Bruno Boghossian
Folha de S.Paulo
Jair Bolsonaro (PL) anunciou que abraçaria a missão quando voltasse ao Brasil depois de uma temporada nos EUA. "Estamos focados na CPI dos atos do dia 8 de janeiro", disse o ex-presidente, no fim de março. "Esperamos muito que haja a CPI para levantar isso aí. Foi uma armadilha feita pela esquerda."
A oposição via a Comissão Parlamentar de Inquérito como uma ferramenta para borrar impressões digitais, espalhar alguma confusão e alimentar teorias conspiratórias que pintavam os ataques golpistas como um trabalho interno da esquerda.
Última sessão da CPI do 8 de janeiro, que vota relatório final da investigação - Gabriela Biló/Folhapress |
A segurança com que deputados e senadores alinhados a Bolsonaro lideraram a coleta de assinaturas para criar a comissão foi o sinal de que eles acreditavam que seria possível dominar as investigações e provocar desgastes ao governo Lula (PT). Meses depois, os oposicionistas caíram no próprio alçapão.
Criada pela pressão de bolsonaristas, a CPI chegou ao fim nesta quarta-feira (18) com um passeio do governo petista. O relatório final, que responsabiliza Bolsonaro e outras 60 pessoas pelos ataques, foi aprovado com 20 votos. Outros 11 parlamentares rejeitaram o parecer.
O tiro no pé da oposição foi provocado por uma sequência de erros de cálculo, cometidos tanto pelos líderes do grupo como por soldados rasos. O primeiro e mais fundamental deles foi um erro político.
Quando decidiu fornecer combustível à instalação da CPI, Bolsonaro enxergava um Congresso disposto a emparedar Lula. Além das amplas bancadas de direita na Câmara e no Senado, o ex-presidente acreditava que o petista seria vítima do jogo duro do centrão.
O diagnóstico parecia fazer sentido, mas os bolsonaristas deixaram de considerar diferenças fundamentais. Uma delas era o repúdio ao golpismo manifestado publicamente por líderes do centrão. Nem Valdemar Costa Neto, presidente do PL, topou encarar o 8 de janeiro com meias palavras.
A oposição também menosprezou a rapidez com que o centrão estaria disposto a fazer negócios políticos com o governo Lula. Ainda que a nomeação de ministros do PP e do Republicanos tenha se arrastado, as conversas já ocorriam durante todo o primeiro semestre.
O Congresso fez um jogo duplo que, no fim das contas, favoreceu o governo. O Planalto ficou com maioria na comissão e escolheu a relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), mas não conseguiu emplacar o presidente.
No comando da CPI com o apoio do centrão, o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) fez generosas concessões à minoria, barrando convocações e quebras de sigilo consideradas delicadas. O comportamento restringiu a investigação, mas ajudou a mitigar a retórica bolsonarista de que a comissão seria um instrumento de perseguição.
A oposição se afogou também no que pareceu um excesso de confiança em versões conspiratórias disseminadas para proteger os golpistas, além da certeza de que seu eleitorado estaria permeável a elas.
De fato, os bolsonaristas conseguiram amplificar o barulho quando foram divulgadas, em abril, imagens da invasão ao Palácio do Planalto que mostravam o então ministro Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) dentro do prédio durante os ataques.
A gravação foi instrumentalizada como uma suposta evidência de que o governo havia orquestrado os ataques, num conluio com os invasores. A teoria não colou dentro do Congresso, mas a agitação foi suficiente para garantir que a CPI fosse instalada.
Animada, a oposição dobrou a aposta numa tentativa mirabolante de reescrever os acontecimentos. Vendeu a ideia de que os atos violentos eram obra de infiltrados de esquerda, insistiu na suspeita de que Lula tinha interesse nos ataques e argumentou que os bolsonaristas presos eram bodes expiatórios.
A única brecha obtida pela oposição foram as acusações de omissão de forças de segurança federais que, no dia 8, estavam sob a batuta do governo Lula. A maioria alinhada ao Planalto, no entanto, blindou o petista e direcionou a responsabilidade a agentes remanescentes da gestão Bolsonaro.
Sem sucesso, a direita bolsonarista tentou tumultuar a CPI. No encerramento dos trabalhos, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) disse que sua função era "tirar a tranquilidade" dos governistas. O senador Jorge Seif (PL-SC) usou a carta do aborto para chamar aliados do governo de "pastores do capiroto".
A CPI levantou poucos fatos novos e fez a maior parte do trabalho com base em provas colhidas anteriormente pela Polícia Federal. Essa poderia ser uma boa notícia para a oposição, mas se tornou um indicativo dos riscos que cercam Bolsonaro e aliados graúdos.
Aquele, afinal, é o mesmo material que deve embasar a sequência das investigações, uma eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República e um julgamento no Supremo Tribunal Federal dos responsáveis pela incitação dos ataques.
Criada pela pressão de bolsonaristas, a CPI chegou ao fim nesta quarta-feira (18) com um passeio do governo petista. O relatório final, que responsabiliza Bolsonaro e outras 60 pessoas pelos ataques, foi aprovado com 20 votos. Outros 11 parlamentares rejeitaram o parecer.
O tiro no pé da oposição foi provocado por uma sequência de erros de cálculo, cometidos tanto pelos líderes do grupo como por soldados rasos. O primeiro e mais fundamental deles foi um erro político.
Quando decidiu fornecer combustível à instalação da CPI, Bolsonaro enxergava um Congresso disposto a emparedar Lula. Além das amplas bancadas de direita na Câmara e no Senado, o ex-presidente acreditava que o petista seria vítima do jogo duro do centrão.
O diagnóstico parecia fazer sentido, mas os bolsonaristas deixaram de considerar diferenças fundamentais. Uma delas era o repúdio ao golpismo manifestado publicamente por líderes do centrão. Nem Valdemar Costa Neto, presidente do PL, topou encarar o 8 de janeiro com meias palavras.
A oposição também menosprezou a rapidez com que o centrão estaria disposto a fazer negócios políticos com o governo Lula. Ainda que a nomeação de ministros do PP e do Republicanos tenha se arrastado, as conversas já ocorriam durante todo o primeiro semestre.
O Congresso fez um jogo duplo que, no fim das contas, favoreceu o governo. O Planalto ficou com maioria na comissão e escolheu a relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), mas não conseguiu emplacar o presidente.
No comando da CPI com o apoio do centrão, o deputado Arthur Maia (União Brasil-BA) fez generosas concessões à minoria, barrando convocações e quebras de sigilo consideradas delicadas. O comportamento restringiu a investigação, mas ajudou a mitigar a retórica bolsonarista de que a comissão seria um instrumento de perseguição.
A oposição se afogou também no que pareceu um excesso de confiança em versões conspiratórias disseminadas para proteger os golpistas, além da certeza de que seu eleitorado estaria permeável a elas.
De fato, os bolsonaristas conseguiram amplificar o barulho quando foram divulgadas, em abril, imagens da invasão ao Palácio do Planalto que mostravam o então ministro Gonçalves Dias (Gabinete de Segurança Institucional) dentro do prédio durante os ataques.
A gravação foi instrumentalizada como uma suposta evidência de que o governo havia orquestrado os ataques, num conluio com os invasores. A teoria não colou dentro do Congresso, mas a agitação foi suficiente para garantir que a CPI fosse instalada.
Animada, a oposição dobrou a aposta numa tentativa mirabolante de reescrever os acontecimentos. Vendeu a ideia de que os atos violentos eram obra de infiltrados de esquerda, insistiu na suspeita de que Lula tinha interesse nos ataques e argumentou que os bolsonaristas presos eram bodes expiatórios.
A única brecha obtida pela oposição foram as acusações de omissão de forças de segurança federais que, no dia 8, estavam sob a batuta do governo Lula. A maioria alinhada ao Planalto, no entanto, blindou o petista e direcionou a responsabilidade a agentes remanescentes da gestão Bolsonaro.
Sem sucesso, a direita bolsonarista tentou tumultuar a CPI. No encerramento dos trabalhos, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) disse que sua função era "tirar a tranquilidade" dos governistas. O senador Jorge Seif (PL-SC) usou a carta do aborto para chamar aliados do governo de "pastores do capiroto".
A CPI levantou poucos fatos novos e fez a maior parte do trabalho com base em provas colhidas anteriormente pela Polícia Federal. Essa poderia ser uma boa notícia para a oposição, mas se tornou um indicativo dos riscos que cercam Bolsonaro e aliados graúdos.
Aquele, afinal, é o mesmo material que deve embasar a sequência das investigações, uma eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República e um julgamento no Supremo Tribunal Federal dos responsáveis pela incitação dos ataques.
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