Eleição para presidente da Casa só ocorre em fevereiro, mas articulações já mobilizam Brasília
Catia Seabra
Julia Chaib
Victoria Azevedo
Integrantes do centrão e do governo apontam derrapadas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), na articulação para a escolha de seu sucessor e, em consequência, um cenário mais confortável para a influência do presidente Lula (PT) na eleição da Casa.
A eleição para o comando da Câmara só ocorre em fevereiro, mas as articulações já mobilizam Brasília e afetam o andamento de pautas no Congresso. Lira prometeu anunciar o nome de seu candidato até o fim de agosto, o que não foi cumprido.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), durante votação da reforma tributária em 2023 - Gabriela Biló - 6.jul.2023/Folhapress |
Deputados passaram a criticá-lo pela promessa. Eles dizem que isso não fora articulado com os líderes e acabou impondo limites para as negociações —ponderam, ainda, que o descumprimento da promessa também gerou desgaste ao alagoano.
O atual presidente da Câmara afirma, desde o começo das negociações, que tem o direito de conduzir sua sucessão e critica a antecipação da campanha pelos parlamentares. A ideia dele era costurar uma candidatura de consenso, com apoio tanto do PL de Jair Bolsonaro quanto do PT de Lula.
Até o momento, isso não foi concretizado. Além disso, deputados governistas e do centrão afirmam que, a cada dia, Lira passa a ter menor influência sobre os colegas, com redução do seu poder de barganha sobre o governo.
Eles dizem que o impasse na liberação das emendas, com a paralisação dos recursos determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em agosto, impacta diretamente no processo, uma vez que Lira fica sem um de seus principais trunfos nas negociações. Com isso, o governo sai fortalecido, segundo a avaliação de parlamentares.
Até mesmo aliados de Lira avaliam que o governo torce para o processo demorar porque, enquanto a discussão sobre as verbas dos deputados e senadores sai do foco, avançam as conversas sobre a presidência da Casa.
Embora Lula diga publicamente que não interferirá na disputa, os pré-candidatos e aliados dos postulantes passaram a cortejá-lo diretamente, sem recorrer à intermediação de Lira, como antes. Publicamente, o petista tem adotado cautela.
O presidente evita se comprometer com alguma candidatura e atua para que o próprio PT não endosse algum dos postulantes —embora haja uma preferência no partido por um dos pré-candidatos, o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB). O paraibano entrou na disputa em uma reviravolta após desistência do presidente de seu partido, Marcos Pereira (SP), no último dia 3.
Hoje, além de Motta, estão no páreo os deputados Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antonio Brito (PSD-BA). Os dois parlamentares firmaram acordo para seguir juntos na disputa.
A última semana foi decisiva para as negociações do processo. Na quarta (11), Lira anunciou a líderes que apoiará Motta, aumentando desgastes com Elmar, que era considerado favorito para ter a chancela do presidente da Câmara. Preterido por Lira, o deputado do União Brasil e seus aliados passaram a acenar ao governo, numa tentativa de conseguir apoio do Executivo para a aliança com o PSD.
Na última quarta-feira (11), Elmar se reuniu com Lula. Participaram do encontro os dois ministros do governo filiados ao União Brasil, Celso Sabino (Turismo) e Juscelino Filho (Comunicações).
Lula afirmou, segundo relatos de dois políticos, que nem ele nem o PT se comprometeriam com nenhuma candidatura e que o presidente da República não tem a obrigação de se envolver na disputa da Casa. No dia seguinte, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, recebeu o líder do União Brasil.
Apesar dessas afirmações do presidente, aliados de Lira atribuem ao PT e ao presidente a resistência ao nome de Elmar, lembrando que o líder do União Brasil criticou Lula publicamente na campanha de 2022.
Lula não teria perdoado os ataques disparados por Elmar, na avaliação de parlamentares do centrão. Além disso, afirmam que o petista se opunha à hipótese de um mesmo partido ocupar a presidência da Câmara e do Senado, o que aconteceria caso o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Elmar se elegessem presidentes de suas respectivas Casas.
Hoje, Alcolumbre é considerado o favorito para suceder o atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
O nome de Motta, por sua vez, sempre foi apontado como uma espécie de terceira via, mas Pereira resistia a abandonar sua candidatura. A forma como a desistência ocorreu, porém, acabou por enfraquecer o poder de articulação de Lira na condução do processo. Antes de comunicar ao presidente da Câmara sobre sua desistência, Pereira avisou a Lula.
Lira ficou descontente com a atitude do presidente do Republicanos, que depois, em entrevista à Folha, detalhou as razões de sua desistência. Isso porque deputados enxergaram nas declarações dele uma articulação do próprio presidente da Câmara em prol de Motta. Diante disso, Lira pediu que Pereira submergisse.
Depois disso, o alagoano passou a ser chamado de traidor por aliados de Elmar e pelo próprio parlamentar nos bastidores. O líder do União Brasil disse ao próprio Lira que se sentiu traído e, por isso, não retiraria as críticas. As conversas entre Lira e Elmar ocorreram ainda no último final de semana, antes do anúncio do presidente da Câmara a líderes sobre o apoio a Motta.
Aliados de Elmar dizem que não há clima hoje para reconciliação entre os dois parlamentares, que mantinham relação estreita de amizade. Para interlocutores, por sua vez, Lira se diz injustiçado, alegando não ter colocado obstáculos ao nome do líder do União Brasil.
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