16 de fevereiro de 2025

Música radical na era onde a revolução parece ter falhado

O rapper billy woods é uma figura de destaque no hip-hop underground contemporâneo. Ele conversou com Jacobin sobre suas inspirações musicais e sua militância política de esquerda.

Uma entrevista com
Billy Woods

Uma cena do videoclipe da música "Soft Landing" de Billy Woods e Kenny Segal. (Billy Woods / YouTube)

Uma entrevista de
Armen Aramyan

O rapper billy woods, estabelecido em Nova Iorque, é uma figura chave no hip-hop underground contemporâneo. Ao longo da última década, seus álbuns aparecem consistentemente nas listas de melhores do ano – com seu último disco, Maps, foi incluído na lista da Pitchfork “Melhores álbuns dos anos 2020 até agora.”

Nascido nos Estados Unidos de um intelectual marxista natural do Zimbábue e uma professora universitária jamaicana, billy passou parte de sua infância no Zimbábue logo depois da Guerra Civil da Rodésia, também conhecida como a Guerra da Independência do Zimbábue. Testemunha da primeira década após a independência — inicialmente repleta de esperança, mas terminando na ditadura cruel de Robert Mugabe — ele é brutalmente honesto tanto em suas reflexões pessoais como em suas observações políticas. Sua música transmite de forma única os sentimentos de insegurança, insatisfação e dissociação em uma era onde todas as políticas revolucionárias parecem ter falhado.

Armen Aramyan sentou-se com billy woods depois da performance de Armand Hammer’s no festival Le Guess Who? em Utrecht.

Armen Aramyan

Queria começar com o seu álbum Maps, produzido por Kenny Segal. Você mencionou que é sobre a sua experiência de voltar às turnês depois da pandemia. Parece marcar um período especial da sua vida. Você pode me contar como surgiu a ideia para este álbum?

Billy Woods

Eu sempre tento ter uma nova metodologia para o disco que eu estou trabalhando e tento manter a experiência certa para cada projeto fresca, diferente, desafiadora e única para aquele projeto. Então eu comecei e disse, okay, isso aqui vai se basear na ideia de sair em turnê e viajar. Uma vez que eu soube que esse era o enquadramento, eu decidi fazer a maior parte da minha escrita na estrada, assim como qualquer gravação que fosse possível sem sacrificar a qualidade.

Por exemplo, “NYC Tapwater.” Eu estava na estrada quando pensei na ideia da música, e escrevi algumas linhas, e daí eu só parei e esperei até chegar de volta em Nova Iorque novamente e a turnê estar terminada. Depois eu escrevi o resto da música dentro de quarenta e oito horas da minha volta — só naquele período, porque esse é o período que sobre o qual era a música.

Várias músicas eu escrevi na estrada ou na casa do Kenny e gravei em LA ou em Portland, Oregon. Eu fiz demos às vezes em outros países e estados.

Armen Aramyan

Você pode me dizer sobre o momento da sua vida que você estava tentando capturar neste álbum?

Billy Woods

Bem, saindo da pandemia, eu estava fazendo mais turnês do que já tinha feito antes. O selo, Armand Hammer [o grupo de billy], ebilly woods estavam em turnês maiores do que eu já tinha estado antes na vida. Se bem que às vezes isso ainda não quer dizer que eles não vão pagar um valor ridiculamente baixo pra tocar em Berlim ou algo assim. Além disso, saindo de um período em que eu não pude fazer turnês por algum tempo, eu estava ansioso para me aproveitar e fazer algum dinheiro. Naquele ano, eu provavelmente registrei mais horas e milhas na estrada do que em qualquer outro período na vida, incluindo depois disso — pelo menos até agora.

Armen Aramyan

Sobre isso: você busca preservar o seu anonimato, não tem imagens suas online, e cada um de seus shows começa com o pedido de deixar as luzes do palco mais baixas. Você pode me dizer como você tomou essa decisão de esconder o seu rosto como artista?

Billy Woods

É difícil eu me lembrar se teve um momento definitivo de decisão. É como se alguém me perguntasse, como você teve a ideia do seu nome? Foi uma confluência de eventos e pensamentos e coincidências. Quando você é relativamente jovem e você tem uma ideia, daí às vezes antes que você se dê conta, a ideia já está rolando.

Em 2000, começo de 2001, eu tive algumas coisas com que me preocupar enquanto eu saía de Washington DC. Eu queria poder falar livremente sem ter medo das minhas palavras serem usadas contra mim e também poder falar livremente sobre política. Eu não queria ficar ligado ao nome da minha família ou ao meu quando eu visitasse DC novamente. Então pensei que esse seria um jeito mais seguro de fazer.

Também está ligado ao fato de que eu nunca quis ser [famoso]. Quer dizer, eu queria ter sucesso. Eu queria fazer música com que as pessoas se importassem, mas nunca pensei em ser [famoso]. Eu não queria ser reconhecido. Eu particularmente não gosto que tirem fotos minhas. Então não foi uma decisão difícil nesse sentido.

Armen Aramyan

O seu sexto álbum com Armand Hammer, We Buy Diabetic Test Strips, inclui vários produtores. Tem um som experimental que varia ao longo das faixas mas que se mantém coeso. Como você conseguiu chegar nesse clima consistente, e como foi o processo de trabalho?

Billy Woods

Neste caso, eu tenho sorte de trabalhar com pessoas que são produtores muito talentosos e arranjadores musicais em si mesmos — não apenas os contribuidores, mas o ELUCID [o segundo membro de Armand Hammer] é ele mesmo um produtor altamente subestimado. O Willie Green também contribuiu bastante, desde o trabalho de engenharia e gravação, ajudando a dirigir as sessões de estúdio para os músicos ao vivo até sua mixagem e masterização e estabelecer o ambiente de produção. Essas coisas todas contaram para permitir que a gente criasse algo coeso e interessante enquanto continuávamos a encontrar novas fronteiras.

Nós também tivemos um processo de trabalho diferente com as músicas no álbum. Em vez de terminar uma música e seguir em frente, nós revisitávamos cada faixa e tentávamos descobrir como construir mais, seja com instrumentação ao vivo ou trocas de beats. As músicas levavam mais tempo até chegarem às suas formas finais.

Armen Aramyan

Dá pra ver que dedicaram mais trabalho em cada música. Não é só versos de rap sobre beats; tudo está mais entrelaçado. Uma das minhas favoritas é “Niggardly (Blocked Call).” Ela começa como uma diss track tradicional mas no final é mais como uma maldição do tipo do Velho Testamento. Também se destaca por ser mais reflexiva, com linhas como “meu coração bombeia ketamina.” Quais eram seus pensamentos por trás dessa música? Você estava pensando em pessoas específicas enquanto a compunha?

Billy Woods

Eu não pensaria nela como uma diss, apesar de que eu entendo por que alguém poderia vê-la assim. [Para mim, é] sobre endurecer o coração contra as pessoas e as coisas, sobre chegar a um lugar em que alguém não pode te afetar emocionalmente, ou sobre já estar nesse lugar. Esse desligamento emocional pode também se espalhar em áreas da sua vida onde isso pode nem sempre ser desejado.

Se eu pensei em pessoas e situações específicas? Claro, isso foi parte do que me inspirou a fazer a música. Mas eu também acho que é uma reflexão sobre como eu não gosto de sentir raiva. Eu não gosto de tomar decisões somente com base na emoção. E para mim é menos sobre ativamente enfrentar meus inimigos ou oponentes, é mais sobre continuar a operar sem eles em minha órbita e observando o que inevitavelmente todo mundo colhe. Todo mundo colhe o que plantou, eu incluso.

Definitivamente tem Velho Testamento aí. Eu sempre fui fascinado com a ideia de Deus e todas as coisas que ele faz com as pessoas e as civilizações. Com Caim, ele especificamente diz que ninguém deve machucá-lo. Mas ele também faz as coisas de uma forma que Caim não poderia jamais encontrar um lugar para se estabelecer. E daí é também a raiva de Caim, sua inabilidade de controlar as suas emoções, que termina por ser a sua ruína. É como quando Deus disse, “o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo; mas sobre ele tu deves dominar”. E foi a inabilidade de Caim em controlar sua raiva, matando seu próprio irmão, que foi o problema.

Armen Aramyan

Outra música com referências bíblicas assim é “Spongebob,” que é uma das suas músicas mais populares. Preciso dizer que eu sou aquela pessoa chata no meu grupo de amigos que fica mostrando a sua música para todo mundo, e essa música é geralmente um bom ponto de partida. Pelo que entendi, é a primeira música que você fez com Kenny Segal.

Billy Woods

Não é bem isso. O Kenny Segal produziu um bocado de músicas nos álbuns de Armand Hammer. Nós também gravamos algumas músicas antes de “Spongebob.” Mas foi a primeira música que fez ele ficar “Ah, saquei” e me fez pensar tipo, “Beleza, essa aqui é bem boa.”

Uma história engraçada sobre essa música é que eu originalmente escrevi com o título "Monotheism" [Monoteísmo]. E daí depois de fazer o refrão, eu decidi mudar o nome, o que é provavelmente a melhor decisão que eu já fiz financeiramente na vida. Eu não sei se "Monotheism" teria atraído tantos olhos.

Armen Aramyan

Você pode explicar o refrão? A menção ao SpongeBob [Bob Esponja] definitivamente chama a atenção, mas algumas interpretações parecem complicar demais o significado.

Billy Woods

Eu estava lidando com Hiding Places [Álbum colaborativo de 2019 de billy woods e Kenny Segal que inclui a música]. Eu estava lidando com muitos problemas em várias áreas da minha vida. E eu tinha esse sentimento de que “tudo está debaixo d’água” no sentido em que se diz que “um negócio está debaixo d’água.” Enquanto as coisas parecem estar indo bem, a realidade interna é que você está atolado de problemas. Talvez a gente não consiga pagar a linha de salários. Você tem mais problemas do que você sente que pode lidar, com quaisquer recursos que tenha.

O segundo verso é sobre a doença e morte de um parente muito próximo a mim. Eu estava escrevendo sobre isso em tempo real. Eu estava pensando em pegar um cartão de telefone para poder ligar para as pessoas de fora do país, tentando descobrir o que fazer enquanto essa pessoa muito próxima a mim estava morrendo num hospital. [É sobre] saber que você precisa ir a um lugar estraneiro e sentir que você não tem nem os recursos financeiros pra fazer isso. Então eu vou até a loja comprar o cartão telefônico, e daí eu estou só descrevendo esse rolê todo. Sabe, às vezes as pessoas estão amontoadas do lado de fora da loja e você tá tipo, beleza, elas não vão sair da frente. Então você tem que se fazer pequeno pra passar pelas pessoas, o que acrescenta à atmosfera de uma pessoa que está sozinha e que está acuada e castigada pelas circunstâncias de sua vida.

E também enquanto um imigrante… Quer dizer, você mesmo é um imigrante. Então às vezes tem coisas acontecendo em casa e as pessoas podem ter expectativas sobre você que não são factíveis. As pessoas podem pensar “Ah, você mora nos Estados Unidos, claro que você pode me ajudar. Você pode me trazer um iPhone?” E eu estou tipo “Eu tenho um Android de três anos atrás, como que eu vou te trazer um iPhone?” A música foi na real escrita no 3 de Julho, então já tinham vários fogos de artifício sendo lançados adiantados pelo dia seguinte. Acho que esse é o segundo verso para mim.

Armen Aramyan

Então é sobre alguém próximo a você no Zimbábue?

Billy Woods

Na Jamaica, na verdade.

Armen Aramyan

E sobre a sua experiência como imigrante.

Billy Woods

Sabe, as pessoas esperam [que você vá]. Você vai conseguir chegar para o funeral? Você vai conseguir chegar antes da pessoa morrer?

Armen Aramyan

Isso é uma coisa que eu consigo entender. Apesar de que não é uma opção para mim voltar para a Rússia, porque eu vou ser preso...

Eu queria na verdade te perguntar mais sobre o seu histórico. Pelo que entendo, você cresceu entre o Zimbábue e os Estados Unidos, em Washington, DC. Você foi ao Zimbábue na infância imediatamente depois de 1980 quando a liberação do governo branco minoritário concluiu a Guerra Civil da Rodésia. Quantos dos eventos que estavam acontecendo no Zimbábue você vivenciou em primeira mão?

Billy Woods

A Guerra Civil da Rodésia ou Guerra da Independência do Zimbábue foi dez anos de uma das lutas mais sangrentas dentre as guerras civis de liberação no sul da África. Incluiu até mesmo o uso de armas biológicas por parte dos Rodésios e seus patrões do apartheid na África do Sul.

Eu nasci na América, e eu ainda estava vivendo na América [durante a guerra]. A minha mãe não iria se mudar para lá, e o meu pai era um exilado político. Ele só podia voltar depois que os acordos de paz viessem e quando as eleições acontecessem, então quando meu avô paterno estava morrendo antes da guerra terminar, meu pai foi até a fronteira da Zâmbia, mas ele não ousou entrar no Zimbábue, porque ele poderia ter sido preso pelas forças de segurança da Rodésia e desaparecer.

Quando eu cheguei ao Zimbábue, o governo majoritário tinha vencido. Eu cheguei logo na sequência, e vi os primeiros dez anos da existência do Zimbábue. Meu pai era parte de um governo, e era uma atmosfera bastante política de qualquer maneira, já que era um país recém-nascido com uma filosofia política Marxista bastante forte entre seus líderes. E para o meu pai — que era um Marxista, tentando encontrar um Marxismo Africano — a liberação de seu país e ele ser parte disso era, eu acho, naturalmente, uma conquista dos sonhos.

Então eu estava consciente dos eventos, incluindo uma repressão governamental da minoria Ndebele, o conflito com o regime de apartheid da África do Sul, e o bombardeio dos escritórios do Congresso Nacional Africano (CNA) em Harare. Todas essas coisas estavam bem ali.

Armen Aramyan

Então você voltou aos Estados Unidos quando seu pai faleceu.

Billy Woods

Não no dia seguinte. Mas cerca de um ano e meio depois.

A minha mãe não amava o Zimbábue. Eu acho que ela amava algumas das pessoas e algumas das coisas de lá, mas ela achava um lugar difícil de se viver por uma variedade de razões.

Armen Aramyan

Depois da liberação do Zimbábue, seu pai mudou de atitude em relação ao que estava acontecendo? Pelo que entendo, haviam várias esperanças no começo que evaporaram durante a primeira década.

Billy Woods

Não, eu diria que os primeiros 10 anos da Independência do Zimbabwe foram… bem, depende. Olhando para trás, às vezes você vê as coisas de um jeito diferente do que via no momento. Mas economicamente, o Zimbabwe teve muito sucesso durante a primeira década. A Guerra Fria ainda estava acontecendo, eles tinham um mercado de exportação robusto, um setor agrícola forte, a moeda era bastante forte depois da Independência. O Mugabe exerceu políticas que conseguiram prevenir a fuga total do capital branco do país, coisa que ele aprendeu que era essencial para uma nação se tornar completamente independente.

[Durante o governo da minoria branca] eles obviamente não deixavam pessoas negras adquirir o conhecimento e expertise para governar partes da economia. Era ao mesmo tempo uma fuga de cérebros e de dinheiro literal que afetou muitos dos países recém independentes na África que tinham regimes de colonos. Um bom exemplo seria Moçambique, onde os colonos portugueses não apenas destruíram boa parte da infraestrutura do país intencionalmente, mas também foram embora com o dinheiro e com os trabalhadores qualificados. Então de repente você tem um país com quase nenhum médico.

Em geral eu diria que durante os primeiros 10 anos, em muitos aspectos [o Zimbabwe] teve muito sucesso mas não foi só a deterioração da situação em Moçambique e seu efeito sobre o leste do Zimbábue, mas também a pressão constante do regime de apartheid na África do Sul.

O regime sul-africano [inicialmente] esperava ter uma cortina de governo branco os protegendo: os Portugueses em Angola, o regime de colonos independentes na Rodésia e eles mesmos tomaram o controle na Namíbia. Mas de repente, houve o golpe em Portugal e os portugueses deixaram Angola e Moçambique. Um governo marxista parece estar tomando poder ali, o que obviamente leva a África do Sul a se envolver no que eventualmente se torna uma guerra bastante brutal e custosa. Daí tem também um empenho em Angola financiado pela CIA, assim como uma campanha sustentada de desestabilização de Samora Machel em Moçambique. E em Moçambique, eles são particularmente bem sucedidos através do apoio a um grupo chamado RENAMO [Resistência Nacional de Moçambique] que começa a lutar contra o governo marxista e também se envolve em ataques através das fronteiras na parte leste do Zimbabwe. Então o Zimbabwe tem que lidar com isso enquanto tenta ajudar o governo de Moçambique.

Então, quando o Zimbábue se torna independente, e a África do Sul percebe que o regime rodesiano que eles estão apoiando não iria sobreviver, eles decidem, como Israel, tentar criar algum tipo de tensão com seus vizinhos negros africanos e dizer, ok, você pode fazer o que quiser, mas não pode ajudar o CNA. O CNA não pode operar do seu país e nos atacar. É parecido a quando os israelenses fizeram uma tentativa coordenada de fazer com que a Organização de Liberação da Palestina saísse do Líbano e de outros lugares. Eles também conseguiram afetar a economia do Zimbábue. O Zimbábue não tem saída para o mar, então o acesso aos portos é bastante importante. A situação em Moçambique afetou a sua habilidade de acessar portos ao leste. A oeste estão mais territórios controlados pela África do Sul na Namíbia, e daí, claro, tem a África do Sul ao Sul. Então eles estavam espremendo o Zimbábue de várias maneiras diferentes para tentar forçar a CNA pra fora do país, incluindo através de ataques direto. Eles explodiram a sede da CNA em Harare.

Daí em cima disso houve um conflito depois que Mugabe ganhou o voto. Nas eleições, ele primeiramente apelou para uma maioria étnica [Shona]. Quando a União do Povo Africano do Zimbábue (ZAPU) e Joshua Nkomo [representando a minoria Ndebele] perderam as eleições, o governo começou a se sentir ameaçado por notícias de que eles poderiam estar planejando realizar algum tipo de atividade contra-revolucionária. Também existia [o conhecimento de que] nem todas as guerrilhas ZAPU que lutaram contra os Rodésios teriam entregue suas armas. Um grande esconderijo de armas foi descoberto em uma fazenda de propriedade de Joshua Nkomo, e ele fugiu do país. é difícil dizer o quanto disso foi uma ameaça real, o quanto foi paranoia ou paranoia justificada, considerando as atividades contrarrevolucionárias nos países africanos pós guerra fria, mas por qualquer razão que seja, Mugabe levantou uma onda desproporcional de repressão e de operações militares naquela região, que tomaram um caráter decididamente étnico. E claro, na época, morando no país as coisas se projetavam de um modo. E agora, olhando para trás na história, as coisas se vêem de outra maneira.

Então o país teve seus desafios, mas inicialmente aqueles primeiros 10 anos pareciam bem economicamente, o conflito civil terminou, eles assinaram um acordo de paz, parecia uma vitória na época, mas em retrospecto, você vê agora como foi quando o Zimbábue basicamente se fechou como um Estado de um partido único.

Armen Aramyan

Eu sinto como se você estivesse descrevendo isso no seu verso da música “gospel” da Noname? tem essa celebração da Independência com alguma coisa à espreita no fundo.

Billy Woods

Isso é em referência a quando eu estou lá cedo, cedo, cedo, quando as pessoas ainda estão celebrando a vitória. Mas eu estou definitivamente tentando prenunciar o que está por vir. Assim como ressaltar a beleza e a esperança daquele momento na época, que foi real e deve ser apreciado.

Armen Aramyan

Eu sinto que em muitas de suas músicas você tem essa atitude dual em relação às políticas revolucionárias. Dá quase chamar isso de pessimista, porque você mostra qual é a sensação de quando todos esses projetos revolucionários falham no final. Esta atitude é influenciada mais pela sua experiência pessoal com a revolução no Zimbábue ou em geral pelo seu interesse na história de movimentos revolucionários?

Billy Woods

Por todas essas opções, mas a experiência pessoal certamente [teve uma grande influência].

Quer dizer, eu me considero um esquerdista. Mas eu entro em muitas discussões porque eu acho que a maior parte do tempo tem essa romantização… Eu acho que os corações e os desejos das pessoas estão nos lugares certos. Essas são pessoas que estão buscando justiça e igualdade e viver em um lugar melhor. Mas às vezes eu acho que elas estão repetindo as mesmas coisas com as quais eu cresci. Ninguém fala sobre o que aconteceu e o que será feito de modo diferente.

Se você olhar pro mundo no fim dos anos 70, quando eu era uma criança, as forças e ideias esquerdistas capturaram muito do mundo em desenvolvimento. Claro, eles estavam em combate com forças e idéias de direita. Ninguém está fingindo que o comunismo tinha simplesmente podido prosperar. Quando falamos sobre coisas como os Panteras Negras e as pessoas dizem “Mas e a COINTELPRO” . . . Bem, claro, se você está tentando derrubar o governo, o governo vai trabalhar contra você. Isso é só A mais B. Se você estiver buscando um mundo no qual aqueles no poder simplesmente deixam você tirá-los do poder, isso não existe. Então, se eu estou avaliando um movimento revolucionário, parte de como eu vou avaliar é a habilidade de superar esses obstáculos, ou pelo menos se você planejou ou teve uma ideia lógica e sólida de como fazê-lo.

Eu tenho esse mesmo problema agora às vezes falando com as pessoas sobre a Palestina e Israel. As pessoas dizem “Ah, bem, esse é um momento triste e decepcionante, mas esse é o máximo que a Palestina já esteve na consciência do mundo!” e eu digo, não, não é! nós já fizemos isso várias vezes! Já fizemos isso! Os palestinos têm direito a resistir; os oprimidos têm direito de usar a violência para derrubar seus opressores. Ao mesmo tempo, eu acho que é importante às vezes olhar e dizer o que aconteceu quando isso aconteceu. E constantemente ao longo do curso da minha vida enquanto uma pessoa que cresceu em uma cultura, país e ambiente doméstico profundamente anti-sionistas, [eu observei] como Israel tomou mais território, como ficou mais poderosa e como as vidas Palestinas se tornaram cada vez mais miseráveis.

Quando eu era criança, os palestinos se moviam livremente por Israel. Agora, depois de 2 intifadas e várias guerras, os palestinos estão piores do que já estiveram antes e estão atualmente sofrendo limpeza étnica. Está ok questionar o que esses movimentos fizeram por seus povos. Não vou sentar aqui e dizer que o Hamas é ótimo só porque eles lutam. Muitas pessoas podem lutar e se você luta e perde ou toda vez, tudo o que você faz ajuda o seu oponente… os israelenses terminaram usando o crescimento do Hamas para dividir o movimento palestino e neutralizá-lo de muitas maneiras. Está tudo bem em reconhecer isso e olhar para as coisas.

Por exemplo, quando eu era criança eu achava o Sendero Luminoso realmente empolgante e fascinante. E mais tarde na vida, eu estive pensando: graças a Deus que eles não venceram. Isso não faz com que seus oponentes sejam bons, mas o Sendero Luminoso era um culto personalista liderado por um psicopata.

Nos 1970s, movimentos ostensivamente de esquerda estiveram no poder em várias partes do Oriente Médio, e os grupos dominantes também estavam lutando por revolução e liberação na Palestina. E aqui estamos agora. A falência desses governos, o crescimento do islã político e as falhas do estado secular no Oriente médio mudaram profundamente toda a dinâmica. Agora se você está falando sobre o Oriente médio e os movimentos de resistência você está quase sempre falando sobre movimentos que são religiosos em sua natureza. E você vê o crescimento do islã político e o menosprezo pelo socialismo.

Parte disso também é o fracasso de estados supostamente socialistas que se tornaram apenas cleptocracias e ditaduras. Não há nada de errado em querer e desejar a revolução. Mas [deve haver] algum nível de reconhecimento de que em qualquer revolução você está deixando um tigre sair da jaula. O que vai acontecer depois disso é difícil de dizer.

Armen Aramyan

Você me contou sobre todas essas disputas com outros esquerdistas nos Estados Unidos. Me faz querer perguntar se tem algum movimento ou ideias políticas que hoje em dia te inspiram ou com as quais você está otimista.

Billy Woods

É interessante como muitas eleições significativas [aconteceram em 2024]: Narendra Modi na Índia, uma importante em Bruxelas, a eleição americana e a CNA perdendo seu mandato na África do Sul. O México elegeu a Claudia Sheinbaum. Eu não tenho muito otimismo em relação à Palestina, só porque em geral não é como tem funcionado, mas eu espero [pelo melhor].

Me encoraja o fato de que muitas pessoas jovens parecem estar colhendo o que é realmente um descontentamento global com o status quo e se movendo para a esquerda, mas eu também vejo um grande crescimento de partidos de direita. E também é interessante, especialmente nos Estados Unidos, que os homens jovens estejam se movendo pra direita e as mulheres pra esquerda, e eu fico curioso sobre o que será que isso significa. Acho que você me perguntou sobre coisas positivas, né?…

Armen Aramyan

É [risos].

Billy Woods

Alguns dos meus amigos de esquerda diriam que eu não presto atenção suficiente para as coisas que estão acontecendo nos movimentos de base, em termos de construções de coalizão, construções comunitárias… [Também é importante] que existam tantos caminhos para a mídia independente. E claro, o crescimento e maiores oportunidades e poder para as mulheres, e o maior reconhecimento do lugar e dos direitos das pessoas não binárias na sociedade.

É difícil porque com muitas dessas coisas eu penso “Ah, eles só estão fazendo isso ao invés daquilo”. Por um lado tem bastante insatisfação com o status quo e bastante energia entre as pessoas jovens Africanas, mas eu também sinto que o estado moderno Africano se safa assistindo alegremente toda a sua população jovem fugir para outros países para que eles possam continuar saqueando e roubando. Eles dizem tipo “Boa sorte, espero que você consiga atravessar o oceano até a Itália, e se você não conseguir, de qualquer maneira você também não é problema meu”. No passado, alguns desses líderes estariam em problemas, porque você tem toda essas pessoas jovens, algumas delas bem educadas, que não conseguem encontrar trabalho e estão insatisfeitas, e assim é que você termina tendo protestos nas ruas e revoluções. Agora essas pessoas só vão ser motoristas de Uber em algum lugar, ou elas se afogaram no Mediterrâneo, ou morrem nas florestas colombianas.

O que você acha que vai acontecer na Rússia?

Armen Aramyan

Eu definitivamente não estou otimista.

Billy Woods

Por que?

Armen Aramyan

Bem como você disse, muitas das pessoas politicamente ativas deixaram o país. Eu sou uma delas. Muitos grupos políticos russos não tem experiência em construir movimentos. E do outro lado, o Estado Russo é bastante eficiente em suprimir o dissenso, então eu não espero que nenhum movimento político surja na Rússia num futuro próximo. O movimento democrático que se opôs à guerra na Ucrânia foi destruído, com milhares de pessoas perseguidas e presas, e neste momento não há nenhuma maneira de conquistar mais poder por causa do aparato repressivo que o Estado Russo construiu.

Como você disse, com todos os movimentos revolucionários, você ou ganha ou perde; se você for forte o suficiente, você ganha. Se não, você perde. É sobre este balanço de poder, e nós perdemos.

Billy Woods

Essa é outra coisa que às vezes eu digo para as pessoas. Eu não tenho nenhum problema em ir para a guerra ou algo parecido, mas eu não quero ir pra guerra para perder. Porque quando você perde, tudo fica pior, além de todas as pessoas que morreram.

Armen Aramyan

Mas você não sabe se você vai vencer.

Billy Woods

Você não sabe se você vai vencer. Mas às vezes você poderia olhar para algumas situações e dizer qual é o resultado provável.

A situação russa é triste. Quando criança, eu via a União Soviética como heroica. Depois eu percebi “nossa, isso na real é terrível” e hoje vendo ela se reformar e virar algo como a União Soviética novamente, mas sem nenhum princípio…

Armen Aramyan

É exatamente o que aconteceu.

Billy Woods

É tão pior. Pelo menos antes você tinha um princípio animador, apesar de que volta e meia ele falhava, [e agora] não tem nada... Vejo da mesma forma o Zimbábue, e é triste que tudo aquilo tenha chegado a isto.

Eu tive uma experiência algumas semanas atrás nos Estados Unidos. Eu estava descendo a Fulton Ave, e eu [encontrei] esse pequeno concerto para o Dia da Liberação Africana. Eu falei com um dos organizadores, que estava vestindo uma camiseta do Zimbábue, e perguntei se ele já esteve no Zimbábue. Ele disse que já foi várias vezes e trabalhou com algumas organizações de lá. Era uma pessoa negra americana, e ele parecia uma boa pessoa, com sua alma no lugar certo. Mas quando nós discutimos a situação atual, ele falou sobre lutar contra as sanções [contra o governo do Zimbabwe] e como o partido líder ZANU PF é o único fazendo o bem junto com pessoas, com a oposição sendo controlada pelo Ocidente. E eu disse “Eu sou de lá! As pessoas de quem você está falando jantaram na minha casa! Eu conheço essas situações!”

E é doido que as pessoas podem estar tão mergulhadas em suas ideologias que elas simplesmente se recusam a olhar para a realidade. Não pode ser tudo “culpa da América”, as pessoas no Zimbábue são apenas pessoas normais como eu e você, e elas não são melhores do que ninguém nem piores. seus líderes fazem coisas ruins e são corruptos assim como em qualquer lugar. Em que país do mundo um partido fica no poder por trinta, quarenta anos e não se torna corrupto? E é interessante pra mim como as pessoas ainda são facilmente capazes de invocar o Bicho Papão do Ocidente e dizer assim “agora esqueça todas as coisas que estão indo mal, a América causou tudo isso”. A América faz várias coisas erradas. A América tem seus próprios problemas e a América espalha seus problemas ao redor do mundo.

Tem gente que ainda me diz que o Ocidente causou a situação na Ucrânia. E eu digo, mas o [Vladimir Putin] fez isso na Crimeia, ele fez isso na Geórgia. ele fez isso na Chechênia. Então a América simplesmente fez todas essas? A América é a razão pela qual a Rússia tomou a Abecásia e a Ossétia? Eles tomaram a Crimeia, eles tomaram Donbass.

A Rússia usou o pretexto das minorias Russas nos países vizinhos para tomar partes do país e enfraquecê-los internamente de modo a impedir as pessoas de pensarem que elas podem deixar a órbita russa. Isso não é a OTAN, eu acho que isso vai acontecer em qualquer momento quando um desses países tentar sair da órbita russa e eles não quiserem, ponto final.

Como na Chechênia. Às vezes pode ser tão simples quanto uma demonstração de poder bem visceral e masculina. Não tinha nada que a Rússia precisasse na Chechênia, mas a instabilidade na Chechênia e a perda da Primeira Guerra Chechena deu ao Putin a oportunidade de mostrar “eu posso tomar o controle, eu posso derrotar nossos inimigos, eu posso pôr um fim no separatismo como ideia, e daí nós não vamos ter que nos preocupar com o Daguestão e com cada pessoazinha decidindo que quer sair. E vou deixar isso por aí.” Algumas coisas podem ser entendidas estrategicamente, tipo você quer a Crimeia por causa de razões estratégicas assim como razões de poder. Mas às vezes as pessoas só estão fazendo as coisas porque elas acham que tem algum tipo de posse sobre algum lugar, ou povo ou cultura.

Mesmo se você olha para o suporte dos Estados Unidos a Israel [não faz sentido]. A essa altura, com a Guerra Fria terminada, os Estados Unidos têm relações favoráveis com vários países no Oriente Médio de modo que seria bem melhor se não apoiassem Israel. Algumas pessoas descrevem o suporte dos Estados Unidos a Israel como um projeto colonial. Esses fatores tem alguma importância. Mas uma grande parte a essa altura é, eu acho, cultural. Se alguém é retratado como seu aliado, e as pessoas sentem essa conexão religiosa e cultural desse lado, aí as razões estratégicas não importam. Estrategicamente, os Estados Unidos têm mais a ganhar se separando de Israel. Mas nem tudo são números. Algumas coisas são as emoções e projeções das pessoas, como elas se sentem sobre algo.

Como quando os Estados Unidos saíram do Afeganistão. Na verdade o Trump começou com isso. E não tinha mais nada para se ganhar ali. Era um projeto perdido. Mas o jeito em que terminou foi infinitamente mencionado como uma humiliação. “Ah, o jeito que saímos do Afeganistão nos fez parecer fracos”. Não estou falando da minha opinião pessoal, mas para essas pessoas, baseado em suas lógicas, o que importa? Você para de jogar um monte de dinheiro e vidas humanas pelo ralo em um projeto que não estava funcionando. Você jamais vai pro Afeganistão. Você não gosta de pessoas Muçulmanas. Você não quer ter nada que ver com o Afeganistão. Aparentemente, você não gosta de guerras estrangeiras porque você é contra essas outras guerras que estão rolando. Então quem se importa com como você saiu do Afeganistão? Você já saiu e agora não precisa mais se preocupar com isso.

Armen Aramyan

Eu queria falar contigo sobre como o momento político atual se reflete na sua música. Em outro lugar, você mencionou que o seu interesse no hip-hop começou com música politizada como Public Enemy. Neste momento, o hip-hop é o estilo musical com melhor sucesso comercial em todo o mundo. É também o maior estilo na Rússia e na região toda, e o hip-hop americano é, claro, popular ao redor de todo o mundo. Você acha que ainda há algo de politicamente radical no hip-hop ou ele está completamente submisso a este formato comercial?

Billy Woods

Sempre que você estiver falando sobre uma forma artística tem sempre todo tipo de… É como se alguém dissesse, ainda existe algo de radical ou politizado nos filmes? Claro. Está no filme da Marvel que você está para assistir? Provavelmente não. Mas tem muitos filmes sendo feitos. E claro, naturalmente, muitos deles são radicais em pensamento e ideias.

Eu realmente acho que o que Mos Def disse em “Black on Both Sides” é verdade. O Hip-hop somos nós: onde quer que estejamos, ali é onde está o hip-hop. Então, se você perguntar, existe algo de radical ainda na sociedade Americana? Claro que tem. É o mainstream? Não, mas o mainstream não pode nunca ser radical. É muito raro que o mainstream seja radical. E claro, quando o mainstream se torna radical, então o radicalismo necessariamente se torna outra coisa. Depois da Revolução de Outubro, ser comunista não era mais radical. Talvez ser Trotskista fosse.

E algumas vezes não é necessariamente abertamente político, mas pode ainda assim ser radical. Eu gosto de pensar sometimes it’s not necessarily overtly political, but it could still be radical. que a minha própria música é radical de sua própria maneira. Gosto de pensar que ela provoca reflexão e é desafiadora em níveis que são tanto políticos quanto pessoais. Mas para mim, a política é pessoal.

Armen Aramyan

Eu sinto como se nos anos 90 ou no início dos anos 2000s, um hip-hop politizado estava mais próximo do mainstream.

Billy Woods

Você poderia dizer que de algumas maneiras, sim. Mas então e o Kendrick Lamar, que é um dos maiores artistas no mundo e certamente no hip-hop americano? Eu diria que, quaisquer que sejam a sua política e suas visões sociais, sua música é politizada no sentido mais amplo da palavra — de novo, se estamos pensando no pessoal como político e não puramente como, você é de esquerda ou de direita. Eu acho que seria um erro dizer que a música dele não é politizada ou pelo menos abertamente preocupada com o estado das nossas vidas, nossa sociedade, para o melhor ou pior.

Armen Aramyan

Para concluir, você pode recomendar alguns artistas de hip-hop politicamente conscientes que você acha que mais ouvintes deveriam conhecer?

Billy Woods

Eu acho que diria ELUCID. Sou um grande fã. Eu acho ele ótimo, e eu acho que a sua música é bastante política e pessoal ao mesmo tempo. Também, Noname. Nem todas as suas políticas são as minhas, e [eu não concordo] com algumas das suas perspectivas. Mas eu acho que Noname é alguém bastante genuína e extrovertida em relação às suas próprias visões políticas. E por outro lado, pra falar de algo mais pessoal mas onde você encontra o político no pessoal, em termos de ser uma música underground de qualidade interessante, acho que MIKE é bem massa. E também o Quelle Chris. O Cavalier é definitivamente um artista nessa mesma trilha. Curley Castro. ShrapKnel. E claro, Moor Mother. Ela estaria próxima do topo da minha lista. Eu acho que todos esses são bons exemplos e caem nessa categoria.

Colaboradores

Armen Aramyan é um editor fundador da DOXA, um importante meio de comunicação de esquerda na Rússia que foi banido por sua oposição à guerra na Ucrânia. Ele está atualmente cursando um PhD na University College London School of Slavonic and Eastern European Studies.

Billy Woods é um rapper de Nova York. Ele e seu colega ELUCID formam a dupla de hip-hop Armand Hammer. Ele também é fundador do selo underground de hip-hop Backwoodz Studioz.

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