do candidato alterou a previsibilidade sugerida pelas pesquisas nos últimos meses. A chance de um segundo turno, a ser realizado em 19 de junho, permanece, mas não se sabe quem Petro enfrentaria.
O segundo colocado é o direitista moderado Federico Gutiérrez, que tem 27,1%, mas vem perdendo força desde que aceitou o apoio do atual governo, do impopular Iván Duque, e de alas mais duras da direita.
Corre por fora, com crescimento acentuado nos últimos levantamentos, o populista Rodolfo Hernández, com 20,9%, que tem plataforma de direita anticorrupção e prega um Estado mais presente na economia. A alta do candidato alterou a previsibilidade sugerida pelas pesquisas nos últimos meses. A chance de um segundo turno, a ser realizado em 19 de junho, permanece, mas não se sabe quem Petro enfrentaria.
A força do esquerdista, que em 2018 perdeu no segundo turno para Duque, surge embalada pelas manifestações antigoverno realizadas entre 2019 e 2021. Os protestos começaram devido a uma proposta de reforma tributária, mas logo ganharam pautas mais amplas, como a desigualdade histórica no país, o desemprego, que atinge 12% da população, e a perda de trabalhos informais durante a pandemia de Covid.
A repressão brutal aos atos por parte da polícia colombiana, vinculada ao Exército, deu força à oposição, que também vê na escolha da candidata a vice de Petro, a advogada e ambientalista negra Francia Márquez, defensora de políticas de gênero e diversidade, um ativo para atrair jovens aos atos da chapa.
Entre as propostas do líder nas pesquisas estão uma reforma para eliminar impostos de produtos da cesta básica e taxar grandes fortunas. Defensor do acordo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Petro quer acelerar a implantação de um ponto que pouco avançou, a reforma agrária, além de retomar as negociações com o ELN (Exército de Libertação Nacional), interrompidas por Duque. Também prometeu diminuir os índices de desemprego com mais vagas na folha de pagamento do Estado.
Parte das críticas que recebe vem do mercado, que teme mudanças na economia do país, baseada em disciplina fiscal, amigável a investimentos estrangeiros e cujo principal produto de exportação é o petróleo. Há um receio de que Petro determine políticas protecionistas na área de comércio exterior.
Fico Gutiérrez, por sua vez, quer afastar a imagem de candidato do continuísmo e adota a linha de um liberalismo moderado, nos moldes do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou. Quer reduzir gastos sociais e aumentar investimentos em infraestrutura, como fez no período em que ocupou o cargo de prefeito de Medellín. Mesmo sendo um opositor de Sergio Fajardo, responsável pelas mudanças urbanísticas que fizeram da cidade um modelo, Fico Gutiérrez ficou conhecido pela criação de parques, viadutos e áreas de convívio social que reduziram a criminalidade na capital do Departamento de Antioquia.
Fico também tem insistido em propostas para a educação, prometendo empregos a jovens que estiverem estudando e bolsas. Em Medellín, foi reconhecido como o prefeito que mais investiu nessa área.
O voto não é obrigatório na Colômbia, mas espera-se uma taxa de comparecimento maior neste ano, puxada pelos jovens. "Desde os protestos de 2021, vemos que eles estão mais envolvidos na política e com vontade muito grande de mudança. Por isso, espera-se que esse setor da população, antes não tão comprometido, vá às urnas", diz Silvia Otero Bahamón, professora da Universidade do Rosario, de Bogotá.
Para a pesquisadora, os temas principais dessa eleição são diferentes da do pleito anterior, em 2018, que ocorreu apenas dois anos depois do acordo com as Farc. "Naquela época, a paz com as guerrilhas era o assunto mais importante. Agora, não, as pessoas estão preocupadas com impostos, empregos e um modelo de Estado que as proteja mais", afirma Bahamón. "Esses temas se agravaram com a pandemia. Enquanto isso, o estigma que a esquerda tinha, de estar associada à luta armada, diluiu-se bastante, embora ainda exista um reduto de rejeição a Petro, devido à sua associação ao chavismo."
Os impactos da pandemia podem ser sentidos na capital. No centro, comércios estão fechados, há muitos moradores em situação de rua e restaurantes de áreas nobres mudaram de dono ou colocaram seus imóveis para alugar. A melhora nas cifras da Covid nos últimos meses, porém, deu novo ar a Bogotá.
Na noite de quinta (26), os bares da região da Zona G, famosa pela atividade noturna, e os do Parque La 93, estavam lotados. Poucos usam máscaras, dentro e fora dos locais, item que já não é mais obrigatório.
A pandemia deixou, até o momento, quase 140 mil vítimas no país, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. Ao menos 84% dos colombianos tomaram uma dose da vacina contra a Covid, 71%, duas, e 24%, a dose de reforço, segundo ferramenta de monitoramento do New York Times.
Mesmo com desaprovação superior a 70%, o presidente Iván Duque foi avaliado de modo positivo em dois pontos. Um deles foi o combate ao coronavírus. O outro, a recepção a refugiados venezuelanos.
Hoje eles são, oficialmente, 1,8 milhão, mas ONGs de direitos humanos estimam que esse número já chegou a 2,5 milhões. O Estatuto de Proteção Temporária para Migrantes Venezuelanos, que deu acesso a documentação e permissão de trabalho a quem recém-deixava a ditadura chavista do país vizinho, recebeu elogios de instituições como a Human Rights Watch.
Embora a maioria deles viva em departamentos mais próximos da fronteira e da costa, mais de 500 mil estão na capital Bogotá. Restaurantes de comida típica e trabalhadores venezuelanos nos comércios viraram algo comum, trazendo uma mistura de sotaques à capital colombiana.
A repressão brutal aos atos por parte da polícia colombiana, vinculada ao Exército, deu força à oposição, que também vê na escolha da candidata a vice de Petro, a advogada e ambientalista negra Francia Márquez, defensora de políticas de gênero e diversidade, um ativo para atrair jovens aos atos da chapa.
Entre as propostas do líder nas pesquisas estão uma reforma para eliminar impostos de produtos da cesta básica e taxar grandes fortunas. Defensor do acordo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Petro quer acelerar a implantação de um ponto que pouco avançou, a reforma agrária, além de retomar as negociações com o ELN (Exército de Libertação Nacional), interrompidas por Duque. Também prometeu diminuir os índices de desemprego com mais vagas na folha de pagamento do Estado.
Parte das críticas que recebe vem do mercado, que teme mudanças na economia do país, baseada em disciplina fiscal, amigável a investimentos estrangeiros e cujo principal produto de exportação é o petróleo. Há um receio de que Petro determine políticas protecionistas na área de comércio exterior.
Fico Gutiérrez, por sua vez, quer afastar a imagem de candidato do continuísmo e adota a linha de um liberalismo moderado, nos moldes do presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou. Quer reduzir gastos sociais e aumentar investimentos em infraestrutura, como fez no período em que ocupou o cargo de prefeito de Medellín. Mesmo sendo um opositor de Sergio Fajardo, responsável pelas mudanças urbanísticas que fizeram da cidade um modelo, Fico Gutiérrez ficou conhecido pela criação de parques, viadutos e áreas de convívio social que reduziram a criminalidade na capital do Departamento de Antioquia.
Fico também tem insistido em propostas para a educação, prometendo empregos a jovens que estiverem estudando e bolsas. Em Medellín, foi reconhecido como o prefeito que mais investiu nessa área.
O voto não é obrigatório na Colômbia, mas espera-se uma taxa de comparecimento maior neste ano, puxada pelos jovens. "Desde os protestos de 2021, vemos que eles estão mais envolvidos na política e com vontade muito grande de mudança. Por isso, espera-se que esse setor da população, antes não tão comprometido, vá às urnas", diz Silvia Otero Bahamón, professora da Universidade do Rosario, de Bogotá.
Para a pesquisadora, os temas principais dessa eleição são diferentes da do pleito anterior, em 2018, que ocorreu apenas dois anos depois do acordo com as Farc. "Naquela época, a paz com as guerrilhas era o assunto mais importante. Agora, não, as pessoas estão preocupadas com impostos, empregos e um modelo de Estado que as proteja mais", afirma Bahamón. "Esses temas se agravaram com a pandemia. Enquanto isso, o estigma que a esquerda tinha, de estar associada à luta armada, diluiu-se bastante, embora ainda exista um reduto de rejeição a Petro, devido à sua associação ao chavismo."
Os impactos da pandemia podem ser sentidos na capital. No centro, comércios estão fechados, há muitos moradores em situação de rua e restaurantes de áreas nobres mudaram de dono ou colocaram seus imóveis para alugar. A melhora nas cifras da Covid nos últimos meses, porém, deu novo ar a Bogotá.
Na noite de quinta (26), os bares da região da Zona G, famosa pela atividade noturna, e os do Parque La 93, estavam lotados. Poucos usam máscaras, dentro e fora dos locais, item que já não é mais obrigatório.
A pandemia deixou, até o momento, quase 140 mil vítimas no país, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. Ao menos 84% dos colombianos tomaram uma dose da vacina contra a Covid, 71%, duas, e 24%, a dose de reforço, segundo ferramenta de monitoramento do New York Times.
Mesmo com desaprovação superior a 70%, o presidente Iván Duque foi avaliado de modo positivo em dois pontos. Um deles foi o combate ao coronavírus. O outro, a recepção a refugiados venezuelanos.
Hoje eles são, oficialmente, 1,8 milhão, mas ONGs de direitos humanos estimam que esse número já chegou a 2,5 milhões. O Estatuto de Proteção Temporária para Migrantes Venezuelanos, que deu acesso a documentação e permissão de trabalho a quem recém-deixava a ditadura chavista do país vizinho, recebeu elogios de instituições como a Human Rights Watch.
Embora a maioria deles viva em departamentos mais próximos da fronteira e da costa, mais de 500 mil estão na capital Bogotá. Restaurantes de comida típica e trabalhadores venezuelanos nos comércios viraram algo comum, trazendo uma mistura de sotaques à capital colombiana.
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