Bruno Boghossian
Folha de S.Paulo
O ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) - Marlene Bergamo e Adriano Vizoni/Folhapress |
A flutuação das intenções de voto registrada pelo Datafolha indica que o arsenal usado por Jair Bolsonaro (PL) nos últimos meses encontra uma certa resistência nesta etapa da campanha.
Depois de melhorar seus números em segmentos importantes como evangélicos, classe média e o eleitorado do Sudeste, a reta final do primeiro turno testa os limites de sua recuperação nesses grupos.
As três faixas são consideradas cruciais pelos coordenadores da campanha pela reeleição porque concentram uma grande quantidade de eleitores que votaram em Bolsonaro em 2018 e, até os primeiros meses do ano, mantinham certa distância de sua candidatura.
As curvas traçadas desde então mostram que o presidente colheu algum retorno de seus investimentos para recuperar esses votos. Os sinais das últimas semanas, no entanto, apontam para uma estagnação em três critérios considerados fundamentais para Bolsonaro: as intenções de voto, a rejeição a Lula (PT) e sua própria rejeição.
Designado como principal campo de batalha pela equipe do presidente, com 4 de cada 10 eleitores do país, o Sudeste é o principal exemplo dessas trajetórias.
Em pouco mais de 100 dias, Bolsonaro ganhou sete pontos percentuais em intenções de voto na região, encontrando Lula numa situação de estabilidade. Mas um recorte mais limitado tem o presidente variando no mesmo patamar há cerca de um mês, agora com 34%.
O mesmo ocorre nos dados sobre rejeição. Bolsonaro apostou no aumento dos números negativos de Lula no Sudeste a partir da intensificação do discurso contra a corrupção. Ele até conseguiu levar esse índice de 36%, em maio, para 44% no início de setembro. Essa curva mudou e, agora, a rejeição ao petista está em 41%.
O que Bolsonaro não conseguiu foi reduzir o percentual de eleitores desses estados que dizem não votar nele —uma métrica considerada essencial por seus aliados para avançar na região.
Desde maio, o presidente teve sucesso em melhorar os índices de avaliação do governo no Sudeste. A rejeição na hora do voto, entretanto, é praticamente a mesma desde aquele mês, tendo voltado a superar a marca de 50%.
Um freio na recuperação dos indicadores da classe média também deve frustrar a campanha pela reeleição. Bolsonaro chegou a avançar sete pontos percentuais nas intenções de voto no segmento com renda de dois a cinco salários mínimos, mas patina na casa dos 40% há cerca de um mês, empatado com Lula.
Aliados do presidente também acreditavam que esse segmento seria mais sensível às investidas de Bolsonaro contra o petista na seara da corrupção, o que elevaria a rejeição ao adversário. Isso chegou a ocorrer: os índices negativos de Lula subiram nove pontos de maio a setembro nesse grupo, mas agora estão parados.
A rejeição a Bolsonaro, que vinha numa trajetória de queda, observou um repique nessa faixa média de renda: subiu de 45% para 49% o percentual de eleitores que dizem não votar nele de jeito nenhum.
É cedo demais para saber se a campanha pela reeleição atingiu um teto nesses segmentos. Os números fazem soar um sinal de alerta porque o tempo para retomar a trajetória anterior fica mais escasso.
A dificuldade fica evidente no eleitorado evangélico, em que Bolsonaro esperava encontrar praticamente um monopólio para compensar sua desvantagem em relação a Lula em outros grupos.
Os dois adversários saíram de um empate técnico em maio entre esses fiéis para uma vantagem de 23 pontos a favor de Bolsonaro. O presidente, no entanto, orbita o mesmo patamar de intenção de votos desde a metade de agosto. Agora, a diferença é de 17 pontos.
Os números indicam ainda que Lula pode ter interrompido uma trajetória de queda entre os evangélicos, estagnado na casa dos 32%.
A notícia mais relevante para o petista talvez seja o freio em sua rejeição (em altíssimos 53%) e um leve crescimento do índice negativo de Bolsonaro nesse grupo. Desde a pesquisa passada, subiu de 31% para 36% a proporção de eleitores evangélicos que dizem não votar no atual presidente de jeito nenhum.
As explicações para esse quadro abrem espaço para uma hipótese. Bolsonaro colheu números melhores entre os evangélicos graças a uma estratégia agressiva em templos, com o apoio de bispos e pastores. Essa atuação, entretanto, também pode ter disparado um incômodo entre alguns fiéis, que reprovaram a exploração política de sua religião. As próximas pesquisas dirão se esse sentimento terá um impacto significativo nessa faixa do eleitorado.
A movimentação de Bolsonaro para reativar o antipetismo e transformá-lo numa onda de crescimento passou a ser determinante para sua campanha porque os disparos feitos em outras direções não deram os resultados que ele esperava.
A redução dos preços dos combustíveis e a melhora nos números do emprego ajudaram o presidente a ganhar algum terreno na classe média, mas essa trajetória não foi suficiente para permitir que ele se descolasse de Lula —e menos ainda para compensar a enorme vantagem que o petista registra entre os mais pobres.
O torpedo do Auxílio Brasil, até aqui, também não mostrou um efeito político consistente, e mesmo a agitação produzida pelas manifestações de 7 de Setembro parece ter ficado para trás.
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